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Historia de la Catequesis en Brasil

Sumário

Introdução

1 A catequese no Brasil Colonial

2 As intervenções de Marquês de Pombal, expulsão dos Jesuítas e suas consequências

3 Catequese brasileira no século XIX: os bispos reformadores

4 A catequese no Brasil no período pré-conciliar

5 Do Vaticano II (1962-1965) ao final do século XX

6 A catequese a serviço da Iniciação à Vida Cristã: dimensão catecumenal

7 Um panorama fecundo de eventos e atividades catequéticas

 

Introdução

A história da catequese no Brasil[1], diferentemente da antiga cristandade europeia, possui pouco mais que cinco séculos. No entanto, não podemos considerá-la desligada de sua matriz. Igualmente, além de relatar a linha do tempo, dos acontecimentos e seus protagonistas, é necessário situá-la no próprio contexto cultural, político e eclesial dentro do qual se desenvolveram práticas, conceitos e tendências teológicas que subjazem aos fatos. No entanto, esse olhar sociohistórico é acompanhado da visão da fé cristã, particularmente católica.

O Diretório Nacional de Catequese (DNC), de 2006, assim se expressa:

A história é lugar da caminhada de Deus com seu povo e do povo com Deus. Nela e por ela Deus se revela e manifesta o que Ele quer ensinar e o que espera da humanidade. Jesus Cristo, o Filho de Deus, encarnou-se na realidade humana e num determinado contexto histórico, que condicionou sua vida, ensinamento e missão. Viveu, ensinou e nos salvou a partir da história e do que ela comporta. A história faz parte do conteúdo da catequese. O fiel, iniciado no mistério da Salvação, é chamado a assumir a missão de ajudar a construir a história hoje, segundo o Reino de Deus (DNC, 2006, nº 60).

Camões, com a visão de cristandade vigente em seu tempo, afirma nos Lusíadas que os portugueses se lançaram aos mares buscando “dilatar a fé e o império” (Canto 1, estrofe 2). Entretanto, antes mesmo que na América chegassem portugueses ou espanhóis, como afirmam os bispos do CELAM, em Puebla, “o Espírito que encheu o mundo assumiu também o que havia de bom nas culturas pré-colombianas. Ele próprio as ajudou a receber o Evangelho” (DP 201). Sem dúvida essas “Sementes do Verbo” presentes nestas culturas (DP 401, 403), foram cultivadas e incrementadas pela evangelização e catequese da Igreja. De fato, como reconhecem os mesmos bispos reconhecem em Santo Domingo, “as Sementes do Verbo, presentes no profundo sentido religioso das culturas pré-colombianas, esperavam o orvalho fecundante do Espírito” (SD 17). Essas considerações teológicas permitem-nos avançar no tempo e espaço para aí analisar a história da catequese no Brasil.

1 A catequese no Brasil colonial

Uma vez introduzido na história ocidental e aberto para o mundo desenvolvido de então pela presença e ação dos portugueses, a história do Brasil se entrelaça com a história da evangelização e catequese. Em 1503 chegaram os dois primeiros missionários franciscanos, na expedição de Gonçalo Coelho, em Porto Seguro, seguidos mais tarde por outros frades. Em 1532 fundaram-se as primeiras paróquias, e de 1538 a 1541 a primeira missão formal instalou-se em Santa Catarina por obra dos mesmos franciscanos.

Os jesuítas chegaram com o primeiro governador geral Tomé de Souza, em 1549. Sua existência também se confunde com história do Brasil, tornando-se os protagonistas principais que acompanharam de perto o crescimento e desenvolvimento brasileiro. Nascidos pouco antes dentro do espírito da Reforma, e com um enorme impulso missionário, transmitiram a fé cristã aos indígenas, sobretudo os que habitavam fora dos centros urbanos.

Com eles começou-se a implantação de uma catequese mais organizada para os colonizadores portugueses, seguindo o modelo tridentino; e para os indígenas, uma catequese mais missionária, bastante criativa e com esforços para atingir aquilo que hoje chamamos de inculturação. De fato, após as primeiras tentativas de catequizar os indígenas através de intérpretes, os missionários aprenderam a língua local[2], escreveram catecismos nestas línguas e usaram a música, o teatro, a poesia, os autos e a dança ritual para a obra evangelizadora. Tanto nos colégios como na catequese indígena predominava a metodologia da tradição oral: uma memorização da doutrina mais mecânica e menos assimilada. Aliás, para os missionários “a questão da conversão dos índios não era doutrinária, mas uma questão de costumes”, no dizer do Pe. São José de Anchieta (Leite, 1923, p. 12; Anchieta, 1933, p. 419 e 435).

Dentre os missionários distinguiram-se o Pe. Manoel da Nóbrega, provincial, e o Pe. São José de Anchieta, que veio como noviço e se formou no Colégio da Baia, desenvolvendo uma atividade que o coloca entre os gigantes da primeira evangelização latino-americana. Fundou colégios (como o de São Paulo, que originou a atual metrópole), escreveu textos catequéticos, peças de teatro, gramáticas e poemas em quatro línguas: latim, português, castelhano e tupi-guarani. Ao mesmo tempo foi evangelizador, catequista, médico, artífice, pacificador, taumaturgo, mestre-escola, arquiteto: um missionário completo.

Novas levas de missionários jesuítas chegaram ao Brasil nos anos seguintes, tendo no Pe. Antônio Vieira (1608-1697) uma figura ímpar. Realizaram “uma obra sem exemplo na história”, na expressão do historiador Capistrano de Abreu (Abreu, 1945, p. 105). Também outras ordens religiosas, além dos franciscanos e jesuítas (capuchinhos, beneditinos, carmelitas, mercedários) se associaram à obra empreendida por eles na extraordinária tarefa da formação cristã do Brasil. Todos os missionários enfrentavam inúmeras dificuldades por causa da ambição colonizadora da política mercantilista, a ponto de o Papa Urbano VIII ter que escrever a bula Comissum nobis, em 1638, em defesa dos índios, mantendo as disposições de seu predecessor Paulo III: “proibiu e ordenou que as autoridades também proibissem escravizá-los e privá-los de seus bens”, sob pena de excomunhão latae sententiae, reservada ao Pontífice.

Apesar dessas dificuldades, os missionários se preocupavam não somente com novos métodos e técnicas, mas também com a superação da simples catequese doutrinal ou instrução (embora os textos vão muito nesta linha). Estavam muito atentos àquilo que hoje chamamos de promoção humana e social do indígena dentro de um contexto hostil e avesso a um tipo de atividade deste gênero. Com menos intensidade, mas igual zelo apostólico, fizeram esforços na evangelização dos negros que, numa atitude anti-humana, sofriam a escravidão. Entretanto não tiveram voz para se opor a tão execrável instituição escravagista.

Este gigantesco trabalho evangelizador não pode ser atribuído só aos missionários, despojados, abertos à cultura indígena e com uma alta consciência evangélica. Também os leigos, especialmente mulheres, tiveram papel importante, infelizmente esquecido pela história: estiveram sempre ao lado dos missionários, ora assumindo mesmo a direção das aldeias, ora fazendo parte integrante do processo catequizador. Ficou célebre a presença do negro José Lopes Espínola, missionário leigo no Amazonas no fim do século XVII, a quem o próprio Conselho Ultramarino de Portugal sugeriu uma medalha de ouro pelo seu trabalho de catequese (cf. Vilela, 1998, p. 289).

Para a organização da Igreja e principalmente para a história da catequese no Brasil, é de suma importância a promulgação, já nos inícios do século XVIII, das Constituições do Arcebispado da Bahia, capital e sede do arcebispo primaz do Brasil, na época D. Sebastião Monteiro da Vide. Tais Constituições (1707) orientaram a ordenação jurídico-teológico-catequética na Igreja do Brasil durante dois séculos. Elas se compõem de 5 livros: no primeiro deles se trata da obrigação de ensinar a doutrina cristã. O breve catecismo que lhe é incorporado traz os traços dos catecismos doutrinais europeus. A importância catequética deste documento é assim ressaltada:

As Constituições da Bahia trazem à memória dos párocos, dos mestres-escolas e dos pais de família a obrigação de ensinarem crianças e escravos, seguindo à risca as normas do Concílio de Trento; oferecem ainda aos catequistas um catecismo abreviado para a instrução, que denominam de Forma da doutrina cristã, e também um formulário mais resumido ainda e adaptado para os escravos (Lustosa, 1992,59).

2 As intervenções de Marquês de Pombal, expulsão dos Jesuítas e suas consequências

As ideias que transformavam a Europa no século XVIII tinham sua repercussão no Brasil: o iluminismo, os ideais da Revolução francesa, o mercantilismo, o despotismo esclarecido. Este último movimento teve enorme influência no Brasil, através de Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal. Nomeado primeiro-ministro de D. José II, de Portugal, suas medidas políticas afetaram profundamente a ação da Igreja, particularmente por causa da expulsão dos jesuítas (1759, reabilitados por Pio VII, em 1814). Consequentemente perdeu forças a rede de escolas que eles mantinham ao longo do território nacional. Atitude igualmente danosa à Igreja foi a imposição do catecismo jansenista, chamado também de Catecismo de Montpellier (1702, traduzido em português em 1765). Apesar de ter sido condenado e colocado no Index, em 1721, sob acusação de jansenismo e de tendências galicanas, o livro foi imposto pelo governo português, com decreto régio de 30 de setembro de 1770 como texto oficial nas escolas do Reino português e Colônias. Foi considerado o texto da educação da fé no território brasileiro, na segunda metade do século XVIII e início do XIX. Pombal não estava interessado nas questões teológicas desse catecismo, mas em seu aspecto político, pois o jansenismo via com maus olhos o poder central da Igreja (Papa, Cúria Romana); e era isso que lhe interessava: minar o poder e a autoridade de Roma.

Muitos bispos brasileiros protestaram diante de tal imposição, mas inutilmente; outros, ao invés, oficializaram o texto em suas dioceses. Foi divulgado por toda parte, influenciando tremendamente a catequese no Brasil até o início do período imperial. Mais do que o jansenismo dogmático, teve grande influência na formação religiosa brasileira o jansenismo moral, com seu rigorismo ascético fanaticamente exacerbado, a busca da pureza legal sem limites, a luta indiscriminada contra o espírito de tolerância e o laxismo, visão negativa da sexualidade e a divulgação de um cristianismo triste (cf. Lustosa, 1992, p. 67).

Desenvolveram-se, então formas novas que vieram substituir a catequese oficial que, com essas medidas pombalinas foi-se definhando. Assim pode ser considerada a catequese popular que tinha essas características: simplicidade, sem aprofundamento doutrinal, conhecimento daquilo que é mais importante para um cristão, prática de um catolicismo bem popular e sem a linguagem e fórmulas eclesiásticas. Do ponto de vista moral, emergiam costumes e práticas austeras centradas no essencial, e carregadas de devocionismo, herança portuguesa e medieval, quase que colocando a mediação dos santos acima do cristocentrismo evangélico. Tal catequese tornava a transmissão da fé uma tarefa familiar, que facilmente, e sem contestações ou dificuldades, era praticada.

O cristianismo era transmitido ao lado dos valores humanos, impregnados dos valores evangélicos. Inevitavelmente era forte e vigorosa a influência de elementos religiosos indígenas e africanos na vida cristã. Tal mistura sincrética (diferente da tão proposta e desejada inculturação) ainda hoje é visível e palpável em diferentes ambientes brasileiros[3]. Nascia assim o fenômeno da religiosidade popular, sempre se firmando e crescendo. Ela gerou consequentemente uma transmissão da fé sem estruturas e formalidades. Era conduzida pelo povo: pais e mães de família, pessoas simples sem grande instrução, pregadores do povo, puxadores de terços e novenas, benzedeiras, rezadores, beatas e devotos, carolas e ermitões. Nesse ambiente de cristianismo simples, mas válido e sincero, tais figuras se destacavam e muitas vezes assumiam a liderança nas comunidades.

Crescia concomitantemente expressões rituais e celebrativas, bem diferentes dos livros litúrgicos oficiais, orações, mesmo num latim estropiado, adulterado e não poucas vezes com ressaibos de superstição. A popularidade dessas figuras da religiosidade popular era tal que a seu redor se juntavam multidões de seguidores, líderes que ditavam costumes e práticas religiosas populares. Sobreviveram e se multiplicaram até hoje, manifestando, de um modo concreto junto às pessoas mais simples, um modo concreto de sentir e viver a Igreja nas bases e no chão do povo, marcando nossa cultura e folclore religioso.

3 Catequese brasileira no século XIX: os bispos reformadores

O período imperial no Brasil nasceu com a vinda da família real, em 1808, para o Rio de Janeiro. É marcado pela reforma católica, conduzida pelos bispos chamados reformadores[4]. Eles pretendiam alinhar a Igreja do Brasil com o já longínquo Concílio de Trento, ainda pouco vivenciado em Portugal e nas colônias. Com isso, também ganha a pastoral catequética. Como em toda grande reforma na Igreja, ela começa pelo clero, encaminhando-se depois para a instrução cristã do povo, promovendo a renovação do ensino da doutrina. Tal renovação torna-se ferramenta importe para a implantação da reforma. Além de suas Cartas Pastorais, predecessoras dos atuais Documentos da CNBB, que traçavam diretrizes e orientações, as visitas pastorais eram ocasiões de os bispos realizarem suas catequeses mais ortodoxas do que o Catecismo de Montpellier, imposto por Pombal. Igualmente as Paróquias adotavam uma catequese, sempre de cunho doutrinal, porém mais conforme o Concílio de Trento.

Novos catecismos começam a surgir, sinal de vitalidade da renovação catequética a partir de 1840: são marcados pela dimensão doutrinal e as diretrizes tridentinas. Eram traduzidos de edições europeias, sobretudo francesas, ou elaborados e adaptados pelos próprios bispos brasileiros. Foi a época áurea dos Catecismos da doutrina cristã ou Catecismos teológicos. A multiplicação de tais textos prepara o ensaio de busca por um texto único para todo o Brasil, no início do século XX. Além da característica doutrinal, possuíam também o viés apologético: combatem os erros do jansenismo, do galicanismo e do liberalismo; são carregados do tom antiprotestante da reforma tridentina, da qual a nossa reforma era tributária. Desde 1810, devido às cláusulas favoráveis à liberdade religiosa dos anglicanos, contidas no Tratado do Comércio e Navegação com a Inglaterra, inicia-se no Brasil a implantação de igrejas não católicas. Além dos anglicanos, vários pastores protestantes e imigrantes norte-americanos aportam no país, vindos da guerra de secessão daquele país. Alguns fundam importantes escolas, como o colégio e a universidade Mackenzie de São Paulo.

Como no período anterior, além da catequese paroquial, mais formal e baseada em textos de catecismos doutrinais, também ministrada em colégios católicos, há ainda uma significativa atividade mais missionária, de caráter popular, que mantinha e alimentava a fé das famílias; eram os pregadores leigos populares, que marcaram época, como: Antônio Vicente Mendes Maciel (Antônio Conselheiro), líder religioso-político da revolução de Canudos (1897); “São” João Maria, nome mítico que engloba vários personagens envolvidos em pregações messiânicas, medicina popular e política, na guerra do Contestado (Santa Catarina-Paraná); Pedro Batista, na região de Paulo Afonso (Bahia), Ir. José da Cruz (Rio Juruá no Acre) e Jacobina Meurer (Nova Hamburgo, RS). Junto com os textos de catequese eram também amplamente difundidos os devocionários, manuais de oração, novenários, livros de piedade, terços, horas marianas, missão abreviada (textos para a continuidade das santas Missões) etc.

No final do século XIX e início do XX realizaram-se alguns esforços de articulação pastoral. D. Antônio Macedo Costa, bispo de Belém do Pará, nomeado depois Arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil, conseguiu, pela primeira vez na história da Igreja brasileira, reunir o episcopado em março de 1890 (eram poucas as dioceses), discutir e promulgar a Pastoral Coletiva do Episcopado Brasileiro. Combate pretensos erros do momento, marcado pelo positivismo e pela presença maciça de membros da maçonaria na nascente República, contra a qual se posiciona, assim como contra a Constituição, Estado laico e liberdade religiosa.

Acontecimentos importantes desse movimento de romanização foram o Concílio Plenário Latino-americano (1899, em Roma!) e o Concílio Plenário Brasileiro (1939), primeiro código jurídico-eclesiástico-pastoral exclusivo para o Brasil. Entre esses dois acontecimentos realizaram-se outras assembleias como o Concílio das Províncias Eclesiásticas do Sul, em Nova Friburgo (RJ) de 12 a 17 de janeiro de 1915. Sua documentação aponta para o esforço da construção de uma Igreja Católica Romana no Brasil, após a separação do Estado. Publica uma célebre Pastoral Coletiva e o Catecismo da Doutrina Cristã, cujas raízes remontam aos bispos “reformadores” do final do século anterior.

Esse importante Catecismo teve sua primeira edição em 1903, com grande aceitação e edições sucessivas, espalhou-se não só pelo Sul, mas também por todo o território brasileiro. Trata-se de um catecismo doutrinal-teológico, com fórmulas precisas e ao mesmo tempo simples, dentro do padrão doutrinal, e por isso mesmo, memorizável. Chegou-se a afirmar que, dentro de seu estilo e características próprias ele supera até o famoso Catecismo de Pio XI, publicado em seguida. Na verdade, era um catecismo em quatro níveis: Resumo da Doutrina Cristã (extrato da doutrina elementar); Primeiro Catecismo da Doutrina Cristã (catecismo elementar destinado aos principiantes); Segundo Catecismo (catecismo básico); Terceiro Catecismo (de nível avançado).

Impôs-se em todo o território nacional, perdurando suas edições sucessivas até os dias de hoje, com muito sucesso. Milhões de cristãos a partir de 1903 até às vésperas do Vaticano II, bem ou mal, foram formados tendo como texto-base esses Catecismos da Doutrina Cristã. Eram considerados por muitos o catecismo por antonomásia. De um modo especial nos colégios, suas respostas eram memorizadas, enquanto que se adotavam outros textos, menos doutrinais e mais didáticos, para a explicação daqueles formulários. As célebres maratonas ou certames promulgados oficialmente tinham, em geral, como base, os textos do Catecismo da Doutrina Cristã.

4 A catequese no Brasil no período pré-conciliar

O séc. XX foi o século da renovação catequética em todos os sentidos, dando início ao movimento catequético sob a influência do desenvolvimento da Psicologia e da Pedagogia, ao mesmo tempo em que teologicamente a Igreja caminhava em direção do Vaticano II. Esta renovação pedagógica, unida às descobertas da psicologia científica, desemboca, em termos de catequese, nos Congressos de Viena (1912) e de Munique (1928). O método psicológico de Munique propunha partir de um episódio bíblico, explicar a verdade aí contida e aplicá-la à vida. Dá-se grande valor à liturgia e à bíblia: é o incipiente método querigmático. Na França Joseph Colomb, François Coudreau, Françoise Derkene e Maria Tecla Montessori assimilaram e aperfeiçoaram tais tendências, divulgando-as pelo mundo, inclusive no Brasil.

O Papa São Pio X publicou a encíclica Acerbo Nimis (1905) e o decreto Quam Singulari (1910), em polêmica com o jansenismo, abrindo às crianças, a partir dos 7 anos, o acesso à Comunhão Eucarística. Ao fazer isso, muito impulsionou a catequese infantil, quase fixando nessa idade os destinatários principais da catequese, embora prescrevesse também a catequese de adultos. Seu Catecismo, diferentemente do movimento catequético europeu, prossegue a tradição de preferência à dimensão doutrinal, mas inova e avança na dimensão organizacional da catequese. De fato, institui as Congregações da Doutrina Cristã, destinadas a zelar, estimular e apoiar a catequese em todas as Paróquias. Tais orientações tiveram boa repercussão, aceitação e influxo na organização da catequese no Brasil, mais do que seu Catecismo (1905, 1912), feito originalmente para a Diocese de Roma, espalhando-se depois pela Itália e por todo o mundo católico, sem traços de um catecismo universal. Aliás, no Brasil, já havia, como dito acima, um excelente Catecismo da doutrina cristã desde 1901.

A partir da encíclica Acerbo Nimis, os leigos que no Brasil sempre tiveram uma presença significativa na catequese, serão valorizados mais ainda. Os párocos, que eram cada vez mais conclamados a desempenharem com responsabilidade suas graves obrigações com relação à catequese, buscam seus leigos auxiliares para o trabalho catequético entre os membros das várias associações paroquiais (Apostolado da Oração, Congregações Marianas, Vicentinos, Filhas de Maria, Corte de São José etc.). Esta abertura em favor da participação das/os leigos/as foi reflexo também do surgimento da Ação Católica na Europa e que se desenvolveu muito no Brasil. A falta de clero obrigou os bispos e padres a recorrerem cada vez mais aos leigos. Com isso, as/os catequistas receberam uma formação mais sólida e profunda. Por tudo isso, São Pio X, papa da catequese, em alguns países é padroeiro dos catequistas. No Brasil, foi proclamado padroeiro dos catequistas São José de Anchieta.

Desde o final do século XIX o chamado dos Bispos para uma maior atenção à catequese vinha da constatação da crescente ignorância religiosa do povo, o que já apontava também para uma opção doutrinal da mesma. Por outro lado, pessoas atentas à eficácia da pedagogia da fé começaram a criticar os catecismos doutrinais, à base de perguntas e respostas, privilegiando a memorização das fórmulas concentradas da doutrina cristã. O progresso das ciências pedagógicas e a evolução do movimento catequético europeu, já nas décadas de 1920 e 1930, mostraram as fraquezas destes textos. A primeira renovação significativa veio pela Ação Católica, sob o pontificado de Pio XI. No Brasil, ela teve um enorme raio de ação, cujos efeitos continuaram posteriormente, na virada antropológica, sobretudo a atenção aos graves problemas sociais. Sem o trabalho eficaz e organizado da Ação Católica, certamente não haveria clima para o surgimento das teologias da libertação na América Latina, sobretudo no Brasil.

Seus cursos de cultura religiosa primavam pelo aprofundamento da fé, fugindo, contudo, daquele nocionismo que caracterizava a catequese tradicional como doutrina. Leigos bem formados pela Ação Católica assumiam a vocação de catequistas, alterando um pouco o monopólio da catequese por parte do clero. Eles descobriam e viviam sua vocação cristã como leigos, marcando uma presença muito grande de um modo especial na catequese. No entanto, o avançadíssimo pensamento social cristão que permeava a Ação Católica e que irá influir significativamente na sua militância concreta, não conseguiu mudar muito o conteúdo da catequese tradicional. Este será um trabalho para o movimento catequético após o Vaticano II, mas aqui já estão suas sementes e bases.

Com a Ação Católica a catequese se beneficiou com um valioso instrumento metodológico: a maneira de proceder através da trilogia: ver, julgar e agir. Timidamente praticado nos inícios, desenvolveu-se sempre mais, sob a influência do pensamento de Josef-Léon Cardjin e Jacques Maritain, tornando-se depois não só metodologia da catequese, mas de toda a pastoral. Hoje o DNC propõe a terminologia: ver-iluminar-agir (DNC 157-162).

Muito contribuiu para a evolução da catequese no Brasil o movimento querigmático, também de origem europeia. A catequese querigmática, pedagogicamente construída a partir de unidades didáticas, tem como espinha dorsal de seu conteúdo a História da Salvação, cujo centro é Jesus Cristo, com um grande uso da Bíblia, particularmente os Evangelhos, como também da Liturgia. É fruto da convergência na catequese dos avanços dos movimentos bíblico, litúrgico, da renovação da teologia querigmática, da escola ativa, e de toda a efervescência pastoral que acontecia na Igreja às vésperas do Vaticano II.

Entre os grandes animadores brasileiros da catequese do período pré-conciliar, destaca-se o Pe. Álvaro Pereira de Albuquerque Negromonte (1901-1964). Sobre ele assim se expressa O. Lustosa:

Reconhecido na vida como “mentor do catecismo no Brasil” e “um mestre brasileiro de pedagogia do catecismo”, o Pe. Álvaro Negromonte foi lentamente esquecido após sua morte (1964). Sua obra catequética merece, não apenas os agradecimentos dos catequistas, mas um estudo sério de sua importância e de sua influência nos 30 anos de atuação (Lustosa, 1992, p. 113; cf. 120).

Criou e difundiu no Brasil o chamado método integral de catequese: tinha como objetivo “formar o cristão íntegro, firme na fé, forte no amor e pleno de esperança” (CR 22). Entretanto os poucos autores que tratam da catequese no Brasil, colocam-no em primeiro plano, como renovador da catequese, após a era dos catecismos teológicos e com o advento da renovação querigmática. Depois de intensa atividade em Belo Horizonte, de onde praticamente dirigia a catequese em nível nacional, e no Rio de Janeiro, juntou-se a Dom Helder Câmara, na fundação do Instituto Superior de Pastoral Catequética nacional (ISPAC) e na publicação da Revista Catequética, editada durante 8 anos (1949-1956). Nessa ocasião foi o primeiro assessor nacional para a catequese da nascente CNBB (1952), cujo departamento catequético se intitulava Secretariado Nacional do Ensino de Religião (SNER)[5]. Deixou inúmeras publicações, entre as quais se sobressai sua Pedagogia do Catecismo (1937), sendo que as outras são obras mais didáticas, no estilo renovado dos textos de catequese, cujo conteúdo e estilo renovou radicalmente.

Em muitas partes do mundo cristão realizavam-se Congressos Catequéticos ou Semanas Internacionais de Catequese (seis ao todo) sempre em vista de uma revitalização e novas perspectivas, levadas adiante pelo jesuíta Pe. Johannes Hofinger (1903-1984), incansável apóstolo da renovação catequética em base à teologia querigmática e o nascente conceito de inculturação da fé, do qual foi um pioneiro. Pe. Pedro Arrupe SJ, usou-o pela primeira vez oficialmente no Sínodo da Catequese (1977) e depois São João Paulo II, também pela primeira vez usa-o na Exortação Apostólica Catechesi Tradendae (CT).

Concluindo esse período pré-conciliar no Brasil, é obrigatório referir-se à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, fundada sob a liderança de D. Helder Câmara, então simples padre e Assistente Eclesiástico da Ação Católica, em cuja organização e espiritualidade se inspirou para estruturar a CNBB. A catequese, a partir de tal fundação trouxe nova coordenação tanto paroquial como diocesana, vigor, e crescimento à catequese.

Em 1961 D. José Costa Campos, Bispo de Valença (RJ), é nomeado presidente do SNER. Seu dinamismo, capacidade de organização e liderança imprimiu um novo vigor ao movimento catequético brasileiro, com inúmeras iniciativas. Reorganizou o SNER e convocou o Pe. Hugo Paiva, (CM, padres da Missão), formado em catequética no Institut Catholique de Paris, como assessor nacional. O novo assessor logo elaborou um plano de reorganização da catequese no Brasil, cujas medidas mais urgentes seriam a organização do ISPAC (Instituto Superior de Pastoral Catequética) e a criação de um Centro de Informação e Documentação. Criou ainda uma equipe nacional de assessoria que atuou em território nacional, principalmente com cursos e acompanhando o andamento das atividades do SNER.

5 Do Vaticano II (1962-1965) ao final do século XX

Os grandes movimentos de renovação da primeira metade do século XX, como o movimento bíblico, patrístico, litúrgico, querigmático e catequético do final do séc. XIX e início do XX, incluindo aí a Ação Católica, renovam a Igreja e provocam o Concílio Vaticano II com grande ganho para a catequese. O Concílio não quis um Catecismo Universal ou Catecismo Fonte, atribuindo aos bispos a responsabilidade pelos catecismos locais (cf. CD 14), mas fez publicar o Diretório Catequético Geral (1971). Precedido também por grandes movimentos, como a Ação Católica, a Igreja se abre ao mundo moderno, às questões sociais e à ação dos leigos. O método ver, julgar e agir, da Ação Católica, domina a pastoral no Brasil. Desde 1962. Durante o Concílio, a CNBB publica um plano orgânico de pastoral de 4 em 4 anos, as Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja (mudado depois para Ação Evangelizadora). Nas Diretrizes, a dimensão catequética sempre teve grande destaque, situando-a sempre mais no grande objetivo da evangelização cujas características marcam sempre mais o conceito de catequese.

O Vaticano II ficou sendo inicialmente conhecido e veiculado no Brasil, através, principalmente, da reflexão catequética, muito fecunda nos anos 60 e 70, destacando-se o ISPAC. Criado nos moldes do Institut Catéchètique de Paris, o ISPAC do Rio de Janeiro durou pouco (1963-1969), mas formou a geração de catequetas que impulsionaram a catequese nos anos 60 até o início do milênio…. Publicou várias obras, em geral traduzidas do francês, que muito refletiam o pensamento catequético alemão, e era o que havia na época de mais avançado em termos de catequese. Além desse ISPAC nacional, foram fundados outros ISPACs em nível regional (Curitiba, Salvador, São Paulo, Porto Alegre…).

Com a crise desses cursos, somente em 1982 irá aparecer, em São Paulo, no Instituto Pio XI, dos salesianos, um Curso Superior de Pastoral Catequética (CSPC). O curso durou 16 anos, até 1997, seno, em seguida, substituído pelos cursos de Pós-Graduação, com reconhecimento do MEC. Em outras cidades também se abriram cursos de pós-graduações lato sensu: Curitiba, Goiás, São Paulo, Porto Velho, Salvador, Cuiabá, Sinop, Florianópolis, Castanhal (Norte II), IRPAC (Leste II), Dourados, Marília, Lages… Tais cursos elevaram muito o nível dos coordenadores de Catequese e dos próprios catequistas de base.

Na América Latina, a renovação catequética se deu, sobretudo, através da Semana Internacional de Catequese de Medellin (agosto de 1968), na qual os catequetas brasileiros tiveram grande atuação. Foi seguida imediatamente da II Assembleia do CELAM, na mesma cidade, em setembro de 1968. A situação sociopolítica exigia da Igreja e da catequese, naquele momento histórico, uma resposta às inúmeras injustiças institucionalizadas (expressão usada por um dos documentos de Medellín). Nascia assim a opção pelos pobres, os germens da teologia da libertação, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e a consequente catequese libertadora e transformadora. Esta corrente catequética se consolidou nos documentos da CNBB: Catequese Renovada: Orientações e Conteúdo (CR, 1983), e outros textos produzidos pelo Grupo Nacional de Reflexão Catequética (GRECAT) [6], com intensa participação de muitos especialistas e dos catequistas em geral. Esse grupo, fundado no mesmo ano de 1983, por ocasião da confecção e publicação do documento CR, tem como finalidade acompanhar e assessorar a Dimensão Bíblico-Catequética da CNBB, animar e impulsionar a catequese em nível nacional.

Em 1978 foi fundada a Revista de Catequese, pelo Pe. Ralfy Mendes de Oliveira (1917 -2008), com o apoio da Província Salesiana de São Paulo e da Editora Salesiana Dom Bosco. Apesar das grandes dificuldades, ela se mantém até hoje como publicação acadêmica do Centro UNISAL – Pio XI, de São Paulo. As quatro semanas brasileiras de catequese (1986, 2001, 2009, 2018) têm sido momentos culminantes da história recente da catequese no Brasil. É importante citar ainda as Assembleias do CELAM de Puebla (1979), Santo Domingo (1992), Aparecida (2007) e o documento Catequese na América Latina (1985; 1999), publicado pelo CELAM para os países latino-americanos.

Em termos de Igreja mundial, esse período pós-conciliar foi igualmente riquíssimo de orientações, publicações, documentos, subsídios com estimulante aceitação e repercussão na catequese brasileira. Embora algumas obras apresentadas a seguir não sejam temas propriamente de História da Catequese no Brasil, é importante citá-las devido ao grande influxo que suscitaram. Geralmente elas surgiram de uma prática já existente, ou da grande Tradição da Igreja, mas ao mesmo tempo abriram novos horizontes e caminhos, conforme as necessidades do momento. Assim, foi publicado em 1971, como já foi dito, o primeiro Diretório Catequético Geral, que entre outras coisas, insistia na necessidade de volta aos adultos como interlocutores ou destinatários primeiros da pastoral catequética e, como objetivo da catequese, a maturidade da fé. A IV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (27 de Setembro a 26 de outubro de 1977) foi dedicada à catequese: uma longa e profunda análise, seguidas das oportunas reflexões e tomadas de decisão, nunca realizadas na Igreja com tal amplitude e participação. Logo depois, São João Paulo II escreveu a Exortação pós-sinodal Catequese Tradentae (CT, 1979), de tempestiva repercussão em toda a Igreja, abordando propriamente todos os principais temas da pastoral catequética. Ele também fez publicar o Catecismo da Igreja Católica (CaIC), em 1992, modificando o mandato conciliar que não prescrevia um texto universal de catequese. Pode-se dizer que esse volumoso e oportuno texto, que expressa o autêntico conteúdo da catequese doutrinal, conforme o atual magistério da Igreja, é um lídimo fruto do longo pontificado do Papa São João Paulo II, embora de várias partes houvesse sua solicitação, sobretudo dos países “de missão”. De fato, ele se coloca entre as iniciativas do Papa Wojtyła de prover a Igreja com os instrumentos aptos para uma nova evangelização do mundo de hoje.

Muito ligado ao CaIC, foi promulgado também o Diretório Geral para a Catequese (DGC) em sua 2ª. edição (1997). É talvez o mais completo e profundo dos textos já produzidos pela Igreja em favor da catequese. Como instrução, a catequese é, muito corretamente, considerada em sua dimensão evangelizadora. Isso supõe que ela seja sempre precedida pelo urgente primeiro anúncio, como a essência e o resumo de todo Evangelho. Deste modo, um segundo momento catequético poderá ampliar e consolidar a adesão a Jesus Cristo, usando, para isso, a doutrina católica, que tanto caracterizou a catequese no passado e para o qual foi criado o CaIC. Hoje, num mundo em processos de descristianização, não podemos, antes da catequese, fazer valer esse primeiro momento querigmático.

O Congresso Internacional de Catequese (08-12 de outubro de 2002), comemorando os 10 anos do CaIC acentuou a importância desse texto e dos catecismos nacionais, reforçando a necessidade de se dar maior importância à dimensão intelectual e sistemática na educação da fé: daí se explica por que a Congregação da Doutrina da Fé foi a autora e promotora principal do Catecismo. Esta tendência doutrinária ganhou maior importância com o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, querido por João Paulo II e publicado por Bento XVI (29-06-05), um resumo em perguntas e respostas, acentuando mais ainda apenas a dimensão doutrinal! No entanto, tal dimensão intelectual, sempre necessária na catequese, deve estar integrada e equilibrada com os outros aspectos da educação da fé, como bem demonstrou todo o movimento catequético do final do séc. XX, cujo ápice foi o DGC.

Como sintetizar o núcleo desta renovação catequética sob o impacto do Vaticano II? Poderíamos relevar esses aspectos: a comunidade de fé como principal lugar de catequese; o valor da Bíblia como texto principal da educação da fé, acompanhado da centralidade da Liturgia; o princípio de interação entre fé e vida, relevando o mútuo influxo entre mensagem evangélica e situações concretas da vida; a necessidade de inculturação das fórmulas (ou enunciados, doutrinas) da fé; a importância da pessoa do catequista, como testemunha viva do que anuncia e considerado como mistagogo ( que conduz ao mistério de Cristo e da Igreja) e sua esmerada formação; por fim, a recuperação da dimensão catecumenal da catequese, que recebeu no período seguinte toda a atenção e maior desenvolvimento.

6 A catequese a serviço da Iniciação à Vida Cristã: dimensão catecumenal

O início do século XXI é marcado no Brasil, pela atenção e reflexão sobre os adultos, com a redação e publicação do Estudo da CNBB: Com adultos catequese adulta, fruto da 2a. Semana Brasileira de Catequese (outubro de 2001). Nesse sentido, houve várias iniciativas em todo o país. É típico do Brasil afirmar a “catequese com adultos” e não “de adultos”, para reforçar a ideia de que eles são, mais que destinatários, interlocutores da catequese. Se isso vale para todo tipo de catequese, muito mais para a catequese realizada com pessoas adultas.

Outro tema que ocupou seriamente a Igreja nesse início de milênio foi a catequese considerada como processo de Iniciação à Vida Cristã (IVC). Sobre essa expressão deve-se considerar que a tradição histórica, tanto teológica como litúrgica, sempre usou a expressão “iniciação cristã” para indicar os processos pelos quais a pessoa “torna-se cristã”, usando a expressão de Tertuliano (século II): “as pessoas se tornam, não nascem cristãs!” (fiunt non nascuntur christiani: Apologia, XVIII, 4). No Brasil e em alguns países latino-americanos, usa-se a expressão “iniciação à vida cristã”, para indicar que não se trata de algo somente místico e espiritual, mas deve tocar as raízes da existência, de um modo muito experiencial, sobretudo no que se refere aos graves problemas sociais do Brasil.

Como haviam determinado os documentos conciliares Christus Dominus (13, 14 c), Ad Gentes (14-15,17) e Sacrosanctum Concilium (64), o Diretório Catequético Geral da Sé Apostólica (1971) já estabelecera que “a instituição dos catecúmenos adultos fosse restabelecida” (20b; cf. 19 b, c). Como fruto da Reforma Litúrgica do Concílio, foi publicado, em 1971, o Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA), importantíssimo para a catequese iniciática, mas ficara um texto desconhecido e pouco usado. Somente no início do século XXI é que, em âmbito latino-americano e depois brasileiro, começou-se a descobri-lo e estudá-lo, suscitando inclusive, no Brasil, uma nova edição, com diagramação que melhor facilitasse seu uso nos ritos de iniciação (2001).

Entretanto, foi em sua segunda edição, de 1997, que o DGC reforçou, na catequese, a restauração do catecumenato, uma vez que agora ela é considerada dentro do quadro maior da evangelização. Assim, a catequese retorna a seu lugar original, nascida, de fato, dentro dos processos de IVC (catecumenato), como nos primeiros séculos do cristianismo.

Diferentemente de certa concepção tradicional de catequese, em que era privilegiado quase que somente o conteúdo doutrinal, o catecumenato, segundo AG, “não é mera exposição de dogmas e preceitos, mas uma educação de toda a vida cristã e um tirocínio de certa duração com o fim de unir os discípulos com Cristo, seu Mestre” (14a).

Esse processo de iniciação é assim descrito: “sejam os catecúmenos convenientemente iniciados no mistério da salvação. Através da prática dos costumes evangélicos e pelos ritos sagrados que se celebram em tempos sucessivos, sejam introduzidos [iniciados!] na vida da fé, da liturgia e da caridade do Povo de Deus” (AG 14a). Seguem-se outras disposições (14b-e) que, no seu conjunto foram assumidas e ampliadas no livro litúrgico Rito de Iniciação Cristã de Adultos (RICA, 1972).

Tais reflexões confluíram no documento da CNBB Diretório Nacional de Catequese (DNC). No início do milênio, ao invés de se fazer uma nova edição atualizada de CR optou-se por publicar esse Diretório, em continuidade com CR e sem rupturas. Tal projeto vinha atender também a um pedido da Santa Sé a todas as Conferências Episcopais, através do DGC (cf. nº. 9, 11, 139, 166 e 171). Foi um longo processo de reflexão e redação que durou de maio de 2002 a outubro de 2006, quando foi aprovado e publicado, depois de três Assembleias Gerais do episcopado e de dois Instrumentos de Trabalho. Muitos catequistas, catequetas, biblistas, teólogos, liturgistas e outros estudiosos foram envolvidos no processo de elaboração deste DNC. Ele trouxe novo impulso e animação na pastoral catequética, um verdadeiro marco na história da catequese brasileira. Propondo uma catequese com dimensão catecumenal, intimamente ligada à Liturgia, o DNC apresenta um novo paradigma de catequese. Tal tendência foi uma antecipação do que seria refletido e proposto para toda a América Latina através da V Conferência do CELAM, em Aparecida. Esse DNC, ao permitir o conferimento do Ministério do Catequista para leigos, adiantou de 15 anos o Motu Proprio Antiquum Ministerium, do Papa Francisco, que o irá instituir em 2021.

Em vista dessa magna assembleia, a Secção de Catequese do CELAM reuniu em Bogotá de 01 a 05 de 2006 a III Semana Latino-Americana de Catequese, com cerca de 50 especialistas, entre os quais muitos brasileiros, para dar contribuições a partir da catequese. Foi um importante momento catequético latino-americano, liderado por Dom José Luís Chávez Botello, responsável pela catequese no continente e seus assessores. Como fruto dessa III SLAC foi publicado um documento em quatro capítulos[7], que acentua, sobretudo, os processos de iniciação cristã e a dimensão catecumenal da catequese. Tal contribuição, embora de maneira muito sucinta, faz parte do Documento de Aparecida, que assume o catecumenato realizado nos processos de IVC para a formação dos discípulos missionários, grande perspectiva dessa Assembleia Continental (cf. nº. 285-284).

O documento IVC, conforme o RICA, é composto de quatro tempos e três etapas. Os tempos são: pré-catecumenato (primeiro anúncio), catecumenato propriamente dito (instrução, catequese, conversão), iluminação-purificação (tempo quaresmal-pascal) e mistagogia (catequese após o recebimento dos sacramentos da iniciação, própria do tempo pascal). As etapas são as grandes celebrações: entrada no catecumenato, purificação e iluminação (ritos de entregas e outros) e celebração sacramental do Batismo, Crisma e Eucaristia. Esse ritual deixa grande possibilidade de estruturação, nova organização e, sobretudo, inculturação dos ritos catecumenais. Porém, as experiências e propostas em geral são baseadas nos ritos tradicionais do mesmo RICA. Conforme o DGC, da Sé Apostólica, e o DNC, da CNBB (2006), o RICA dá o ritmo dos ritos e celebrações que devem acompanhar a catequese entendida como educação e instrução na fé. Ad Gentes (AG) releva ainda a grande importância da comunidade no processo catecumenal: “a iniciação cristã não é apenas tarefa dos catequistas e sacerdotes, mas de toda a comunidade dos fiéis, de modo especial, dos padrinhos” (14d; cf. PO 6d).

No Brasil, como na América Latina, essa guinada em busca de uma catequese de índole catecumenal é bem recebida, inicialmente entre os orientadores da catequese e os ambientes acadêmicos, para em seguida ser entusiasticamente acolhida pela maioria dos catequistas de base. Cresce o interesse pela restauração do catecumenato, pois é nele, ou seja, dentro do processo de IVC que a catequese encontra seu húmus e lugar onde melhor exercer sua missão mistagógica e iniciático-pedagógica. Apesar dos inúmeros cursos de atualização ou assembleias para o clero sobre a IVC, proporcionados pela maioria das dioceses, do ponto de vista prático, a instauração desse novo paradigma catequético-catecumenal encontra resistências e questionamentos por parte daqueles que justamente deveriam liderar tal renovação: os párocos! Muitos o julgam complicado, trabalhoso e preferem manter a toada tradicional da catequese, apenas com alguma maquiagem nos subsídios e métodos.

Um acontecimento de grande impacto na catequese no Brasil e demais setores da Igreja, sem dúvida, foi a eleição do Papa Bergoglio. O nome escolhido, Francisco, já indica uma forte tendência de seu pontificado: surpreendeu o mundo com gestos de simplicidade, pobreza, apelo à misericórdia, reforma nas estruturas eclesiais e o retorno ao núcleo central do Evangelho. Invejável é também a lista de seus escritos: além de uma encíclica sobre a Fé, Lumen Fidei, que muito tem a ver com a catequese, escreveu quase que de próprio punho a exortação apostólica Evangelii Gaudium (a alegria do Evangelho), importantíssima para a evangelização e catequese, recolhendo os frutos principais do Sínodo dos Bispos, de 2012. Outros grandes documentos seus: Laudato si, Amoris Laetitia, Querida Amazonia, Fratelli tutti. Proclamou 2016 como Ano da Misericórdia, convocou o Sínodo de 2018: os jovens e a fé, e sua respectiva exortação Apostólica Christus vivit. Ele mesmo, em suas catequeses, é um exemplo vivo de como fazer catequese hoje.

7 Um panorama fecundo de eventos e atividades catequéticas

Entre 2012-2022, podemos elencar onze acontecimentos e documentos em torno da IVC. Eles marcam a história recente e apontam para esse novo paradigma catequético. Não se trata apenas de nomes e dinâmicas inovadoras, mas constitui-se também como que um novo caminho, que não tem retorno, para o futuro da catequese no Brasil:

  1. 1. O Sínodo dos Bispos para a Nova Evangelização realizado, em outubro de 2012, com o tema A Nova Evangelização para a transmissão da fé, no marco dos 50 anos do Vaticano II e 20 do Catecismo da Igreja Católica. Reafirmou a importância da catequese para a nova evangelização, sublinhando seu caráter catecumenal e a prioridade dos adultos. Pediu que fosse revista a sequência da recepção dos Sacramentos da Iniciação, propondo: Batismo, Crisma, Eucaristia, para que esse Santíssimo Sacramento se torne o ápice da iniciação, e não a confirmação.
  2. O III Congresso Internacional sobre o Catecumenato, realizado em Santiago do Chile (20-25 de julho de 2014) sobre a IVC e a mudança de época.
  3. O Seminário Nacional sobre Iniciação à Vida Cristã, em São Caetano (SP), de 07 a 09 de novembro de 2014: avaliação de experiências realizadas e prospectivas.
  4. Publicação pelo Celam do texto: A alegria de iniciar discípulos missionários numa mudança de época. Novas perspectivas para a catequese na América Latina e Caribe[8]. É um texto breve, denso e provocativo; apresenta-se com uma linguagem simples; sem ser acadêmica ou erudita, é profunda, compreensível por um catequista de cultura média.
  5. Lançamento, pela Comissão episcopal pastoral para a animação bíblico-catequética, da CNBB, do Itinerário Catequético: iniciação à vida cristã – um processo de inspiração catecumenal (Brasília: Edições CNBB 2016, 3ª. ed.). Nele, de maneira muito esquemática, há itinerários de IVC para 4 idades: adultos não batizados, adultos batizados, crianças, adolescentes e jovens, sempre a partir do RICA e integrando os três grandes livros da IVC: Bíblia, CaIC, RICA.
  6. Reunião do Pontifício Conselho para Promoção da Nova Evangelização com os 18 Regionais da CNBB, para conhecimento direto da catequese no Brasil por parte desse organismo romano, realizado de 02 a 04 de setembro de 2015, em Aparecida (SP): foi a primeira vez que um órgão da Cúria Romana se interessou por um maior conhecimento, in loco, da nossa realidade catequética brasileira. Estabeleceu-se um diálogo muito fecundo.
  7. Aprovação, pela 55ª. Assembleia Geral da CNBB, em 2017, do Documento 107, Iniciação à Vida Cristã: itinerário para formar discípulos missionários (Brasília: Edições CNBB, 2017). É o documento oficial mais importante da Conferência Episcopal brasileira para a IVC, dentro da qual se situa a catequese. São 4 capítulos densos de doutrina e história: depois de um primeiro capítulo, em que apresenta o ícone da IVC no episódio de Jesus e a Samaritana, o segundo é um duplo olhar: para o passado (a história da IVC) e para o presente (as necessidades atuais); só então, no terceiro capítulo, procede-se a uma grande reflexão teológico-pastoral sobre a IVC, tratando temas como mergulho no mistério de Deus e de Cristo mediante o mistério da Igreja, contemplada como comunidade querigmática e missionária, mistagógica e materna; reflexão sobre o RICA e os sacramentos da IVC, concluindo com a visão da vida cristã como fruto da Iniciação. Por fim, no quarto e maior capítulo, há a proposta de caminhos metodológicos: o projeto diocesano responsável por todo o êxito dessa prática pastoral-catequética, o querigma, o catecumenato com seus tempos e etapas, orientações para a formação iniciática e sobre os principais atores da IVC, concluindo com encaminhamentos para a revisão da ordem dos sacramentos da iniciação: Batismo, Crisma e Eucaristia.
  8. Promovido pelo Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, realizou-se no Vaticano, de 20 a 23 de setembro de 2018, o II Congresso Internacional de Catequese, com o tema: O Catequista, testemunha do Mistério. Teve o caráter mais de festa e celebração, mas também momentos de reflexão sobre o catequista testemunha e anunciador do mistério cristão.
  9. IV Semana Brasileira de Catequese, de 14 a 18 novembro de 2018, em Itaici (SP), com o tema A Catequese a serviço da IVC. Foi preparada com um subsídio próprio pelas duas comissões episcopais: da Catequese e da Liturgia. O evento teve como lema “Nós ouvimos e sabemos que Ele é Salvador do mundo” (Jo 4,42), contando com mais de quatrocentos participantes de todo Brasil, com a totalidade da liderança catequética brasileira e representantes da maioria das 278 dioceses e outras circunscrições eclesiásticas.
  10. Publicação do novo Diretório para a Catequese (DpC), pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização e apresentado em 25 de junho de 2020. Repete as grandes intuições e perspectivas do Diretório Geral para a Catequese anterior, e integra os ensinamentos dos Papas Bento XVI e Francisco. Retorna a falar de catequese escolar para atender a necessidades das Igrejas do Leste Europeu, que muito valorizam a escola para evangelizar (no Brasil se faz a distinção entre Catequese e Ensino Religioso Escolar). Com relação ao Diretório anterior, inova acrescentando a dimensão midiática da catequese, muito bem desenvolvida no item Catequese e cultura digital (nº. 359-372): características gerais, transformação antropológica, cultura digital como fenómeno religioso, cultura digital e questões educativas, anúncio e catequese na era digital. Para a América Latina, que já possui o grande documento de Aparecida, com significativo avanço na IVC, o novo Diretório não trouxe grandes novidades. Entretanto, para a Europa e outros continentes, ele relembrou as conquistas da catequese nesse último século e nem sempre colocadas em prática no antigo continente. Sua receptio (recepção) foi intensa e calorosa, dada a facilidade das redes sociais, em fazer lives, seminários, conferências, cursos. Grandes estudiosos, tanto da América Latina, como da Europa, deram suas contribuições apresentando o texto e relevando sua grande contribuição para a catequese hoje e no futuro.
  11. Esse DpC, de 2020, não reconhece oficialmente o Ministério instituído do Catequista; na verdade, nem é nomeado. De fato, há pessoas, também da Hierarquia da Igreja, que não concordam com essa ideia, afirmando que oficialmente o termo Ministério se aplica somente aos membros do clero. Mas, o Papa Francisco, em 10 de maio do ano seguinte (2021), enfrentando oposições, colocou um ponto final nessa discussão e, por própria iniciativa (motu próprio), instituiu formalmente o Ministério Leigo da/o Catequista, através do Motu Proprio Antiquum Ministerium (AM). É um grande reconhecimento da Igreja pelo trabalho árduo, cansativo, penoso dos catequistas. Embora já haja um Rito da CNBB para a instituição do ministério do/a catequista, (Cnbb, Ministério do Catequista. Coleção Estudos da CNBB 95. Paulus: 2007) a Conferência Episcopal, obedecendo ao mandato do Papa em AM, publicou também o Ritual para a instituição o Ministério Leigo da/o catequista [9].

Pe. Dr. Luiz Alves de Lima, sdb

Referências

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[1] Siglas usadas nessa matéria: AG = Ad Gentes; AM = Antiquum Ministerium; DAp = Documento de Aparecida (CELAM: 2007);  CaIC = Catecismo da Igreja Católica; CD = Christus Dominus; CM = Congregação da Missão (vicentinos); CR = Documento Catequese Renovada; CT = Catechesi Tradendae; DGC = Diretório Geral para a Catequese (1997; DNC = Diretório Nacional de Catequese (2006); ISPAC = Instituto Superior de Pastoral Catequética; IVC = Iniciação à Vida Cristã; PO = Presbiterorum Ordinis; DM = Documento de Medellín (CELAM, 1968); DP = Documento de Puebla (CELAM: 1979); RICA = Ritual de Iniciação Cristã de Adultos; SD = Documento de Santo Domingo (CELAM: 1992); SC = Sacrosanctum Concilium; SLAC = III Semana Latino-Americana de Catequese.

[2] As Regras comuns dos jesuítas impunham a grave obrigação de conhecer e usar bem as línguas indígenas, a ponto de poderem escrever livros e explicar a doutrina cristã; era uma das condições para ser ordenado sacerdote. Muitas eram as línguas faladas no Brasil, mas havia uma língua geral, dos tupinambás (nheengatu), mais ou menos falado por todos.

[3] Sobre os valores indígenas e africanos assimilados no catolicismo popular pela catequese nesta época, cf. Cansi, 1993, p. 195-201.

[4] Podem ser citados: D. Antônio Viçoso (Mariana), D. Antônio Joaquim de Melo (São Paulo), D. Antônio Macedo Costa (Pará), D. Joaquim Manoel da Silveira (Maranhão), D. Pedro Maria de Lacerda (Rio de Janeiro), D. Romualdo de Souza Coelho e outros. Alguns autores chamam tal reforma de romanização, pois se pretendia superar o tradicional catolicismo português, de raiz medieval, sob o espírito tridentino romano.

[5] É preciso notar que, no Brasil, não havia muita distinção entre Catequese, como atividade paroquial em vista do crescimento da fé, própria da Comunidade Eclesial (paróquia) e o Ensino Religioso Escolar, próprio da Escola, como educação da religiosidade. Pe. Álvaro Negromonte sempre trabalhou e escreveu sobre ambos. Tal distinção vai se acentuar e ser esclarecida somente mais tarde com o documento Catequese Renovada (1983).

[6] São muitos. Os mais importantes: Textos e Manuais de Catequese: orientações para sua elaboração, análise e avaliação = Estudos da CNBB 53, 1987; Formação de Catequistas: critérios pastorais = Estudos da CNBB 59, 1990; Orientações para a catequese de crisma = Estudos da CNBB 61, 1991; Catequese para um mundo em mudança = Estudos da CNBB 73, 1994; O hoje de Deus em nosso chão = Estudos da CNBB 78, 1998; Com adultos catequese adulta = Estudos da CNBB 80, 2001; Crescer na Leitura da Bíblia = Estudos da CNBB 86, Paulus 2003; Ler a Bíblia com a Igreja: comentário didático popular à Constituição dogmática Dei Verbum = Projeto Nacional de Evangelização “Queremos ver Jesus…” nº 11, 2004, etc.

[7] Celam – Secção de Catequese, A caminho de um novo paradigma para a Catequese. III SLAC. Brasília: Edições CNBB, 2007.

[8] Celam. A alegria de iniciar discípulos missionários numa época de mudanças. Brasília: Edições CNBB, 2016.

[9] Cnbb, Critérios e Itinerários para a Instituição do Ministério de Catequista. Brasília: Edições CNBB, 2022.

    Experiencias espirituales de los pueblos en Abya Yala

    Índice

    Introducción

    1 Los mundos de los que somos parte

    2 Cosmovivencias holísticas nutridas en las fuentes ancestrales

    3 Siendo y estando en relación

    4 Espiritualidades relacionales cósmicas

    4.1 Relacionalidad recíproca

    4.2 La dualidad complementaria

    4.2 La criación mutua de la vida

    5 El desafío de seguir siendo y estando sostenidos por las espiritualidades

    Referencias

    Introducción

    El texto presenta el entretejido de las cosmovivencias y espiritualidades relacionales cosmogónicas de los pueblos que se reconocen en sus raíces ancestrales ubicados en los territorios colonizados de Abya Yala[1], a fin de seguir estableciendo, desde el reconocimiento de ser hijas e hijos de la tierra, el equilibrio y la armonía por medio de las relaciones de mutualidad y correspondencia con las diversas comunidades de vida.

    1 Los mundos de los que somos parte

    En la aproximación a los territorios y contextos de Abya Yala, no se puede negar el predominio de la extensión del sistema colonial, en la que prima el paradigma hegemónico de una cultura dominante reforzada desde el pensamiento moderno que formuló la noción universal de la misma. En nuestros territorios, ese paradigma se dilató por medio de la configuración de los Estados nación que siguen los espejismos del capitalismo presentado como “desarrollo”. Todo esto supuso una extensión de las economías extractivistas, favoreciendo a una élite predominante e impulsando una serie de políticas de exterminio hacía los pueblos indígenas. Tales pueblos eran considerados como una traba para el desarrollo, el cual tiene su referente en el mundo occidental, costándole reconocer los otros modos de saberes y seres.

    Los diversos pueblos vinculados a sus raíces milenarias se reconocen en los territorios que sufren, desde hace más de quinientos años, el avasallamiento extractivo y el exterminio sistemático por medio de las políticas genocidas. Son políticas vistas como amenaza a los mundos plurales ancestrales que se resisten a morir, los cuales luchan por seguir siendo y estando en vínculo con sus territorios tierra y las diversas fuerzas vitales, su sentido, que es nombrado de diversos modos, según la cosmogonía de cada pueblo.

    Su reconocimiento y la libre determinación en su organización comunal, no es respetada en sociedades construidas sobre la base colonial de lo “indio”, como lo plantea Bonfil:

    La categoría ‘indio’ designa al sector colonizado y hace referencia necesaria a la relación colonial. El indio surge con el establecimiento del orden colonial europeo en América; antes no hay indios, sino pueblos diversos con sus identidades propias. Al indio lo crea el europeo, porque toda situación colonial exige la definición global del colonizado como diferente e inferior (desde una perspectiva total: racial, cultural, intelectual, religiosa etc.); en base a esa categorización de indio, el colonizador racionaliza y justifica la dominación y su posición de privilegio (BONFIL, 1988, p. 19).

    Esto supuso para algunas poblaciones indígenas la negación de sí, asumiéndose desde el sistema que lo niega, asociándose a las consideradas poblaciones mestizas que se constituyen a partir de una identidad configurada desde la noción de lo “blanco”; se privilegia el saber y modos de vida occidentales, completamente desvinculadas de lo que se considera la naturaleza, es decir, de la relación con la tierra y sus interrelaciones.

    Muchos pueblos buscaron la forma de no ser completamente aculturados, y después de largos periodos de vivir en la clandestinidad a la que fueron relegados, buscaron salir de ella. Si bien, el proceso se da en los diversos territorios, es significativo lo que acontece en el vasto territorio de la Amazonía en la que se ubica la mayor parte de pueblos ancestrales que conservaron sus saberes, sabidurías y espiritualidades, todas ellas entretejidas a partir de la hermosa polifonía de lenguas milenarias, y de la asombrosa biodiversidad que habita en sus territorios.

    Aunque desde el discurso del multiculturalismo, en nuestros contextos, se reconoce el pasado de muchos pueblos proscritos en los museos y el folklore, la promoción de políticas de asimilación – que se implementan por medio de diversos programas considerados de “inclusión social” hacía las denominadas minorías étnicas – ha reforzado procesos de aculturación de las generaciones más jóvenes, ubicadas en los márgenes de las ciudades y en sus propios territorios por medio de la educación bilingüe intercultural, que supone en muchos casos la traducción del contenido del saber occidental.

    La consecuencia de la dinámica colonial es la negación o ruptura con la ancestralidad. Pero es importante reconocer que, hasta los años 1990s, los pueblos “indios” acuerpados en esa identidad asignada reconocen que, pese a los quinientos años de dominio y explotación, ellos resistieron. Se trata de un tiempo en lo que se evoca la memoria de la resistencia y del camino para recrear la vida de los pueblos en relación con otros, como en un intercambio de saberes ancestrales que ayuda a resistir a los sistemas extractivos que están llevando a una devastación de la vida.

    En este contexto, el tejido de las espiritualidades indígenas, que se entrelazan con la esperanza de fortalecerse en relación con su ancestralidad, les posibilita nombrarse y reconocerse como pueblos, nacionalidades y comunidades que se reconocen en las historias de los fines y renacimientos de mundos. Desde esas historias buscan sanar el territorio y los cuerpos, siguiendo el principio de equilibrio y armonía que se precisa seguir cuidando a partir de las relaciones recíprocas.

    2 Cosmovivencias holísticas nutridas en las fuentes ancestrales

    Evocamos la fuerza de la palabra zapatista desde la selva Lacandona de Chiapas, que se vincula con las sabias de los diversos pueblos ancestrales: “queremos un mundo donde quepan muchos mundos”. Palabras que reflejan no sólo el anhelo, sino la realidad del gran pluriverso de pueblos milenarios en Abya Yala, que rompe con la noción homogénea de lo “indio”. El tejido de las espiritualidades que se cultivan en cada territorio comparte la noción cósmica y telúrica, que acuerpa a los diversos pueblos en el vínculo con el territorio habitado, como lo expresa Aura Cumes: “es muy paradójico que nosotros digamos la “Ma­dre Naturaleza” porque en nuestros senti­dos de mundo no hay una disociación en­tre ser humano hombre y algo llamado naturaleza” (CUMES, 2021, p. 19). Ya que, cada pueblo, se reconoce en la tierra como parte de la gran red de vida que fluye en ella, como se expresa en las palabras que presenta Eduardo Galeano:

    ¿Qué tiene dueño la tierra? ¿Cómo así? ¿Cómo se ha de vender? ¿Cómo se ha de comprar? Si ella no nos pertenece, pues: Nosotros somos de ella, sus hijos somos. Así siempre, siempre. Tierra viva. Como cría a sus gusanos, así nos cría. Tiene huesos y sangre. Leche tiene, y nos da de amamantar. Pelo tiene, pasto, paja, árboles. Ella sabe parir papas. Hace nacer casas. Gente hace nacer. Ella nos cuida y nosotros la cuidamos. Ella bebe chicha, acepta nuestro convite. Hijos suyos somos. ¿Cómo se ha de vender? ¿Cómo se ha de comprar? (GALEANO, 1998, p. 38).

    Desde esa conexión, se entretejen las espiritualidades, como diría la sabia Maya Ernestina López, “con los hilos rotos y quemados”, por el despojo de la religión impuesta, que supuso la extirpación y sustitución como métodos usados en los procesos de evangelización, pues se “yuxtapuso una imagen sobre otra y se revirtieron los significados de la creencia de participación en la cosmología de origen” (CORDERO, 2003, p. 5). Por lo tanto, no se trata de un sincretismo como tal, pues mucho de lo que se considera como sincrético responde a ciertas prácticas religiosas del catolicismo popular.

    Por este motivo las poblaciones que tuvieron muy poca influencia cristiana, conservan mucho más el sentido de la espiritualidad arraigada en las relaciones, presentándose como fuentes ancestrales que invitan a hacer un camino de retorno hacía ellas. Esto, para el contexto andino, es el Kuti, “la inversión, la vuelta, regreso, restitución, retorno, revolución o transformación” (MONTES, 1999, p. 144); por lo tanto, se trata del fin de un tiempo y el inicio del otro. Para la cosmogonía Maya, el 2012 ha sido el fin del quinto sol y el inicio de un ciclo nuevo que trae sus propias transformaciones, a fin de que la comunidad humana desate los nudos heredados en las relaciones desiguales y de dominación que se extienden hacía las otras comunidades de vivientes, provocando el desequilibrio en el cosmos.

    Se trata de un tiempo de sanación que procura restablecer el equilibrio y la armonía en el cosmos habitado, para seguir despertando en los diversos saberes y sabidurías a partir de la conciencia cósmica. Hay realidades y situaciones que no se comprenden sólo desde los sentipensares humanos, se requiere relaciones de mutualidad, de escucha y observación del ritmo de las diversas comunidades de vida y la relación con las diversas fuentes vitales que se reconoce en cada territorio.

    Tiempo y espacio desde los cuales se leen las historias transgresoras que buscaron, una y otra vez, la sanación de los territorios tierras y los territorios cuerpos, pues comprendieron que sus cuerpos violentados tenían la posibilidad de incorporarse y resistir frente a los sistemas extractivistas que invaden y avasallan la tierra, territorios y territorialidades. Tiempo en el que busca tejerse la organización comunal a partir de la libre determinación y el respeto de los territorios, que orientan el camino de las re-existencias sostenidas en sus saberes, sabidurías y espiritualidades relacionales para seguir siendo y estando como pueblos.

    3 Siendo y estando en relación

    A partir de las espiritualidades entretejidas desde las sabidurías que se cultivan incluso estando fuera de los territorios de origen, muchas poblaciones de los diversos pueblos recrean los ropajes impuestos, sabores, tejidos, rituales, idiomas, conservando el cuidado recíproco de la vida desde el vínculo con los territorios de origen, puesto que ahí habita la ancestralidad que sostiene los sentidos de su vida, sus familias y sus organizaciones comunales. Por ello, la relación con el espacio habitado será fundamental, ya que se parte del principio de que todo tiene vida, todo vive, lo que supera la oposición entre vida y muerte, pues se concibe otros modos de vida y de relaciones, que prosiguen en la tierra, como se expresa en los pueblos andinos:

    En palabras de un anciano aymara, tenemos tres vidas y dos nacimientos. La primera vida es el seno materno y desemboca en un primer nacimiento; la segunda es la vida en este mundo. La muerte es el segundo nacimiento, que nos conduce a la tercera vida. El seno de la madre humana y el seno de la Madre Tierra son fuente de nueva y mayor vida en los diversos momentos de este gran ciclo vital a la vez personal, social y cósmico (ALBÓ, 2006, p. 372).

    La noción del territorio viviente plantea otras maneras de ser y estar en el cosmos, ya que implica las interrelaciones con los diversos mundos, lo que supuso el planteamiento de la antropología de la vida, que ayuda a comprender el flujo de energía o fuerza vital dentro de la vida, como lo expresa el sabio Guaraní de Mato Grosso:

    Nuestros antepasados enseñaban que cada uno de nosotros tiene un cántico propio, un canto que sólo uno mismo conoce en su interior. También los animales y las plantas, lo mismo que el río y el bosque tienen un canto dentro de sí. Hasta la tierra posee su canto propio. Los hombres de los sueños saben descubrir el canto de la tierra…” (BARROS, 1996, p. 58).

    Se reconocen esos otros modos de ser a partir de las ontologías relacionales, pues se asume que todos los tipos de seres vivientes dependen de otros para su existencia, puesto que no se consideran separadas, sino en constantes interrelaciones. No se conciben fuerzas solitarias, sino en continua relación. Por ello será importante la noción de la comunidad en los territorios asumidos como espacio-tiempo vitales, noción en la que se manifiesta la existencia continuada del pluriverso, como lo expresa Jorge Apaza, que rescata el sentido de las relaciones recíprocas, uno de los principios importantes que propicia la crianza mutua de la vida. Ese principio, en el contexto andino, es la uywaña o uyway:

    El mundo andino es un mundo de crianzas, todos crían y se dejan criar, por eso esta cualidad de la crianza no sólo es atributo del hombre, sino que es común denominador de todos los miembros que conforman la colectividad natural. En cada pacha local se conversa con todo lo que existe y de distintas formas o maneras; el andino es un conversador por excelencia, esta tremenda capacidad de conversar con la naturaleza hace que se establezcan relaciones o simbiosis estrechas y permanentes entre todos los miembros que conforman el ayllu[2]; su única preocupación es vivir mejor y de la manera más armoniosa posible y en equilibrio con todos; entonces la plenitud de la vida se alcanza criándose mutuamente (APAZA, 1997, p. 103).

    La noción de crianzas o de cuidados de la vida, que se comparte en los diversos pueblos ancestrales, denota el sentido de las relaciones en reciprocidad, ya que las acciones afectan en las relaciones como se expresa en la sabiduría del pueblo Tojolabal:

    Todo viviente es pues, hermano o hermana de los humanos. Esperan que nos comuniquemos con ellos, que los tratemos como hermanos y los visitemos. Hablemos con ellos, cuidémoslos y saludémoslos. Es decir, que estemos conscientes de estar entre vivientes y que los tratemos como tales (LENKERSDORF, 2008, p. 128).

    Se trata de modos de ser que se distancian de las espiritualidades dualistas que separan la vida entre materia y espíritu y las ontologías centradas en lo humano como seres superiores, desde la que se presenta una concepción de lo sagrado fuera de la realidad, que deriva en el deterioro grave de la integralidad cósmica y las interrelaciones en la Gran Red de la Vida. Como prosigue Lenkersdorf, presentando los sentipensares del pueblo Tojolabal, en los que se aprecia de qué modo, para las cosmogonías ancestrales, se comprende los parentescos ampliados en las otras comunidades de vida:

    No somos los que están en la cima de los vivientes, sino hermanos de una familia muy extensa que nos influye también. Así nuestras casas que habitamos y edificamos son ellas que también nos forman en nuestro modo de ser. Nuestra milpa nos sostiene. Nuestro perro nos cuida y nos acompaña. Vivimos, pues, en medio de un todo viviente que nos acompaña y nos formamos mutuamente. En cuanto viviente, finalmente hay que escucharlo, así como nos escucha (LENKERSDORF, 2008, p. 125).

    Se trata de modos de ser entretejidos de interrelaciones, que permanecen como testimonio de la tenacidad de la vida que se recrea a partir de las sinergias que se corresponden entre las diversas comunidades de vida.

    4 Espiritualidades relacionales cósmicas

    Para muchos pueblos, el término de espiritualidad es más próximo a sus cosmovivencias, por las interrelaciones con los diversos mundos vitales, aquellos que se ven y aquellos que no, pero que están presentes, que trascienden la noción dualista de lo bueno y malo. A partir de la influencia cristiana se usa ese léxico; sin embargo, muchas sabias y sabios plantean que no se trata de que haya fuerzas o energías buenas y malas, sino que todas requieren un trato diferenciado, y que las fuerzas denominadas como malas son fuerzas o energías que precisan una relación mucho más de respeto y cuidado, pues así como cuidan pueden generar destrucción, enfermedad, plagas, sequías o inundaciones.

    La espiritualidad es asumida desde el principio del equilibrio y armonía, que cada pueblo nombra de diversas maneras, pues se trata de una búsqueda constante en el proceso cíclico cósmico en el cual se ubican los ciclos de todas las formas de vida. Se trata de cultivar el sentido de las relaciones recíprocas, pues cualquier ruptura genera desequilibrios que fragmentan la vida. Por ello, en los tratamientos de enfermedades se precisan ritos de armonización con las fuerzas vitales que habitan en el territorio local para el restablecimiento de la energía o fuerza que acompaña al cuerpo, para dialogar con ella y ver lo que precisa.

    Se trata de espiritualidades ancestrales que se recrean para revitalizar la vida. Las resistencias y articulaciones como pueblos se sostienen en la espiritualidad, que es parte de tiempos y lugares, pues se siguen los ciclos cósmicos por medio de rituales personales y comunales. Aunque algunas veces las espiritualidades se cobijen bajo prácticas del catolicismo popular, o de otras expresiones religiosas, ellas “revelan su particularidad epistémica y una divergencia significativa con relación a la religión hegemónica” (MARCOS, 2002, p. 4).

    A continuación se exponen los principios relacionales que proceden de las sabidurías ancestrales desde las que se entretejen las espiritualidades.

    4.1 Relacionalidad recíproca

    La reciprocidad es uno de los principios que orienta a las relaciones, por lo que los rituales buscan generar correspondencias mutuas entre los/as diversos seres. Esto se puede ver en las ritualidades de las semillas, con quienes se habla y se ofrece comida, bebida, en reciprocidad al cuidado que ofrecen por medio de sus frutos. Por lo general, las encargadas de dicho rito son las mujeres que entrelazan sus saberes con sus haceres, de dar y recibir para volver a entregar, a fin de que los ciclos cósmicos no se interrumpan y sus sabidurías se sigan propagando.

    Las diversas ritualidades siguen el principio de que “todo tiene su tiempo y espacio”, lo que posibilita la noción cíclica de la vida y las relaciones que se tienen que cuidar a fin de respetar los ciclos vitales que no se pueden alterar. Esta noción tiene el sentido integrador de la vida, ya que desde el reconocimiento de que todo tiene su espacio, se integra aquello que llega de algún intercambio de saberes y seres, por lo que se pide permiso a las fuerzas vitales para incorporarlas y para que puedan convivir en armonía.

    Desde esa perspectiva holística, se ubica la relación con el cristianismo. En muchas comunidades no se asume todo, sino algunos elementos que pueden integrarse al territorio viviente. Por ello, los templos cristianos requieren su respeto lo mismo que sus representantes, y hasta habrá necesidad, en algunos tiempos, de su ritualidad a fin de generar la armonización del territorio. Este aspecto que puede ofrecer pistas para comprender las relaciones entre el cristianismo y las espiritualidades andinas, más allá de la noción peyorativa del sincretismo.

    4.2 La dualidad complementaria

    Como una especie de despliegue de la reciprocidad se asume la complementariedad, ya que, para muchos pueblos, se conciben las relaciones duales que expresan el sentido de la integralidad de la vida. Esto es así porque no se asume que haya fuerzas solitarias e individuales, sino que se requiere de otra a fin de que posibilite las relaciones de equilibrio y armonía; así se asume la relación entre el cielo y la tierra, el tiempo y espacio, agua y tierra, sol y luna.

    Aunque, a veces, el lenguaje las designa como fuerzas femeninas y masculinas, tendiendo a sexualizar estas relaciones en las que se ubican las relaciones entre el varón y la mujer, sin embargo, la dualidad trasciende esta categoría que tiende al binarismo y al dualismo. La mejor expresión del sentido de dualidad se ofrece en el altar maya, que refleja las correspondencias de los cuatro puntos cardinales, ubicando en el centro a U’k’ux Kaj (corazón del cielo) y a U’k’ux Ulew (corazón de la tierra), el encuentro de lo telúrico y lo cósmico.

    Se trata de nociones de tiempo y espacio, asumidos en los pueblos como el eje orientador de la vida y de las relaciones. Por ello, la asociación de la cruz cristiana que fue impuesta es asumida, a partir de su propia interpretación, como la integración de las fuerzas de la vida a partir de los cuatro puntos cardinales.

    4.3 La creación mutua de la vida 

    La sacralidad de la vida, o respeto, es entendida desde la fuerza vital que atraviesa todas las formas de vida. Por ello, la creación mutua de todos/as los/as seres tiene que ver con el cuidado, el respeto, el amor, la ternura, la protección, incluso de aquellas fuerzas que pueden generar muerte o enfermedad, pues las relaciones con todos los seres son imprescindibles para que convivan armónicamente en los territorios.

    La creación mutua implica ciertos códigos éticos de convivencia en un determinado territorio, asociado a ritualidades y comportamientos “como parte de un contrato social que se debe entender en sus dimensiones filosóficas y en su poder de efectuar el retorno de un sistema ecológico inestable a un rango más óptimo” (ARNOLD, 2016, p. 113). Se trata de una creación mutua, donde “cada ser vive su propio desarrollo adquiriendo la vitalidad de otros seres. Pues ninguna forma de vida es permanente, sino sumamente cambiante” (ARNOLD, 2016, p. 114).

    Por otra parte, la creación tiene que ver con las nociones de equilibrio que el ser humano debe considerar, en reciprocidad con los/as protectores/as de los animales, de los productos agrícolas, y de los otros seres a los/as que hay que dar de comer y beber, como muestra de gratitud por proporcionar la vida de esos seres y protegerlos. En esa relación se logra establecer el consumo responsable y necesario, por ello, la caza indiscriminada o el maltrato de cualquier ser serán censurados en la comunidad.

    En ese sentido, la creación mutua de la vida se extiende a la relación: “en las comunidades humanas, animales y plantas, se trata de intervenciones en el flujo constante de energía, en diálogos, conversaciones, intercambios y pactos entre los seres del cosmos y en negociaciones permanentes para restablecer y renovar los acuerdos” (ARNOLD, 2016, p. 134).

    5 El desafío de seguir siendo y estando sostenidos por las espiritualidades

    Para los pueblos en Abya Yala, el estigma colonial del “no ser” y la designación de sus espiritualidades como diabólicas, es una fuerte carga, que sostiene su no reconocimiento como pueblos con derechos y que, lamentablemente, se fundamenta en la noción de lo religioso como una puerta que posibilita la invasión y expropiación. La criminalización de la defensa de los territorios en nuestros tiempos se hace a partir de la invalidación de la relación con los territorios vitales habitados por diversas comunidades de vida, que son designadas como supersticiosas, panteístas, paganas, idolátricas, folklóricas, esencialistas.

    Las diversas articulaciones ecuménicas iniciaron caminos de diálogos que derivaron en el caminar de las Teologías Indias/Indígenas y sus respectivas organizaciones locales. No obstante, no se puede negar el creciente fundamentalismo de diversas denominaciones cristianas que afectan a las organizaciones comunales, generando divisiones en las tomas de decisiones; ellas tienden no sólo al fundamentalismo religioso, sino también al fundamentalismo político partidista.

    Los pueblos viven rupturas internas que vacían el sentido de los principios ancestrales y sus espiritualidades, por las influencias externas y las migraciones continuas de sus poblaciones. A pesar de todo, se hallan procesos significativos de adaptación, incluso frente a la “emergencia climática”, pues muchos sabios y sabias reconocen que el tiempo ha cambiado y buscan encontrar orientaciones para escuchar a la Madre Tierra.

    Por ello la vuelta a la tierra implica una conexión profunda con las sabidurías y espiritualidades que sostienen la vida de los pueblos, más allá de su folklorización y su exotismo. Y esto permite reconocer el hermoso pluriverso expresado en colores, rostros, lenguajes, sonidos, sabores, festividades cíclicas, ritualidades relacionales y el cuidado de los territorios habitados por la gran diversidad de comunidades de vida.

    No se trata de nociones románticas e idealistas, como se las critica en los espacios de los saberes occidentales, sino de esfuerzos permanentes en sus prácticas por no seguir la ruta del colonialismo capitalista y patriarcal vigente. Ese colonialismo promueve la ruptura de las relaciones con las diversas comunidades de vida, lo que lleva a la caza y pesca ilimitada, la tala de los montes sagrados, la contaminación de las aguas, ríos, mares, fuentes, la introducción de otras especies y semillas transgénicas, la promoción del monocultivo, y las rupturas en las relaciones cósmico-sociales.

    Se trata de buscar el camino de las interrelaciones profundas que devuelvan a la persona su lugar en el cosmos, donde las reciprocidades y complementariedades con los otros seres son fundamentales para posibilitar la vida. Sólo la vuelta a la tierra puede ofrecer ese camino, ya que de ella depende la alimentación, la salud, la armonía y las reciprocidades que posibiliten el Buen Vivir, la Tierra sin males, la Loma Santa, la Vida Digna, la Plenitud de la Vida, la Vida bonita.

    En los procesos de recreaciones de los sentidos profundos de su ser y estar en el cosmos, la memoria se antepone en el camino de la vida, procurando el vínculo con la ancestralidad. Una ancestralidad que no se ubica en un espacio etéreo, sino que se hace parte del cosmos relacionado con las diversas fuentes vitales, de las que proceden la comprensión de la vida.

    Se trata de fuerzas ancestrales cósmicas que despiertan la memoria de los pueblos, como se expresan en los territorios donde aún habita la memoria de los pueblos avasallados y destruidos, como lo explica Perfecto Sánchez desde las territorialidades denominadas del Caribe:

    El origen taíno ha persistido hasta hoy; esta herencia junto a las pruebas históricas de la supervivencia taína, presentes todavía hoy en nuestra cultura dominicana, evidencian que el pueblo taíno nunca fue extinguido, aunque los colonizadores exterminaron esta cultura; sobrevivieron en los márgenes de la sociedad colonial hasta el presente (SANCHEZ, 2017, p. 36).

    Pues es la fuerza de los territorios habitados por la ancestralidad que narran y cantan sus historias, como se afirma profundamente en la palabra viva del Popol Vuh: “Arrancaron nuestros frutos, cortaron nuestras ramas, quemaron nuestros troncos, pero no pudieron matar nuestras raíces”.

    Sofía Chipana Quispe. Miembro de la comunidad de Teólogas andinas de Abya Yala. Coordina el Centro de Saberes Alternativos Thakichañani en El Alto de La Paz, Bolivia. Texto enviado: 30/05/2022; aprobado: 30/10/2022; publicado: 30/12/2022. Original castellano.

    Referencias

    ALBÓ, X. Teología narrativa de la muerte andina, fuente de nueva vida. In: ESTERMANN, J. (Ed.). Teología andina: el tejido diverso de la fe indígena. Tomo II.  La Paz: ISEAT y Plural , 2006, p. 369-406.

    APAZA, J. Cosmovisión andina en la crianza de la papa. In: van KESSEL, J., LARRAIN, H. (Eds.). Manos sabias para criar la vida, tecnología.  Quito: Hombre y Ambiente, 1997, p. 101-125.

    ARNOLD, D. Territorios animados: los ritos al Señor de los Animales como una base ética para el desarrollo productivo en los Andes. In: ROMÁN, A., GALARZA, H. (Eds.). Símbolos, desarrollo y espiritualidades: el papel de las subjetividades andinas en transformación social. La Paz: ISEAT, 2016, p. 111-159.

    BARROS, M. La tierra y los cielos se casan en la alabanza. RIBLA, Quito, n. 21, p. 57-73, 2006.

    BATALLA, G. Utopía y revolución. El pensamiento político contemporáneo de los indios de América Latina. México: Nueva imagen, 1988.

    CUMES, A.; GIL, Y. La Dualidad complementaria y el Popol Vuj: patriarcado, capitalismo y despojo. Revista de la Universidad de México, 2021. Disponible en: https://www.revistadelauniversidad.mx/articles/8c6a441d-7b8a-4db5-a62f-98c71d32ae92/entrevista-con-aura-cumes-la-dualidad-complementaria-y-el-popol-vuj Acceso en: 15 ene. 2022.

    CORDERO, V. Vírgenes y diosas en América Latina: la resignificación de lo sagrado. Con-spirando, Santiago de Chile, n. 45, p. 3-7, 2003.

    GALEANO, E. Úselo y Tírelo: el mundo del fin del milenio visto desde una ecología Latinoamericana. Buenos Aires: Planeta Bolsillo, 1998.

    LENKERSDONF, C. Aprender a escuchar: Enseñanzas maya-tojolabales. México: Plaza y Valdés, 2008.

    MARCOS, S. Mujeres, indígenas, rebeldes, zapatistas. México: Eón, 2013.

    MONTES, F. La máscara de piedra: simbolismo y personalidad aymaras en la historia. La Paz: Armonía, 1999.

    SÁNCHEZ, P. En tiempos estériles, hablemos de fertilidad desde nuestras raíces taína-caribeñas. In: GALARZA, H. (Ed.). Cuidando la vida II. La Paz: ISEAT, 2017, p. 29-37.

    [1] Abya Yala proviene de la lengua del pueblo Kuna o Guna de Panamá, y significa “tierra en plena madurez”, “tierra fértil”, “tierra floreciente”. Usamos este término ya que la designación de Latinoamérica es eurocéntrica y colonial, por lo que Constantino Mamani (Takir Mamani), en 1977, propuso este nombre después de su visita a los pueblos Kuna.

    [2] Pueblo con sentido de pertenencia, que puede estar en un mismo territorio o en espacios geográficos distintos.

    Eclesiología ecuménica  

    Índice

    Introducción

    1 El pluralismo eclesial: enriquecimiento y desafíos para la Iglesia una

    2 Urgencias y tareas de una eclesiología ecuménica

    3 Itinerarios de una eclesiología ecuménica

    4 Iglesia ecuménica, ¿en qué sentido?

    4.1. Horizonte bíblico

    4.2 Horizonte teológico

    4.3 Horizonte misionero/pastoral

    5 Discernimiento y hermenéutica de la comunión

    5.1 Modelos de unidad

    5.2 Visibilidad de la comunión

    Conclusión

    Referencias

    Introducción

    La comprensión y elaboración de una eclesiología ecuménica tienen sus raíces en la relación intrínseca entre iglesia y ecumenismo, entendiendo este concepto como un camino hacia la unidad de los cristianos, un llamado e imperativo del Señor a sus discípulos y discípulas: “Que todos sean uno, para que el mundo crea” (Jn 17,21). Aquí, lo ecuménico invoca lo eclesial como territorio propio, con sujetos y vínculos propios. Así, hay una “relación de identidad” entre iglesia y ecumenismo: “lo ecuménico, como condición y expresión de la comunión, es un elemento estructurante de la identidad de la iglesia” (WOLFF, 2007, p. 44). La iglesia se entiende como koinonía (comunión) en la fe apostólica, profesando la unidad como una de sus cualidades esenciales (notae ecclesiae). Sin embargo, la división cristiana persiste, agravada por enemistades, ofensas y posturas proselitistas que contradicen la comunión. Estas divisiones señalan el pecado individual y colectivo de los miembros de la iglesia, obstaculizando también la vocación a la santidad.

    Para remediar esta situación, el Espíritu Santo llama a la “comunión… la conversión y renovación” de la iglesia (UR n. 6-7; CMI, 1998, n. 39). Y por la moción del Espíritu, artífice de la comunión (1Cor 12,13; Ef 4,3), las iglesias buscan la reconciliación entre sí, en una unidad no sólo intra sino también intereclesial, como extensión visible y espiritual del Cuerpo de Cristo en el mundo (Ef 4,12-13; 1Cor 12,12-13). En este sentido, el ecumenismo se refiere a la Iglesia una como un medio se refiere al fin. Y se ejerce como servicio eclesial a través de la oración, el testimonio común, la cooperación práctica y el diálogo metódico desarrollado en foros, comisiones y consejos eclesiales. Así, “lo que define a la iglesia” también “define al ecumenismo” (VON SINNER, 2011, p. 67) en el sentido de promover la unidad de los cristianos. Este hecho justifica la necesidad y la urgencia de una eclesiología ecuménica.

    1 El pluralismo eclesial: enriquecimiento y desafíos para la Iglesia una

    El pluralismo eclesial resulta de diferentes comprensiones del Evangelio, que dan lugar a diferentes espiritualidades, doctrinas, instituciones y proyectos misioneros que configuran las distintas tradiciones eclesiales. En sí, esto es legítimo porque el dinamismo del mensaje evangélico está libre de cualquier intento de interpretación totalizadora, de manera que la fe cristiana se comprende siempre desde las interpelaciones que los diferentes contextos presentan para la vivencia del Evangelio. El Vaticano II reconoce el valor de la diversidad que se expresa “en las diversas formas de vida espiritual y de disciplina, así como en la diversidad de los ritos litúrgicos e incluso en la elaboración teológica de la verdad revelada” (UR 4). En esta misma dirección conciliar, el Papa Francisco afirma:

    El Espíritu Santo hace la “diversidad” en la Iglesia… Y esta diversidad es verdaderamente tan rica, tan hermosa. Pero entonces, el mismo Espíritu crea la unidad, y así la Iglesia es una en la diversidad… Hace las dos cosas: crea la diversidad de los carismas y luego la armonía de los carismas… “El Espíritu Santo, Él es armonía”, porque hace esta unidad armoniosa en la diversidad. (FRANCISCO, 2014)

    Y así surgen las diversas iglesias locales, como instancias de comunión en la fe, donde se escucha el Evangelio, se celebran los sacramentos y se vive la convivencia fraterna entre los miembros de la “congregación de los santos”, el pueblo de Dios. Las diferentes tradiciones eclesiales centran la iglesia local en la Eucaristía (CD 11; FÉ E ORDEM, 2015, n. 42-43) y en la supervisión de los pastores (FÉ E ORDEM, 2015, n. 52-53). Cada iglesia local vive la “preocupación por la iglesia universal” y forma una comunión universal, la catholica, communio de iglesias en un corpus ecclesiarum (FÉ E ORDEM, 2015, n.31-32).

    Sin embargo, las controversias doctrinales en la historia del cristianismo han separado diferentes tradiciones eclesiales, dividiendo el cuerpo cristiano, por lo que el pluralismo eclesial plantea la pregunta sobre la verdad de la iglesia, o cómo ser una verdadera iglesia (BURMANN, 2018). Así fue en el siglo V, con las disputas sobre el dogma cristológico y el surgimiento de las iglesias copta, armenia y egipcia; en el siglo XI, con la cuestión del filioque y la división entre Oriente y Occidente; en la Reforma protestante del siglo XVI y, actualmente, con un tipo de pentecostalismo que va más allá de la afirmación del pentecostalismo eclesial, fragmentando aún más el cuerpo cristiano. Entonces, la pluralidad ya no es bienvenida y reconocida como un enriquecimiento de la única iglesia. Cada tradición eclesial se afirma en una normatividad exclusiva para comprender y vivir el kerygma, con divergencias en doctrina, organización institucional, espiritualidad y práctica pastoral. Tal divergencia es más que una expresión de una posición hermenéutica diferenciada del Evangelio. Es una división que no permite que las Iglesias se reconozcan mutuamente en la misma fe y como miembros de un mismo cuerpo.

    2 Urgencias y tareas de una eclesiología ecuménica

    Superar esta división justifica y requiere una eclesiología ecuménica. Ninguna tradición eclesial expresa por sí sola a la iglesia en su perfección o plenitud como Cuerpo de Cristo. Esto requiere disponibilidad para acoger múltiples expresiones del Evangelio, con una relectura del pluralismo eclesial que identifique elementos que confluyen hacia la comunión: “Este es el desafío de la eclesiología ecuménica, que sólo es posible si, enraizada en una tradición particular, sabe cómo recoger la realidad de la Iglesia que está más allá de la tradición misma” (WOLFF, 2007. p. 31). La conciencia eclesial ecuménica se convierte, entonces, en un imperativo para situar a las iglesias en el mundo plural actual con espíritu de diálogo y cooperación. Explica la “cultura del encuentro” y la sinodalidad como “caminar juntos” en el discernimiento del Evangelio. Esto implica el esfuerzo de, por un lado, asumir juntos las fuentes de la fe eclesial, bíblica y patrística. Por otro lado, exige actualizar el ser y el obrar de la Iglesia al momento presente, evitando añadir nuevos elementos divisorios.

    De este modo, se establecen las tareas de una eclesiología ecuménica: 1) explorar en el interior del pluralismo eclesial las posibilidades de encuentro y diálogo, percibiendo dicho pluralismo como “una amplitud de posibilidades para la percepción de la fe en Jesucristo y de las experiencias eclesiales admisibles en las Escrituras” (WOLFF, 2007, p. 31); 2) reinterpretar los presupuestos (históricos, socioculturales y teológicos) que en otros tiempos y circunstancias provocaron y sustentaron las divisiones entre las iglesias, verificando su pertinencia o no en el presente (RUGGIERI, 2000, p. 14); 3) interpretar en perspectiva ecuménica los elementos bíblicos y patrísticos, las orientaciones normativas de los líderes eclesiásticos y las experiencias de las comunidades en una perspectiva ecuménica, desarrollando sistemáticamente el concepto de iglesia desde la perspectiva de la comunión intereclesial.

    Estas tareas refuerzan la importancia de dos procedimientos por parte de las confesiones cristianas, con miras a una eclesiología ecuménica: a) examinar y profundizar la autoconciencia eclesial a la luz del imperativo “sean uno” (Jn 17,21); b) examinar y explicar una comprensión de la iglesia tan comprometida con la unidad que valore el diálogo ecuménico como locus teológico y metodológico de la eclesiología.

    El cumplimiento de estas tareas impulsa a las iglesias a ejercer la escucha recíproca y el testimonio común, caminando juntas en una dinámica sinodal. Esta apertura a otras denominaciones exige la mirada de fe sobre la eclesialidad de la comunidad con la que se dialoga, para discernir los modos en que la Iglesia de Cristo allí se realiza, sus características y énfasis. Entre los criterios para ello está la disponibilidad de las iglesias para colocarse “bajo el mismo Cristo” (COMISSÃO INTERNACIONAL CATÓLICA-LUTERANA, 1986) y su Evangelio. Las razones particulares de las tradiciones eclesiásticas no deben ser el factor determinante de las relaciones intereclesiales. Lo determinante es el Evangelio, él tiene fuerza unitiva, por lo que es necesario tener “la palabra de Dios como signo ecuménico de la iglesia” (SCHWAMBACH, 2018). Por tanto, una eclesiología ecuménica exige de las iglesias el compromiso de encuentro, el conocimiento recíproco, el diálogo perseverante, el discernimiento histórico y teológico, que permitan mirar a la unidad como don del Espíritu Santo. Al dialogar con disposición teológica y actitud de servicio a la comunión, las iglesias ejercen las condiciones para acoger y hacer fecundo este don.

    3 Itinerarios de una eclesiología ecuménica

    En el contexto católico, las raíces para una renovación de la eclesiología con positivas implicaciones ecuménicas  se hallan ya en el siglo XIX, con Adam Mohler (1796-1838) y John H. Newmann (1801-1890), quienes favorecieron que el tema de la unidad se situase más allá del ámbito jurídico, desarrollando una eclesiología en el horizonte del misterio que enfatiza la interioridad y sacramentalidad de las estructuras e instituciones eclesiales (MOHLER, 1996; 2018), y una noción de santidad e historicidad que supera el tono apologético conflictivo (NEWMAN, 1994 ; 2005). Pero la primera propuesta de una eclesiología en perspectiva ecuménica en el catolicismo es de Y. Congar (1937), dirección que siguen teólogos de la talla de J. Danielou, K. Rahner, H. von Balthasar, entre otros, aunque no se hayan centrado en el tema. Más recientemente, tenemos a L. Sartori (1969), J. M. Tillard (1987), W. Kasper (1988), H. Kung (1992), G. Cereti (1997), por nombrar algunos. Pero es dentro del protestantismo donde la eclesiología ecuménica se desarrolla con más fuerza, como vemos en luteranos como Oscar Cullmann (1986) y W. Pannemberg (2009); en medio reformado, con John H. Leith (2015); J. Moltmann, con varias aportaciones ecuménicas como la teología de la esperanza (1967), de la creación (1985), de la Trinidad (1981) y la pneumatología; Lucas Vischer (1981); de los anglicanos recordamos a James H. Garrisson (2011), el “Informe de Virginia”, de la Comisión Interanglicana de Teología y Doctrina (1996); Jaci Maraschin (1995); y de la tradición ortodoxa, destacamos la pneumatología de Evdokimov y la teología de J. D. Zisioulas (2003). También hay importantes trabajos conjuntos hacia una eclesiología ecuménica (FRIES; RAHNER, 1987).

    Cabe destacar el resultado eclesiológico del trabajo de las comisiones de diálogo, tanto bilaterales (católico-luterana, anglicano-metodista, luterano-reformada, etc.) como multilaterales (Consejos de Iglesias). A medida que estas comisiones trabajan y publican sus resultados, crece la percepción de que el misterio de la iglesia debe hacerse explícito ecuménicamente. De este diálogo emergen elementos que permiten a los teólogos de diferentes iglesias sistematizar una comprensión eclesiológica común. Un foro apropiado para esta tarea es la Comisión Fe y Constitución, es decir, la comisión teológica del Consejo Mundial de Iglesias, de la que se destacan las obras Bautismo, Eucaristía y Ministerios (1982); Hacia la fe común compartida (1998) e Iglesia: una visión ecuménica (2015).

    Los Informes y Declaraciones finales de los trabajos de las comisiones de diálogo muestran la importancia de la documentación histórica y la relectura de las fuentes confesionales, iluminadas por un sólido estudio bíblico, teológico y pastoral en el trato con las respectivas eclesiologías. Los distintos énfasis eclesiológicos, más que un impedimento, son una invitación al diálogo y una oportunidad para el discernimiento, como atestigua Kasper (2009, p. 643):

    El abundante material relativo a la Iglesia (discutido en Comisiones bilaterales) demuestra que el tema de la eclesiología está en el centro del diálogo ecuménico. En el campo eclesiológico, se ha dado un paso significativo desde la firme voluntad de superar muchos malentendidos y lagunas: se reconoce que los Diálogos retomaron y resolvieron ciertas controversias y ciertos conflictos históricos. En muchos de los temas examinados, se logró un amplio entendimiento común de la naturaleza y misión de la Iglesia. Es claro que los participantes en este Diálogo no se encuentran ya en la situación en que se encontraban en el siglo XVI, ni en el período posterior, caracterizado por polémicas y controversias. (KASPER, 2009, p. 643)

    Esto demuestra la actitud honesta y responsable de los participantes del diálogo, dispuestos a cuestionarse mutuamente:

    ¿Cómo surgieron y se desarrollaron estos énfasis eclesiológicos en las denominaciones? ¿Esta diversidad de puntos de vista compromete la comunión o ofrece oportunidades para enriquecerla? ¿Las viejas controversias tienen algún sentido hoy o hay alguna forma de resolverlas? ¿Hasta qué punto estas distinciones pueden ser complementarias? ¿Es posible recoger, de los énfasis confesionales, una eclesiología fundamental común, que ilumine el diálogo en el presente y en el futuro? (FÉ E ORDEM, 2015, p. 18)

    La respuesta a tales preguntas necesita afirmar el ecumenismo como un principio formal en la comprensión de la iglesia, un paradigma eclesiológico. De esta manera la eclesiología ecuménica adquiere un estatus propio. La perspectiva ecuménica de la iglesia tiene así un carácter y una función académicos: es una investigación sobre el misterio de la iglesia utilizando las fuentes, el método y los instrumentos hermenéuticos apropiados para asegurar la plausibilidad de que, en este misterio, puedan encontrarse las diferentes tradiciones eclesiales. Ella quiere expresar la veracidad de la iglesia con la mayor profundidad y amplitud posible, relacionando diversas tradiciones prácticas y concepciones teóricas del ser eclesial, identificando divergencias y consensos en estas tradiciones y discerniendo las verdades de la iglesia en la perspectiva de la comunión en el único Evangelio.

    4 Iglesia ecuménica, ¿en qué sentido?

    Es necesario aclarar en qué sentido se puede hablar de eclesiología ecuménica, así como aclarar lo que no es. Partiendo de la negación, no se trata de la suma material de las eclesiologías vigentes, ni de su superposición como pisos de un edificio, de composición fija, cuyas conexiones se ocultan en la estructura del inmueble. Tampoco sería una eclesiología exclusivamente espiritual, proyectada en la futura concordia celestial de los creyentes, sin compromisos en la realización visible de la unidad bautismal, congregacional, ministerial y misionera. Sin estos lazos y relaciones, la iglesia quedaría reducida a una ficción o simbolización sin efecto, ya que estructuras paralelas y fijas pueden servir de soporte para la interconexión y el compartir entre sujetos, pero por sí solas no bastan para realizar la unidad de los cristianos, porque esta unidad implica la dinámica simultánea de ser “miembros del Cuerpo de Cristo” y “miembros unos de otros” (1Cor 12,27 y Rom 12,5). Y eso requiere que las conexiones sean visibles, no solo ocultas; y dinámicas, no rígidas; en un equilibrio entre elementos estructurales y espirituales. Pablo habla de “”articulaciones” en “crecimiento, para su edificación en el amor gracias a la actuación de cada miembro” (Ef 4,16); y Pedro dice que el Edificio-Iglesia está hecho de “piedras vivas” (1Pt 2,5). La comunión espiritual se realiza a través de elementos testimoniales visibles, sinodales, ministeriales y sacramentales, en una unidad orgánica, vital, multiforme, dinámica y fecunda del Cuerpo de Cristo (Rm 12; Ef 4,11-13) – ilustrada también por Juan en la analogía eclesiológica de la vid (Jn 15,1-8).

    Así, en un sentido positivo, la eclesiología ecuménica parte del compromiso de cada denominación cristiana con la unidad plena de la Iglesia de Cristo en la historia humana, no sólo a través de la realización de la Iglesia Una dentro de su comunidad y/o familia confesional, sino también en la comunión progresiva con otras comunidades y/o familias confesionales. Los horizontes de esta eclesiología ya han alcanzado importantes consensos, con énfasis en los siguientes.

    4.1. Horizonte bíblico  

    Hay consenso en la concepción bíblica de la iglesia como: Pueblo de Dios – “El pueblo que yo formé para mí anunciará mi alabanza” (Is 43,21); santuario donde mora Dios – “moraré entre los israelitas” (Ex 29, 45ss; Lev 26,11ss), como “templo santo del Dios vivo” (1 Cor 3,16; Ef 2,20; Ap 11, 1); templo del Espíritu – “casa espiritual” (1Pe 2,5), pueblo consagrado por el Espíritu Santo (Tt 3,5; Ef 1,13); Cuerpo de Cristo formado por muchos miembros (1Cor 12,12.27; Rom 12,4-5). La Iglesia se convierte en Pueblo universal, sujeto histórico-escatológico, regenerado en el bautismo y reunido en la ekklesía tou Theou (1Tm 3,15), las asambleas y/o tradiciones eclesiales que le dan cuerpo, movimiento, estructura y visibilidad, teniendo a Jesucristo por Cabeza (Col 1,18). Precisamente porque la Iglesia es la realización concreta del Pueblo de Dios, en la oikoumene de las lenguas y de las naciones (Hch 2,6), en la koinonía de los dones y de los ministerios (Ef 1,11-13), no puede descuidar la unidad, bajo riesgo de traicionar el Evangelio y frustrar la propia vocación.

    4.2. Horizonte teológico

    El amplio consenso bíblico posibilita importantes convergencias teológicas en la concepción de la iglesia y la búsqueda de consensos sobre las divergencias que persisten. Resaltamos:

    a) Mistérica e institucional: esta adjetivación es aceptada por casi todas las denominaciones en diálogo, cuando profesan a la Iglesia como una realidad querida por Dios y expresión de la acción salvífica de Cristo, en el poder del Espíritu Santo. El misterio trinitario aparece en la iglesia desde la Alianza con el Pueblo de Israel, fundada en el tiempo por Jesucristo y manifestada por el Espíritu Santo en Pentecostés. Unida a Cristo como cuerpo y esposa, la iglesia atraviesa los siglos como signo del Reino de Dios, hasta su consumación escatológica (Rm 12; Ef 5, 31-32). La iglesia es misterio (mysterion) en analogía y participación en el misterio pascual de Cristo; e institución, ya que se desarrolla en el tiempo como pueblo y asamblea visible, dotados de oficios y ministerios (particularmente la supervisión episcopal), con estructuras de comunión, participación y misión, para realizar bien el anuncio del Evangelio encomendado por el Señor (Mt 28, 19). Es, pues, un sacramento del Reino de Dios (LG 1.5.48)

    b) Ontológico o funcional: aquí las iglesias expresan distinciones entre una eclesiología más mistérico-sacramental y una eclesiología más kerigmático-testimonial. Las tradiciones Ortodoxas, Orientales, Católica Romana, Anglicana y, en cierta medida, Metodistas de gobierno episcopal, entienden a la iglesia como un medio de gracia en un sentido objetivo, asociando la congregación terrena, el Cuerpo histórico, con aquel celestial, el glorioso Cuerpo del Resucitado. Atribuyen una densidad ontológica a la iglesia, no por autorreferencia, sino por su identidad con el Cuerpo de Cristo, mediador de salvación. Otras tradiciones, como la luterana y la reformada-presbiteriana, insisten menos en la ontología, pero profesan la sacramentalidad de la iglesia en virtud de la gracia divina que obra por el anuncio del Evangelio, por el bautismo y por la cena memorial del Señor, debidamente ministrados según la voluntad de Jesús. De esta manera, hay una comunión espiritual entre todos los bautizados en las diferentes confesiones, compartiendo la misma gracia y la misma llamada a ser parte del Reino de Dios, aunque se reúnan en diferentes asambleas. Otras tradiciones, como Bautistas, Menonitas, Metodistas de Santidad y, a su manera, los Pentecostales, asignan un valor funcional más que ontológico a la iglesia: la iglesia es la congregación reunida, definida localmente; como acontecimiento de la Palabra de Dios en ese tiempo-espacio, como obra de gracia hacia los creyentes allí reunidos. El énfasis es más funcional, valorando el kerygma, la predicación y los ministerios a través del cual la iglesia comunica la gracia de Jesucristo al corazón de los creyentes – de quienes se espera que respondan a la altura de la llamada, con santidad y testimonio.

    c) Las notas de la iglesia: a partir de los elementos anteriores, es posible trabajar ecuménicamente las notae ecclesiae – unidad, santidad, catolicidad y apostolicidad. Las iglesias profesan estas notas en el Credo Niceno-Constantinopolitano, como propiedades dadas por Cristo a su iglesia, que permiten su reconocimiento en la historia como una iglesia querida por Dios. Pero no hay consenso sobre cómo realizar cada nota en las tradiciones eclesiales. Y “el objetivo mutuo de la llamada a la unidad visible significa necesariamente que cada iglesia debe reconocer a las demás como verdaderas expresiones de lo que el Credo llama ‘la Iglesia una, santa, católica y apostólica’” (FÉ E ORDEM, 2015, p. 11). Así, el diálogo debe continuar en la afirmación conjunta de la iglesia en sus características esenciales: a) una en su constitución íntima porque uno solo es Cristo que la constituye como su Cuerpo, uno solo es el Evangelio predicado, una solo es la misión. Y esta unidad debe tomar forma en el orden temporal de la Iglesia, como pueblo reunido en la unidad del Padre, del Hijo y del Espíritu Santo, en vista de la consumación escatológica. b) santa, que se basa en el hecho de que la iglesia ha sido “separada” para Dios Uno y Trino, y para relacionarse con él en el servicio/adoración. Y necesita tomar forma histórica en el testimonio de la santidad de Dios al mundo de hoy, que se expresa en el comportamiento de sus miembros. c) católica, en el sentido de que la fe de la iglesia es “universal”, es decir, “global”, “plena”. Así, la iglesia no está presente exclusivamente en una sola tradición eclesial, ni es superioridad numérica, sino una realidad espiritual y cualitativa, como plenitud de los bienes de salvación y fidelidad a la totalidad de la vida redimida traída por Jesucristo. d) apostólica, por la fidelidad a las enseñanzas transmitidas por los apóstoles de que Jesús es “el Cristo, el Hijo del Dios vivo” (Mt 16,16; Lc 9,20), el fundamento o “roca” sobre la que se construye la comunidad de fe (Mt 7,24-25).

    4.3 Horizonte misionero/pastoral

    La iglesia es consciente de que la misión que recibió de Jesús es evangelizar. Y “evangelizar es hacer presente el Reino de Dios en el mundo” (EG n. 176). El horizonte y objetivo de la misión es anunciar el Reino de Dios que está presente en la historia, transformando situaciones que contradicen el Evangelio que las iglesias creen y anuncian. Es el Evangelio de la “vida en abundancia” (Jn 10,10) vivida a través de relaciones de fraternidad, solidaridad y práctica de la justicia. La misión sitúa a la Iglesia en el mundo en que vivimos, la encarna en las vicisitudes y alegrías humanas (GS n. 1). Por tanto, la actividad misionera de la iglesia va más allá de la idea de salvar almas, busca la salvación integral de la persona: cuerpo, espíritu, mundo, cosmos y tiempo. En este sentido, fe y sociedad/cultura/economía/política y cuestiones ecológicas interactúan en la misión de la iglesia. Y de estos, los temas ecológicos merecen especial atención (COLET, 2017). Manteniendo sus especificidades, estas áreas se complementan entre sí, ya que todas se relacionan con la vida. Y la misión es fortalecer la vida en un sentido amplio, contextualizada sociocultural y ecológicamente.

    El ecumenismo es misionero, nació y se desarrolló en un contexto de misión, por lo que la eclesiología ecuménica también es misionera. La misión que Jesús encomienda a los discípulos (Mt, 28,19; Mc 16,15) no es exclusiva de una sola denominación, sino de todas las personas que creen en él. Y las iglesias en diálogo están llamadas a discernir juntas las cuestiones que el mundo actual presenta para la vivencia de la fe cristiana. Esto exige de ellos la capacidad de desarrollar proyectos comunes y anunciar el único Evangelio. Para ello, es necesario abandonar cualquier pretensión de exclusividad en el espacio donde se ubica cada iglesia, reconociendo el valor de la misión que allí también desarrollan otras iglesias, y poniéndose a disposición para el trabajo conjunto. La misión debe ser ecuménica.

    Por lo tanto, la misión/pastoral es otro horizonte importante de la eclesiología ecuménica. El diálogo y la cooperación en la misión crean posibilidades significativas para el diálogo en temas eclesiológicos, avanzando en convergencias y consensos sobre la iglesia, su naturaleza y finalidad. Y así se realiza la unidad de la Iglesia de Cristo en el mundo: el testimonio común del Evangelio “para que el mundo crea” (Jn 17, 21).

    5 Discernimiento y hermenéutica de la comunión

    La eclesiología ecuménica exige el desarrollo de la hermenéutica de la comunión como la que mejor penetra en la profundidad del misterio del Dios Uno y Trino, y a la luz de este misterio se comprende la verdad de la iglesia. Las tradiciones particulares adquieren un significado universal cuando esto sucede. Así, las iglesias pueden discernir juntas sobre el modelo de unidad/comunión posible entre ellas, y los elementos que dan visibilidad a la unidad/comunión. 

    5.1 Modelos de unidad

    La eclesiología ecuménica tiene como objetivo identificar y justificar los elementos que afirman la koinonía como constitutiva de la naturaleza, identidad y misión de la iglesia. El diálogo realizado hasta el momento ya permite identificar propuestas en esta dirección, conformando cuatro modelos principales: 1) unidad orgánica: es, quizás, la propuesta más antigua de Fe y Constitución (Edimburgo, 1937) como unión de organismos eclesiales. A través de este modelo, las iglesias serían invitadas a renunciar a elementos identitarios para fundirse “en un único cuerpo” (COMISSÃO INTERNACIONAL CATOLICA-LUTERANA, 1994, n. 17), siendo la unidad “un organismo vivo” (FÉ E ORDEM, 2005 , capítulo VI) con una estructura orgánica homogénea y uniforme; 2) en cada lugar: propuesta de la III Asamblea General del CMI (Nueva Delhi, 1961), entendiendo la unidad como la aceptación mutua entre las iglesias locales, donde los cristianos son bautizados, escuchan la Palabra, celebran los sacramentos y son guiados por sus pastores en la vivencia de la fe en Cristo; 3) asociación corporativa: afirma la posibilidad de que las diferentes comunidades eclesiales formen una comunión de fe y de vida sin perder autonomía y especificidades en sus teologías y religiosidades de valor permanente para la fe apostólica. Entre las iglesias se establecería un “acuerdo sustancial sobre cuestiones de fe y sobre una común constitución del episcopado según la concepción de la iglesia primitiva” (COMISSÃO INTERNACIONAL CATÓLICA-ANGLICANA, 1994, n. 136); 4) comunidad conciliar: propuesta en la V Asamblea del CMI (Nairobi – 1975), por la cual cada iglesia tiene en comunión con las demás la plenitud de la catolicidad y el testimonio de la misma fe apostólica. En una “comunión conciliar”, la diversidad identitaria no se anula y no es obstáculo para la comunión (CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS, 2001, lista del apartado II, n. 7), que se realiza en el bautismo, en la eucaristía, en la mutua aceptación de miembros y ministros, en la profesión del Evangelio y en el servicio al mundo. Es una “comunión conciliar de las iglesias locales, unidas efectivamente entre sí” (CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS, 2001, lista de la sección II, n. 4), teniendo como estructura vinculante las reuniones conciliares convocadas según las exigencias de la realización de la vocación común, encuentros de carácter representativo, como intercambio permanente de información, proyectos y experiencias; 5) unidad en una diversidad reconciliada: la unidad en Cristo no se da “a pesar de” la diversidad o “contra” ella, sino con y en la diversidad (CULLMANN, 1986). Se consideran legítimas las diversas formas de los patrimonios confesionales pertenecientes a la riqueza de la vida de toda la Iglesia, exigiendo de cada tradición eclesial un “encuentro abierto con la herencia de los otros”, permitiendo la visión de una unidad que tiene la característica de ser un “diversidad reconciliada” (COMISIÓN INTERNACIONAL CATÓLICA-LUTERANA, 1994, n. 32). El Papa Francisco ha explicado repetidamente esta comprensión de la comunión eclesial con la imagen del poliedro (EG n. 236). Y en Brasil, los teólogos ecuménicos lo expresan como “unidad plural” (WOLFF, 2007, p. 223-235).

    5.2 Visibilidad de la comunión

    La comunión eclesial necesita ser visible, permitiendo que los elementos teológicos verificados más arriba tengan un impacto en la organización de la vida eclesial. La Comisión de Fe y Constitución, en el Documento BEM (1982), presentó sistemáticamente los fundamentos y convergencias sobre el bautismo, la Eucaristía y los ministerios como centrales para la visibilidad de la comunión. Además, ponderó el lenguaje y las prácticas litúrgicas; examinó las formas de ejercicio ministerial, especialmente la episkopê (supervisión); aclaró las diferentes concepciones sacramentales del orden y de la cena, a veces divergentes, a veces complementarias; y reveló la consistencia de los elementos teológico-litúrgicos compartidos por las iglesias, como sustento de posteriores resoluciones y consensos eclesiológicos. En 1998, Fe y Constitución publicó el documento Naturaleza y finalidad de la Iglesia y, en 2005, profundizó este tema en Naturaleza y misión de la Iglesia. Cabe señalar que el paso, en los títulos, de “finalidad” a “misión” refleja un enfoque teológico y paradigmático específico: el misterio y la acción de la Iglesia no se definen de manera autorreferida, sino en relación con el plan salvífico del Dios Trino para la humanidad y la Creación, para que la missio ecclesiae señale y sirva a la missio Dei. Con tal enfoque, el diálogo avanzó de 2006 a 2012, resultando en el documento La Iglesia: hacia una visión ecuménica (FÉ E CONSTITUIÇÃO, 2015).

    Esta “visión” común requiere elementos estructurales e institucionales que hagan visible efectivamente la comunión. De estos elementos, los ministerios ordenados son particularmente complejos para una eclesiología ecuménica. En todas las iglesias hay un ministerio ordenado, pastoral, específico, que se distingue del ministerio o sacerdocio común de los fieles, aunque esta distinción no se entienda ni se explicite del mismo modo. Las diferencias sobre el ministerio ordenado se manifiestan principalmente en la concepción teológica de su naturaleza sacramental, su estructura (jerárquica o no), las competencias pastorales y jurídicas, la sucesión apostólica, el sujeto del ministerio ordenado (hombre o mujer): “Las particularidades de estas orientaciones garantizan las particularidades eclesiológicas de las diferentes tradiciones (eclesiales), ya que ministerio e iglesia se implican recíprocamente” (WOLFF, 2018, p. 310).

    En todo caso, todas las iglesias entienden que sus ministerios eclesiásticos están enraizados en la misión que Cristo dio a su iglesia de predicar el Evangelio (Mt 28,19; Mc 16,15;). Esta misión procede del bautismo, por lo que todos los bautizados la tienen. Pero se ejerce de modo particular en las órdenes eclesiásticas por el servicio a la comunidad mediante la proclamación de la Palabra, la celebración del culto y la administración de los sacramentos. Por la relevancia de tal misión, católicos y ortodoxos entienden que proviene del sacramento del orden, y no sólo del bautismo. En este sentido, el ministerio ordenado constituye una jerarquía de gobierno y referencia para la comunión. Y aquí cobra particular importancia el diálogo ecuménico sobre el ministerio del episkopé y el ministerio petrino, que en última instancia atañe a la cuestión de la autoridad en la iglesia.

    Conclusión

    La eclesiología ecuménica es un requisito de la propia iglesia.  En su naturaleza de comunión, la iglesia se realizará plenamente si los límites institucionales y doctrinales se expanden más allá de una tradición eclesial, acogiendo en la comunión otras formas de ser iglesia. La ecumenicidad de la iglesia no es un teologúmeno, una abstracción o una mera especulación eclesiológica. Es una forma privilegiada de explicitar la naturaleza, identidad y misión de la iglesia como comunión. Se trata de una comunión plural, unidad en la diversidad, a través de la cual la Iglesia se enriquece con los diversos dones y carismas que el Espíritu otorga a las confesiones eclesiales, que juntas buscan dar al mundo un testimonio convincente de la misma fe en Cristo y en su Evangelio del Reino.

    Elias Wolff. Programa de Postgrado en Teología – PUCPR. Texto original en portugués. Enviado: 30/08/2022; aprobado: 30/10/2022; publicado: 30/12/2022.

    Referencias

    BURMANN, Claudir. Pluralismo eclesial e ecumenismo: quem é Igreja verdadeira? Caminhos de Diálogo, ano 6, n. 9, p. 169-175, jul./dez. 2018.

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    Biblia y Ciencia

    Índice

    Introducción

    1 Desde los inicios hasta la revolución científica

    2 La Revolución Científica y la Iglesia

    3 Cuestiones contemporáneas

    Conclusión

    Referencias

    Introducción

    La fe cristiana, cuyo libro sagrado es la Biblia, y la ciencia coexisten en Occidente desde hace 20 siglos. La fe quiere dar una respuesta integral al sentido de la vida y del mundo a partir de la Revelación divina. La ciencia quiere conocer toda la realidad según la razón que analiza y demuestra. El sujeto humano que cree y sabe es el mismo. No puede romper o renunciar a la posibilidad de creer y saber, o incluso saber a través de la fe y la razón científica que analiza y demuestra. En el pasado, estos dos dominios no estaban separados ni eran independientes. La teología, la filosofía y las diversas ciencias estaban profundamente entrelazadas en una interdependencia jerárquica. La modernidad operó una separación entre estos tipos de saberes, dándoles autonomía. Empiezan a convivir, no sin extrañezas y conflictos. En la historia de la Iglesia se advierte una relación muy compleja, que va del estímulo a la aversión, de la tolerancia a la persecución violenta, de la convivencia fructífera a la exclusión mutua, según la síntesis del historiador Georges Minois utilizada en esta entrada (MINOIS, 1992, p. pág. 2 -33). Los conflictos entre la fe cristiana y la ciencia involucran siempre la forma de entender e interpretar la Biblia.

    El Concilio Vaticano II (1962-1965) afirma que la investigación en todos los campos del conocimiento, realizada de manera verdaderamente científica y según las normas morales, nunca se opone a la fe, ya que las realidades profanas y de fe tienen su origen en el mismo Dios. Por el contrario, quien se esfuerza con humildad y constancia en escudriñar los secretos de la naturaleza está, en cierto modo, llevado de la mano de Dios, incluso sin darse cuenta, porque Dios sustenta todas las cosas y las hace ser lo que son. Y el Concilio deplora también ciertas actitudes de los cristianos por no reconocer suficientemente la legítima autonomía de la ciencia, y por las disputas y controversias que han suscitado, haciendo pensar a muchos que fe y ciencia eran incompatibles. Como ejemplo de este error, se menciona el caso de Galileo Galilei (GS, n. 36).

    El caso Galileo se convirtió en un emblema del conflicto. Antes y después hay otros conflictos e interacciones igualmente positivas. Vale la pena saber algo de esta historia que revela mucho sobre la fe cristiana, Occidente y los caminos que dieron origen a la modernidad.

    1 Desde los inicios hasta la revolución científica

    De hecho, hay textos bíblicos muy favorables a la ciencia. Los libros de Proverbios, Salmos, Sabiduría y Eclesiástico abundan en elogios del conocimiento, del estudio y de la investigación: “el conocimiento es corona de los prudentes” (Pr 14,18); “El Señor es el que da la sabiduría, y de su boca sale el conocimiento y la razón” (Pr 2,6). La ciencia es un don de Dios, y el libro de la Sabiduría es un verdadero himno al conocimiento científico. En la práctica, sin embargo, había un conocimiento muy limitado. En la cosmología bíblica, el mundo se hizo en seis días. La tierra es la primera estrella del universo, nacida antes que el sol y las estrellas. Está inmóvil y tiene forma de plato. Las montañas de la tierra sostienen la bóveda del cielo. Esta bóveda es una placa sólida, el firmamento, donde cuelgan las estrellas. Sobre el firmamento, hay un depósito de agua de donde viene la lluvia. Basta que se abran sus compuertas, que caiga la lluvia. Sobre todo está el trono de Dios, que ve a los hombres a través de las aberturas del firmamento. Esta fue la cosmología en el siglo VI a. C. que sustentó las narraciones de la creación en el libro de Génesis.

    En el Nuevo Testamento, Pablo no plantea directamente el problema de la ciencia, sino el de la evangelización y la resistencia a la que se enfrenta al anunciar el Evangelio. Para él: “la ciencia infla, pero el amor edifica” (1Cor 8,1); y “aunque tuviera el don de profecía, el conocimiento de todos los misterios y todo conocimiento… si me falta el amor, nada soy” (1Cor 13,2). La oposición entre la “locura de la cruz” y la “sabiduría del mundo” está en el centro de la enseñanza de Pablo, que se enfrentó al rechazo del Evangelio por parte de los sabios griegos. Él pregunta: “¿No ha convertido Dios en necedad la sabiduría de este mundo?” (1Cor 1,20). Estas enseñanzas no son estimulantes para la ciencia.

    Tal desconfianza fue heredada por los Padres de la Iglesia y por san Agustín: “de nada sirve escudriñar profundamente lo que sustenta la naturaleza de las cosas, como hacen los filósofos griegos llamados físicos […] predicen el eclipse de sol, pero no se dan cuenta de lo que sostiene todas las cosas” (AGUSTÍN apud MINOIS, 1990, p. 120). También hubo una inminente expectativa de la venida gloriosa de Cristo y el fin del mundo, que duró hasta el siglo XVII. Para algunos Padres de la Iglesia, la ciencia era inútil: ¿por qué estudiar la estructura de un mundo destinado a desaparecer pronto? Además, ella enorgullecía a los hombres. Aun así, la ciencia era posible y era un medio para conocer la verdad.

    El hombre tiene dos caminos para el conocimiento de la verdad: la fe y el estudio racional de la naturaleza. de Dios. Para cada uno había un manual: el libro de la Revelación, la Sagrada Escritura, en la que Dios confió sus secretos a la humanidad, y el “libro de la naturaleza” (liber naturae), el universo en el que vivimos, la creación, que también viene de Dios. Cada libro tiene una clave de lectura: la fe para las Escrituras y la razón para la naturaleza. Y cada libro tiene su lector autorizado: los teólogos y los científicos.

    Si hay contradicción en ciertos puntos entre teólogos y científicos, es porque uno u otro están equivocados, y conviene revisar sus interpretaciones. Si se prueba una verdad científica, declara San Agustín, corresponde a los exegetas y teólogos revisar sus interpretaciones, ya que nada es más dañino para la religión que los cristianos sosteniendo errores científicos en nombre de la Biblia (AGOSTINHO, 1972, p. 615-616). De esta manera se arruina toda la credibilidad de la Escritura. Estas intuiciones de san Agustín son válidas hoy y permiten resolver grandes conflictos, aunque él no aceptase plenamente la autonomía de la ciencia. Para San Agustín, la autoridad de la Escritura era superior a la de las ciencias. Frente a hipótesis contradictorias de la ciencia, el teólogo debe elegir la hipótesis más plausible, en función de las exigencias de la fe. Por ejemplo: se dice en Génesis que Dios separó las aguas superiores de las aguas inferiores. Aquí hay una verdad de fe. El papel de la ciencia es explicar cómo esto es posible. Ahora bien, entre las teorías científicas griegas, hay una que afirma la presencia de cavidades ubicadas en la bóveda celeste que son aptas para retener agua: esa es una buena teoría.

    En Occidente, la ciencia estuvo al servicio de la fe en la Edad Media y así se desarrolló. En el año 990 se creó en Chartres una escuela episcopal, que pasó a ser conocida como la Escuela de Chartres. Fue dirigida de 1006 a 1028 por el obispo Fulberto y alcanzó tal prestigio que se convirtió en el principal centro científico de los siglos XI y XII, con la ambición de lograr una síntesis entre fe y ciencia. Allí, muchos hombres de Iglesia se lanzaron con entusiasmo al estudio de las ciencias, que revelaban las maravillas de Dios. Confiados en la racionalidad del mundo, cuya garantía era Dios, se dispusieron a explicar las Escrituras. Todo podía explicarse mediante la física y las matemáticas, y un hombre como Thierry de Chartres tenía la ambición de describir los seis días de la creación en los términos de la física.

    El dato más curioso de esa época es el papa del año 1000, Gerberto, elegido con el nombre de Silvestre ll. Con él, la ciencia se adueñó de la Sede de Pedro. Gerbert fue un gran científico de su época, probablemente el mejor matemático y astrónomo, y poseía un vasto conocimiento en física, química, medicina, zoología y botánica. Un hombre enciclopédico avant la lettre, antes de que existiera ese término. ¿Se puede imaginar una consagración más radiante del matrimonio entre Iglesia y ciencia? Fue maestro del obispo Fulberto y uno de los mayores entusiastas de la síntesis entre fe y ciencia. Esta incipiente ciencia medieval, hoy en gran parte obsoleta, planteó problemas y fue precursora de la ciencia moderna.

    En el siglo XIV surge el nominalismo, corriente filosófica que operaba una deconstrucción y una reelaboración de los saberes existentes hasta entonces. Su principal exponente es el franciscano Guillermo de Ockham. Para él, el mundo es una multiplicidad de seres individuales, absolutamente contingentes, sin relación de conexiones inmutables y necesarias, sin una naturaleza ni esencia. El ser individual es un acto puro de la voluntad creadora divina, resultado de una elección que, siendo divina, no está limitada ni constreñida por conexiones inmutables y necesarias, nacidas de la naturaleza, la causalidad o cualquier otra razón metafísica. El nominalismo proviene del nombre. El conocimiento humano se limita al nombre que asignamos a los seres. No hay naturaleza ni esencia, elementos que las cosas puedan tener en común.

    Según Ockham, el conocimiento que podemos tener del mundo es un conocimiento probable, basado en experiencias repetidas, porque lo que sucedió en el pasado tiene una alta probabilidad de suceder en el futuro. Con esto, el pensamiento nominalista rompió con el marco conceptual-especulativo precedente, incluida la cosmología antigua, y favoreció la tradición experimental. Con esta ruptura, allanó el camino para la ciencia moderna.

    Los discípulos de Ockham comenzaron a cuestionar el geocentrismo y afirmaron el movimiento parcial de la Tierra. Se planteó la hipótesis de que algunos planetas giraban alrededor del Sol. En 1377, el teólogo y astrónomo francés Nicolás Oresme demostró que sería mucho más sencillo explicar el movimiento celeste si fuera la Tierra la que se moviera, y declaró que los pasajes de la Biblia que hablan del movimiento del Sol no son más que imágenes, formas de hablar, “como donde está escrito que Dios se arrepintió, se enojó, se calmó y otras cosas que no son literales” (ORESME apud MINOIS, 1992, p. 12). Oresme fue nombrado obispo de Lisieux y nunca fue atacado por sus audaces hipótesis. En el siglo XV, el filósofo y cardenal Nicolás de Cusa también difundió ideas audaces, diciendo que el universo no tiene centro, que la Tierra se mueve y que los planetas están poblados.

    Al tratarse de la ciencia en Occidente, no se pretende desvalorizar otras civilizaciones que tienen su originalidad y que también forman parte del patrimonio común de la humanidad, así como la civilización cristiana. Esto se benefició de las contribuciones científicas griegas, judías e islámicas. A finales del primer milenio y principios del segundo, las mayores bibliotecas del mundo estaban en el mundo islámico. Las obras griegas clásicas fueron traducidas al árabe. La medicina y la astronomía árabes fueron notables. De esta civilización proceden el alcohol, el álgebra y la numeración arábiga.

    2 La Revolución Científica y la Iglesia

    Un hito clave en el pensamiento occidental y la historia humana fue la revolución científica. Con ella, la ciencia se separa de la filosofía y la religión, y gana autonomía. La química se separa de la alquimia, la medicina de la magia y la astronomía de la astrología. Surge un nuevo paradigma, una nueva forma de pensar y una nueva visión del mundo que han marcado definitivamente la cultura moderna. Todo comenzó a ser cuestionado por la ciencia y su dominio luego se extendió a la psique, la sociedad, la economía y otras áreas de la realidad. Hubo que repensar otros saberes y se deshicieron varias certezas inquebrantables.

    El canónigo y canonista polaco Nicolás Copérnico retomó las teorías sobre el movimiento de la tierra y compuso la teoría heliocéntrica, basada en observaciones y cálculos matemáticos. Demostró que el movimiento de la tierra es suficiente para explicar todas las desigualdades que aparecen en el cielo. Estaba convencido de que la función del erudito es buscar la verdad en todas las cosas, hasta el límite concedido por Dios a la razón humana. Su gran obra De revolutionibus orbium coeslestium (Sobre las revoluciones de las esferas celestes) se publicó en 1534 y tuvo un gran impacto. Al desplazar a la tierra del centro del universo, Copérnico también cambió el lugar del hombre en el cosmos. La revolución astronómica implicó también una revolución filosófica.

    Para el historiador de la ciencia Thomas S. Kuhn:

    Los hombres que creían que su morada terrestre era solo un planeta, girando ciegamente alrededor de una entre miles de millones de estrellas, estaban comenzando a evaluar su posición en el esquema cósmico de manera muy diferente a sus predecesores, quienes veían la Tierra como el único centro focal de la creación divina (KUHN apud REALE; ANTISERI, 1990, p. 212)

    Después de Copérnico, los astrónomos pasaron a vivir en un mundo diferente. Fue el autor de una revolución que lleva su nombre: la Revolución Copernicana. En el curso de esta revolución intelectual, surgieron otros nombres, como el de Johannes Kepler, a finales del siglo XVI y principios del XVII. Descubrió las órbitas elípticas de los planetas y su tiempo de revolución alrededor del sol, relacionándolos con sus respectivas distancias. Sus descubrimientos muy originales fueron impulsados ​​por la fe en el sistema copernicano, que estaba vinculado a la fe platónica de que una razón matemática divina presidía la creación del mundo. Su vida de científico, de alegres expectativas y amargas desilusiones, de repetidos esfuerzos y sucesivos fracasos, los callejones sin salida en los que se encuentra, la tenacidad con la que emprende el desarrollo de difíciles cálculos, la constancia y perseverancia en la búsqueda de un orden, se deben a la fe de que ese orden existe y de que fue Dios quien lo creó. Vemos en su vida una verdadera lucha con el Ángel, que al final no le niega su bendición (KUHN apud REALE; ANTISERI, 1990, p. 246).

    Entre los grandes nombres de la revolución científica, Galileo Galilei (1564-1642) es considerado el fundador de la ciencia moderna, por haber teorizado el método científico y la autonomía de la investigación científica. Matemático y astrónomo, utilizó un descubrimiento reciente, el telescopio, lo perfeccionó y lo apuntó al cielo. A partir de entonces, hizo notables innovaciones, vio cosas que nadie había visto antes y sacó conclusiones inusitadas. Vio que la luna no está hecha de una superficie lisa y pulida en absoluto, sino áspera y desigual. Y, del mismo modo, que la faz de la tierra está, en gran parte, cubierta de prominencias, valles y recodos. Con este hallazgo, se socava la distinción entre cuerpos terrestres y celestes, pilar de sustentación de la cosmología de Aristóteles y Ptolomeo. Galileo también estaba convencido de que los conocimientos geométricos y matemáticos son definitivos, necesarios y seguros, ya que la naturaleza está escrita en lenguaje geométrico y matemático.

    En física compuso las leyes del movimiento, y en astronomía retomó el sistema copernicano, enriquecido con nuevas observaciones y cálculos, haciéndolo casi irrefutable. Ante el conflicto con las Escrituras, propuso una nueva interpretación y una nueva relación entre el libro sagrado y la ciencia.

    Para Galileo, se equivocan quienes pretenden detenerse siempre en el sentido puro de las palabras, porque entonces en la Escritura aparecerían no sólo diversas contradicciones, sino también graves herejías y blasfemias, pues habría que ver en Dios pies, manos y ojos, así como efectos corporales y humanos, como los de la ira, de arrepentimiento, de odio e incluso, a veces, de olvido de las cosas pasadas y de ignorancia de las futuras. La ciencia y la fe para él, en suma, se sitúan y se relacionan de la siguiente manera: 1) la Escritura es necesaria para la salvación del hombre; 2) Los “artículos concernientes a la salvación y al establecimiento de la fe” son tan firmes que contra ellos “no hay peligro de que pueda surgir alguna doctrina válida y eficaz”; 3) Por sus finalidades, la Escritura no tiene autoridad respecto de todo aquel conocimiento que pueda establecerse por medio de “experiencias sensibles y demostraciones necesarias”; 4) Cuando habla de lo que es necesario para nuestra salvación (o de cosas que no se pueden conocer por ningún otro medio o por otra ciencia), la Escritura no puede ser desmentida; 5) Sin embargo, por cuanto los escritores sagrados se dirigieron a la “gente común ruda e indisciplinada”, en muchos pasajes la Escritura necesita interpretación; 6) La ciencia puede ser un medio para interpretaciones correctas; 7) No todos los intérpretes de las Escrituras son infalibles; 8) No se puede comprometer a la Escritura en cosas que el hombre puede conocer con su razón; 9) La ciencia es autónoma: sus verdades se establecen con experiencias sensibles y demostraciones ciertas, y no con base en la autoridad de la Escritura; 10) En cuestiones naturales, la Escritura viene en último lugar (GALILEO apud REALE; ANTISERI, 1990, p. 264-266).

    Se puede concluir, por tanto, que en opinión de Galileo la ciencia y la fe son compatibles. La ciencia nos dice “cómo va el cielo” y la fe nos dice “cómo se va al cielo”. Y cuando surgen aparentes contradicciones, hay que sospechar inmediatamente que el científico se ha convertido en metafísico, o bien que el religioso ha convertido el texto sagrado en un tratado de física o de biología. Las afirmaciones de Galileo, con esta innovadora hermenéutica, otorgan un nuevo lugar a la Biblia en la configuración del conocimiento humano.

    Algunas de sus posiciones ya habían sido, de algún modo, defendidas por Nicolás Oresme en el siglo XIV. ¿Por qué entonces se condenó a Galileo? Por la Contrarreforma. La Iglesia católica, celosa de la lucha contra el protestantismo, asumió una postura muy defensiva en relación con las novedades. El Concilio de Trento prohíbe interpretar las Escrituras contra el consenso unánime de los Padres de la Iglesia (DENZIGER; HÜNERMANN, 2007, n. 1507). En ese momento, no se podía admitir que ningún cristiano fiel, incluso un gran científico, estableciese principios hermenéuticos de interpretación de la Biblia y propusiese interpretaciones de tal o cual pasaje. Ahí está la raíz del choque entre Galileo y la Iglesia.

    Un teólogo jesuita, el cardenal Belarmino, con la intención de salvar el magisterio de la Iglesia, afirmó que el sistema copernicano podía explicar las apariencias de la observación y de los cálculos matemáticos, pero no correspondía a la realidad. Tanto Copérnico como Galileo estaban convencidos de lo contrario, a saber, que el movimiento de la tierra es real.

    En el mundo protestante, la teoría de Copérnico también fue hostilizada.

    En sus Charlas de sobremesa, Lutero parece haber afirmado (1539): “La gente escuchaba a un astrólogo de dos centavos, que buscaba demostrar que es la Tierra la que gira y no los cielos y el firmamento, el sol y la luna […]. Este insensato pretende subvertir toda la ciencia astronómica. Pero la Sagrada Escritura nos dice que Josué ordenó al sol, y no a la tierra, que se detuviera”. En su Comentario sobre el Génesis, Calvino cita el versículo inicial del Salmo 93, que dice: “Sí, el mundo permanece firme, nunca temblará”. Y se pregunta: “¿Quién tendrá la osadía de anteponer la autoridad de Copérnico a la del Espíritu Santo”? (REALE; ANTISERI, 1990, p. 259)

    En la Contrarreforma, la Iglesia Católica creó instrumentos para proteger su fe y combatir el protestantismo. Uno fue la Inquisición romana, establecida por el Papa Pablo III en 1542, encabezada por una comisión permanente de cardenales para combatir la herejía. Esta institución pronto tomó el nombre de Congregación del Santo Oficio. Ella fue la encargada de combatir todas las desviaciones doctrinales y morales, y no dudó en condenar severamente aquellas tesis que le parecieron peligrosas o contrarias a la pureza de la fe, así como a las personas que las defendían.

    En 1600, el dominico Giordano Bruno fue quemado vivo en Roma por decisión del Santo Oficio. En sus escritos, más poéticos que rigurosos, impregnados de mágico hermetismo, afirmaba que: el universo era infinito y eterno, compuesto por una infinidad de cuerpos minúsculos, los átomos; tiene multitud de mundos como el nuestro; las estrellas son enormes bolas de fuego; el sol no es más que una estrella, y la tierra es un pequeño punto que se mueve en el espacio. Este universo lo es todo, y Dios no es separable del mundo. Con esta concepción panteísta, Bruno negó la doctrina de la Santísima Trinidad. El motivo de su condena fueron sus declaraciones religiosas, no sus concepciones sobre el cosmos. Pero luego, se le consideró, erróneamente, el primer mártir de la ciencia (NUMBERS, 2012, p. 79-88).

    Además de la Inquisición, la Iglesia creó otro instrumento de control: el Index librorum prohibitorum (Índice de Libros Prohibidos), o simplemente el Índice. Fue obra del Papa Pablo IV, en 1559, que consistió en una lista constantemente actualizada de obras prohibidas, juzgadas contrarias a la fe y la moral, cuya lectura estaba prohibida a los fieles.

    En 1616, el Santo Oficio condenó la doctrina de Copérnico y transmitió la sentencia a la Congregación del Índice. Se advirtió a Galileo que abandonara la idea copernicana y no la enseñara más, bajo pena de prisión. Como continuó enseñando la doctrina prohibida, fue objeto de más procesamiento por parte de la Inquisición. En 1633, Galileo fue condenado a cadena perpetua en régimen domiciliario y a retractarse de sus ideas ante los tribunales. Estos son los términos de la condenación:

    Decimos, pronunciamos, sentenciamos y declaramos que tú, el mencionado Galileo, por las cosas aducidas en el proceso y por las que confesaste como referidas antes, te convertiste para este Santo Oficio en vehementemente sospechoso de herejía, es decir, de haber sostenido y creído en falsa doctrina y contraria a las sagradas y divinas escrituras, que el sol es el centro de la tierra y que no se mueve de este a oeste, mientras que la tierra se mueve y no está en el centro del mundo, además de que se puede sostener y defender como probable una opinión después de haber sido declarada y definida como contraria a la Sagrada Escritura. Y, en consecuencia, estás sujetos a todas las censuras y penas de los sagrados cánones y demás constituciones generales y particulares impuestas y promulgadas contra semejantes delincuentes. Y por las cuales nos daremos por satisfechos si, en términos absolutos, más que antes, maldigas y detestes los errores y herejías antes mencionados, así como cualquier otro error y herejía contrarios a la Iglesia Católica y Apostólica, en el modo y en la forma que te daremos. (SANTO OFICIO apud REALE; ANTISERI, 1990, p. 273)

    La interpretación tradicional de la Biblia prevaleció sobre la interpretación innovadora del científico. Y Galileo abjuró:

    Yo, Galileo, hijo de aquel Vicente Galileo de Florencia, a esta edad mía de setenta años, constituido personalmente en juicio y arrodillado ante vosotros, eminentísimos y reverendísimos cardenales, inquisidores generales en toda la república cristiana contra la herética maldad, y teniendo ante mis ojos los sagrados Evangelios, que toco con mis propias manos, juro que siempre he creído, creo ahora y, con la ayuda de Dios, creeré también en el futuro en todo lo que  la Santa Iglesia Católica y Apostólica sostiene , predica y enseña [… ]. Por tanto, queriendo apartar del ánimo de las reverendísimas eminencias y de todo fiel cristiano esta vehemente sospecha, justamente concebida hacia mí, con corazón sincero y fe no fingida, abjuro, maldigo y detesto dichos errores y herejías y, en general, , todo y cualquier otro error, herejía y secta contrarias a la Santa Iglesia. Y juro que, en el futuro, nunca más volveré a decir o admitir, de palabra o por escrito, cosas como esas por las que alguien pueda tener de mí tanta sospecha. Y si conozco herejes o sospechosos de herejía, los denunciaré a este Santo Oficio, al inquisidor u ordinario del lugar donde me encuentre. (GALILEO apud REALE; ANTISERI, 1990, p. 274)

    La Iglesia de la Contrarreforma y del miedo condenó a Galileo. Y el año 1633 fue emblemático en la historia de las ideas y en el conflicto entre fe y ciencia. A Descartes le sorprendió la condena de Galileo, por ser “italiano y amigo del Papa”. Solamente en 1820 la Iglesia permitió la publicación de libros que enseñaban el movimiento de la Tierra, con el imprimatur otorgado a la obra del canónigo Settele. Y, solamente, en 1846 se eliminaron del Index las obras de Copérnico y Galileo.

    A pesar de las severas restricciones eclesiásticas, el proceso de la revolución científica no se detuvo. Otro gran nombre de esta transformación intelectual es el del físico inglés Isaac Newton, autor de la obra Plilosophiae naturalis principia mathematica (Principios matemáticos de la filosofía natural), publicada en 1688. Su obra expone lo que hoy se denomina física clásica, con las leyes del movimiento, de la gravedad, de la aceleración y de la óptica. Formuló los postulados de la simplicidad y uniformidad de la naturaleza. La naturaleza es simple, de modo que no debemos atribuir a los fenómenos más causas que las suficientes para explicarlos. La naturaleza es uniforme: lo que sucede con la luz y la gravedad en la Tierra sucede también en cualquier otro planeta. La obra de Newton dio como resultado un marco unitario del mundo y un encuentro efectivo y sólido de la física terrestre y la física celeste. Este marco unitario puso fin a la creencia, proveniente de la antigüedad griega, de una diferencia esencial entre los cielos y la tierra, entre el mundo supralunar y el sublunar, entre la mecánica y la astronomía.

    En otros campos de la ciencia, cabe recordar al filósofo y matemático Gottfried Leibniz, uno de los autores del cálculo infinitesimal, y a William Harvey, médico y descubridor de la circulación sanguínea. Los científicos fundaron sus academias para la promoción del conocimiento natural, como la Royal Society of London for the Promotion of Natural Knowledge en 1662; y la Académie Royale des Sciences, en 1666, en el reinado de Luis XIV. La institución inglesa tenía como lema: Nullius in verba, expresando que no es necesario basarse en la palabra de nadie. La frase está tomada de un poema de Horacio: Nullius addictus iurare in verba magistri, / quo me cumque rapit tempestas, deferor hospes; que quiere decir: “sin estar obligado a defender bajo juramento las palabras de un maestro, de buena gana me dejo llevar donde me arrastre la tempestad”. Es decir, en la ciencia, no es válido el argumento de autoridad, sino lo que se puede demostrar. Se estaba configurando la autonomía de la ciencia. Y todo ello para gloria de Dios, “la honra y el beneficio de este Reino” y el bien universal de la humanidad (REALE; ANTISERI, 1990, p. 218).

    En la cristiandad católica, junto con los avances, también se hicieron otras restricciones. En el siglo XVII, la teoría de los átomos fue formalmente proscrita por los jesuitas, prohibiendo que se la enseñara en sus colegios, por considerarla incompatible con el dogma de la transubstanciación. Las obras científicas de Descartes fueron colocadas en el Index en 1664. La teoría de la circulación sanguínea de Harvey fue puesta en cuestión porque contradecía a Aristóteles y Galeno. En 1751, el naturalista y matemático Georges de Buffon es reprendido, a petición de la facultad de teología de París, por afirmar en su Historia natural que el relieve terrestre fue modelado por el mar, que la tierra era originalmente un fragmento de estrella incandescente y que el sol se extinguiría por falta de combustible. Tales declaraciones fueron consideradas “principios y máximas que no están de acuerdo con la religión” (MINOIS, 1992, p. 6).

    En el siglo XVIII surgieron teorías geológicas que negaban el diluvio universal, afirmando que la aparición del hombre data de hace cientos de miles de años, y que la Tierra tiene más de seis mil años. Estas son posiciones que contradicen la letra de la Sagrada Escritura, y la Iglesia Católica las condena a medida que aparecen. En 1784, el abad Giraud-Soulavie, cuya obra es la base de la geología moderna, se ve obligado a renunciar a sus actividades científicas y la Iglesia prohíbe la publicación de los dos volúmenes de su Historia natural de Francia Meridional.

    De hecho, la situación era compleja porque la Iglesia Católica estaba lejos de ser un bloque unido. Mientras que una orden religiosa condenaba cierta doctrina, otra  doctrina cuestionada era tolerada. Un parlamento prohibía cierto libro, pero tal obispo lo admitía. El Santo Oficio prohibía cierta opinión, pero tal universidad la enseñaba. Esto hizo posible diferentes interpretaciones, formando grietas en la cristiandad que permitieron el avance científico.

    A fines del siglo XIX, la Iglesia Católica actuó en el mundo científico con un propósito apologético: defender las verdades de fe amenazadas por la ciencia, distinguir la ciencia “falsa” de la “verdadera” y crear la “ciencia católica”. Esta tiene como finalidad principal, como escribe el abad Jauge:

    La defensa de la fe en el campo científico. Se propone recoger, entre el clero y los católicos ilustrados, el conocimiento de las respuestas dadas hoy por los teólogos y por la ciencia profana a las numerosas objeciones que, amparadas por una ciencia engañosa, se dirigen contra las verdades cristianas. (MINOIS, 1992, p. 23)

    Este propósito es bastante comprensible en aquel contexto donde los científicos endurecidos y sarcásticos pensaban que la verdadera ciencia conduce al materialismo y al ateísmo. La ciencia católica fracasó porque su propia perspectiva de defender la religión, situando la investigación científica en un contexto de lucha, era contraria a la idea misma de la investigación científica, que sólo debe tener como objetivo el conocimiento y no justificar tal o cual filosofía o religión. Sin embargo, dentro del propio movimiento científico católico surgieron voces que denunciaron la falta de respeto de la Iglesia por la ciencia. En 1897, en el Congreso de la Ciencia Católica realizado en Freiburg, Suiza, el abad Boulay acusó a la jerarquía católica de imponer errores científicos en el Catecismo en nombre de la fe:

    Un gran número de catecismos de perseverancia, destinados a adolescentes de doce a quince años, contienen verdaderas herejías científicas, errores positivos confundidos con las enseñanzas de las verdades más esenciales de la religión. Los adolescentes y jóvenes que leen, que estudian con confianza estos manuales, son incapaces de realizar el cribado necesario. Enseñarles la creación del mundo en seis días, continuar enmarcando todos los acontecimientos bíblicos en la cronología vulgar de 4000 años antes de la era cristiana, ¿no es esto engañar conscientemente a sus jóvenes inteligencias? ¿No es exponerlos a la tentación del escándalo y de la duda, ya que más tarde descubrirán los errores de estas enseñanzas que les fueron transmitidas en nombre de una autoridad dogmática e infalible? (BOULAY apud MINOIS, 1991, p. 257)

    Esta advertencia sigue siendo muy válida hoy, dada la expansión del fundamentalismo religioso. En aquel momento, sin embargo, prevalecía en la doctrina católica la lectura literal de los primeros tres capítulos del Génesis, tal como lo determinó la Santa Sede en 1909 (DENZIGER; HÜNERMANN, 2007, n. 3512-3514). A pesar de ello, la Sede Romana tuvo iniciativas positivas en el campo científico, como la creación del Observatorio Astronómico Vaticano, en Castel Gandolfo, y de la Pontificia Academia de Ciencias, que luego fue presidida por el médico brasileño Carlos Chagas Filho, entre 1972 y 1988.

    En el siglo XX, uno de los nombres más importantes en el diálogo entre fe y ciencia es el del paleontólogo y teólogo jesuita Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955). Su obra es considerada el intento más seductor y audaz de síntesis entre la ciencia moderna y la fe. Sus principales publicaciones son El medio divino (1927), El fenómeno humano (1940), El corazón de la materia (1950) y Lo crístico (1955), que expresan una visión grandiosa basada en la “evolución aplicada al cosmos y al espíritu”. A partir de la creación, ve el universo realizando un vasto movimiento de complejización que, a través de muchas mutaciones, permite la emergencia del espíritu y de la conciencia desde la materia, hacia la plenitud que es la realización del Cristo cósmico, el Omega. Este proceso concierne a todos los seres humanos. Cada uno se inserta en el movimiento de la realización del Cristo, por amor.

    Las ideas de Teilhard de Chardin fueron mal recibidas por las autoridades eclesiásticas, sufriendo muchas censuras y prohibiciones que ilustran la dificultad del diálogo entre la Iglesia y la ciencia aún en el siglo XX. Las consecuencias teológicas de esta síntesis le causaron problemas. Se reprochó a sus ideas haber ocultado el pecado original y el mal, y con ello la redención; por no haber valorado debidamente la trascendencia en relación con el mundo material, y la especificidad del espíritu en relación con la materia. Teilhard murió en el anonimato, exiliado por las autoridades romanas. Después de su muerte, sus libros fueron publicados por editoriales no católicas y su venta fue prohibida en las librerías católicas en 1957. Sin embargo, su pensamiento está muy vivo e influyó en el Concilio Vaticano II. En las últimas décadas, ha sido elogiado por los papas.

    En medio de las controversias entre fe y ciencia, desde fines del siglo XIX, los estudios bíblicos en el mundo católico comenzaron a progresar más allá del sentido literal (LEÃO XIII, 1893, n. 39). En el pontificado de Pío XII (1939-1958), una encíclica trata de los “géneros literarios” en la Biblia. Lo que expresan los autores sagrados no es tan claro como en los escritores de nuestro tiempo, dice el Papa. Su significado no puede ser determinado solo por las reglas de la gramática y la filología, sino también por el contexto más amplio de los tiempos antiguos del Oriente. El intérprete actual debe utilizar la historia, la arqueología, la etnología y otras ciencias para examinar y distinguir claramente qué géneros literarios utilizaron realmente los escritores de aquellos tiempos remotos. Con un justo concepto de inspiración bíblica, no debe sorprender que en los autores sagrados, así como en sus contemporáneos, se encuentren ciertas formas de exponer y contar, ciertas particularidades idiomáticas, especialmente de las lenguas semíticas, ciertas expresiones aproximativas o hiperbólicas, tal vez paradójicas, que sirven para grabar las cosas con mayor firmeza en la memoria. Ninguna de las formas de hablar de los antiguos, especialmente entre los orientales, es incompatible con las Sagradas Escrituras, ya que el género adoptado no repugna a la santidad y verdad de Dios (PIO XII, 1943, n. 20).

    Con la incorporación de elementos histórico-críticos en la interpretación de la Biblia, la teoría de la evolución comenzó a ser admitida, aunque con restricciones. Pío XII afirmó que es legítimo suponer el origen del cuerpo humano en la materia viva preexistente. Sin embargo, condenó el poligenismo, la teoría de un origen múltiple de la humanidad al admitir individuos que no descenderían del primer hombre, Adán. Para el Papa, esto contradice la doctrina del pecado original, cometido por él y transmitido a todos los demás por generación, junto con sus consecuencias, convirtiéndose en el pecado propio de todo ser humano. No se debe proceder como si nada, en las fuentes de la Revelación, exigiera la máxima moderación y cautela en esta materia científica (PIO XII, 1950, n. 35-37). Hay un progreso considerable, de eso no hay duda, pero permanece la tutela religiosa sobre la ciencia.

    En el Concilio Vaticano II (1962-1965), hubo un gran encuentro de la Iglesia con el mundo moderno, que permitió la resolución de varios problemas y la superación de muchos malestares. La Iglesia católica, tras siglos de reticencias, aceptó la libertad de conciencia y la libertad religiosa, con la “justa autonomía de las realidades terrenas”, que incluyen la separación de iglesia y estado, y la autonomía de la ciencia.

    En relación con la Biblia, la Revelación divina transmitida en ella se entiende como la autocomunicación de Dios al ser humano, que alcanza su plenitud en Jesucristo (DV, n.2). El énfasis está en la relación interpersonal, y no en la transmisión de un conjunto de enunciados inmutables con un significado unívoco. El método histórico-crítico es asumido por el Concilio y bien sintetizado: el lector contemporáneo debe buscar el sentido que los autores sagrados en determinadas circunstancias, según las condiciones de su tiempo y de su cultura, pretendieron expresar utilizando los géneros literarios entonces empleados. Hay que tener en cuenta los modos específicos de sentir, decir o narrar que se usaban en su época, así como los modos que se usaban con frecuencia en las relaciones entre los hombres de aquella época (DV, n. 12).

    Hay un nuevo tono mucho más positivo hacia la confianza y la colaboración. El Concilio reconoce que las investigaciones y descubrimientos recientes en las ciencias, la historia y la filosofía plantean nuevos problemas, que tienen consecuencias para la vida y requieren nuevos estudios por parte de los teólogos. En la acción pastoral de la Iglesia se deben conocer y aplicar no sólo los principios teológicos, sino también los datos de las ciencias profanas, especialmente la psicología y la sociología, para que los fieles sean conducidos a una vida de fe más pura y adulta. Se exhorta a los fieles a vivir en estrecha unión con los demás hombres de su tiempo, y a comprender bien su manera de pensar y de sentir, que se expresa a través de la cultura. Que sepan conciliar los nuevos conocimientos científicos y sus últimos descubrimientos con las costumbres y la doctrina cristianas. Que la práctica religiosa y la rectitud moral acompañen en los fieles el conocimiento científico y el progreso técnico, para que sean capaces de apreciar e interpretar todas las cosas con auténtico sentido cristiano (GS, n. 62).

      En el mensaje final del Concilio, se exhorta a los hombres dedicados al pensamiento y a la ciencia a considerar que quizás nunca como hoy, por la gracia de Dios, ha sido tan acogida la posibilidad de un acuerdo profundo entre la verdadera ciencia y la verdadera fe, sirviendo una y otra a la única verdad. Que este precioso encuentro no sea impedido (PAULO VI, 1965).

    Cabe señalar que, al reconocer en las ciencias profanas una importante ayuda para una vida de fe más pura y adulta, está implícito el riesgo de desatender estas ciencias, contribuyendo a una fe menos pura y menos adulta. Con los nuevos vientos conciliares de acercamiento y reconciliación, Pablo VI, en 1966, puso fin al Índice de Libros Prohibidos.

    Años más tarde, durante el pontificado de Juan Pablo II, se dio un importante apoyo a la investigación científica, especialmente a través de visitas a centros de investigación y pronunciamientos dirigidos a los científicos. La más importante de ellas es una carta escrita en 1988 al director del observatorio astronómico del Vaticano, el jesuita George Coyne, con motivo del tricentenario de la publicación de la Philosophiae Naturalis Principia Mathematica de Newton.

    El Papa dice que es necesario que el cristianismo, las grandes religiones y la comunidad científica entablen un diálogo que supere la fragmentación de la cultura moderna, hacia una visión unificada. Esta unidad es la que nos permite dar sentido a la realidad y a la vida. Enfatiza que la ciencia es ciencia y la religión es religión, cada una con sus principios y procedimientos. Que la teología no profesa una pseudociencia, y que la ciencia no es inconscientemente una teología. El cristianismo tiene sus propias fuentes de justificación dentro de sí mismo y no espera que la ciencia sea su base apologética. Y advierte a los teólogos contra el uso apresurado de teorías científicas con fines apologéticos. La ciencia está ahí, desafía a la teología, y su visión del mundo es inevitablemente asimilada por los cristianos, observa Juan Pablo II. Que lo hagan con profundidad y perspicacia, no de una manera acrítica y superficial, no de una manera que humille el evangelio y avergüence a los cristianos ante la historia. La ciencia puede purificar la religión del error y la superstición, y la religión puede purificar la ciencia de la idolatría y los falsos absolutos (JUAN PAULO II, 1988).

    El aislamiento de ambas, por lo tanto, es mutuamente perjudicial. El uso de la ciencia puede ser masivamente destructivo, y las posiciones de la religión pueden ser oscurantistas y estériles. Cada una puede aportar a la otra un horizonte más amplio, para el bien de todos. Otro aporte importante de este Papa fue un documento de la Curia romana sobre la interpretación de la Biblia. En él refuta, con sabiduría y firmeza, la lectura fundamentalista de la Sagrada Escritura.

    Esta lectura asume que la Biblia, siendo la Palabra de Dios inspirada y libre de errores, debe ser leída e interpretada literalmente en todos sus detalles, excluyendo cualquier entendimiento que tenga en cuenta el crecimiento histórico  y el desarrollo del texto bíblico. Se opone así al uso del método histórico-crítico, así como a cualquier otro método científico. El fundamentalismo, con raíces en el principio de Lutero de sola Scriptura (solo las Escrituras), fue organizado más tarde por un amplio sector protestante que se oponía a la exégesis liberal. El nombre de este movimiento reactivo está directamente relacionado con el Congreso Bíblico Americano, realizado en 1895. Los principios del fundamentalismo son: la inerrancia verbal de la Escritura, la divinidad de Cristo, su nacimiento virginal, la doctrina de la expiación vicaria y la resurrección corporal en la segunda venida de Cristo. Esta lectura se difundió ampliamente en otros continentes, influenciando también a los católicos.

    El enfoque fundamentalista tiende a tratar el texto bíblico como si fuera dictado palabra por palabra por el Espíritu Santo. Este enfoque es peligroso, advierte el documento, ya que es atractivo para las personas que buscan respuestas bíblicas a los problemas de su vida. En lugar de decirles que la Biblia no contiene necesariamente una respuesta inmediata a cada uno de estos problemas, este enfoque puede confundirlos al ofrecerles interpretaciones piadosas pero engañosas. El fundamentalismo invita, sin decirlo, a una especie de “suicidio del pensamiento”. Pone una falsa certeza en la vida, ya que inconscientemente confunde las limitaciones humanas del mensaje bíblico con la sustancia divina de ese mensaje (PCB, 1993, I. F).

    El mismo documento romano evalúa el uso del método histórico-crítico, que pone de manifiesto, de forma diacrónica, el sentido expresado por los autores y redactores de la Biblia. Este método tiene límites, pues se restringe a la búsqueda del sentido del texto bíblico en las circunstancias históricas de su producción. No está interesado en otras potencialidades de significado, que se manifestaron en el curso de períodos posteriores de la revelación bíblica y de la historia de la Iglesia. Sin embargo, el método contribuyó a la producción de obras de exégesis y teología bíblica de gran valor. Con la ayuda de otros métodos y enfoques, abre al lector moderno el acceso al significado del texto de la Biblia, tal como se puede tener (PCB, 1993, I. A).

    El diálogo entre fe y ciencia continúa con el Papa Benedicto XVI. Se comprometió a profundizar y releer el concepto de ley natural que, según la tradición judeocristiana, está “escrita en el corazón del hombre” y orienta sus juicios éticos (Rm 2, 14-16), indicando el bien a ser hecho y el mal por evitar. Para el Papa, la contribución de los científicos debe ser mayor que posibilitar el dominio humano sobre la naturaleza. Deben ayudar a comprender la responsabilidad del ser humano por su prójimo y por la naturaleza que le ha sido confiada. Así, es posible desarrollar un “diálogo fecundo entre creyentes y no creyentes; entre filósofos, juristas y hombres de ciencia”. Este diálogo también puede ofrecer al legislador un material precioso para la vida personal y colectiva (BENTO XVI, 2007).

    Retoma el concepto patrístico de liber naturae (libro de la naturaleza). La Iglesia enseña que Dios, creando y conservando todas las cosas por el Verbo, ofrece a los hombres un testimonio permanente de sí mismo en la creación. Como el misterio de Cristo está en el centro de la Revelación divina, se debe reconocer que la creación misma, el libro de la naturaleza, también forma parte esencial de una sinfonía de muchas voces en la que el Verbo único se expresa. La creación nace del Logos, portando el signo indestructible de la razón creadora que la regula y guía (BENTO XVI, 2010b, n. 7-9). Esta certeza está expresada en los Salmos: “Por la palabra del Señor fueron hechos los cielos; por el soplo de su boca todo su ejército» (Sal 33, 6). El libro de la naturaleza es uno e indivisible, ya sea respecto al medio ambiente ya sea respecto a la vida humana y su desarrollo integral (BENTO XVI, 2009, n. 51). El teólogo también tiene una mirada sobre la naturaleza investigada por el científico, buscando la racionalidad y la unidad que surgen de la razón creadora.

    3 Cuestiones contemporáneas

    Con todos los cambios que han tenido lugar en los últimos cien años, quedan cuestiones conflictivas. Una es la doctrina del pecado original, basada en los primeros capítulos de la Biblia. Todavía hoy se enseña que al principio de la historia humana hubo un hombre y una mujer creados en estado de santidad, exentos de la muerte y viviendo en armonía con la naturaleza circundante (CIC, 1992, n. 390 y 398-400) , en un entorno y en una situación tradicionalmente denominada “paraíso terrenal”. Esta doctrina se ha vuelto inadmisible para la ciencia. Teilhard de Chardin, basado en sus estudios paleontológicos, ya confió a principios de la década de 1920:

    Cuanto más resucitamos científicamente el pasado, menos espacio encontramos para Adán y para el paraíso terrenal. […] No hay el menor rastro en el horizonte, no hay la menor cicatriz, que indique las ruinas de una edad de oro o nuestra amputación de un mundo mejor. (CHARDIN, 1969, p. 62-63)

    El acceso a la fe cristiana para muchas personas está bloqueado por la enseñanza sobre el pecado original. Un ejemplo de ello es el filósofo del derecho Norberto Bobbio, uno de los más importantes en su campo en el siglo XX. Fue sensible a la dimensión religiosa del ser humano, que contempla y siente sus propios límites, sabiendo que la razón humana es una pequeña lámpara que ilumina un espacio diminuto frente a la grandeza e inmensidad del universo. Bobbio descubrió que “cuanto más sabemos, más sabemos que no sabemos”. El espacio de la conciencia humana se ha expandido enormemente, pero cuanto más se expande ese espacio, más consciente se vuelve la conciencia de la inmensidad que no conoce. Aun manteniéndose dentro de los límites de su propia razón, Bobbio tiene el “sentido del misterio”, común tanto al hombre de razón como al hombre de fe. La diferencia, para él, es que el hombre de fe llena este misterio con revelaciones y verdades venidas de lo alto, de las que Bobbio no puede convencerse. Una de estas verdades es el pecado original, esta culpa original y colectiva transmitida de generación en generación. Para él es algo sumamente primitivo, ligado a una concepción tribal (BOBBIO, 2000, p. 7-9).

    El historiador Jean Delumeau, autor de un vasto trabajo sobre el miedo, la culpa en Occidente y la idea del paraíso, propone a las iglesias cristianas un urgente aggiornamento (actualización) sobre el pecado original. Que sea reconsiderada la enormidad atribuida a la primera falta: la pena de muerte y la culpabilidad hereditaria resultante. Es mejor hablar del “pecado del mundo” que Jesús viene a “quitar”, según el Evangelio de Juan (1,29), en el sentido de que todos nacemos en un mundo en el que ya existe el pecado. Un mundo en el que la maldad, el orgullo, la voluntad de poder y la concupiscencia se han acumulado desde el comienzo de la humanidad (DELUMEAU, 2007, p. 77-94).

    A pesar de esta divergencia, en general, la actitud reciente de la Iglesia católica hacia el conocimiento científico es de respeto a su autonomía, fomento de la investigación y asombro ante los descubrimientos. La hostilidad y la desconfianza del pasado han dado paso a una colaboración dinámica. Sin embargo, en las ciencias aplicadas a la vida y su transmisión, la situación sigue siendo conflictiva debido a las prohibiciones de la moral católica. La oposición de la Iglesia a los medios anticonceptivos artificiales, la inseminación artificial y la fertilización in vitro no es aceptada por los no católicos e incluso por muchos fieles católicos. También en antropología existe divergencia sobre la comprensión de la creación del ser humano como hombre y mujer, y la diversidad sexual y de género (LIMA, 2019).

    Conclusión

    La Biblia y la ciencia son diferentes niveles de conocimiento. El libro sagrado de los cristianos es la fuente y el alimento de su propia fe y también puede ser leído provechosamente por los no creyentes. El mundo en el que viven los cristianos está profundamente moldeado por la ciencia y su lenguaje. No puede ser ignorada, ni en la comprensión de las Escrituras, ni en la elaboración de la teología, ni en el diálogo con la contemporaneidad, ni en el compromiso a favor de un mundo más justo y solidario. La ciencia siempre puede advertir a la religión contra el error y la superstición, y la religión siempre puede advertir a la ciencia contra las idolatrías y los falsos absolutos.

    El relato científico del ser humano permite percibir que la persona humana está profunda e intrínsecamente interconectada con las demás criaturas del planeta, como hija de la tierra e hija del universo; y la persona humana tiene la dignidad y la responsabilidad particular de ser esa criatura en la que el universo alcanzó la autoconciencia (HAIGHT, 2012, p. 17). La ciencia y la fe pueden unirse en una profunda admiración por la creación y en el acto de alabar al Creador, siguiendo el ejemplo del astrofísico contemporáneo Enrico Medi, cuya causa de beatificación está en proceso. Él escribió:

    Oh tú, galaxia misteriosa […] Te veo, calculo, comprendo, estudio y descubro, penetro y recopilo. De ti tomo la luz y hago ciencia, tomo el movimiento y lo hago sabiduría, tomo el brillo de los colores y lo hago poesía; Os recojo, estrellas, en mis manos y, temblando en la unidad de mi ser, os elevo por encima de vosotras y, en oración, os ofrezco al Creador, que sólo a través de mí podéis vosotras mismas adorar (MEDI apud BENTO XVI, 2010a).

    Luís Corrêa Lima, PUC-Rio. Texto original en portugués. Enviado: 25/08/2022; Aprobado: 30/11/202e; Publicado: 30/12/2022

     Referencias

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    PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA (PCB). A interpretação da Bíblia na Igreja. Roma, 1993. Disponible en: https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html. Acceso el: 22 ene 2022.

    REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia. v. II. São Paulo, Paulinas, 1990.

    Para profundizar más:

    ARNOULD, J. Darwin, Teilhard de Chardin e Cia. São Paulo: Paulus, 1999.

    CONCILIUM (Revista Internacional de Teologia). Evolução e Fé, n. 284, 2000/1.

    MALDAMÉ, J.-M. O pecado original: fé cristã, mito e metafísica. São Paulo: Loyola, 2013.

    PETERS, T; BENNETT, G. (org.). Construindo pontes entre a ciência e a religião. São Paulo: Loyola/Unesp, 2003

    VAZ, H. Universo científico e visão cristã em Teilhard de Chardin. Petrópolis: Vozes, 1967.

    Bailes religiosos

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      Bailes religiosos

      Índice

      Introductión

      1 El fundamento narrativo

      1.1 Historia del baile

      1.2 Acontecimientos fundantes

      1.2.1 Los fundadores – el evento fundador

      1.2.2 La presencia de Dios en la vida

      1.3 Narratividad silenciosa

      2 Una experiencia sinodal

      2.1 Un espacio de autonomía

      2.2 Una familia

      2.3 Dignidad de hija(o), fragilidad de hija(o)

      a. Dignidad de hija(o)

      b. Fragilidad de hija(o)

      3 La corporalidad

      4 Saborear la comunión escatológica

      5 Un contenido sintético de la fe

      Conclusión

      Referencias

      Introducción

      Los bailes religiosos son una realidad presente en toda América Latina, como una manera particular de expresar y vivir la fe, que responde bien a las necesidades y búsquedas de nuestro pueblo creyente. Es una realidad que hay que considerar en profundidad pues, en una época de crisis eclesial, los bailes religiosos nos presentan una Iglesia viva, con jóvenes y niños, con un rostro alegre y festivo. Así también es relevante su manera sinodal de funcionar, sinodalidad que quiere ser la marca de una iglesia profética y esperanzadora que pone al laicado como protagonista. Además, la manera de expresar la religiosidad que involucra a la persona como un todo, integrando la corporalidad y la emoción, le da a los bailes religiosos una fuerza que es parte del secreto de su permanencia y vigor.

      Una atención mayor a los bailes religiosos es importante para superar una mirada desconfiada que se fija en primer lugar en “lo que les falta” más que en la plenitud de la experiencia que ellos propician. Durante mucho tiempo, desde la jerarquía eclesiástica y desde la intelectualidad teológica, se ha visto con recelo esta experiencia por ciertos rasgos de “paganismo”, o se la ha considerado como una experiencia básica de la fe que hay que evangelizar.

      En ese sentido resulta inspiradora la sensibilidad de Jesús que descubre la fe de la gente que se le acerca y la pone como modelo, como en el caso de lo que dice a la mujer cananea: “Mujer, grande es tu fe, que te suceda como deseas” (Mt 15,28), y a la mujer hemorroísa: “¡Ánimo!, hija, tu fe te ha salvado” (Mt 9,22); y a la gente, alabando la fe del centurión: “Les aseguro que en Israel no he encontrado en nadie una fe tan grande” (Mt 8,10). ¿De qué fe se trataba? Una fe muy simple: la conciencia de que por sí solos no podían salir de una situación de dolor y la confianza en que Jesús podía sanarlos. Esa fe así de “básica” es reconocida por Jesús como una fe “grande”, mayor, no solo que la de los maestros de la Ley y fariseos, sino también que la fe de los discípulos.

      En Evangelii nuntiandi se señala que esta experiencia popular de la fe “refleja una sed de Dios que solamente los pobres y sencillos pueden conocer. Hace capaz de generosidad y sacrificio hasta el heroísmo, cuando se trata de manifestar la fe. Comporta un hondo sentido de los atributos profundos de Dios: la paternidad, la providencia, la presencia amorosa y constante. Engendra actitudes interiores que raramente pueden observarse en el mismo grado en quienes no poseen esa religiosidad: paciencia, sentido de la cruz en la vida cotidiana, desapego, aceptación de los demás, devoción” (EN 48). Por su parte, el Papa Benedicto XVI reconoce la piedad popular como “el precioso tesoro de la Iglesia católica en América Latina, y que ella debe proteger, promover y, en lo que fuera necesario, también purificar” (BENEDICTO XVI, 2007). En Evangelii gaudium el papa Francisco dice que “las expresiones de la piedad popular tienen mucho que enseñarnos y, para quien sabe leerlas, son un lugar teológico al que debemos prestar atención, particularmente a la hora de pensar la nueva evangelización” (EG 126).

      No pretendemos presentar aquí la piedad popular como una experiencia sin defecto, pero sí nos aproximamos a ella desde una postura de mayor humildad, reconociendo que toda experiencia de fe necesita siempre ser completada, iluminada, purificada. Según el documento de Puebla, “Como toda la Iglesia, la religión del pueblo debe ser evangelizada siempre de nuevo” (DP 457).

      Las reflexiones que siguen las contextualizamos en nuestra experiencia con los bailes religiosos del Norte de Chile y los bailes de Congado y Mozambique del Estado de Minas Gerais en Brasil. Cuando lo consideremos necesario iremos describiendo las formas como estos bailes religiosos viven y expresan su fe para ir fudamentando el desarrollo de cada tema.

      1 El fundamento narrativo

      La experiencia del baile religioso tiene un fundamento narrativo que la sustenta. Nos parece que esta narratividad dadora de sentido es un aspecto relevante para el sentido de pertenencia. Dividimos este fundamento narrativo en tres ítems: la historia del baile, los acontecimientos fundantes y lo que hemos llamado “narratividad silenciosa”, algo así como una narratividad estética.

      1.1 Historia del baile

      La “historia del baile” es muy importante como elemento de solidez. Un baile religioso no es algo que surja de la nada o de un simple acuerdo de amigos/as. La relevancia del hecho fundante va de la mano de la seriedad con la que se asume el compromiso de bailar. Hay un compromiso de fidelidad que tiene como base un compromiso afectivo.

      En esta perspectiva narrativa se entrelazan bien pasado, presente y futuro. El pasado está referido sobre todo al hecho fundante. Sea un acontecimiento concreto o la conciencia de que Dios ha estado presente en la vida de esa comunidad. Ese fundamento mueve a bailar en el presente, a hacer todo el esfuerzo que ello implique. Es relevante no solo el momento fundante, sino la historia del baile desde su fundación hasta el momento presente. Es una historia que se cuenta una y otra vez, como horizonte dador de sentido. Esas luces y sombras vividas en el pasado ayudan a mirar y comprender las luces y sombras actuales. Así también, el horizonte futuro está presente en la promesa: “Para el otro año volveré”. Y se pide la bendición para cumplir esa promesa: “Danos vida para el año”. Lo prometido configura, de algún modo, la vida entre fiesta y fiesta. Así también, como horizonte de futuro, los niños tienen un lugar relevante: se ve en ellos el futuro, en la medida que son la garantía del cumplimiento de la promesa hacia adelante. Los fundadores, los integrantes actuales, serán trascendidos en ellos.

      1.2 Acontecimientos fundantes

      1.2.1 Los fundadores – el evento fundador

      El origen de los bailes siempre se puede remitir a una -o unas pocas- persona(s) concreta(s). Eso es algo que los miembros tienen claro porque es una narración que se va transmitiendo de generación en generación. Es una tradición que se funda en una decisión personal: alguien, en un momento concreto, por motivaciones personales, propuso: “Fundemos un baile”. Y esa persona concreta logró entusiasmar a los demás. Algunos bailes religiosos surgen porque alguien ha vivido un hecho milagroso en la familia. Son acontecimientos que tienen que ver habitualmente con la salud, la sanación. Otros bailes han surgido para recordar a alguien que ha fallecido. Bailar es una manera de hacer memoria y honrar a esa persona que nos amó y que seguimos amando. Se reconoce en esa persona la huella de Dios.

      Los fundadores son muy importantes: tienen un lugar especial en la toma de decisiones, son recordados permanentemente. Sus vidas son inspiradoras. Suelen tener el lugar del Caporal, el cargo más importante en el baile.

      En el caso de los bailes de Congado y Mozambique de Minas Gerais, el hecho fundante es la abolición de la esclavitud, a través de la “Ley Áurea”, firmada por la Princesa Isabel el 13 de mayo de 1888, aprovechando la ausencia de su padre, el Rey Dom Pedro II, en viaje a Portugal. Además de la alegría por la liberación se recuerda el dolor de los antepasados esclavos. Se afirma con orgullo el lazo identitario con los pueblos africanos y se afirma el proceso de liberación como una acción salvadora de Dios. Se reconoce la presencia de la Virgen del Rosario en todo este proceso de liberación. Así también, es relevante la figura de “São Benedito”, porque es un santo negro, lo cual refuerza la identidad cultural y espiritual como bautizados.

      1.2.2 La presencia de Dios en la vida

      Los bailes religiosos tienen que ver, sobre todo, con una clara conciencia de la presencia de Dios en la vida concreta. Se agradece su presencia bondadosa, fiel, misericordiosa. El plano de fondo es una vida dura, atravesada por el dolor, llena de contradicciones. Es una experiencia en la que el amor de Dios se experimenta como misericordia. Ante él no tenemos nada que presentar como mérito. En efecto, la acción de danzar es mucho más gratitud que mérito. El bailarín tiene la conciencia de ser pobre ante Dios, vulnerable ante la vida, y, por ello, necesitado de Dios. Si algo recibe lo recibe por la pura bondad de Dios. En ese sentido podemos decir que los que bailan no son solo creyentes en Dios, sino necesitados de Dios.

      Es interesante que los pobres y los bailes pobres no se avergüenzan de sus grupos pequeños en número, sus ropas sencillas, sus bandas pequeñas. Ellos también ocupan las calles y la plaza para danzar. No se preocupan si es mucha o poca la gente que los está viendo. Incluso se muestran orgullosos de su simplicidad, como intuyendo la alegría de Dios y de la Virgen que se conmueven de manera especial con los anawin.

      Por el lugar relevante que tiene la Virgen María en la espiritualidad de los bailes religiosos, podríamos decir que se celebra también la “maternidad de Dios”. En la devoción a la Virgen se subrayan elementos femeninos de Dios: su amor incondicional, desde las entrañas; su cuidado por el frágil, su intimidad como madre que se abaja para estrechar su mejilla con la nuestra con ternura. “En María, Dios aparece como aquel que puede dar y mantener la vida, traer la paz y reconciliar los desajustes del mundo” (GACITÚA, 2017, p. 47). Según van Kessel, “la Virgen Madre es remedio para el alma y para el cuerpo” (KESSEL, 2002). Así también, se establece una relación entre la obtención de la salud y el perdón de los pecados; “el secreto de la recuperación de la enfermedad está en el perdón de los pecados y la bendición” (IDEM). Se anhela una “vida duradera, plena, segura, protegida por la poderosa vigilancia maternal de María” (IDEM). La manera de pedir esta bendición es bailando: “[el baile] es la oración más convincente y el argumento más fuerte aducido para que la Virgen les dé salud y vida” (IDEM).

      Así también, los santos son manifestación de la cercanía de Dios: San Benedicto, el santo negro, en el caso de los bailes de Minas Gerais; San Lorenzo, que consideraba a los pobres como el tesoro de la Iglesia, es venerado en el norte de Chile como patrono de los mineros, los camioneros, los borrachos, la comunidad LGBTIQ+.

      1.3 Narratividad silenciosa

      El integrante de los bailes religiosos del norte de Chile se denomina a sí mismo “bailarín del silencio” (GACITÚA, 2017, p. 21-22). En una de las canciones más populares de las fiestas del norte de Chile se canta: “Soy bailarín del silencio, de ese silencio que habla con Dios”. A pesar de que la experiencia del baile religioso siempre está acompañada de música, la experiencia del “silencio” es relevante. Señalamos dos aspectos: el primero es que la experiencia de ser promesero (todo el que integra un baile ha hecho una promesa y, por ello, se le llama promesero) es una experiencia muy personal. Hay un sentido que lo ha llevado a bailar que solo él conoce. Hay unas intenciones que se llevan a cada fiesta y que están solo en la intimidad del corazón. “La danza es expresión-narración de su interioridad y un manifiesto de su fe” (IDEM, p. 61). La promesa realizada a la Virgen o al santo implica un compromiso que debe cumplir por la cantidad de años que se ha comprometido; es lo que se llama “pagar la manda”. Para Van Kessel aparecen aquí las relaciones de reciprocidad que caracterizan a los pueblos andinos; en efecto, “la expresión ‘pagar la manda’ es el reflejo del principio de reciprocidad fundamental de las relaciones entre el humano y los seres de su medio: social, natural y divino. Sin embargo, el ‘pago’ de una manda o promesa no es una ‘compra’ de salud a Dios o a la Virgen” (KESSEL, 2002). Por su parte, Lautaro Núñez señala que en la promesa o la manda “surge un compromiso como el acto más serio y estricto de todos. Con él se recobra la antigua dignidad y la penitencia se hace pública” (NÚÑEZ, 2004, p. 160).

      El segundo aspecto de esta “narratividad silenciosa” es que el tipo de baile, los trajes y la coreografía cuentan una historia. Por ejemplo, la “morenada”, con su paso cansino y arrastrado nos recuerda el caminar de los esclavos atados con cadenas. Los “zambos caporales” ironizan a los negros capataces que maltrataban a sus propios hermanos de raza. Los “Congados” y “Mozambiques” de Brasil se visten a la usanza africana, pero transformando el dolor de los esclavos en la alegría de los libres. Algunos llevan coronas, cetros, como signo de poder y dignidad. Otros se visten de marineros recordando las largas travesías en barco desde África a Brasil.

      2 Una experiencia sinodal

      Como decíamos al inicio, nos parece que parte de la fuerza de la experiencia de los bailes religiosos radica en su sinodalidad. Señalamos a continuación las maneras como ella se manifiesta.

      2.1 Un espacio de autonomía

      Una de las fuerzas que tiene la piedad popular y, más en concreto, la experiencia de los bailes religiosos, es su autonomía. El Papa Francisco nos ha dicho:

      La pastoral popular es uno de los pocos espacios donde el Pueblo de Dios es soberano de la influencia de ese clericalismo que busca siempre controlar y frenar la unción de Dios sobre su pueblo. Aprender de la piedad popular es aprender a entablar un nuevo tipo de relación, de escucha y de espiritualidad que exige mucho respeto y no se presta a lecturas rápidas y simplistas (FRANCISCO, 2018a, §5).

      En efecto, los bailes religiosos son un espacio que tiene independencia del sacerdote, pues se estructuran a partir de una autoridad que es elegida, de manera rotativa; o, en el caso de los bailes familiares, es una autoridad que recae en el patriarca o la matriarca de la familia. Hay, por tanto, una autoridad legitimada, sea por la elección, sea por la ascendencia relacionada al vínculo familiar.

      2.2 Una familia

      Otro elemento fuerte de los bailes es la relevancia que tiene la familia. Normalmente pertenecen al baile familias enteras. Y, a diferencia de la pastoral ordinaria de la iglesia, aquí están presentes también los hombres. Esa estructura ayuda a generar dinámicas de mayor estabilidad y autonomía. Podemos decir que los bailes religiosos son alimentados por las familias y, a su vez, alimentan la vida familiar. Además, en cada fiesta religiosa conviven numerosas familias que comparten los viajes, las comidas, los lugares de hospedaje, las largas horas de danza.

      Y no se trata solo de una comunión de familias, sino de una gran familia que acoge a cada miembro: lo valora, se preocupa de lo que le pasa, lo apoya en las buenas y en las malas. Para muchos jóvenes el baile se transforma en la única familia que los acompaña en los caminos de la vida. Es una estructura con fuertes lazos solidarios.

      2.3 Dignidad de hija(o), fragilidad de hija(o)

      La posibilidad de una sinodalidad real tiene que ver con considerar al otro como igual. Y esto no pasa solo por la conciencia de la igual dignidad de todos, sino que es necesaria también la conciencia de igual fragilidad. En efecto, en la medida que me reconozco frágil, el otro se hace relevante para mí, por cuanto es quien puede acompañarme, alentarme, corregirme, fortalecerme.

      Tenemos la impresión de que este equilibrio entre dignidad y fragilidad se da en la piedad popular. Lo desarrollamos a continuación.

      a. Dignidad de hija(o)

      El bailarín se sabe hijo de Dios e hijo de María. La referencia a la Virgen como madre es fundamental. En efecto, el traje del bailarín es símbolo de esa dignidad de la cual se reviste. Por eso el traje es sagrado: cuando se está con el traje hay que comportarse de una manera digna, acorde a la dignidad que representa; por eso el traje no puede ser usado en otro contexto que no sea el de la fiesta religiosa.

      En las fiestas del Norte de Chile, cuando los bailes hacen la entrada al pueblo, las bailarinas y los bailarines nuevos visten “de civil”. Recién cuando llegan frente a la Virgen, mientras el baile canta, son revestidos con el traje del baile. No se visten ellos solos, sino que alguien que asume el rol de madrina o padrino los viste, como signo de una dignidad que reciben, que se les otorga -que Dios les otorga-. En ese traje se manifiesta esa dignidad de hijo e hija, así como la de hermano/a de los demás integrantes del baile.

      La persona devota sabe que es amada por Dios, por la Virgen. Se trata de un amor firme, incondicional, misericordioso, cargado de ternura. Es una experiencia muy personal, aunque siempre vivida en el contexto del grupo del baile. Por eso él/ella quiere agradecer bailando, y tiene la confianza para pedir, para confidenciar lo que le pasa.

      Esta condición de hijos e hijas está conectada íntimamente con la condición de hijo de Jesús. Podríamos decir que el modo como Jesús está presente en estas fiestas no es, en primer lugar, como crucificado, sino como hijo, como niño. Un signo elocuente en este sentido son las imágenes de María con el niño en brazos, un niño siempre revestido con el mismo traje del baile. De algún modo el bailarín en la fiesta vuelve a ser niño, lo cual está vinculado también a la inocencia y la pureza de esa condición (LAAN, 1992, p. 63)[1]. Por eso no tiene miedo ni vergüenza de revestirse con el traje y bailar delante de la gente. En la imagen del niño se plasma una especie de restablecimiento de la condición paradisíaca. En el niño la fuerza creadora ha sido restablecida (LAAN, 1992).

      Las fiestas de reinado de Minas Gerais, animadas por los Congados y Mozambiques, tienen en el centro al rey y la reina, los cuales presiden la fiesta con capas, cetros y coronas; caminan escoltados por guardias con banderas, se les saluda con reverencia. Es interesante que cualquier persona puede ser rey o reina: un anciano(a), un joven, un(a) niño(a). No tiene que ver con una dignidad de la persona en la comunidad o determinados méritos. De alguna forma se quiere decir: “Todos y todas somos reyes y reinas… no somos esclavos”.  Los trajes, tanto de los bailarines como del rey y la reina son sencillos, las coronas son de lata. No hay ningún tipo de lujo u ostentación; como si se quisiera subrayar que se trata de un reinado diferente: no el que da el poder y el dinero, sino el que da la dignidad de ser hijo/a de Dios y de la Virgen del Rosario.

      Otro elemento en el que se juega esa dignidad es que en las fiestas de Reinado, el pueblo negro puede expresarse a su manera: con cantos, tambores y danza. Un modo que fue censurado durante siglos por la iglesia jerárquica, por sospecha de paganismo. Es como si se dijera: ante Dios, ante la Virgen, ante el santo, podemos ser nosotros mismos, porque esa manera de ser es valiosa y, porque, así como nosotros los negros, otras mujeres y hombres santos también han danzado delante de Dios. Por eso se canta: David dançou na presença de Deus, e estou alegre com meu Jesus, posso dançar na presença de Deus.

      b. Fragilidad de hija(o)

      Junto con la experiencia de la dignidad de saberse hijo(a) se experimenta la fragilidad de aquel que sabe que la vida no está en sus manos y, por eso, necesita de la ayuda de Dios y de la Virgen para sanar, para mantener el equilibrio y la armonía. El devoto es siempre una persona necesitada, consciente de su necesidad y de su incapacidad para satisfacerla. La enfermedad tiene un lugar central: a menudo se hace una promesa a la Virgen o al santo para que la propia persona u otra se sane; o para agradecer la sanación. El devoto pide que se le conceda algo que de ninguna manera puede obtener por sí mismo (LAAN, 1992, p. 58). La vida está en manos de Dios y por eso se canta: “Si nos prestas vida, volveré a tus pies para el año venidero; danos vida para el año”.

      En las fiestas de Reinado en Brasil está presente el dolor de los esclavos como una temática que atraviesa toda la fiesta. Pero no solo como un hacer memoria del pasado, sino en conexión con el dolor actual del pueblo negro que continúa siendo maltratado en muchos lugares. En ese contexto de vulnerabilidad la fiesta viene a decir, con una “narrativa silenciosa”, que esa humillación y marginación son un escándalo.

      3 La corporalidad

      Probablemente es en la corporalidad donde radica la mayor fuerza de la piedad popular y, más específicamente, de los bailes religiosos. Estefany, integrante de la Morenada de Fátima de Diego de Almagro, en el norte de Chile explica lo que le pasa cuando baila: “Es como una sensación desde la punta de los dedos de los pies hasta mi pelo. Es una vibración cuando uno está ahí danzando con la imagen y ver que ella es nuestra madre y agradecerle”. En los bailes religiosos la corporeidad está primero: el paso aprendido, la coreografía, la vibración de la música, la materialidad de las ropas, los objetos. Todo está atravesado por la materialidad. Además, el acto de danzar es sustentado siempre por la emoción: la alegría, la pasión, la pena en la despedida. Es la emoción la que sustenta el aguante y el sacrificio, la fidelidad a la promesa (“para el otro año volveré”).

      Cuando la Virgen de Andacollo aparece en la plaza del pueblo al final de la procesión todos los bailes están danzando; suenan los bombos, cajas y matracas, los pitos y las flautas. No hay discursos, no hay palabras; solo ritmo, danza, música. La plaza entera es una sola vibración. Esa es la oración, esa es la alabanza. No es solo el momento que antecede a la oración, sino que es la oración misma, realizada con el lenguaje del cuerpo, con los modos de la materia.

      En esta centralidad de la materia aparece con radicalidad la encarnación, pues Dios no está solo en lo humano, sino en todo lo creado. Por ello, en la experiencia de los bailes religiosos todo lo creado participa de la alabanza. De hecho, según Chauvet

      Se miren por donde se miren, los ritos nos remiten al cuerpo. Éste, precisémoslo, no es una simple condición de aquellos, sino su lugar mismo. En efecto, si la liturgia requiere del cuerpo, no es solo porque, siendo materia substancialmente informada por el alma, tiene que comprometerse necesariamente en la celebración para que el homenaje tributado a Dios sea total: es porque el cuerpo es el escenario que le proporciona un lugar. Con ello se dice eminentemente que lo más espiritual de la comunicación con Dios a que apunta -por su misma naturaleza- la liturgia se da en la mediación corporal (CHAUVET, 1991, p. 117).

      Y más adelante el mismo autor subraya:

      Es en este lenguaje eminentemente sensible y corporal donde, según la tradición eclesial, se efectúa la comunicación más espiritual de Dios (la del mismo Espíritu Santo) y así la verdad del sujeto creyente. Los sacramentos atestiguan de este modo que lo más verdadero de la fe no se realiza, sino en lo concreto del cuerpo (CHAUVET, 1991, 148).

      4 Saborear la comunión escatológica

      Subrayando la fiesta como eje central de la espiritualidad de los bailes religiosos, el Papa Francisco dijo en la ciudad de Iquique, Chile:

      ¡Cómo saben ustedes de esto, queridos hermanos del norte chileno! ¡Cómo saben vivir la fe y la vida en clima de fiesta! Vengo como peregrino a celebrar con ustedes esta manera hermosa de vivir la fe. Sus fiestas patronales, sus bailes religiosos —que se prolongan hasta por una semana—, su música, sus vestidos hacen de esta zona un santuario de piedad y espiritualidad popular. Porque no es una fiesta que queda encerrada dentro del templo, sino que ustedes logran vestir a todo el poblado de fiesta (FRANCISCO, 2018b).

      En la fiesta religiosa, que es el contexto habitual de la experiencia de los bailes religiosos, se vive una anticipación de la escatología. Por eso todo debe ser bello: la música, la liturgia, la danza, los trajes, las relaciones entre todos. Es como si en la fiesta apareciera la verdad de lo que cada uno es y la verdad de lo que somos como comunidad: somos pecadores, somos frágiles; pero pecadores perdonados y personas frágiles sustentadas por la fuerza de Dios.

      En la fiesta se experimenta una especie de transfiguración: el obrero que es explotado en el trabajo aparece en su dignidad de hijo de Dios; la mujer pobre que se sacrifica día a día por su familia aparece como hija de Dios. En la sincronía de la danza la comunidad que a veces se pelea aparece como un cuerpo unido en el que todos son importantes. La sincronía de la coreografía del baile es signo de una plenitud que aspira siempre al fin del quiebre, la superación del conflicto, el fin de la separación entre buenos y malos.

      Por eso es tan interesante el contraste que se da entre las condiciones precarias en que se vive en la fiesta (los bailarines, sus familias, la demás gente que participa) y la extrema belleza del rito. Es como si entendiéramos perfectamente que lo escatológico, lo pleno, no depende de una buena cama para dormir, una excelente alimentación, un cuarto sin piso de tierra: lo pleno depende del amor, de la experiencia con los otros, del amor que Dios tiene con su pueblo.

      Esta experiencia de plenitud está también mediada por el ponerse en lugar de otro. El devoto se viste en la fiesta de indio, de caporal, de diablo, de chuncho, de cuyaca etc. Y ese revestirse de otro es, al mismo tiempo, revestirse de aquella plenitud que estoy llamado a vivir. Por eso la actitud que se debe tener cuando se está con el traje del baile es de tanto respeto. Sin embargo, no es una simple imaginería o algo puramente metafórico. En ese revestirse de otro aparece la realidad más profunda de lo que ya somos: hijos e hijas de Dios. En las fiestas de Reinado en Brasil se produce algo diferente: algo así como revestirse de sí mismos. Esa identidad de pueblo negro muchas veces negada, menospreciada incluso por ellos mismos, en la fiesta se asume transfigurada: “Somos negros, descendientes de esclavos”, “nuestra raza es hermosa”, “somos libres, somos dignos”, “Dios es nuestro liberador”.

      Del mismo modo es relevante el hecho de ir a otro lugar, al santuario, al pueblo donde se realiza la fiesta. En efecto, “el viaje largo y duro significa tomar distancia del lugar donde se vive y donde cumple con su rol social, hacia el santuario ubicado en la periferia… La peregrinación provee de una ruta detenidamente estructurada y altamente valorada hacia un mundo liminal, donde se siente lo ideal como lo real, donde las personas manchadas socialmente puedan ser purificadas y renovadas” (LAAN, 1992, p. 19).

      Esta plenitud escatológica aparece también como victoria definitiva del bien y superación del mal. Por ejemplo, la diablada -uno de los bailes más tradicionales en la fiesta de La Tirana- representa a los diablos vencidos, “convertidos”, comandados ahora por un ángel (que siempre es una niña pequeña que lleva una estrella en la mano). El mal ha sido vencido por el bien. El bien, aparentemente frágil, se ha manifestado con todo su poder y lo ha transfigurado todo.

      Esta dimensión escatológica hace posible un equilibrio entre fiesta y experiencia de la cruz. O, mejor, hace posible que la experiencia de la cruz sea asumida desde la fiesta. No cabe duda de que para los bailes religiosos la experiencia de danzar está íntimamente ligada a la fiesta. En efecto, la danza es expresión de una alegría profunda, de una alegría que toma a la persona por entero. Sin embargo, se trata, al mismo tiempo, de una experiencia sacrificial: estoy dispuesto a soportar el frío y el calor, largas horas danzando, dormir poco, el sacrificio del gasto que implica participar en la fiesta, la incomodidad de la sencillez del lugar donde se aloja el baile (dormir en carpas, dormir en el suelo, sencillez de la comida, baños comunes). Pero no es un sacrificio que se haga por el valor del dolor o la ascesis por sí misma, sino un sacrificio que se sustenta en el amor, la pasión. Es como si se dijera: “Hago esto porque la Virgen, el santo, Jesús son muy importantes para mí”; “solo por ellos soy capaz de dar tanto, de darme entero”. De este modo, la experiencia del baile religioso amarra bien cruz y resurrección, dolor y alegría.

      Ahora bien, no es que una vez terminada la fiesta el llamado a la plenitud, la coherencia de vida, la integridad, se termine. De lo que se trata es que lo vivido en la fiesta sea alentador, iluminador, dador de fuerza para el retorno a la vida cotidiana. La identidad de “promesero” se lleva siempre con orgullo, se dice a los demás (no se esconde). Es habitual que se hagan compromisos personales para el año delante de la Virgen o el santo. Compromisos que tienen que ver con conversión, con mejorar lo que se hizo mal, reparar el daño causado.

      Por esta anticipación escatológica que implica la experiencia de los bailes, ellos pueden ser dadores de sentido para la vida. Es lo que subraya el historiador Lautaro Núñez que reconoce el aporte de los bailes en el norte chileno en la época de la explotación del salitre. Ellos fueron contraculturales en una sociedad en la que importaba más el rendimiento, la producción, el trabajo extenuante. En efecto, “estas innovaciones materiales no tuvieron una contraparte sociocultural que con la misma velocidad lograra cubrir las necesidades del alma” (NUÑEZ, 2004, p. 159). Es por eso que

      para un promesante colonial situado en un mundo agobiante, de escasa estabilidad emocional por los temores a la salvación o perdición eternas, ser cofrade o bailarín de mandas significaba vivir en esa tierra con más certidumbre y menos angustias existenciales (NUÑEZ, 2004, p. 157).

      5 Un contenido sintético de la fe

      El papa Francisco, en Evangelii gaudium, invita a “evangelizar la síntesis”. Él percibe el peligro de un mensaje cristiano complejo, lleno de disquisiciones que deja en segundo plano lo esencial. Por eso, refiriéndose a cómo hacer una buena homilía señala:

      El desafío de una prédica inculturada está en evangelizar la síntesis, no ideas o valores sueltos. Donde está tu síntesis, allí está tu corazón. La diferencia entre iluminar el lugar de síntesis e iluminar ideas sueltas es la misma que hay entre el aburrimiento y el ardor del corazón (EG 143).

      Es interesante que la síntesis a que se refiere el Papa no tiene que ver solo con una estrategia pedagógica para transmitir el Evangelio. La síntesis toca más profundamente el corazón y, por lo mismo, es más eficaz para suscitar la fe y transmitirla.

      Por aquí podemos encontrar una pista que nos lleve a valorar más profundamente esa fe que algunos llaman “básica” de la piedad popular. Si eso “básico” es lo esencial del Evangelio, entonces ya se trata de una fe madura. Por eso Jesús -como veíamos más arriba- se conmueve y elogia la fe de la mujer cananea, de la mujer hemorroísa y la del centurión romano.

      Tenemos la impresión de que, en la experiencia de los bailes religiosos, existe una síntesis de la fe. La expresamos así: Dios ha sido bueno con nosotros: nos ha mostrado su bondad en la acción milagrosa de la que hemos sido testigos, o bien, nos ha cuidado durante el año, nos ha dado fuerzas, nos ha dado vida. Esa presencia amorosa de Dios con nosotros -mediada por la Virgen o el santo- es motivo de alegría y de fiesta. Por eso estamos aquí para danzar, para expresar nuestro gozo y gratitud, para cumplir la promesa; para renovar nuestro amor por Dios, por la Virgen, por el santo, por nuestros hermanos y hermanas y para pedirles que nos sigan cuidado y acompañando como hasta ahora (a nosotros y a los que amamos.

      Conclusión

      A manera de conclusión planteamos tres desafíos que nos parecen relevantes: la sinodalidad, la gratuidad y el método.

      El desafío de la sinodalidad tiene dos dimensiones. Por un lado, acompañar a los bailes religiosos a ser una comunidad fraterna, donde se valore de verdad a cada uno de sus miembros. A veces, los bailes religiosos son espacios de dolor por los conflictos entre sus miembros. Lo importante es que los conflictos sean gestionados, que no se oculten ni se resuelvan mal. Será relevante, por tanto, que sus dirigentes se formen en un liderazgo evangélico, evitando todo tipo de autoritarismo. Por otro lado, es necesario que los dirigentes de los bailes sean protagonistas en la toma de decisiones, por ejemplo, a la hora de programar una fiesta religiosa. A menudo se viven dinámicas en paralelo entre los bailes y la jerarquía de la Iglesia. Por eso sería interesante que los Caporales (jefes) de los bailes no solo sean consultados, sino que tengan voz activa en las decisiones. Un camino posible es que ellos y ellas reciban un ministerio formal por parte de la Iglesia (ASTUDILLO, 2019, p. 320).

      El desafío de la gratuidad tiene que ver con insistir en la espiritualidad de los bailes religiosos en que el amor/favor de Dios, de la Virgen, del santo se nos da de regalo. Esto implica superar una lógica de premio o castigo. Es necesario poner atención, por tanto, en la dinámica de reciprocidad presente en la experiencia de los bailes para que ella sea evangélica; para que sea expresión del amor de Dios que nos amó primero y se entregó por nosotros en Jesucristo.

      El desafío del método tiene que ver con una manera diferente de aproximarnos a la piedad popular. Tenemos la impresión de que muchas de las conclusiones erradas respecto de la piedad popular tienen que ver con una aproximación excesivamente conceptual, racional. Es necesario pensar un método que nos permita una aproximación adecuada. Visualizamos tres aspectos: 1) la convivencia: para intentar entender la piedad popular hay que vivirla. Es muy difícil decir algo sobre ella mirándola desde fuera; 2) la descripción fenomenológica: las expresiones de piedad popular son tan originales y distintas que cada reflexión que hacemos debiera estar acompañada siempre de una descripción fenomenológica del rito presenciado/analizado; 3) es necesario profundizar en las lógicas del lenguaje simbólico. En efecto, nuestra racionalidad centrada en la palabra dificulta, a menudo, entender cómo la materia participa de la alabanza a Dios.

      Alex Vigueras Cherres SS.CC. Teólogo chileno, pastoralista. Texto original espagnol.

      Referencias

      ASTUDILLO, Ibar. Bailes religiosos del norte de Chile: la vanguardia de la fe en las calles y en los Santuarios. Antofagasta: Universidad Católica del Norte, 2019.

      BENEDICTO XVI, Papa. Discurso inaugural de la Conferencia de Aparecida, 13 de mayo de 2007.

      CELAM. Documento de Puebla. III Conferencia del Episcopado Latinoamericano, Bogotá: CELAM, 1979.

      CELAM. Documento de Aparecida. V Conferencia General del Episcopado Latinoamericano y del Caribe. Bogotá: CELAM, 2007.

      CHAUVET, Louis Marie, Símbolo y sacramento: dimensión constitutiva de la existencia cristiana. Barcelona: Herder, 1991.

      FRANCISCO, Papa. Carta al Pueblo de Dios que peregrina en Chile, 31 de mayo de 2018a, §5.

      FRANCISCO, Papa. Evangelii Gaudium. Exhortación apostólica sobre el anuncio del Evangelio en el mundo actual, 2013.

      FRANCISCO, Papa. Homilía en la misa de Iquique, Chile, 18 de enero de 2018b.

      GACITÚA, Víctor. La mística popular de los bailes religiosos del norte de Chile: análisis de la relación entre corporalidad, experiencia religiosa y modo de vida. Boston: Boston College University Libraries, 2017.

      LAAN, Erik. Bailar para sanar: estudio de la praxis de la peregrinación de los bailes religiosos del norte de Chile. Iquique: Centro de Investigación de la Realidad del Norte, 1992.

      NÚÑEZ, Lautaro. La Tirana del Tamarugal. Santiago: Universidad Católica del Norte, 2004.

      PAULO VI, Papa. Exhortación Apostólica Evangelli Nuntiandi, 1975.

      VAN KESSEL, Juan. “Religiosidad andina mestiza como fuente de salud y vida”. Revista electrónica Volveré, 2 (julio 2002). Disponible: http://www.iecta.cl/revistas/volvere_2/articulos.htm Acceso: 18/01/2023.

      Bibliografía complementaria

      BENTUÉ, Antonio. Elementos metodológicos para una reflexión sobre religiosidad popular. Teología y Vida 18 (1977), p. 99-112.

      CECH. Directorio de pastoral de los bailes religiosos. Santiago: CECH, 1990.

      CECH. Cultura y religiosidad en el Norte Grande de Chile. Santiago: CECH, 1990

      CECH. La pastoral de la piedad popular. Santiago: CECH, 2010.

      KESSEL, Juan van. El desierto de Atacama canta a María. Antofagasta, 1978.

      KESSEL, Juan van. Bailarines en el desierto. Antofagasta, 1975.

      KESSEL, Juan van. Los bailes religiosos del  Norte Grande de Chile como herencia cultural y andina. Chungará 12 (1984), p. 125-134.

      KESSEL, Juan van. El etos en la estructura religiosa de la Tirana. Teología y Vida 12 (1971), p. 148-155.

      GUTIÉRREZ, Pedro. La devoción mariana en los bailes de La Tirana y su relación con Cristo Resucitado. Teología y Vida 12 (1971), p. 107-127.

      MORANDÉ, Pedro. Importancia de la religiosidad popular mariana en la nueva evangelización. Revista Católica 89 (1989), p. 145-155.

      [1] Es interesante que en la fiesta de Epifanía que se celebra también en el pueblo de La Tirana, en el norte de Chile, cada 6 de enero, la metáfora más importante no es la se ser hijo, sino la de ser padre/madre de Jesús, los encargados de acogerlo y cuidarlo. Esto se manifiesta, p. ej., en la procesión en que mucha gente (adultos, ancianos, niños y jóvenes) llevan una imagen del niño Jesús en su regazo y le cantan “Arrurú, arrurú, duérmete niño Jesús”.

      La sapiencia en Israel

      Sumario

      Introducción

      1 Contexto histórico del período literario sapiencial

      1.1 Desde el surgimiento hasta el período de los jueces: Israel pre-estatal (1250-1000 a. C.)

      1.2 La Monarquía (Israel estatal: 1000-587 a. C.)

      1.3 El exilio (587–538 a. C.)

      1.4 El post-exilio – era persa (538-332 a. C.): período de reconstrucción

      1.5 La época griega (333-63 a. C.): el helenismo

      1.6 La reacción al helenismo

      2 La sabiduría en Israel

      2.1 ¿Continuidad o innovación?

      2.2 La teología de la retribución o de la justa recompensa

      2.3 Crisis de la sapiencia y nuevo comienzo

      2.4 La sapiencia y Jesús

      3 La literatura sapiencial israelí

      3.1 La literatura

      3.2 Las formas o géneros literarios sapienciales básicos

      Conclusión

      Referencias

      Introducción  

      La sapiencia de Israel brota del acervo común de los pueblos vecinos[1]. Este conocimiento evolucionó y se convirtió en un libro, desde finales del período de reconstrucción posterior al exilio hasta el comienzo del helenismo, y con propósitos claros. Entre ellos, la educación de la persona en un entorno cambiante (ad intra) y el intento de verbalizar la fe del pueblo de la alianza en un lenguaje propicio para el diálogo con los vecinos y, particularmente, con el mundo “globalizado”, es decir, impregnado por el helenismo, el mundo de sofía (ad extra). La sabiduría bíblica deberá evaluar presupuestos teológicos como la teología de la retribución, atravesará crisis, se purificará y desembocará en el NT, sobre todo, en la acción de Jesús y en los Evangelios. En cuanto a la literatura, la sabiduría israelita se condensa en el siguiente conjunto de libros: Job, Pr, Ct, Ecl, Eclo y Sb. Estos aspectos y otras particularidades se expondrán a continuación.

      1 Contexto histórico del período literario sapiencial

      Esta contextualización no pretende acercarse en detalle a la historia de Israel. Sólo quiere recordar sus principales etapas y, en ellas, puntos relevantes que ayuden a comprender en qué momento de la historia aparece la literatura sapiencial.

      1.1 Desde el surgimiento hasta el período de los jueces: Israel pre-estatal (1250-1000 aC)

      Alrededor del 1250 aC, surge una nueva grandeza en el Antiguo Oriente Próximo que lleva el nombre de Israel. El evento fundador y catalizador de esta nueva realidad es la salida de Egipto, el éxodo, bajo el liderazgo de Moisés. Israel es, en efecto, una confederación de tribus dirigida por jueces (Jc 2,16.18), es decir, libertadores (Ex 18,21-26; 1Sm 8,1-3; Rt 1,1), que inicialmente actuaban sólo en tiempos de crisis, y por los ancianos (1Sm 8,4). La unidad básica es la familia (casa) dentro de su clan y tribu. La fe, simbolizada en el Arca de la Alianza, es nómada e histórica. El Dios, YHWH, camina con su pueblo. Israel aún no es un estado, no es reconocido como nación. No tiene un gobierno central, como caracteriza la frase referente a este período: “en aquel tiempo no había rey en Israel” (Jc 17,6; 18,1; 19,1; 21,25), aunque, de hecho, Yahvé reina sobre él (Jc 8,23b; 1Sm 8,7b; 12,12b) en un pacto de Alianza. Esta etapa se conocerá como el período de los jueces o tribalismo.

      1.2 La Monarquía (Israel estatal: 1000-587 aC)

      En torno al año 1.000 aC., Israel enfrentó algunos desgastes, tales como: el desvanecimiento de la fe que los unía, como en el caso de los hijos de Eli (1Sm 2,12-17.22-25), la consulta de Saúl a un nigromante (1Sm 28) o la veneración de Baal (Jc 8,33-34); enfrentamientos entre las tribus, como el crimen de Gabaa (Jc 19) o el rechazo de Benjamín (Jc 21,15-25); jueces corruptos (1Sm 8,3) y tentados a ser rey, como Gedeón (Jc 8,22) y Abimelec (Jc 9,1-6). Por otro lado, aparecen las “novedades” del momento como: la domesticación del buey, animal ya presente en el código de la alianza (Ex 20,22–23,19) y en la primera guerra de Saúl (1Sm 11), asociado al dominio del hierro (1Sm 13,19-22) y a la comercialización del aceite de oliva (Ex 23,11) como factores comerciales; no sorprende la aparición de los endeudados (1Sm 22,2). Un sistema de defensa ya ineficaz se enfrenta a la amenaza exterior de la seguridad, como el conflicto con los filisteos (1Sm 4,1-11) y los amonitas (1Sm 11,1-11). Estos factores sirvieron de pretexto para una (nueva) clase adinerada que necesitaba un nuevo sistema de gobierno centralizado que correspondiera a sus intereses. Israel quiere tener un rey como las demás naciones (1Sm 8,5.19b-20). Así, el sistema monárquico se inicia con Saúl y David, alcanzando su pleno desarrollo en Salomón. Es un gobierno central, con ejército, palacio y corte, con un amplio aparato administrativo que utiliza un esquema de impuestos, trabajos serviles, comercio exterior y lujo (1Rs 9-10), mientras encanta al pueblo con las grandes construcciones (1Rs 5,15 –7,51). Se construye un templo a Yahvé, el templo el Arca de la Alianza se establecerá en el templo (2Sm 6; 1Rs 8) y la religión se vuelve ahistórica, sedentaria, estatal, al servicio de la ideología monárquica. Todo un aparato litúrgico, que implica sacerdocio, altar y sacrificios, corrobora a este fin. Israel ahora es un Estado, pero desde David pasa a ser un estado imperialista (1 Rs 5,1). Ahora bien, para gestionar todo esto se presupone la sabiduría de Salomón (1 Rs 5,9-14; 10,1-8).

      A partir de Salomón, el reino se divide (1 Rs 12). El reino del norte, Israel, será dominado por los asirios con la caída de su capital, Samaria, en el 722 a.C., y el reino del sur, Judá, terminará con la invasión babilónica de su capital, Jerusalén, en el 587 a.C. Una valoración de la monarquía se puede ver en la fábula de Jotam (Jc 9,7-15), a propósito del rey Abimelec: los inútiles quieren ser reyes, pero no son más que zarzas sobre el pueblo. La monarquía se hundió en la infidelidad al Dios de la alianza, expresada en idolatría e injusticia social.

      En este contexto, destaca la figura de los profetas. Pocos comen en la mesa de los reyes. La mayoría de ellos, fieles a la alianza y fe de los padres, critican constantemente los excesos de los reyes y de la sociedad, tratando de corregir el rumbo sociopolítico y llamando a la fidelidad a la alianza. Intentaron, en vano, interiorizar los valores de la fe y recuperar su fuerza histórica. A pesar del esfuerzo, no pudieron evitar el exilio.

      1.3 El Exilio (587–538 aC)

      Nabucodonosor, rey de Babilonia, y su ejército sitiaron Jerusalén, saquearon el templo y el palacio del rey y tomaron cautiva a la familia real, la élite de la ciudad y los profesionales de su interés (2 Rs 24,10–25,24; Jr 52). Dejan atrás entre 50 y 100 mil personas, especialmente los pobres (2Rs 25,12; 24,14; Jr 39,10; 40,7b; 52,16). Algunos lograron huir (2Rs 25,22-25; Jr 40,7-12; 42,11-15; 43,7; Is 11,11). La ruina que los babilonios dejan tras ellos, así como el destino de los que quedan, se puede ver en el Libro de las Lamentaciones. Israel ahora está sin tierra, sin templo, sin altar, sin sacrificios y sin Jerusalén. Sus instituciones han fracasado. Daniel, escrito tardío, pero contextualizado en el exilio (Dn 1,1-2), describe este cuadro: “Ya no hay, en estas circunstancias, ni líder, ni profeta, ni príncipe, ni holocaustos, ni sacrificio, ni oblación, ni incienso, ni lugar donde podamos ofrecer las primicias delante de ti para hallar misericordia” (Dn 3,38-39a, adición griega). ¿Adónde fueron las promesas divinas? ¿Las de Abraham (Gn 12,1-3.7)? ¿las de David (2Sm 7,4-17)? ¿Qué suerte tuvo la estabilidad del templo (altar, sacerdocio, sacrificios) asegurada a Salomón? ¿Se acuerda Dios todavía de su pueblo? ¿Dónde estaba que no evitó la catástrofe? ¿Qué hacer cuando las instituciones fallan? Comienza una gran crisis de fe, una gran “noche oscura” para el pueblo. El exilio crea un gran problema teológico para Israel. Por lo tanto, después del exilio, ya no será el mismo. Israel necesitará redescubrir su identidad, rehacer su visión de Dios, rehacer su camino. La catástrofe, sin embargo, lejos de destruir la fe, la purifica y se convierte en oportunidad. El exilio pasa a ser visto como juicio y no como pasividad de Dios, no como castigo, sino como ocasión de evaluación y de nuevo comienzo. Era el desafío de ver, en la desgracia, la gracia.

      1.4 El post-exilio – era persa (538-332 a. C.): período de reconstrucción

      Después de 50 años, Ciro, rey de Persia, libera a los exiliados para que regresen. No todos los dispersos regresaron, y de los que regresaron, algunos no fueron a Jerusalén, pero ciertamente todos cambiaron de modo de pensar. Comienza la fase de reconstrucción (538-332 a. C.). Estará marcada, por un lado, por un Israel repatriado (Golá), que acaba de vivir una experiencia de internacionalidad y animado por una mentalidad abierta de ser siervo, luz de las naciones (Is 42,6; 49,6), retomando la perspectiva universalista iniciada en Abraham. Por otro lado, el retorno a Israel no era sólo físico-geográfico, el retorno implicaba la preocupación de reconstruir su identidad y la pureza de la fe.

      Todo cambió: la política sin monarquía, la religión sin templo y su aparato, la sociedad sin rey y sin instituciones. Israel necesita reinventarse, reconstruir su idea de Dios, encontrar una nueva forma de organizarse, de celebrar, de concebir la vida, en fin, la experiencia genera una nueva reflexión, descubre otros criterios para percibir la presencia de Dios en el tejido de vida. Serán notables algunos cambios en el enfoque, tales como: pasar del rey/sacerdotes a la familia; del palacio a la casa; del templo a la creación y la vida cotidiana; de Israel al universo; del israelita al ser humano; del profeta al sabio; de la teofanía a la experiencia de vida. Era necesario encontrar una nueva manera de pensar la relación con lo divino, con la vida y con el otro.

        Pre-exilio Post-exilio
      Institución Palacio/templo Casa
      Protagonista Rey/sacerdote Familia
      Motivadores Profetas Sabio
      Manifestación de Dios Teofanía/revelación Experiencia de la vida
      Foco Gobierno: Israel Hombre: universo

      Un poco más tarde (ca. 445 a. C.), no desvinculado de la preocupación por la identidad, el gobernador Nehemías reconstruye los muros de Jerusalén (Ne 3) y rescata la idea de Levítico (Lv 20,24-26) de que el pueblo elegido es un pueblo separado (Ne 9,2; 10,29.31; 13,3.23-27.30). En la misma línea, el gobernador y sacerdote Esdras, preocupado por ofrecer una base normativa al pueblo, vuelve a proponer la observancia de la Ley (Esd 7,25-26; Ne 8), restaura el templo con su aparato (Esd 3, 6) y radicaliza el pensamiento de Nehemías: el que se casa con una extranjera debe despedirla con sus hijos (Esd 9,1-2; 10,2-3.11.18-19.44; 6,21). A su juicio, era necesario depurar la etnia. Con estos tres elementos, la ley, el templo y la raza, Esdras sienta las bases de lo que, más tarde, se llamará judaísmo.

      Por tanto, la apertura inicial dará paso a un cierre, una especie de “nacionalización de la fe”. Es el muro físico convirtiéndose en muro ideológico. La intención de ambos era sana, restaurar la identidad del pueblo, pero la lectura estrecha del pensamiento de ambos contribuirá más tarde a la fragmentación del pueblo, especialmente a partir de la época de los Macabeos (167-134 a. C.). El contrapunto a este pensamiento se ofrecerá respectivamente en los libros de Jonás y Rut.

      Ahora bien, entre 500-322 aC, en Grecia, actuaban figuras como Herodoto, Fidias, Eurípides, Sófocles, Sócrates, Platón y Aristóteles. Está en ebullición un fenómeno llamado filosofía.

      1.5 La época griega (333-63 a. C.): el helenismo

      En el 332 aC surge Alejandro el Macedonio (1Mc 1,1), conocido en la historia como Alejandro Magno, y toma al mundo por sorpresa. Sueña con la dominación mundial, quiere ocupar la oikumene, es decir, el mundo habitado de esa época. “Libró, entonces, numerosas guerras, se apoderó de fortalezas y derrocó a los reyes de la tierra. Avanzó hasta los confines del mundo y tomó los despojos de una multitud de pueblos, y la tierra enmudeció ante él (1Mc 1,2-3)”.

      La mentalidad helénica comienza a dominar el mundo. Es la cultura urbana “globalizadora”, la cultura de la polis. Trae consigo elementos nuevos: filosofía, economía, cultura, humanismo, administración, deportes (2Mc 4,9.12.18), en definitiva, todo un sistema educativo dirigido, sobre todo, a los jóvenes (ephēbos). Fue, en términos bíblicos, lo que, en nuestro lenguaje moderno, sería la primera “globalización”.

      Jasón, judío prohelenístico, adquiere del rey Antíoco IV Epífanes (175-164 aC), mediante soborno (2Mc 4,7-9), el cargo de sumo sacerdote. “Tan pronto como tomó el poder, comenzó a convertir a sus hermanos de la raza al estilo de vida de los griegos” (2Mc 4,10). A continuación, el texto clasifica las nuevas costumbres en contrarias a la Ley de Israel (v. 11b), extranjeras (v. 13) e idólatras (vv. 19-20). De hecho, hay dos visiones de la vida y del mundo, dos mentalidades, dos paradigmas, que el autor de los Macabeos llama “estilos de vida”. Es, por un lado, un Israel rural aferrado a la Ley, según la visión de Esdras y Nehemías y, por otro, la visión externa pagana helenística, abrazada, sobre todo, por la élite urbana de Jerusalén y por muchos entre el pueblo (1Mc 1,11-15.52). Este cuadro culminará en la posterior rebelión macabea. El helenismo se ve en gran medida como una amenaza para la fe israelita (2Mc 4,13-17a).

      1.6 La reacción al helenismo

      ¿Jerusalén o Atenas? Israel se encuentra frente a dos paradigmas. Tres opciones aparecen en el horizonte: ¿refutar radicalmente el helenismo, dejarse “tragar” por él, o dialogar críticamente, ya que el helenismo también ofrecía elementos positivos? Los sabios de Israel prefieren dialogar con la mentalidad griega. Es posible abrirse a la influencia griega sin, sin embargo, traicionar la originalidad de la fe. Después de todo, la apertura al mundo es compatible con la fe de Abraham. Para ello, fue necesario codificar los valores de su fe en una lengua capaz de dialogar con la cultura griega. Los sabios israelitas verbalizarán su herencia teológica y cultural en un idioma que sus vecinos puedan entender. Ahora bien, en este sentido, surge una parte importante de la literatura sapiencial o la redacción final de algunas de estas obras y, posteriormente, la traducción de la Biblia (LXX). Cada autor bíblico (como Ecl, Eclo y Sb) reaccionará, críticamente, con mayor o menor adhesión al helenismo. ¡Es la fe dialogando con la razón, la sapiencia (ḥoḵmāh) dialogando con sofia!

      2 La sabiduría en Israel

      2.1 ¿Continuidad o innovación?

      La sabiduría bíblica surge del ambiente y patrimonio sapiencial común, así llamado Creciente Fértil. Sin embargo, alcanzó grandes proporciones y no fue una mera copia, sino una relectura creativa a la luz de la fe en el Señor. Los sabios bíblicos dieron continuidad con originalidad. La superioridad de la sabiduría israelita ya puede verse en el elogio jactancioso a su patrón: “La sabiduría de Salomón era mayor que la de todos los orientales, mayor que toda la sabiduría de Egipto. Era más sabio que nadie…” (1 Rs 5,10-14; 10,4-8). Y al pueblo: “¡Solo hay un pueblo sabio e inteligente: es esa gran nación!” (Dt 4,6b). Algunos aspectos de esta sabiduría se presentarán a continuación a modo de ejemplo.

      También para el israelita bíblico existe un orden cósmico, creado y mantenido por Dios, y el ser humano está invitado a reflejar este orden de la naturaleza en su forma de vivir. Todo está interconectado y, en una red de relaciones, la armonía de la creación desafía e insta al ser humano a organizarse y vivir en armonía consigo mismo, con los demás y con el mundo que lo rodea. Por tanto, la visión de un cosmos creado, y en él, de nuestra existencia, que reciben consistencia y asistencia de Dios creador, no es secundario para el sabio de Israel.

      Sin embargo, para el israelita bíblico, este orden cósmico no es una deidad inmutable y cíclica en la que el ser humano es sólo una parte pasiva. También crea, discierne, elige, decide, se corrige, se adapta a los imprevistos, es libre y actúa con destreza, tiene conciencia, responsabilidad y prudencia, es protagonista, hace historia, contempla y busca sentido. En definitiva, se convierte en artesano de su propia vida, hace un camino, tiene las riendas de la vida en la mano, da razones de su existencia y busca ser feliz. El sabio bíblico no delega en terceros la responsabilidad de moldear su propia vida, no se contenta con apoyarse en “horóscopos”. Por ello, Alonso Schökel prefiere definir la sabiduría bíblica como una oferta de sensatez, que entra en el ámbito valorativo (SCHÖKEL, 1984, p. 20). En cierto modo, la sabiduría de Israel, más que “sentido común”, es una opción de vida, un modus vivendi. Para Scaiola, “la sabiduría es el arte de administrar con éxito la propia vida” (SCAIOLA, 1997, p. 36). Para Lorenzin, “la sabiduría es el arte de saber pilotar la propia existencia, observando los acontecimientos del mundo, escudriñando la propia experiencia y la de los demás” (LORENZIN, 2013, p. 9). Por tanto, la sabiduría bíblica no es sólo saber vivir para sobrevivir, para defender la vida. Luchar por la supervivencia, el animal también lo hace y no es sabio. La sabiduría desafía a mirar más allá, a vivir de una manera tan sensata y prudente que uno se vuelve feliz. En palabras del libro de los Proverbios: “Bienaventurado el hombre que ha hallado la sabiduría” (Pr 3,13a; también Eclo 14,20)[2]. Es la religión práctica la que se traduce en una conducta ética diferenciada. Por lo tanto, ser inteligente, saber mucho o todo no significa todavía ser sabio.

      La sensatez humana se enfrenta a Dios como su frontera (Ecl 1,8; Pr 21,30; Job 11,6-7). En este sentido, el conocimiento humano es limitado. Esto implica un respeto reverencial a Él como fuente del saber (Bar 3,12). Es lo que la literatura sapiencial llama yir’aṯ YHWH (= temor del Señor), principio del conocimiento (Job 28.28; Pr 1,7; 9,10; 15,33; Sal 111,10; Eclo 1,14.16.18.20). Así, el sabio israelita descubre que la sabiduría, que adquiere como tarea en la experiencia de la vida, es, en realidad, un don de Dios (Ecl 2,26; Eclo 1, 1.10a; 11,15; 24,3; Pr 2,6; Sal 51,8b; Gen 41,39; Ex 28,3; 31,1-5; 36,2; 1Rs 5,9,26; 10,24; 2Cr 1,12; Jr 10,12; 51,15) y también por la oración (Sb 8,21–9,18 ; Eclo 24,2; 1Rs 3,6-14; 2Cr 1,10-11). La sabiduría es un atributo divino. Ahora bien, que Dios era sabio y le daba sabiduría al rey ya se sabía en el Creciente Fértil. Sin embargo, ahora gana en Israel proporciones y claridad nunca vistas antes.

      Algunas obras sapienciales tratan de relacionar la sabiduría escrita con la corte y, en particular, con Salomón (Pr 1,1; 10,1; 25,1; Ecl 1,1; Sb 7,7-9; 9,7-8; Ct 1,1), el gran sabio (1Rs 5, 9-14). En cierto modo, sería algo anacrónico, ya que el período de Salomón no coincide con la fecha de estos escritos. Por otro lado, hoy se sabe que solo a partir del siglo VIII-VII aC Israel alcanza las condiciones económicas necesarias para invertir en la escritura y, por tanto, en producción literaria. Además, la literatura sapiencial se escribiría en el post-exilio cuando la corte ya era cosa del pasado. Por tanto, la atribución a Salomón se debe al notorio fenómeno de la pseudonimia o pseudoepigrafía.

      En cuanto a las escuelas, a excepción de la actuación de Qohélet, que enseñaba el saber al pueblo, examinaba y corregía proverbios (Ecl 12, 9), y la invitación de Sirácida (siglo II a. C.) “entren en mi escuela” (Eclo 51,23), usando la expresión bet midrash = casa de instrucción, es decir, escuela, prácticamente nada se sabe de las escuelas en Israel. Ellas llegarán a partir de esa época, por tanto, es algo bastante tardío. Así, la corte y la escuela no son relevantes para la sabiduría israelita. El foco será, sobre todo, la vida cotidiana y, en ella, la casa, es decir, la familia (Tb 4,3-21). Ciertamente, por eso también el Decálogo se centra en el padre y la madre (Ex 20,12; Dt 5,16). Junto con los padres, y particularmente con el padre, aparecen inmediatamente el maestro, el sabio y el anciano. El maestro gana tal estima que se le llama padre y al discípulo hijo. Entre los sumerios, el maestro era el “padre de la escuela” (ummia), diferente del “padre de la casa”, y el discípulo o alumno era el “hijo de la escuela” (CIMOSA, 1997, p. 402). En el libro de los Proverbios, por ejemplo, en muchos pasajes es difícil saber si se habla del padre “biológico” o del padre maestro. Ahora bien, allí en la actuación del padre, maestro y anciano, surge otra fuente de sabiduría, la tradición (Eclo 24, 30-34). Otra fuente de sabiduría en Israel fue el intercambio con los vecinos, que no se redujo al comercio. Todo esto nos permite hablar de una sapiencia desde abajo. Para un pueblo mayoritariamente analfabeto, ella circulaba de boca en boca. La literatura sapiencial es un acto segundo. La corte y la escuela jugaron ciertamente un papel en su recopilación, redacción, sistematización, difusión y promoción.

      En el post-exilio:

      La sabiduría como don de Dios. Este pensamiento ya era conocido en el Antiguo Oriente. Para los cananeos, por ejemplo, la sabiduría era un atributo de El, el dios supremo, quien se la concedía al rey. Ahora, sin embargo, especialmente en el período posterior al exilio, esta dimensión teológica se vuelve central en la teología judía. La fe israelita comienza a traducirse o verbalizarse al lenguaje de la sabiduría. El saber, a partir del temor, es sistematizado teológicamente.

      La sabiduría no está ligada a la formación de cortesanos o élites, sino a todo ser humano. Entonces, emerge paulatinamente el rol de maestro y su respectiva clase.

      Ella es personificada. Habla y actúa como persona (Pr 1-9; 31,10-31; Job 28; Eclo 24) y, más precisamente, como mujer. Pertenece a la familia: madre (Sb 7,12) y hermana (Pr 7,4). Alguien puede enamorarse de ella (Sb 8,2) y casarse con ella (Eclo 7,19). Ella invita a una fiesta en su casa (Pr 9,1-6). Está presente en Dios y obra con él desde la creación (Pr 3,19; 8,22-31; Sb 7,21-22). Es distinto de él, aunque sale de su boca (Eclo 24.3), pero él sabe dónde ella se esconde (Job 28,13.20.21.23). Ella manifiesta la gloria y la luz divinas (Sb 7, 25-26). Sin embargo, la necedad o insensatez también se personifica y seduce (Pr 9,13-18).

      Sabio y justo. A medida que la figura del sabio se configura como alguien sensato, prudente y responsable, pasa a ser visto como alguien moralmente bueno. Entramos en la esfera moral. Sabio se convierte en sinónimo de justo. El malvado, a su vez, es el necio. Para los primeros están reservadas la felicidad y la prosperidad, para los segundos la ruina. Esto queda claro en el Salmo 1, por ejemplo, un salmo sapiencial. Cuando, en determinadas circunstancias o contexto, no es posible ejercer la justicia, especialmente con más acciones más comunitarias, es posible ser justo.

      Sapiencia y ley. Para el deuteronomista, Israel será un pueblo sabio e inteligente a los ojos de los pueblos en la observancia de la ley (Dt 4,5-8). El Eclesiástico identificará la sabiduría con la ley (Eclo 24,22-25; 19,20), que es vista como un don de la sabiduría de Dios. Sabio se hace el que escudriña la ley divina (Eclo 6,37; 15,1; 39,1). El salmista transforma esto en un ideal de vida: es feliz quien hace de la ley el centro de la vida (Sal 1,1-2). Ambos son como los ríos que fertilizan la tierra y producen cosechas (Eclo 24, 25-27; Sal 1, 3).

      Cuando se trata de sabiduría, el foco no es Israel, sino el universo, no es el israelita, sino el ser humano, no es la historia, sino la cotidianidad, no es Dios, sino el semejante, no es revelación, sino la experiencia, no el mandamiento sino el consejo, no son las alturas sino la vida.

      A menudo es necesario decir lo obvio, es decir, esta literatura sapiencial, que verbaliza la sabiduría que brota de la experiencia de la vida, es la palabra de Dios, canónica. Esto significa que Dios también habla a través de la sabiduría popular.

      2.2 La teología de la retribución o de la justa recompensa

      La teología de la retribución o de la recompensa. En el discurso a los magos, Eliú defiende a Dios diciendo: “Él retribuye al hombre según sus obras, y da a cada uno según su conducta” (Job 34,11). Aquí está el principio de la teología de la retribución o justa recompensa divina. Dios, siendo justo, paga a cada uno según lo que merece, es decir, según sus obras (Sal 62,13b). La base, por tanto, es la justicia divina. De este modo, el mal se paga con el mal, y el bien con el bien, y en este mundo, ya que la vida futura sólo será clara en el Libro de la Sabiduría y en Dn 12,2-3. En esta perspectiva, la felicidad, la riqueza, el bienestar son recompensas por la observancia de la ley divina, por la fidelidad a Dios. ¡Son signos de bendición! La gracia es el premio de los fieles, de los buenos. La enfermedad, la desgracia, la opresión y la pobreza son castigos por la infidelidad y la desobediencia. La desgracia es el castigo de los malvados, de los malvados.

      De hecho, esto ya estaba claro en Dt 30,15-20. Si bien esta retribución estaba dirigida a lo colectivo y no a lo individual, en todo caso, Dios se presenta como quien asegura la justa recompensa. ¿Por qué la ley y los preceptos divinos si la observancia y el descuido tendrían el mismo resultado? ¿Qué valor tendría la praxis de la justicia (Sal 73,13-14)? Por lo tanto, se llega a la siguiente ecuación: aceptar y practicar la ley = vida próspera; rechazarlo = ruina, desgracia. En consecuencia, esta ecuación se desdobla en otra: rico = bienaventurado; pobre, sufridor = perezoso, pecador. Dicho de otro modo: rico = fiel a la ley = Dios ayuda; pobre = infiel = Dios castiga. Así, quien cae en desgracia es porque ha pecado y es el castigo merecido. Este esquema proporcionó seguridad. Los sabios abrazaron ingenuamente esta sabiduría (Pr 10,3; 13,25; 14,11; 15,6). El Sl 1, típicamente sapiencial, hace una hermosa síntesis de este esquema polarizado.

      Hay una propensión de la sabiduría a definir (o hacer posible leer) el modo de actuar de Dios a partir de nuestra conducta, como si la gracia estuviera condicionada al mérito humano. Ahora, la teología de la retribución o justa recompensa sigue activa disfrazada bajo el título de Teología de la Prosperidad.

      Con el tiempo, esta ecuación quedó plasmada en una fría fórmula matemática mecánica. Hará que los pobres, los excluidos y los vulnerables sean responsables de su propia desgracia, de su propia pobreza y vulnerabilidad, mientras que la sociedad rica podrá lavarse las manos, eximiéndose de cualquier compromiso con los débiles. Ya no se cuestiona el sistema económico excluyente y empobrecedor, ni la fuente de la riqueza (si proviene de la explotación, la corrupción y el robo). La teología de la retribución se utilizará para legitimar la indiferencia y la injusticia social, al mismo tiempo que silencia el grito de los excluidos. Le queda aceptar pacientemente el “castigo” de Dios. La persona oprimida se convierte en pecador público y, en consecuencia, abandonada por familiares y amigos, su círculo inmediato. Perverso, sin embargo, es colocar todo esto en un marco religioso, teológico, difícil de romper. Es pobre o está enfermo porque ha pecado y recibe lo que merece. Ahora bien, ¿esta lectura de la teología de la retribución, cristalizada con el tiempo, corresponde a la realidad de la vida? ¿Qué hay detrás de esta lectura?

      El profeta Jeremías advierte contra esta lectura ingenua (¿o perversa?): “¿Por qué prosperan los impíos y los traidores viven en paz?” (Jr 12,1). El profeta aclara que esta visión teológica no corresponde a la realidad. Hay justos y trabajadores que andan mal en la vida, sin éxito, y hay públicos impíos que prosperan y su éxito es tentador para los justos (Sal 73). El sistema económico en el que vivimos nunca permitirá que una empleada doméstica y un trabajador honesto mejoren su nivel de vida. La perspectiva de Jeremías se desarrollará con toda claridad en Job. Véase, por ejemplo, Job 21,7-34. El adversario reconoce que Job parte de la experiencia poniendo en su boca las siguientes palabras: “Soy justo y Dios me niega el derecho. A pesar de mi derecho, paso por mentiroso, una flecha me hirió sin haber pecado” (Job 34,5-6). Ahora bien, Job es herido y sufre atroces sufrimientos (Job 2,7.13), pero el texto insiste en que era “un varón íntegro y recto, temeroso de Dios y apartado del mal” (Job 1,1.8; 2, 3). Por tanto, Job pone en jaque a la sabiduría: no sabe explicar por qué sufren los justos y los inocentes. Esto quita el fundamento de la lectura hecha sobre la base de la teología de la retribución.

      También en esta línea, Qohélet, partiendo de sus observaciones de la realidad, afirma: “Todo lo he visto en mi vida sin sentido: gente honrada que perece en su honradez y gente mala que vive mucho tiempo en su maldad” (Ecl 7,15). Cuestiona seriamente las riquezas (Ecl 2,1-11; 5,9-6,8), valor apreciado también por los sabios como signo de bendición. No duran ni son suficientes para dar seguridad, sentido y plenitud a la vida. Esta visión es retomada por el Salmo 49. Qohélet cuestiona la visión mecánica de la providencia divina así como la mentalidad de que justo es sinónimo de feliz y de prosperidad sin percances.

      Finalmente, ¿habría lugar en este esquema para la acción libre, salvífica y gratuita de Dios? ¿Habría lugar para el perdón y la misericordia divina? ¿La persona, siendo justa y recta, es automáticamente salvada? ¿Sería ella la autora de su propia salvación? Desde la perspectiva del NT, ¿habría pagado el jefe de la parábola a todos por igual (Mt 20,1-16)? ¿Habría hecho Jesús alguna curación si la enfermedad y la discapacidad fueran la justa paga de Dios? Es claro que detrás de la ecuación cristalizada de la teología de la retribución, su visión mecánica, se esconde en realidad una falsa idea de Dios y de la relación con él. Job es categórico al mostrar que la visión de Dios no se puede externalizar, ni reducir a la mera tradición: “Os conocía de oído [tradición], pero ahora mis ojos os ven [experiencia]” (Job 42,5).

      2.3 Crisis de la sapiencia y nuevo comienzo

      La confrontación de la teología con la realidad de la vida y una nueva experiencia de Dios (espiritualidad) permitió a Job y Qohélet desafiar la teología en boga y abrir los ojos de los sabios. Perciben que la sabiduría tiene límites, que el sabio no lo sabe todo, que los enigmas de la vida (como el sufrimiento, la muerte, el mal gratuito) no pueden resolverse con abstracciones al nivel de la teología de la retribución. La base de la relación con Dios no puede ser el mérito, la actuación personal, sino la gratuidad. La acción humana no condiciona la gracia divina, sino que se deriva de ella, que siempre la precede. En este nivel, Job y Qohélet no arruinan la sabiduría israelita, sino que le permiten volver a empezar. La ayudan a percibir el misterio insondable, su fuente. El sabio se da cuenta, entonces, de que la sabiduría también es un don divino. ¡Cuando la razón se cansa, el don continúa! Se abre a la fe y al temor divino y renace vigorosamente.

      2.4 La sapiencia y Jesús

      La sabiduría personificada (Eclo 24) se alaba a sí misma (v. 1) y dice: “Yo planté mi tienda (kata-skēnēō) en lo alto… […] y Aquel que me creó plantó mi tienda (skēnē) y me dijo í: ‘Acampa (kata-skēnēō) en Jacob, en Israel recibe tu heredad’ (Eclo 24,4a.8).

      El evangelista recurre a este lenguaje para hablar de la encarnación del verbo: “El Verbo se hizo carne y plantó su tienda (skēnēō) entre nosotros” (Jn 1,14). Es sabiduría creada (Pr 8,22; Eclo 1,4.9; 24,8.9), encontrando su vértice en el Verbo increado. Toda la tradición de la sabiduría converge en él, todo lo que es bueno y verdadero en la sabiduría humana. Simultáneamente, la sabiduría, aunque eterna, está presente con Dios y distinta de él, presente en la creación. Con ella, Dios crea el mundo. Ella, como arquitecta o artífice de la creación, personificada como persona, que descendió entre los hombres y los invita al banquete, servirá para verbalizar la fe en Cristo como Verbo preexistente, primogénito, sabiduría personificada que desciende del cielo, se hace carne, planta su tienda entre nosotros, habla en primera persona, como mediador de la creación, es Logos con Dios y distinto de él (Jn 1,1-3), que revela al Padre (Jn 1,18), asumiendo la dimensión humano-divina. Por tanto, la sabiduría prestará un servicio decisivo a la cristología.

      Jesús tiene una postura inequívocamente profética, pero enseña como un sabio. Su pedagogía es sapiencial. Enseña, sobre todo, a través de dichos y parábolas, y sus interlocutores se asombran y se preguntan: “¿de dónde viene esta sabiduría…?” (Mt 13,54). Algo más que Salomón (Mt 12,42; Lc 11,31).

      Para Pablo, Jesús es la “sabiduría de Dios” (1Cor 1,24.30). En él “están escondidos todos los tesoros de la sabiduría y del conocimiento” (Col 2,3). Sin embargo, no se limita a categorías griegas o judías, sino que presenta la sabiduría de la cruz, la aparente locura que va más allá de todo lo sensible (1Cor 1,22-30). Así, el apóstol muestra que el que sufre, lejos de ser un castigado por Dios, es un lugar teológico.

      3 La literatura sapiencial israelí

      3.1 La literatura

      En opinión de algunos autores, la literatura sapiencial bíblica constituye una especie de “pentateuco”: Pr, Job, Ecl, Eclo y Sb. No son narraciones, como el Pentateuco e Históricos, ni leyes, como el Pentateuco, no acusan ni denuncian, como los proféticos (ALONSO SCHÖKEL, 1984, p. 17). Tampoco son oraciones, como los salmos, aunque encontremos algunos himnos (p. ej. Pr 8; Eclo 24; 42-43), así como salmos o partes de ellos que son sapienciales. Finalmente, tienen su propio contenido y forma, que los diferencia de los otros bloques del Antiguo Testamento.

      La Biblia Hebrea (MT) incluye estos libros en el bloque de los llamados Escritos, excepto Eclo y Sb por ser griegos. La traducción griega (LXX) los clasifica como Libros Poéticos e incluye Ct y Sl. La tradición latina (Vulgata) los llama Libros Didácticos y hace lo mismo que la versión griega. La tradición católica los denomina Libros Sapienciales, manteniendo el número de libros de las versiones griega y latina, incluidos los llamados deuterocanónicos, Eclo y Sb, es decir, del 2º canon, el griego. La tradición protestante, a su vez, excluye a Eclo y Sb, considerándolas apócrifos, siguiendo la Biblia hebrea.

      Por un lado, los tres libros sapienciales hebreos (Job, Pr, Ecl) forman parte de los Escritos, pero nada, a nivel formal, los une, salvo que son, en su mayor parte, poéticos. De hecho, la autocrítica sapiencial de Job y Ecl, en cierto modo, cuestiona la sabiduría optimista de Pr (LORENZIN, 2013, p. 16). Por otro lado, el Cantar de los Cantares, como los Salmos, aparece junto al “pentateuco de sabiduría” en todas las tradiciones presentadas anteriormente (TM, LXX, Vg, Católicas).

      De hecho, la sabiduría del Próximo Oriente Antiguo y, en particular, la de Israel forma parte de la experiencia de vida, como ya se ha insistido. Ahora bien, las dos experiencias fundamentales de la vida son el sufrimiento y el amor. El sufrimiento da consistencia y purifica el amor. Esto, a su vez, ilumina y da sentido al sufrimiento. Son como dos caras de la misma moneda. En términos de literatura de sabiduría bíblica, el sufrimiento se presenta más explícitamente en el libro de Job y el amor en el libro de Cantares. Jesús une las dos perspectivas. Se puede ver una síntesis en el verso joánico: “Habiendo amado a los suyos que estaban en el mundo, los amó hasta el extremo” (Jn 13,1b). No por casualidad, nuestro lenguaje presenta un término de síntesis para ambas realidades: ¡pasión!

      En cuanto al género literario, los libros de Tb y Est encajan entre los relatos, pero impregnados del modo de pensar sapiencial. Particularmente Tb 4,3-21; 14.8-11. Muchos autores también reconocen un claro énfasis sapiencial en Gn 2-3; 37–50; 2Sm 9-20; 1Rs 1–2 y el poema de Bar 3,9–4,4.

      De todos modos, las máximas sapienciales están dispersas por toda la Biblia. Por lo tanto, la idea de un “pentateuco de sabiduría” es solo parcialmente correcta, como concluye Lorenzin. (2013, p. 16).

      3.2 Las formas o géneros literarios sapienciales básicos

      Mashal. Es una forma o género literario exclusivamente sapiencial. Originalmente aplicado al dicho popular o refrán. Se trata, normalmente, de construcciones breves, fáciles de memorizar, que compactan o “comprimen” una sabiduría, resultado de observaciones y experiencias, de valor universal y que circula de boca en boca, es decir, se transmiten oralmente, de ahí el nombre de dichos.La traducción más cercana a mashal sería proverbio, cuyo plural corresponde al nombre de la obra titulada Libro de Proverbios. Posteriormente, lo dicho pasa a ser  escrito. El mashal es la célula básica de la sapiencia y es a la parábola lo que la semilla es a la planta. Uno trata de llegar a la comprensión de algo a través de la comparación o la analogía. De todos modos, ¡el mashal te hace pensar!

      Sentencias y consejos. Con el tiempo, un dicho popular puede evolucionar a una sentencia o consejo o incluso a dichos más cultos. La sentencia y el consejo se distinguen, sobre todo, por la forma verbal: la sentencia recurre al indicativo y el consejo, al imperativo.

      Existen otras formas sapienciales, pero no exclusivas de la sabiduría, tales como: dichos numéricos, enigmas, adivinanzas, diálogos y debates, discursos, listas (onomástico), narraciones autobiográficas (confesiones) o didácticas, poemas (didácticos), fábulas, alegorías, oraciones (himnos, acción de gracias y salmos), preguntas. También existen recursos estilísticos, también conocidos como formas ornamentales o artísticas, que no son exclusivos de la literatura sapiencial, como por ejemplo: el paralelismo, los recursos sonoros (paranomasia: asonancia, aliteración, juegos de sonidos y palabras); repeticiones (anáfora o repetición inicial, repetición final, poemas acrósticos o alfabéticos, enumeraciones, uso de sinónimos y antítesis); descripciones ilustradas con ejemplos, comparaciones, imágenes, metáforas; hipérbole, paradoja; aforismos (marcados por brevedad y concisión); la pregunta retórica, las preguntas imposibles, etc. (VÍLCHEZ LÍNDEZ, 1984, p. 70-71).

      Conclusión

      El profeta parte de la revelación divina, exhorta, emite oráculos y se preocupa por la comunidad de la alianza, por el pueblo elegido. Se refugia en la autoridad divina (expresada en la Palabra), en un Dios que se revela desde lo alto y en la historia.

      El sabio, a su vez, parte de la experiencia de la vida, aconseja, emite sentencias. Su autoridad proviene de la experiencia cotidiana y de los años. Observar el orden de la creación y la trama de las relaciones humanas y descubre el mundo y la vida cotidiana como espacio de manifestación de Dios. Su preocupación va más allá de las fronteras de Israel, quiere formar al ser humano, lo confronta con sus dramas y lo ayuda a escudriñar los enigmas de la vida.

      La sabiduría bíblica se presenta como sabiduría que ayuda a las personas a ser felices. Prepara al ser humano para vivir, convivir y pensar. Sin embargo, la sabiduría que el sabio ejerce como tarea descubre también en ella el don, que culminará en “Cristo, sabiduría de Dios” (1 Cor 1,24.30).

      Como cada sabio presentó los resultados de sus observaciones en cada libro sapiencial bíblico que conforma esta parte de las Escrituras, para cada uno de esos libros será elaborada una entrada en esta enciclopedia.

      Fr. Rivaldave Paz Torquato, O. Carm. Facultad Jesuita de Filosofía y Teología (FAJE). Texto original en portugués. Enviado: 09/12/2022.Aprobado : 15/11/2022. Postado: 30/12/2022.

       Referencias

       ALONSO SCHÖKEL, L. Uma oferta de sensatez. Ensayo sobre la literatura sapiencial. In: ALONSO SCHÖKEL, L.; VILCHEZ LÍNDEZ, J. Proverbios. Madrid: Cristiandad, 1984, p. 17-37.

      CIMOSA, M. Educazione e insegnamento nei libri Sapienziali. In: BONORA, A.; PRIOTTI, M. et al. Libri Sapienziali e altri scritti. Turim: Elle Di Ci, 1997 (Logos CSB 4), p. 399-411.

      LORENZIN, T. Esperti in umanità. Introduzione ai libri sapienziali e poetici (Graphé 4). Turim: Elledici, 2013.

      NICACCI, A. A casa da sabedoria. Vozes e rostos da sabedoria bíblica. São Paulo: Paulinas,1997.

      SCAIOLA, D. La Sapienza in Israele e nel Vicino Oriente Antico. In: BONORA, A.; PRIOTTI, M. et al. Libri Sapienziali e altri scritti. Turim: Elle Di Ci, 1997 (Logos CSB 4), 29-42.

      VILCHEZ LÍNDEZ, J. Historia de la investigacion sobre la literatura sapiencial. In: ALONSO SCHÖKEL, L.; VILCHEZ LÍNDEZ, J. Proverbios. Madrid: Cristiandad, 1984, p. 39-82.

      VILCHEZ LÍNDEZ, J. Sabedoria e sábios em Israel (BL – 25). São Paulo: Loyola, 1999.

      [1] Como puede verse en la entrada: Sapiencia en el Antiguo Oriente Próximo y cuya lectura se recomienda.

      [2] La bienaventuranza es una forma literaria común en la sabiduría. Condensa un ideal de vida caracterizado por el término feliz. Para otros ejemplos: Job 5,17; Pr 8,32b.34; 28,14; Eclo 14,1.2; 28,8.9; 26,1.26b; 31,8; 48,11; 50,28; Sb 3,13.14. En los Salmos, aparece cerca de 26 veces.

      La sapiencia en el antiguo oriente próximo

      Sumario

      Introducción

      1 La sabiduría en el Antiguo Oriente

      1.1 ¿Qué es la sabiduría?

      1.1.1 Sapiencia: saber vivir

      1.1.2 Sapiencia: saber hacer

      1.1.3 Sapiencia: saber pensar

      1.2 Origen de la sabiduría

      1.2.1 En el tiempo

      1.2.2 En el espacio

      1.2.3 En el modo y en la meta

      1.3 Características de la sapiencia antigua

      2 La literatura sapiencial del Antiguo Oriente Próximo o Creciente Fértil

      2.1 En Egipto

      2.2 En Mesopotamia

      Conclusión

      Referencias

      Introducción

      La Biblia griega de los Setenta (LXX) o Septuaginta abre su Parte II con los llamados libros poéticos (RAHLFS, 1979). Ellos son: Sl, Pr, Ecl, Ct, Job, Sb y Eclo. La Biblia hebrea los inserta en un conjunto más amplio, llamado Ketûbîm = Escritos. La versión latina, la Vulgata (Vg), siguiendo la Septuaginta, los clasifica como libros didácticos. En este sentido, el canon católico denomina a este grupo de libros (poéticos y) sapienciales, del latín, sapientia = sabiduría. Es una literatura caracterizada por verbalizar un saber que brota de la experiencia de vida y pretende facilitar la experiencia humana y sus relaciones. La literatura de sabiduría bíblica surge de la experiencia común de los pueblos del Antiguo Oriente Próximo. Nace en el mismo suelo que una literatura similar ya presente. Los sapienciales bíblicos son, por tanto, ramas de una corriente común que ya existe, en una dinámica de continuidad e innovación. Para entenderlos mejor, es esencial una introducción a esa sabiduría común pre-israelita o contemporánea de Israel.

      Ahora, a esa finalidad se dispone esta entrada. Pretende definir qué es la sapiencia en el Antiguo Oriente, presentar su origen (en el tiempo y el espacio) y su finalidad, sus características, así como la literatura que la codifica.

      1 La sabiduría en el Antiguo Oriente

      1.1 ¿Qué es la sabiduría?     

      ¿En qué consiste la sabiduría? ¿Qué es la sapiencia? Hay un saber empírico, científico, medible que sale del laboratorio, de los experimentos. El científico descubre que la unión de dos moléculas de hidrógeno con una de oxígeno da como resultado agua. Es un saber no popular. Hay otro tipo de saber teórico-especulativo que proviene de la filosofía. Ciertamente, Aristóteles diría que se trata del conocimiento de principios o causas primeras. Es un saber poco popular. También hay un saber que brota de la experiencia de la vida, el saber práctico. Tal vez el propio Aristóteles lo llamaría phrónesis.[1] A este saber, que surge de la experiencia de la vida, la Biblia lo llama ḥoḵmāh = sabiduría, en latín, sapientia, de sapere: tener gusto, saborear, percibir, comprender. Es una saber que consiste en degustar las cosas. Tal saber es, ante todo, popular, accesible a todos. En lenguaje popular: “La vida también enseña” o “el mundo es una escuela”. El sabio sabe vivir, sabe hacer y sabe pensar.

      1.1.1 Sapiencia: saber vivir

      El hombre antiguo comienza a darse cuenta de que la naturaleza tiene sus leyes, se da cuenta de que existe un orden cósmico universal. Un campesino necesita conocer las estaciones de aa y sequía, frío y calor, y el ciclo de la luna para sembrar, criar animales o pescar, descubrir las hierbas medicinales, el fluir del tiempo, el calendario, entre otras cosas (Sab 7,17 -20). Las leyes fijas, los ciclos, dan seguridad. Descubrir aquellas leyes escondidas en la naturaleza que favorecen la vida y ajustarse a ellas es tarea de los sabios (CRB, 1993, p. 19). Por lo tanto, cuanto más se domina el orden incrustado en la naturaleza, mejor se vive, se adquiere calidad de vida. Por otro lado, la observación de experiencias repetidas genera conocimiento. De esta forma, este tipo de conocimiento no es externo, surge inicialmente desde adentro. El éxito de la vida depende de su mayor o menor armonía con el orden natural.

      Sin embargo, los pueblos del Antiguo Oriente, como los egipcios y mesopotámicos, entendieron que este orden del cosmos, las leyes de la naturaleza, provienen de la divinidad, están ligadas a ella. La creación se ordena según la voluntad de los dioses. Son ellos quienes establecen y mantienen el orden en el mundo. A este orden, en el que se refleja la sociedad, los egipcios lo llamarán Ma’at, más tarde personificado en una deidad, y los sumerios  Me. Así, la deidad creadora atrae la atención de los sabios. Israel asimiló este pensamiento, obviamente reinterpretándolo.

      Poco a poco, pues, el sabio llega a comprender que, para vivir bien, necesita adaptar su conducta a las leyes de la naturaleza, al orden cósmico. Por lo tanto, el orden cósmico debe corresponder al orden ético. La persona debe ordenar moralmente la vida según el orden querido por Dios, manifestado en la creación. El sabio busca reflejar en su vida la armonía de la creación. En palabras de Scaiola:

      Su acción creadora da consistencia y orden a este mundo y a la vida humana. Tal orden en el mundo preside también la vida del hombre, que debe ordenar moralmente su existencia según el orden querido por Dios. El sabio es aquel que logra lograr en sí mismo la armonía existente en la creación. (1997, p. 41 – traducción nuestra)

      1.1.2 Sapiencia: saber hacer

      En un principio, la sabiduría es el don o talento que tiene alguien para hacer algo en los más variados ámbitos de la vida humana. Piense en alguien que toca un instrumento “solo de oídas”, sin haber estudiado nunca música. Es, por tanto, una aptitud, destreza, habilidad (técnica), dominio en cualquier esfera de la acción humana, particularmente en el manejo de objetos, metales, cerámica, madera y arte (VÍLCHEZ LÍNDEZ, 1999, p. 38-39). Es el saber hacer, es el artesano. El siguiente texto ejemplifica bien esto.:

      Moisés dijo entonces a los israelitas: «Mirad, Yahveh ha designado a Besalel, hijo de Urí, hijo de Jur, de la tribu de Judá, 31.y le ha llenado del espíritu de Dios, de sabiduría (ḥoḵmāh), confiriéndole habilidad, pericia y experiencia en toda clase de trabajos; para concebir y realizar proyectos en oro, plata y bronce; para labrar piedras de engaste, tallar la madera y ejecutar cualquier otra labor de artesanía. A él y Oholiab, hijo de Ajisamak de la tribu de Dan, les ha puesto en el corazón el don de enseñar. Les ha llenado el corazón de sabiduría (ḥoḵmāh) para toda clase de labores en talla y bordado, en recamado de púrpura violeta y escarlata, de carmesí y lino fino, y en labores de tejidos. Son capaces de ejecutar toda clase de trabajos y de idear proyectos. Besalel, Oholiab y todos los hombres de corazón sabio (ḥoḵmāh) en quienes Yahveh había infundido sabiduría (ḥoḵmāh) y entendimiento para saber realizar todos los trabajos en servicio del Santuario, … (Ex 35,30–36,1)

      Esta habilidad, el saber hacer, también puede manifestarse en la política[2], en el comercio (1Rs 9,26-10,43), en la agricultura o en la organización de la casa (Pr 31,10-31). Este saber hacer puede ser innato, pero también se adquiere y se transmite. Esta es la importancia de la relación maestro-discípulo, padre-hijo.

      1.1.3 Sapiencia: saber pensar

      En un segundo nivel la sabiduría resulta de la observación de los sabios que recogen el conocimiento discretamente incrustado en la naturaleza (Eclo 1,9) y en las realidades de la vida. El sabio es un observador atento. Este es el caso de Qohelet (Ecl 3,10.16; 4,1,4; 6,1; 8,16). Reflexionan sobre sus observaciones y elaboran o verbalizan, comprimen el conocimiento en cápsulas como dichos, refranes, máximas, sentencias, consejos y aforismos que sirven para iluminar la propia vida.[3] Es un conocimiento cuya autoridad radica en la verdadera enseñanza que lleva consigo y, a través de ella, se impone. Es una sabiduría que goza de la fuerza de la evidencia y como tal sólo resta ser aceptada.

      Las situaciones nuevas, sin embargo, exigen al sabio reflexionar sobre los conocimientos adquiridos y releerlos, de tal forma que le ayude a responder a las nuevas circunstancias. El sabio se pregunta (a sí mismo) y llega a ciertas conclusiones. Esto conduce a las actividades espirituales (VÍLCHEZ LÍNDEZ, 1999, p. 41). El sabio descubre que no solo usa sus manos (artesano), sino que piensa, tiene emociones y trasciende, reflexionando sobre los misterios de la vida y buscando respuestas. Por ejemplo, ¿por qué sufren los justos y los inocentes? ¿Por qué prosperan los malvados? ¿Por qué la muerte? El foco del sabio es el ser humano inserto en su entorno (en la creación y en la vida cotidiana) con sus dramas existenciales y sus alegrías, en sus relaciones interpersonales y con la divinidad.

      1.2 Origen de la sabiduría

      1.2.1 En el tiempo

      El homo sapiens, por otro lado, acorralado por los desafíos de la supervivencia, tuvo que usar la cabeza. Entonces nace la ḥoḵmāh, la sabiduría. Surge de las necesidades reales de defender la vida, para enfrentar los dramas de la existencia como la enfermedad, la muerte, el sufrimiento, la injusticia, el enemigo, la guerra y la espada. Por lo tanto, su enfoque está en la vida humana dondequiera que se manifieste. Por lo tanto, la sapiencia se ocupa de cuestiones cotidianas como el amor, el matrimonio, la familia, la amistad, la educación, la salud, el trabajo, la organización, el gobierno, la justicia y se ocupa de las necesidades inmediatas como comer, beber, hablar, amar, vestirse y trabajar (CRB, 1993, págs. 18-19).

      1.2.2 Em el espacio

      Todos los pueblos y culturas expresan su experiencia de vida de alguna manera. Así, la sabiduría se incrusta en todos los lugares donde se establece la presencia humana. Cuando se trata de sabiduría bíblica, la mirada se vuelve hacia el mundo circundante de Israel. Los sabios israelitas no inventaron la rueda, partieron de las raíces comunes de los pueblos del Próximo Oriente Antiguo, y, más precisamente, del llamado Creciente Fértil o Media Luna. Según Vílchez Líndez:

      El Creciente Fértil o Media Luna comprende la inmensa región en forma de arco (de ahí su nombre) que se extiende desde la desembocadura de los ríos Éufrates y Tigris, en el Golfo Pérsico, hasta el valle del Nilo, rodeando el desierto de Arabia por el norte y el oeste. En esta región nacieron, se desarrollaron y murieron las grandes civilizaciones antiguas de Mesopotamia y Egipto, así como las de los pueblos de las regiones intermedias de Anatolia, Siria y Palestina. También hay que tener en cuenta el desierto, cuya importancia en la formación del pueblo de Israel fue notable. Según la tradición bíblica, el desierto fue la cuna de la sabiduría y el punto de referencia de los sabios de Israel. (1999, p. 17-18)

      Mesopotamia comprende tres grandes civilizaciones interconectadas: Sumeria (sumerios), Babilonia y Asiria. De Siria cabe destacar su capital Ebla, gran centro cultural (cultura eblaíta) destruida en el 1600 aC, Ugarit e incluso Alepo. La literatura sapiencial se puede encontrar entre todos estos pueblos. Está claro, por tanto, que la sabiduría misma, a la que pertenece la sabiduría bíblica, es más antigua que Israel.

      1.2.3 En el modo y en la meta

      En Egipto, la sabiduría aparece ligada a escuelas dirigidas a la aristocracia del entorno, sobre todo, a la corte. Apuntaba a la educación de príncipes, visires, hijos de la élite, futuros diplomáticos y escribas. Era básico saber escribir, leer, adquirir cierto dominio de la oratoria y comportarse como digno de la corte. Es común encontrar en la literatura egipcia de la época al rey enseñando al príncipe, al visir y al escriba, transmitiendo sus respectivos oficios a sus hijos o sucesores. Es una sapiencia marcada por la forma de instrucción o enseñanza, muchas veces de carácter moral. También se enseña magia, predecir el futuro e interpretar los sueños (SCAIOLA, 1997, p. 30). Cabe destacar la visión positiva del más allá, es decir, la vida continúa. Esto se debe, por ejemplo, a la arquitectura egipcia. Evidentemente, desde el ámbito cortesano, esta sabiduría también se difunde, con menor intensidad, en la vida ordinaria.

      En Mesopotamia, desde los sumerios, el sabio, bello y fuerte es el rey y la sabiduría está ligada a las habilidades que le rodean, como es el caso de la del escriba. El rey debía administrar justicia y sabiduría, dada por los dioses, complacer al pueblo con buenas obras, particularmente construyendo templos. Pero el rey era sabio siempre que mostrara un respeto reverencial a los dioses y cumpliera su voluntad. En esta postura estaba el comienzo de la sabiduría. La terminología de la sabiduría se aplicó no solo al rey y los escribas, sino también al artesano, arquitecto, maestro, adivino, médico, músico y consejero. Ya contaban con instituciones educativas, la e-dubba = “casa de las tablillas”, y un plan de estudios que consistía en alfabetización, aritmética, música, preparación y elaboración de documentos, composición de archivos y crónicas, escritura, copia y estudios de literatura. obras (mitos y relatos épicos, himnos, oraciones, cantos y lamentaciones). A través de este aparato, propusieron ideales morales y éticos, aunque con una visión algo negativa de la existencia. Creían en un panteón antropomórfico invisible y tenían una fuerte visión de la humanidad tal como fue creada. El sufrimiento y la muerte atrajeron fuertemente la atención de estos sabios, como lo muestra su literatura. Con estos elementos, los sabios definieron la forma de pensar sumeria. Babilonia tiene una sabiduría más centrada en la adivinación y los ritos litúrgicos. Asiria presenta una literatura didáctica ligada a la corte y los escribas y también trata sobre el culto y la magia. (SCAIOLA, 1997, p. 32-34).

      En Canaán, más precisamente en Ugarit, la sabiduría no se aparta significativamente de la de Mesopotamia. También había escuelas y se usaban tablillas. Desde Biblos, en la Sirofenicia, el alfabeto se difundió por todo el mundo grecorromano (VÍLCHEZ LÍNDEZ, 1984, p. 47). Su sapiencia era práctica, caracterizada por el consejo. La sabiduría, por otro lado, era un arte difícil de adquirir. Entonces se empieza a ver en él un signo de la actividad de la divinidad. Es la deidad que se lo concede al rey. Para los cananeos, la sabiduría es, por tanto, un atributo del Dios supremo El, el padre de los dioses (CAZELLES, 1986, p. 125-6). Ahora bien, los cananeos prestan su lengua y cultura a Israel.

      1.3 Características de la sapiencia antigua

      La sapiencia del antiguo Oriente Próximo es más antropocéntrica. Es un saber centrado en los dramas humanos, que se interesa por la realidad existencial, buscando responder a sus desafíos e iluminar el destino humano. ¡Pronto, no huyas, sino enfrenta el sufrimiento! No se reduce a la mente, al intelecto, sino que abarca el todo (holística). Por tanto, desde la corporeidad hasta los espacios que ocupamos, son fuentes para experimentar este saber.

      No es monopolio de nadie. Está presente en todos los pueblos y culturas. Es universal, abierto en el tiempo y el espacio. Un dicho como “la gota de agua perfora la roca, no por su fuerza sino por su constancia” era, por lo tanto, válido en la Edad de Piedra y sigue siendo válido hoy (tiempo). Es cierto para un brasileño y para un japonés (espacio).

      Es “ecuménico”. Es un conocimiento que vale para cualquier credo y para los que no tienen credo. También se aplica a cualquier raza y color.

      La sapiencia es, en cierto modo, anónima. Normalmente nadie sabe dónde, cuándo y cómo surgió y mucho menos quién es el autor de un dicho o máxima. A lo sumo se dice: “proverbio chino”, “sabiduría hindú”, por ejemplo. Pero es la expresión de una cultura, de un grupo o categoría de personas. A través de ella, el colectivo habla, tiene voz.

      La ética de la sapiencia no es imperativa, no impone preceptos, sino que da consejos, busca ofrecer valores con la fuerza de la experiencia. En este sentido, la sabiduría no es ni moralista ni tiene pena (legal).

      La sabiduría es don y tarea. “No se nace sabio”, ya decía la máxima del egipcio Ptah-hotep (2500-2420 aC) (ANET, 412). Este pensamiento aparece también en Eclo 6,18,22,32; 50.28. La sabiduría se adquiere confrontando la capacidad cognitiva con la experiencia, así como a través de la educación y la formación continua. Es conocimiento transferible. Aquí está el papel de la tradición. Por otro lado, el verdadero sabio no crea dependencia, más bien ayuda a descubrir (CRB, 1993, p. 22-23). El conocimiento es descubrimiento continuo, aprendizaje permanente. Su límite es Dios. En esta perspectiva, la sabiduría es una tarea. La capacidad de aprender, sin embargo, viene de Dios, es un don.

        El elefante, por ejemplo, tiene varias partes muy diferentes entre sí, aunque es el mismo elefante. Un ciego que palpa, por ejemplo, la trompa de un elefante y otro ciego que palpa la barriga del mismo elefante, ambos tienen la misma experiencia, sin embargo, no describirán de la misma manera al elefante sentido. Análoga al elefante es la realidad humana con sus múltiples aspectos. Las máximas o dichos de sabiduría, que buscan abrazar esta realidad, pueden tanto complementarse como incluso contradecirse. En este sentido, la literatura sapiencial conlleva cierta ambigüedad.

      Su entorno es el de las relaciones cotidianas, de la convivencia y, por tanto, la familia (la casa), la plantación y los animales (el campo), la naturaleza (creación), la puerta o plaza (de la ciudad), la la escuela, la corte, el templo, el comercio (relaciones con otros pueblos), el diálogo o debate (el libro de Job, por ejemplo), la tradición (transmisión oral o escrita) y la política (arte de gobernar). Es el ambiente que los modernos llamarían “secular” o “profano”. No es el culto o adoración, aunque la sabiduría también “abre su boca en la asamblea del Altísimo” (Sir 24,2). De hecho, la sabiduría amplía el espacio de manifestación de la divinidad. El sabio israelita, en particular, entiende que Dios no se manifiesta sólo en las teofanías, en los gestos salvíficos, en los oráculos, en el templo y en el culto, sino en este ámbito “secular” y en la creación.[4] Si el orden de la creación está íntimamente ligado a la voluntad del Creador, ¿cómo podemos llamarlo secular? Además, los sabios perciben o descubren lo extraordinario de Dios en lo ordinario de la vida. Esta es la espiritualidad sapiencial y la contribución teológica de la sapiencia (bíblica). De ahí que la dicotomía sagrado-profano sea superada en la sapiencia. Se distingue, pero no se separa. En esta perspectiva, lo creado y la sapiencia son religiosos. De la misma manera, la realidad cotidiana es un lugar para la experiencia de Dios.[5] Finalmente, “la teología sapiencial es la primera en presentar en profundidad la posibilidad de conocer a Dios en la creación” (VON RAD, 2000, p. 444). Así, una espiritualidad de fuga mundi, si no sabe claramente “de qué mundo” está huyendo, en realidad puede convertirse en una espiritualidad de fuga Dei.

      En el primer milenio antes de Cristo, especialmente en Mesopotamia, se comienza a percibir una relación entre causa y efecto, entre la acción humana y sus consecuencias, ligadas a la divinidad. En Israel, será la base de la Teología de la Retribución.

      Finalmente, en cuanto al método, en palabras de Lorenzin, “se puede decir que el método de la sabiduría es un método inductivo, que parte de la reflexión sobre la vida y la realidad” (2013, p. 29).

      2 La literatura sapiencial del Antiguo Oriente Próximo o Creciente Fértil

      2.1 En Egipto

      La literatura sapiencial egipcia se caracteriza como instrucciones o enseñanzas para príncipes, hijos de élites, visires y futuros escribas. Esta es una formación centrada en el entorno de corte. La relación entre maestro y aprendiz era la de padre-hijo. Entre las obras destacan:

      a) Enseñanza a Kaghemni (fechable en el Reino Antiguo: 2815-2400 aC). Es el visir Kaires enseñando a su hijo su oficio. El hijo debe ser moderado y tener control sobre lo que dice (LORENZIN, 2013, p. 10).

      b) Enseñanza del príncipe Herdedef (ca. 2640 aC). Sería el ejemplo más antiguo del género literario con fines didácticos. Comienza con algunos pensamientos sobre la muerte (LORENZIN, 2013, p. 10). Por ejemplo: “Adorna tu casa en la necrópolis y enriquece tu lugar en el Oeste… Una recepción baja es para quien está muerto, (pero) una recepción alta es para quien está vivo, y tu casa de muerte está (destinada) a la vida” (ANET, 419).

      c) Enseñanza de Ptah-hotep (ca. 2450 aC). Ptah-hotep fue visir del rey Isesi, que vivió ca. 2500-2420 a.C. En esta obra brillan todos los aspectos de la vida y actividad de un funcionario judicial. Debe ser exacto, sumiso, modesto, tener astucia en la corte, autoridad en el hogar y prudencia en la mesa, defender la justicia en la corte y ejercer la bondad con los pobres (LORENZIN, 2013, p. 10). La obra puede considerarse el manual más antiguo dedicado a la formación integral de un hijo de la élite. Sus sentencias se acercan al Libro de los Proverbios. Entre ellas:

      Un buen discurso está más escondido que la esmeralda, pero se puede encontrar con las sirvientas en las piedras de afilar. (ANET, 412)

      No responda en un estado de confusión. (ANET, 414)

      d) Instrucción a Meri-ka-re (ca. 2100 a. C.). Estas son instrucciones de un hombre sabio, el rey Set, a su hijo y sucesor, el faraón Meri-ka-re, último rey de la décima dinastía. Se trata de consejos serenos, espiritualmente elevados y nobles, pero ignora la realidad sociopolítica de la época. De esta sabiduría:

      Sé un artesano en el habla, (para que) seas fuerte, (porque) la lengua es una espada para [el hombre], y un discurso es más valioso que cualquier batalla. Nadie puede driblar al habilidoso de corazón… Quien conoce su sabiduría no lo ataca y ninguna desgracia le sobreviene donde está […]

      Haz justicia mientras permanezcas en la tierra. Calma al que llora, no oprimas a la viuda, no expulses a un hombre de la tierra de su padre, y no perjudiques a los funcionarios en sus cargos. Ten cuidado de no castigar injustamente […]

      No hagas diferencia entre el hijo de un noble y un hombre común, (pero) toma para tí un hombre a causa del trabajo de sus manos. (ANET, 415)

      e) La instrucción a Khety, hijo de Duauf. Datable entre 2000-1800 a.C. El padre se dirige a su hijo mientras lo lleva a la escuela para convertirse en escriba. Su instrucción está dirigida a motivar a su hijo a convertirse en escriba. Por lo tanto, se rinde un gran elogio a este oficio, mientras satiriza a los demás. Algo similar sobre los oficios aparece en Eclo 38,24-34 y sobre el escriba sabio en Eclo 39,1-11 (VÍLCHEZ LÍNDEZ, 1999, p. 20; LORENZIN, 2013, p. 11).

      f) La Instrucción [o Libro de la Sabiduría] de Ani (ca. 1450 aC). Ani es un escriba que instruye a su hijo a ser escriba y, en fin, a la vida. Se insiste en la quietud, la piedad personal y la actividad ritual. El hijo, Konzu-hotep, es más abierto que su padre a las nuevas corrientes de pensamiento. Entre las consignas: “Las golondrinas vuelan, pero llega un momento en que aterrizan” y “El éxito no es de los hombres; uno es su plan, otro el del Señor de la vida” (apud VÍLCHEZ LÍNDEZ, 1999, p. 20-21). Este último dicho es similar a Pr 16,9.

      g) La instrucción del rey Amen-em-het (ca. 1960 aC). El texto parece transmitir el consejo que Amen-em-het I, primer faraón de la dinastía XII, le dio a su hijo. Es la reacción de un viejo y experimentado gobernante y, como tal, transmite algo del oscuro pesimismo y el idealismo social de la época. La historicidad específica del texto ha sido cuestionada sobre la base del hecho de que quien ofrece el consejo es un rey ya muerto. Este argumento puede ser válido, pero el texto es histórico en su aplicabilidad a nuestros tiempos. Amen-em-het Morí alrededor de 1960 a. Sin embargo, todos los documentos existentes de este texto provienen de las dinastías XVIII a XX (1500-1100 aC), cuando la instrucción ya era muy popular entre los alumnos (ANET, 418-419).

      h) Amen-em-opet (entre 1000 y 600 aC). Obra de alto nivel religioso y humano, encontrada y publicada en 1923. Presenta el aspecto más religioso de la sapiencia egipcia. Estos son los consejos de un escriba a su hijo menor, Hor-em-maa-kheru, sacerdote en un templo del dios Min, para convertirlo en un hombre piadoso y fiel administrador, en una palabra, para que tenga éxito. Para ello, es necesario tener equilibrio y buena conducta. El modelo de hombre que aparece es el tipo “silencioso” (gheru), es decir, paciente, humilde y fiel a Dios, frente al tipo “ardiente” (shemu), que sería el arrogante, el ambicioso, el impío. Algo similar al comportamiento de los justos y los malvados en la literatura sapiencial bíblica (NICCACCI, 1997, p. 49-50). Pr 22,17–24,22 se considera, en la opinión común de los eruditos, como un inspirado paralelo a esta enseñanza de Amen-em-opet. En particular, la frase: “Considera estos treinta capítulos, que instruyen y educan” (Amen-em-opet XXVII), encuentra su equivalente en Proverbios: “Os he escrito treinta máximas de experiencia” (Pr 22,20). Esta frase bíblica se puede explicar mejor a la luz de la anterior. También en la obra de Amen-em-opet:

      Cuidado con robar a los desdichados y atormentar a los débiles; No codiciarás una palma de tierra, ni excedas el límite de una viuda. (ANET, 422)

       A Dios le gustan más los que honran a los pobres que los que halagan a los ricos. (ANET, 424)

      i) Narrativa (o Protestas) del Campesino Elocuente (ca. 2000 aC). Esta obra, así como las dos que siguen, reflejan un período cuyo modo de pensar está marcado por el pesimismo y el cinismo (SCAIOLA, 1997, p. 31). Según Vílchez Líndez, “es un magnífico ejemplo de la oratoria egipcia. El campesino, despojado de sus bienes por un ladrón, acude a la justicia del país, expone el caso, que defiende con nueve discursos, y al final se hace justicia” (1999, p. 23).

      j) Disputa entre un hombre y su alma (o Diálogo de un hombre desesperado con su alma). Datable entre 2200-2040 a.C. Según Vílchez Líndez, este es un hombre que está aburrido de la vida y que quiere morir. Piensa que el suicidio es la solución a sus problemas. Pero su alma no quiere seguirlo, ya que no sabe lo que viene después y tiene miedo. Comienza un diálogo entre él y su alma. Ella lo convence de olvidar, porque en el olvido estaría el remedio. Decide buscar los placeres de la vida y renuncia a suicidarse (1999, p. 22). Según Lorenzin, la obra “cuestiona el optimismo de la Enseñanza de Herdedef, sosteniendo que la tumba es una amargura y una producción de lágrimas que hace miserable al hombre” (LORENZIN, 2013, p. 11).

      k) Canto del Arpista. Invita a disfrutar del ahora, ya que en el después no hay nada y de ahí no hay retorno. Obviamente, el tono es de escepticismo y pesimismo ante lo efímero de la existencia y la incertidumbre futura. El tema ya aparece en las tumbas del tercer milenio (LORENZIN, 2013, p. 11; VÍLCHEZ LÍNDEZ, 1999, p. 23).

      l) Las instrucciones de Ank-sesonqy (siglos V-IV a. C.). Son enseñanzas de Ank-sesonqy al hijo. Refleja un ambiente campesino, sabiduría práctica con una dosis de cinismo. Su autor agradece la repetición y las frases breves. Por ejemplo: “Quien no recoge lana en verano no abrigará en invierno” (apud VÍLCHEZ LÍNDEZ, 1999, p. 22). Quizás, Ank-sesonqy es el mismo Sesac que aparece en 1Rs 14.25-26; 2Cr 12,2-9.

      m) Onomástica (también llamada Enseñanza de Amen-em-opet). La obra, de un autor también llamado Amen-em-opet, muestra el interés egipcio por la naturaleza. Según Lorenzin:

      es otra forma de sabiduría egipcia en la que todos los fenómenos naturales o un grupo más especializado de estos se enumeran bajo títulos genéricos; 610 entidades organizadas jerárquicamente: objetos celestes, ciudades, pueblos, oficios, construcciones, tipos de regiones, productos agrícolas. Es una de las primeras enciclopedias del saber y puede ser la clave para comprender las máximas atribuidas a Salomón sobre los árboles, los animales, las aves y los peces (1Rs 5,13). (LORENZIN, 2013, p. 11-12)

      Pueden verse ejemplos bíblicos de estas listas enciclopédicas u onomásticas: el catálogo de piedras preciosas (Job 28,12.15-19); el catálogo de oficios manuales (Eclo 38,24–39,11); las estrellas y los fenómenos naturales (Eclo 43); los ciclos del tiempo y las plantas (Sab 7,17-20).

      2.2 En Mesopotâmia

      En Mesopotamia, tres civilizaciones dejaron su legado sapiencial. Primero fue Sumer (los sumerios). Le debemos:

      a) El hombre y su dios. También llamado Lamentación de un hombre a su Dios o también Job sumerio y fechable entre 2000-1700 a. La obra, un ensayo poético, sería una versión del motivo del libro de Job. En él, una persona absolutamente justa e inocente es abatida por la enfermedad y el sufrimiento. Es acusado injustamente y cae en la desconfianza del rey y sus amigos, sin que la divinidad reaccione. Clama continuamente a su dios hasta que responde y convierte su sufrimiento en alegría. Una vez respondida, alaba a Dios. La causa del sufrimiento, incluso para una persona justa, podría ser su pecado, incrustado en su naturaleza humana desde que nació. Así, el sufrimiento sería la reacción justa de Dios al pecado humano. A diferencia de Job, confiesa su pecado. La obra ayuda a comprender la posición de los amigos de Job (SCAIOLA, 1997, p. 32.63), pero no responde por qué los seres humanos nacen en estado de pecado. Hablando de su sufrimiento, este doliente dice: “Dios mío, el día brilla sobre la tierra, y para mí el día es oscuro… Lágrimas, lamentos, angustia y depresión se apoderan de mi ser. El sufrimiento me acosa, porque soy un ser que (solo) llora” (ANET, 590).

      Esta obra parece ser más madura en relación con su homónima paleobabilónica y una argumentación similar. El ser humano no es un juguete en manos de la divinidad que debe resignarse ante el dolor. La obra sugiere que, detrás de cada sufrimiento, está el pecado del individuo, aunque sea inconsciente, sin dejar a los dioses más remedio que castigarlo (SIMIAN-YOFRE, 2005, p. 22).

      b) Epopeya de Gilgamesh (ca. 2000 aC). Según Scaiola, es el texto más famoso de toda la literatura mesopotámica sobre el tema de la muerte, del que no escapa ni el rey con su sabiduría. Todavía según la autora:

      esta [obra] describe el fracaso de toda sabiduría humana frente a la muerte en forma de callejón sin salida, confrontación entre el deseo del hombre y la voluntad de los dioses… En Gilgamesh, la muerte aparece como el límite infranqueable que los dioses impusieron a los vivos. La sabiduría, aunque orientada hacia la vida y el bienestar, decepciona porque hace descubrir al hombre sus límites, que son los límites de la condición mortal. (SCAIOLA, 1997, p. 33)

      Según Ceresko, la obra cuenta la historia de Gilgamesh, un antiguo rey mesopotámico que perdió a un gran amigo, Enkidu, por los celos de una diosa. El rey, muy conmocionado por la muerte de su amigo y por el enfrentamiento con la realidad de su propia mortalidad, se dispone a buscar el secreto de la inmortalidad. Su empresa no tiene como resultado más que la aceptación resignada y pacífica del destino humano. La sabia Siduri, responsable de la bebida a los dioses, sintetiza:

      Gilgamesh, ¿por qué vas por este camino? La vida que buscas, nunca la encontrarás. Cuando los dioses crearon al hombre, impusieron la muerte a la humanidad y tomaron la vida en sus propias manos. Aliméntate, Gilgamesh, diviértete de día y de noche. Prepara, todos los días, alguna ocasión agradable. ¡Día y noche seas alegre y ocioso! Usa ropa hermosa, perfuma tu cabello, baña tu cuerpo. ¡Mira al pequeño que te coge la mano, hace feliz a tu esposa, acurrucada en tu pecho! ¡Porque esta es la tarea de (la humanidad)! (apud CERESKO, 2004, p. 17)

      c) El mito de Adapa. Se refiere al más célebre de los siete sabios legendarios antediluvianos. Al principio se afirma que el dios Ea da al devoto sabiduría, pero no vida eterna. Luego, el mito presenta una reflexión sobre la muerte. En su trama presenta al ser humano que pierde la oportunidad de obtener la inmortalidad o no logra cumplir el deseo de volverse inmortal. Esto sucede con Adapa, a pesar de toda su excepcional sabiduría (SCAIOLA, 1997, p. 34).

      d) Instrucciones [o Preceptos] de Shuruppak. Es una colección de dichos con instrucciones que un tal Shuruppak, sobreviviente de la inundación, le da a su hijo Ziusudra (o Utnapushtu en la versión acadia). El hijo “debe seguir las indicaciones divinas y construir una barca para salvar la vida humana y de todas las especies para que se establezca la paz en la tierra. Estos consejos son similares a los que Dios le dio a Noé en los textos bíblicos (Gn 6-10)” (BRITO, 2011, p. 21).

      De esta sabiduría: “No hagáis daño a la hija de un hombre libre, porque el patio lo sabrá” (ANET, 595).

      La segunda civilización fue Babilonia, que tiene la tradición de sabiduría más rica del Antiguo Cercano Oriente. Destacan:

      e) Un hombre y su dios (ca. 1950-1530 aC). Texto paleobabilónico, en letra cursiva difícil, propia de la época. Consta de 69 líneas con la mención del escriba, Kalbanum. En las primeras 11 líneas, describe la situación de un hombre miserable golpeado por un profundo sufrimiento, aunque es un amigo cercano de su dios (línea 1). Desde el principio, su relación con la deidad está marcada por una oración de lamentación y lágrimas. No entiende la razón de su sufrimiento. No recuerda haber pecado. Entonces la situación cambia y Dios viene a consolar a su fiel. El sufrimiento humano es responsabilidad de la divinidad dentro de un proceso pedagógico divino, una especie de prueba. Al final, prevalece el favor y el consuelo divinos (SIMIAN-YOFRE, 2005, p. 11-15). En esta obra, la persona aparece como un juguete en manos de los dioses y, por tanto, no debe buscar una solución al problema del dolor. La respuesta a la pregunta por el sufrimiento se queda algo corta con respecto a la obra sumeria homónima (SIMIAN-YOFRE, 2005, p. 22).

      f) Poema del Justo Sufriente (Ludlul bêl nêmeqi) (ca. 1500-1200 a. C.). Es el texto religioso más famoso de la literatura mesopotámica sobre el tema del justo que sufre. El poema, introducido con la frase “Quiero alabar [o alabaré] al señor de la sabiduría”, es un himno de alabanza a Marduk, señor de la sabiduría y dios principal del panteón babilónico, por los beneficios recibidos, más precisamente, por haber sido librado de todos los sufrimientos. Es un monólogo, considerado el “Job Babilónico”, tal es su afinidad con esa obra. En este monólogo, descubierto en 1875, el devoto se pregunta por qué Marduk permite que su fiel sufra.

      Un adorador de Marduk, abandonado sin razón por su(s) dios(es) y, azotado por diversas desgracias y enfermedades, lamenta su abandono: “Mi dios me ha olvidado y ha desaparecido. Mi diosa se ha ido y permanece distante, el espíritu benévolo que siempre estuvo a mi lado se ha retirado (I 43-45). (ANET, 596; apud VÍLCHEZ LÍNDEZ, 1999, p. 24).

      Incluso sus familiares y amigos lo abandonaron. Ahora bien, ¿por qué tu dios permite que su fiel adorador sufra tales desgracias? Esto sacude su fe, pues parece que la adoración y la devoción no tienen efecto, ya que la enfermedad no cesa.

      Mi dios no vino a mi rescate, tomándome de la mano; ni mi diosa tuvo compasión de mí poniéndose a mi lado. Mi desgracia estaba esperando y mi parafernalia funeraria lista” (II 112-114) (ANET, 598; apud VÍLCHEZ LÍNDEZ, 1999, p. 24).

      Este devoto describe sus desgracias, ignorando las objeciones de sus oponentes. Está convencido de que su miseria no es el resultado de sus pecados. Como Job, el que sufre está convencido de su inocencia y no puede comprender los designios de los dioses: “¿Quién puede conocer la voluntad de los dioses del cielo? ¿Quién puede entender los planes de los dioses del abismo? ¿Dónde aprendieron los humanos el camino de un dios? (II 36-38) (ANET, 597; apud VÍLCHEZ LÍNDEZ, 1999, p. 24).

      Finalmente, gracias a la intervención de Marduk, que “puede devolver la vida a los que están en el fondo del pozo” (IV 35), recupera sus fuerzas. El creyente se salva de su angustia y se reintegra a la vida religiosa y social. Agradece a su benefactor por el don de la vida y la salud (Cuadro IV) delante de todos. Este es el enfoque del texto. Es notable cómo la divinidad pasa de la indiferencia o la ira a la compasión. Por cierto, Marduk, señor de la sabiduría y dios compasivo, tiene un doble carácter: se enfurece de noche, manda y hace pecar a la gente, pero está dispuesto a perdonar durante el día.

      Por un lado, el poema se aleja de Job al atribuir el sufrimiento más directamente a la ira de la deidad. Por otra parte, deja claro que toda la vida y las disposiciones de Dios son un verdadero misterio para la persona (SCAIOLA, 1997, p. 34,64; VÍLCHEZ LÍNDEZ, 1999, p. 23-24). El ser humano está en sus manos, pero sus designios son insondables.

      g) Teodicea babilónica (ca. 1000 aC). También conocido como Diálogo del que sufre con su amigo o Diálogo sobre la miseria humana. Se trata de la justicia divina en forma de diálogo. El trabajo está asociado con el de Qohelet, incluso llamado el Qohelet babilónico. Es un poema acróstico de 27 estrofas de 11 versos o versos cada una, que comienzan con la misma sílaba. El tema del sufrimiento y el mal se desarrolla como contraste con la justicia de los dioses. Son ellos los responsables de la tendencia humana al mal (LORENZIN, 2013, p. 14).

      Todo el poema es un diálogo entre un hombre que sufre (estrofas impares) y su amigo (estrofas pares). La causa del sufrimiento no es la enfermedad, […] sino la situación social del protagonista: es huérfano (I 11), pobre (VII 75), despreciado (XXIII 253) y perseguido (XXV 275). Aquí tenemos un problema filosófico que es bien conocido en los ambientes sapienciales: por qué el pobre, el desvalido, a pesar de ser justo, piadoso y fiel (VII 71-73), no es protegido por los dioses; por el contrario, es abandonado por ellos a su suerte y a las injusticias de la sociedad. (VÍLCHEZ LÍNDEZ, 1999, p. 24)

      El sufriente sostiene que los dioses lo castigaron sin causa. Tu amigo trata de responder a sus disputas, en la lógica de que el sufrimiento es una consecuencia del pecado. Debe haber ofendido a la divinidad y debe esperar y recibir la retribución con paciencia (SCAIOLA, 1997, p. 34). De este modo, la pregunta conduce al misterio divino. El que sufre se calma, silencia su queja y acepta su destino, como se ve en la última estrofa: “Que el dios que me abandonó me ayude; que la diosa [que me olvidó] sea compasiva; que el pastor [el rey], el sol del pueblo, apaciente (su rebaño) como conviene a un dios” (XXVII) (ANET, 604).

      La obra tiene un gran parecido con Job.

      h) Consejos de sabiduría (entre los siglos XIV-XIII aC). Según Lorenzin, es una colección de proverbios (aproximadamente 150 versos), cuya forma y contenido recuerdan a los bíblicos. Son las admoniciones de un visir a su propio hijo que recuerdan las de los sabios egipcios y hebreos en forma de máximas surgidas de observaciones extraídas de la experiencia o incluso de los principios de la religión. Por ejemplo:

      Evita los chismosos y los perezosos, sé cauteloso en el habla,

      No uses lenguaje inapropiado.

      Muestra bondad a los indigentes y socialmente humildes.

      Practica la religión y experimentarás las ventajas (LORENZIN, 2013, p. 13)

      La tercera civilización fue Asiria. Entre sus obras se encuentran:

      i) Aḥiqar. Aḥiqar fue consejero de Senaquerib (704-681 a. C.) y de su hijo Assaradón (680-669 a. C.). El poema, catalogado también como novela, sentencias o sabiduría de Aḥiqar, tuvo una gran difusión en varios idiomas a lo largo del Creciente Fértil y llegó hasta Elefantina (Alto Egipto, siglo VI o V a.C.). De los archivos judíos de Elefantina nos ha llegado la versión aramea. Aḥiqar aparece en Tob 1,21-22; 2,10; 11,18; 14,10. La sabiduría de Aḥiqar narra las hazañas de este consejero real, “excluido por una calumnia de un tal Nadan. Condenado a muerte, se salva gracias a un subterfugio. Su historia enmarca los consejos, prohibiciones y exhortaciones que le da a su nieto. Sobre todo, en la obra se encuentran enseñanzas sobre la discreción, la modestia, la moderación y la rectitud. Se recomienda severidad y educación a los niños, utilizando también la vara para preservarlos de mal” (LORENZIN, 2013, p. 13). Entre sus frases, las instrucciones referentes a la “boca”:

      La palabra es como un pájaro: una vez suelta, nadie puede (capturarla). (ANET, 428)

      Un buen cántaro guarda la palabra en su interior, pero un cántaro roto la deja escapar.. (ANET, 429)

      Otras obras mesopotámicas:

      j) Diálogo entre un amo pesimista y su sirviente (ca. 1000 aC).[6] Según Lorenzin:

      Es una conversación entre el amo y su esclavo. Toda actividad propuesta con entusiasmo por el patrón es acogida por el esclavo con el mismo entusiasmo. Cuando el jefe declara que quiere seguir el plan opuesto, el esclavo también invierte su posición, enumerando las ventajas de la nueva posición y las desventajas del plan original. De ello se deduce que nada es absoluto, que nada vale la pena hacer, que la única respuesta es la muerte. La diferencia entre esta obra y el Qohelet radica, sobre todo, en la fe del autor. (2013, p. 14)

      Vílchez Líndez sistematiza la estructura del poema y presenta un comentario más:

      La estructura se mantiene rigurosamente en las once estrofas de las doce conservadas en todo o en parte:

      1. Orden del amo: ‘Siervo, obedéceme’.

      2. Respuesta del criado: ‘Sí, mi señor, sí’.

      3. Contenido del pedido: ‘Tráeme el carro […]’, etc.

      4. Respuesta afirmativa del siervo, justificando el deseo de su amo.

      5. El maestro cambia de opinión.

      6. Respuesta del criado justificando la nueva actitud del amo.

      A primera vista, sorprende la inconstancia del maestro, que expresa un deseo y luego cambia radicalmente de opinión. Además, es impresionante la facilidad con que un siervo se adapta a la voluntad de su amo: ¿servilismo? De hecho, el sirviente es el único que razona, porque su personalidad se sitúa en un nivel superior al de su amo. Así aparece la intención satírica del autor de este animado diálogo, magistralmente confirmada en la última estrofa. El amo pregunta al sirviente: ‘¿Qué es bueno?’; a lo que el sirviente responde con cinismo: ‘Arráncar mi cuello, tu cuello y échalos al río. Esto es (lo) bueno’. No parece una buena respuesta al amo; de hecho, la solución es muy cariñosa. Por eso el amo cambia de opinión: ‘No, sirviente, te mataré y te enviaré adelante’. La fina ironía del sirviente pone fin a esta sátira entre el amo rico, pero hastiado de la vida, y el esclavo, privado de todo excepto del trabajo duro y la sabiduría, su única riqueza: ‘Entonces, ¿querría mi señor vivir todavía tres días más que yo?’

      El diálogo, como la vida real, nos enseña que la riqueza y la sabiduría, la pobreza y la necesidad, no siempre van unidas, ni se pueden identificar. El libro de Proverbios, a su manera, nos dice lo mismo: ‘¿De qué le sirve al necio tener dinero para comprar sabiduría si le falta sentido común?’ (Pr 17,16). (1999, p. 25-26)

      k) Controversias y fábulas. En el mundo mesopotámico también hubo muchas fábulas, pero solo quedan fragmentos de ellas. Como es típico de estos géneros, las plantas y los animales discuten entre sí. Detrás de la aparente fantasía literaria, ofrecen sabias reflexiones sobre la vida, fuertes sátiras de la realidad social y critican las normas por las que se rige la vida en sociedad (VÍLCHEZ LÍNDEZ, 1999, p. 26).

      l) Dichos populares, consejos y proverbios (acadios). Siempre han estado presentes en todas las culturas y épocas, también en Mesopotamia. A modo de ilustración:

      Si yo no fui, ¿quién podría haber ido a mi lado? (ANET, 425);

      Cuando las hormigas son aplastadas, muerden la mano que las lastima;

      En boca cerrada no entra mosquito (VÍLCHEZ LÍNDEZ, 1999, p. 26).

      Conclusión

      El sabio del antiguo Oriente Próximo y, con él, el sabio bíblico, no aprendieron a nadar por correspondencia, ni vivieron en torres de márfil. La confrontación de la inteligencia innata, común al homo sapiens, con el mundo cotidiano, con la casa común y con los demás, produjo maravillas. El ser humano ha aprendido a vivir y a convivir, a hacer y a pensar. Ha pensado desde el descubrimiento del fuego, ha escudriñado los enigmas más profundos de la vida. Poco a poco, del antropocentrismo va emergiendo un teocentrismo y la sabiduría humana va manifestando lo divino incluso antes que Israel. La capacidad humana de producir arte (ars), la necesidad de “almacenar” el conocimiento para no olvidar, y el deseo de transmitir los descubrimientos a las generaciones futuras o incluso de defenderse, hizo que el sabio verbalizara, “comprimiera” y codificara su saber en escritura. Así, la sabiduría se convirtió en un libro. Este camino de los pueblos del Antiguo Oriente, la Biblia lo continuó e innovó. En este nivel debe entenderse la Sabiduría en Israel o la Sabiduría Bíblica de la entrada dedicada a ella.

      Fr. Rivaldave Paz Torquato, O. Carm. Facultad Jesuita de Filosofía y Teología (FAJE). Texto original en portugués. Enviado: 31/07/2022. Aprobado: 15/10/2022. Publicado: 30/12/2022.

      Referencias

       BRITO, J. R. Faça de sua casa um lugar de encontro de sábios: teologia sapiencial (TB – 7). São Paulo: Paulinas, 2011.

      CAZELLES, H. A história política de Israel. Desde as origens até Alexandre Magno. São Paulo: Paulus, 1986.

      CERESKO, A. R. A Sabedoria no Antigo Testamento. Espiritualidade libertadora. São Paulo: Paulus, 2004.

      CONFERÊNCIA DOS RELIGIOSOS DO BRASIL. Sabedoria e poesia do povo de Deus. São Paulo: Loyola, 1993. (Tua Palavra é vida, 4).

      GILBERT, M.; ALETTI, J.-N. A Sabedoria e Jesus Cristo (CB – 32). São Paulo: Paulinas, 1985.

      LORENZIN, T. Esperti in umanità. Introduzione ai libri sapienziali e poetici (Graphé 4). Turim: Elledici, 2013.

      NICACCI, A. A casa da sabedoria. Vozes e rostos da sabedoria bíblica. São Paulo: Paulinas,1997.

      PRITCHARD, J. B. La Sabiduria del Antiguo Oriente. Barcelona: Garriga, 1966.

      PRITCHARD, J. B. (ed.) Ancient Near Eastern Texts: relating to the Old Testament. Princeton: Princeton University Press, 31974. [ANET]

      RAHLFS, A. (ed.). Septuaginta. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1979.

      SCAIOLA, D. La Sapienza in Israele e nel Vicino Oriente Antico. In: BONORA, A.; PRIOTTI, M. et al. Libri Sapienziali e altri scritti. Turim: Elle Di Ci, 1997 (Logos CSB 4), p. 29-42.

      SIMIAN-YOFRE, H. Sofferenza dell’uomo e silenzio di Dio nell’Antico Testamento e nella letteratura del Vicino Oriente Antico (SB 2). Roma: Città Nuova, 2005.

      VÍLCHEZ LÍNDEZ, J. Historia de la investigacion sobre la literatura sapiencial. In: ALONSO SCHÖKEL, L.; VÍLCHEZ LÍNDEZ, J. Proverbios. Madrid: Cristiandad, 1984, p. 39-82.

      VÍLCHEZ LÍNDEZ, J. Sabedoria e sábios em Israel (BL – 25). São Paulo: Loyola, 1999.

      VON RAD, G. Teología del Antiguo Testamento I (BEB 11). Salamanca: Sígueme, 82000.

      [1] Para el Eclesiástico, el sabio es el phrónimos (21,21.24.25), es decir, el disciplinado, porque la disciplina es ornato de oro (v. 21), el prudente, que pone en la balanza lo que habla (v. 25 ). Por último, está lleno de sentido común, virtud práctica que le permite deliberar y elegir bien; es polúpeiros (v. 22), es decir, una persona experimentada, culta y modesta, madurada en el empuje de la vida; es pepaideuménos (v. 23), que significa bien educada, sabe adaptarse y orientarse correctamente en las diversas circunstancias de la vida.

      [2] Como David (2Sm 14,20), Salomón (1Re 5,9-14,21), los consejeros del Faraón son llamados sabios (ḥāḵām) (Gen 41,8.33.39; Ex 7,11); el rey de Asiria dice que es sabio (Is 10,12-13).

      [3] Por ejemplos actuales: “La gota de agua perfora la roca, no por su fuerza sino por su constancia”; “las cucarachas listas no cruzan los gallineros”; “Los que duermen en el suelo no se caen de sus camas.” entre muchos otros. Los proverbios son flechas que señalan la dirección de una vida correcta.

      [4] Debe recordarse que el orden cósmico (visto antes) procede de la divinidad y está asegurado por ella. “El mundo entero está impregnado de la presencia de Dios, responsable de la realidad con la que los sabios entran en contacto. Cuando experimenta el mundo, Israel experimenta a Dios” (LORENZIN, 2013, p. 208).

      [5] Conforme GILBERT – ALETTI: “El largo y oscuro esfuerzo de los hombres por encontrar el camino recto de su existencia puede ser también un lugar donde resuene la palabra divina. La fe muestra al sabio la presencia activa de Dios en el curso ordinario de la vida” (GILBERT; ALETTI, 1985, p. 5).

      [6] También conocida como Diálogo pesimista entre el señor y el siervo o también, simplemente, Diálogo del pesimismo. El texto puede ser leído, con el título reflexiones acadias sobre la vida, em: PRITCHARD, 1966, p. 296-298.

      Mistica laica y seglar

      Sumario

      1 Tensión entre mística y modernidad

      2 Principios de la secularización

      3 Literatura y cultura moderna

      4 Etapas de la secularización

      Referencias

      1 Tensión entre mística y modernidad

      Se sabe que existe una mística cristiana. Sus grandes frutos se sitúan especialmente entre los siglos XI y XVII, es decir, que corresponde a los periodos de la historiografía de lengua inglesa de la High Middle Ages (XI al XIII) y Late Middle Ages (XIII al XV), añadiéndose el Renacimiento y el Barroco, pero es claro que tiene sus fundamentos en la antigüedad, su desarrollo en la primera mística medieval (V a XI) y su ápice en el monaquismo del siglo XII, como periodiza Bernard Mcginn (1996, p. ix-xvi). Es posible discordar plenamente con periodizaciones como esta y con la noción misma de mística. Hay quienes justifican el uso del término, hay quienes lo critican. Hubo una polémica alemana en la década de 1980 en la que Kurt Flash negaba que Eckhart fuese un místico (FLASCH, 1988, p. 94-110) y Alois Haas consideraba inevitable tal caracterización (ver el artículo de Haas, “Was ist Mystik?” en RUH, 1986, pp. 319-342, y la discusión que sigue en RUH, 1986, pp. 342-346). Alain de Libera está de acuerdo con Flasch (LIBERA, 1999, p. 278, 288-290), pero la mayoría de los especialistas, como Bernard McGinn, no vieron ningún sentido en la provocación, que solo condujo a una renovación de los estudios y problematizaciones en torno del concepto (MCGINN, 2005, p. 108, 527). Detrás de esta polémica, hay un claro intento de los historiadores de la filosofía medieval (como es el caso de Flasch y Libera) de legitimar la autoridad de Eckhart como filósofo (o teólogo-filósofo) negándolo como místico, como si no fuera posible que existan las dos cosas en el mismo autor, en la misma obra, en el mismo pensamiento. En el fondo, la lucha secular entre las facultades de filosofía y teología encontró otro episodio en esta querella por la herencia del pensador renano.

      Si, incluso, a uno de los autores centrales de la mística cristiana medieval se le niega, por algunos, pertenecer a este espacio contradictorio del saber, ¿qué se puede decir, entonces, de la vaga hipótesis de la existencia de una mística en la modernidad? La polémica en torno a este término  tan amado y odiado no es nueva: comienza con el surgimiento de su substantivación en el siglo XVII. Sirvió ya para demarcar el lugar de una espiritualidad artificialmente separada de otras áreas de la teología, es decir, convenía al aislamiento y distanciamiento de la experiencia religiosa (CERTEAU, 2015, p. 168-170). A medida que se desarrollaba la modernidad, llamar místico a algo se convirtió en sinónimo de antiguo, medieval, extremadamente piadoso. En el momento de la aparición de los textos de relatos de visiones, experiencias inefables y tratados de guía del alma, la mística era vista como algo extraño, extravagante, diferente y sospechoso. Con el paso del tiempo, el término adquiere, para los progresistas a los que éste les disgusta, un signo de vejez, conservadurismo, arcaísmo.

      Es en este punto que identificamos las curiosas peculiaridades del concepto, que están directamente ligadas al destino de la noción misma de “Occidente”: uno de los más grandes teóricos de la poesía del siglo XVII, Nicolas Boileau (1636-1711), afirma: “Los místicos son modernos; no se veían en la antigüedad” (LESCURE, 1863, p. 23; CERTEAU, 2015, p. 173), lo que significa, para su juicio de valor, algo así como desarraigados, perdidos, despreciables. En ese momento, llamar a alguien moderno era, para la mayoría de los conservadores, sinónimo de insulto.

      Hay dos rasgos muy curiosos en la historia del término: primero, aquellos caracterizados como místicos fueron, en su época, vistos como demasiado atrevidos, extraños, idiosincrásicos (siglos XII al XVI); más tarde, la aparición de esa palabra estuvo vinculada a la primera caracterización de los temperamentos modernos. ¿Es necesario insistir en que su sustantivación, significando no sólo individuos contemplativos, santos, sino personalidades apasionadas que buscan el contacto directo con Dios, es moderna? Consiguientemente, tanto el objeto como el origen del término son vistos, al menos hasta el siglo XVIII, como modernos. El interés por los místicos como pertenecientes a una nostálgica Edad Media es invención del romanticismo, y el rechazo hacia  ellos como supersticiosos y anticuados es introducido por el racionalismo y la ilustración y consagrado por el positivismo.

      El adjetivo, desde el siglo XVI, crea una tensión entre querer saber y querer esconder y moviliza “una erótica en el campo del conocimiento” (CERTEAU, 2015, p. 150-151), según Certeau: ese adjetivo parecía significar el lado oculto y espiritual de algo (CERTEAU, 2015, p. 148-165). Denotaba ya un valor sobrenatural para cualquier cosa. Por este sentido fue, desde el principio, exagerado por unos y ridiculizado por otros. A lo largo de la modernidad, la doble coexistencia de atracción y desprestigio no hizo sino aumentar. Los defensores del valor existencial de la experiencia chocaron con el hastío del enfoque pragmático y realista o con los psicólogos positivistas que patologizaron la experiencia mística de las mujeres.

      La caracterización de “Occidente” como lugar de desarrollo de la racionalidad científica y económica, como ejecución del dominio técnico de la naturaleza, colocó a la “mística” en el espacio opuesto a todo éxito objetivo, por lo tanto, como antioccidental. Quien se inquieta con la mística la ve como nada más que algo inútil, una molestia; quien se siente atraído por ella encuentra, en su nido de fantasía y entusiasmo, un cálido refugio. De ahí sus frecuentes acercamientos a la poesía. Octavio Paz (1982) afirma: “se construyó el edificio de ‘ideas claras y distintas’ que, si bien hizo posible la historia de Occidente, también condenó a una especie de ilegalidad todo intento de aprehender el ser por vías distintas a las de estos principios”. No hay validez en lo que no es legible, consecuente y útil. ¿Qué sucede con las prácticas que no se ajustan a este modelo cartesiano? “Mística y poesía vivieron así una vida subsidiaria, clandestina y disminuida” (PAZ, 1982, p. 123). No son pocos los críticos que caracterizan la poesía o más específicamente la lírica como una especie de contemplación natural (STAIGER, 1975, p. 60-61). Aun así, la irritación positivista contra los místicos no dejó de influir en gran parte de la propia crítica literaria. Autores que se acercan demasiado a características detectadas como místicas suelen ser vistos como anticuados, atrasados, desfasados, devotos e incluso obedientes a dogmas, por tanto, menores, porque lo que califica, por excelencia, a un escritor moderno es la ruptura con la autoridad y la osadía formal. (que tiende a confundirse con comportamiento atrevido). Sin embargo, hay que recordar que, en sus inicios, el místico se percibía como extraño, extravagante e incluso moderno. Si examinaran la historia del término y de las obras a las que él se refiere, encontrarían en los místicos exactamente lo que buscan: osadía formal y de comportamiento, la mayor prueba es que innovaron la escritura literaria de su tiempo con nuevos modos. de decir.  Tales críticos no se dan cuenta de la ignorancia que poseen de esta historia y de cómo son víctimas de un típico sentido común académico, instaurado por el positivismo, que se ha repetido y reproducido hasta el día de hoy.

      Así, hay una tensión permanente en la modernidad con el concepto de mística. Hay una modernización occidental triunfante, burguesa, y hay una modernidad crítica, antiburguesa, intelectual y literaria que a veces adopta el término afirmativamente para defender su potencial crítico frente a la racionalidad, y otras veces no encuentra en él más que dogmatismo, credulidad y superstición. De hecho, la mayoría de los usuarios de la palabra no conocen ni su teoría, ni su crítica, ni su historia, y mucho menos los autores y obras de esa historia, porque, en realidad, por un lado, la mística no se reduce a sus grandes escritores. y pensadores (así como la poesía no puede reducirse a la obra de los más grandes poetas), pero no saber nada de ninguno de ellos -Teresa de Ávila, Juan de la Cruz y Silesius- es desconocer no sólo las mejores expresiones del fenómeno, sino cualquier expresión cualitativa de él. Alguien que habla de filosofía sin haber leído a un filósofo, o de poesía sin haber leído a un poeta, por ejemplo, suele ser motivo de burla en los espacios profesionales del conocimiento, sin embargo, no es así cuando el objeto en cuestión es la mística: la mejor prueba de competencia en la materia es desdeñarla. Por lo tanto, existe un desajuste entre el fenómeno y sus expresiones, entre el vago conocimiento del concepto y los sistemas filosóficos, teológicos y espirituales que lo moldearon a lo largo de la historia. Como la mística no es un área del saber, como la filosofía y la teología, nadie tiene la obligación de conocerla  y pocos manifiestan interés en saber algo de sus distintas expresiones o en detenerse un tiempo en las trampas conceptuales de su problemática, es decir, precaverse un poco y conocer su teoría (interdisciplinar por naturaleza), que existe desde hace mucho tiempo y cuya bibliografía es numerosa. En resumen: la palabra suscita odios y pasiones; sin embargo, en el ámbito académico es rechazada por una mayoría que ignora los estudios sobre ella, apreciada por algunos entusiastas que tampoco tienen mucha idea de su historia y examinada por una minoría experta, generalmente estudiosos de la Edad Media y de cuestiones de espiritualidad en general.

      Es inevitable ver el rechazo y la fascinación por la mística en la modernidad; más difícil es examinar sus contradicciones. Una vez establecido el núcleo nervioso de los afectos que suscitan la palabra y el fenómeno, ahora es necesario comprender la larga trayectoria histórica no de la mística en sí (del siglo XII al XVI), sino de lo que diferentes historiadores y teóricos denominaron mística de la modernidad, neomisticismo o mística secularizada, siendo este último concepto de mi preferencia, utilizado por Theodor Adorno sobre el compositor Arnold Schönberg (ADORNO, 1978, p. 460; ADORNO, 2018, p. 328).

      2 Principios de la secularización

      Si reflexionamos sobre la llamada mística vernácula, es decir, aquella que se escribió en las lenguas nacientes de Europa, llamadas vulgares, es posible observar cómo se inició el propio conflicto de los místicos con la Iglesia a partir de la interesante tesis de Niklaus Largier. Los místicos en general (como Eckhart) y las místicas beguinas en particular aspiraban a llegar a un público más amplio escribiendo en los idiomas que se hablaban. Fuera de un vocabulario latino ya bien codificado, el vínculo que estos autores tenían con lo divino, en el plano espiritual, irónicamente se daba en un plano más concreto como contacto directo con el lector común (que ni siquiera necesitaba ser alfabetizado, ya que el libro podía ser leído por una persona y escuchado por muchas).

      Desde un punto de vista mediático, la comunicación vernácula es la gran prueba de que incluso el florecimiento de la mística, hoy vista como tradicional, ya estaba secularizada, en el sentido estricto de que las experiencias religiosas abandonaron el espacio monástico para permear el naciente mundo cosmopolita. Tal deseo de comunicarse con un público inexplorado fue motivo de desconfianza y temor por parte de las autoridades eclesiásticas: el nuevo medio necesitaba ser controlado. Se quemaron libros de místicas, como los de Marguerite Porete. Los críticos autorizados señalaron que la teología salvaje de las beguinas no conocía el tema que abordaban e idearon formas de “discernimiento de los espíritus” para corregir las predicaciones desviadas. Estos críticos de la mística vernácula (como Jean Gerson, 1363-1429) fueron algunos de los primeros antimísticos de la historia, y no hay forma de entender la historia de la mística sin ellos. (ANDERSON, 2011, p. 13-16, 81-89).

      Cuando tuvo lugar la Reforma, la impresión de folletos (Flugschriften) hizo posible el advenimiento de una gran revolución. Martín Lutero (1483-1546) se benefició de la difusión mediática de sus ideas. Sin embargo, cuando observó que los místicos entusiastas se aprovechaban de los mismos medios para difundir su libre interpretación de las Escrituras, decidió controlarlos. El argumento de Lutero lo llevó a reemplazar la práctica medieval de discernimiento de espíritus por la institucionalización de un orden secular (weltliche oberkeit; LUTHER, 2016, p. 211) absolutamente disociado del  religioso, en el que la expresión de la fe debe ser regularizada por el correcto uso de la ley y la razón. En este sentido, la exégesis inspirada de los “entusiastas” pasó a ser cohibida (LUTHER, 2016, p. 74-76, 169, 282). El orden secular se convirtió en una institución pedagógica que controla las formas en que se puede leer la Biblia. Tenía un carácter normativo que limitaba la comunicación religiosa (LARGIER, 2009, p. 38-42).

      La forma en que los nuevos entusiastas sortearon esta prohibición fue abandonando paulatinamente el dominio religioso y escudriñando otro: la naturaleza, empleando los mismos “tropos místicos” en un discurso poético. Este fue básicamente el desplazamiento de Silesio (1624-1677). Si la escritura de las beguinas utilizó un paradigma visionario en un ambiente litúrgico, los pensadores y poetas de los siglos XVI y XVII buscaron relaciones entre el mundo material y el mundo espiritual. Ahora bien, la experiencia del mundo es el escenario de los tropos místicos: unidad, amor, sufrimiento, delicadeza. A partir del conocimiento de las tradiciones alquímicas, la imaginación pasa a primer plano produciendo toda una cosmopoiesis (MAZZOTTA, 2001, p. 74) y enseñando una pedagogía de la percepción (LARGIER, 2009, p. 48-52).

      En este dominio de la percepción de la naturaleza es donde un libro seminal del romanticismo, Los discípulos de Sais (escrito entre 1798-1799, publicado póstumamente en 1802), de Novalis (1772-1801), quiere intervenir. La filosofía hermética renacentista construyó babeles de sistemas analógicos, demostrando minuciosamente que la semejanza entre las cosas (entre plantas, piedras, animales, dioses, planetas) segregaba una semejanza más fundamental con regiones espirituales. La gran tarea fue encontrar la firma de las cosas, es decir, la marca divina esencial que da sentido a los objetos. Novalis, gran lector de Paracelso (1493-1541) y Jakob Böhme (1575-1624), busca en este mágico mundo de las semejanzas el reflejo narcisista de un yo infinito, romántico, y quiere llegar a una síntesis entre el saber medieval, hermético e ilustrado.  El poeta y filósofo erudito alemán producirá tal síntesis (NOVALIS, 1991, p. 39-44; NOVALIS, 1989, p. 39; BÖHME, 1988, p. 25).

      Difícilmente se pueden comprender los anhelos espirituales del romanticismo, es decir, de la temprana literatura moderna, sin examinar su conexión intrínseca con el hermetismo. Si Novalis desarrolló tal nexo umbilical con Paracelso y Böhme, William Blake (1757-1827), Honoré de Balzac (1799-1850) y Charles Baudelaire (1821-1867) prefirieron a otro autor. No es exagerado decir que no hay un pensador más influyente en la literatura imaginativa del siglo XIX que el controvertido “ilustrado” llamado Emmanuel Swedenborg (1688-1772). Su teoría de las correspondencias no es original: de hecho, no es más que una versión, en el s. XVIII, de la doctrina renacentista de la semejanza. Sin embargo, fue a través de su lectura como la mayoría de los nombres más importantes de la naciente poesía moderna la conocieron y, especialmente gracias a él,  quedaron fascinados por ella y la incorporaron a su poética. Hay un punto intrincado a observar aquí: así como muchas personas se refieren a la mística sin conocerla, especialmente cuando proponen o rechazan una relación entre mística y modernidad, en realidad no es fácil  localizar con precisión ni cuál es la influencia de fondo que una corriente literaria moderna está movilizando, ni qué tipo de relación de transmisión ya existía dentro de lo que se está periodizando en algún momento de la mística anterior a la modernidad y que va a ser relevante para ella.

      Los tropos místicos abandonaron el contexto de una mística vernácula -pero aún vinculada directamente a la tradición, ya sea siguiendo el modelo litúrgico, o el modelo ascensional del tratado- para adentrarse en una cosmología de la semejanza. Cuando tal esquematización del universo llega al siglo XVIII, con Swedenborg, él crea su propio ordo rerum cretarum (orden de las cosas creadas – por ejemplo, la forma del cielo descrita por él obedece al cuerpo humano) dentro de este modelo, sin disputar una posible reforma de la Iglesia, por el contrario, es completamente ridiculizado por la teología y la academia, pero se convierte en un best seller, circulando incluso entre la aristocracia de la época (SWEDENBORG, 2008, p. 9-24). Esto parece recordar la literatura de autoayuda actual, pero es un caso muy diferente, ya que es considerado por los mejores autores del siglo XIX y XX como un gran escritor (ver la enorme admiración que Jorge Luis Borges [1899-1986] tenía por él, por ejemplo, BORGES, 1985, p. 185). Swedenborg inspira la poética de muchos poetas y, en el caso de Baudelaire, especialmente, el poema “Correspondances” se convertirá en la punta de lanza de todo el simbolismo.

      Por lo tanto, existe una compleja red de transmisiones de motivos nupciales, analógicos y apofáticos que cambian de naturaleza y función en cada momento histórico, pero, al mismo tiempo, delinean grandes canales simbólicos que atraviesan los siglos. Tanto un enfoque filológico ya superado como una historiografía muy restringida no serían capaces de examinar la maraña densa, móvil, variable, pero que contiene también ciertas invariantes (de ahí que Claudio Willer, uno de los mayores investigadores en la materia, abogue por el examen de las continuidades; WILLER, 2010, págs. 30-32). No es fácil comprender ni escudriñar conexiones tan íntimas entre neoplatonismo, misticismo, hermetismo, romanticismo, simbolismo y modernismo; por el contrario, siempre es más sencillo negarlas como si no existieran. El caso es que tales nexos son patentes, flagrantes, al mismo tiempo que son mucho menos examinados de lo que deberían, porque, precisamente, como la mística y, más aún, el esoterismo está marcados por el rechazo académico, pocas personas están dispuestas a examinarlos.  Existe tanto la dejadez, demasiado común, de ignorarlos y menospreciarlos, como el peligro, también, de proyectar en ellos una tradición perenne que contiene la verdad eterna y que está detrás de los grandes genios de la humanidad, lo cual es igualmente falso. Por lo tanto, el buen investigador debe ser un equilibrista frente a los dos lados del abismo: ni subestimar ni sobreestimar, sin embargo, debe dejar claro que, si no se puede sobrestimar ontológicamente como lo hacen los perennialistas, es necesario señalar el la fuerza filosófica y estética real que tal pensamiento analógico tuvo en diferentes épocas, sobre todo en los tiempos seculares, modernos; por lo tanto, es necesario darle el valor que se merece, es decir, estimarla.

      3 Literatura y cultura moderna

      En este caso, el movimiento literario que de hecho incorporó, en toda su poética, la teoría de las correspondencias fue el simbolismo. La práctica de la musicalidad verbal, las sutilezas, las sugestiones, la sinestesia, el anhelo del ambiente vivido en la hiperestesia, es decir, una búsqueda espiritual hecha de la pompa dionisíaca de los estímulos sensoriales armónicos y melódicos  encontró en el simbolismo un punto de convergencia. La alternancia baudeleriana entre  spleen  e ideal, o la mallarmiana entre voluntad de nada y  voluntad de eternidad (MICHAUD, 1961, p. 190) se traducía entre la primera fase decadentista, pesimista, y la segunda propiamente espiritualista, positiva. En el período del nacimiento del simbolismo propiamente dicho es cuando la mística de la modernidad toma, de hecho, conciencia de sí misma: “el momento privilegiado donde se descubren todas las relaciones, donde todas las cosas se revelan como solidarias, como unidas en un universo infinito que las ordena”. .” (MICHAUD, 1961, p. 412 – la traducción de todos los textos citados de otros idiomas es mía). Tal comprensión se expone precisamente en el libro manifiesto de Charles Morice, La littérature de Tout à l’heure:

      Hasta que la ciencia se haya decidido a llegar al Misticismo (Mysticisme), las intuiciones del Sueño superan a la Ciencia y celebran esta alianza aún futura y ya definitiva del Sentido religioso y el Sentido científico en una fiesta estética donde se exalta el deseo muy humano de una reunión de todos los poderes humanos, volviendo a la simplicidad original. (MORICE, 1889, p. 287)

      Es la poesía la que logra una síntesis de las contradicciones entre ciencia y religión, al reconocer en los sueños y en la mística la superioridad de la intuición frente a la objetividad y la razón. Tal intuición analógica revela la solidaridad fundamental de todas las cosas. “El arte es la reconstrucción de lo real según las correspondencias secretas y la armonía soberana de la creación” (MICHAUD, 1961, p. 418).

      Así como Henri Bremond detectó, entre los siglos XVI y XVII, un auge del interés por  guías de espiritualidad mística (una vague ou invasión mystique, BREMOND, 1923, p. 582-584), en el período de explosión del simbolismo, tras los preliminares decadentistas, se inicia lo que Jules Sageret llamó la “ola mística” (vague mystique, SAGERET, 1920, p. 7-21), es decir, a la generación de nostálgicos le siguió la generación de los buscadores del ideal, siendo que éstos quedaron especialmente fascinados por el esoterismo (MICHAUD, 1961, p. 466). La magia invadió los salones, aparecieron varias revistas ocultistas y simbolistas y los poetas reconocieron a un hermano en Joséphin Péladan, poeta y filósofo esotérico que organizó las famosas exposiciones de los Salones de la Rosa-Cruz, entre 1892 y 1897 (MERCIER, 1969; sobre los salones , ver p.188 y 200; sobre los encuentros que Catulle Mendès y su hija Judith organizaron entre el mago Eliphas Levi y el medio literario em 1873, especialmente presentándolo a Víctor Hugo, ver p. 70; sobre la influencia de Josephin Peladan en el medio poético y artístico, ver p. 222-225). Lo que ellos hicieron en este sentido en Francia tuvo lugar poco tiempo después, en el compromiso masónico y pitagórico de uno de los más grandes poetas brasileños de fin de siglo: Darío Vellozo, editor de varias revistas simbolistas y esotéricas entre las décadas de 1890 y 1900. (BEGA, 2013, p. 213-251).

      Tales movimientos eran anticlericales y buscaban una especie de renovación del gnosticismo. La trayectoria de Joris-Karl Huysmans (1848-1907) sigue precisamente el destino de una parte importante del movimiento: comenzó como satanista (decadentista), pasó al ocultismo y acabó convirtiéndose al catolicismo (MICHAUD, 1961, p. 266, 469-470). Charles Péguy (1873-1914) también se inició en el anticlericalismo y luego se convirtió (MICHAUD, 1961, p. 584-588). Parte de la fase final del simbolismo fue, sorprendentemente, católica, especialmente en el caso de Paul Claudel (1868-1955) (MICHAUD, 1961, p. 595-629). En Brasil, no hubo conversión de la primera (de la década de 1890) y de la segunda generación simbolista (de la década de 1900), casi todas anticlericales, pero la generación de la revista Festa, de Tasso da Silveira y Andrade Muricy, se hizo católica (BEGA, 2013, págs. 212 y 478). Se sabe que en el fin de siècle hubo un fuerte movimiento republicano en defensa del Estado laico, que alcanzó a buena parte de los intelectuales. Luego hubo una reacción católica de recuperar estos espacios culturales. En Brasil, se tradujo en la militancia de Jackson de Figueiredo (1891-1928), fundador del Centro Dom Vital, y la conversión que logró producir en Alceu Amoroso Lima (1893-1983), quien se convirtió en su presidente (DIAS, 1996, págs. 69-85). En Brasil, la renovación literaria católica estuvo en el apogeo del modernismo y produjo dos de los más grandes poetas nacionales: Murilo Mendes (1901-1975) y Jorge de Lima (1893-1953). Cecilia Meireles (1901-1964) estuvo al lado de la Escola Nova y alejada del activismo de los núcleos católicos, pero sus lecturas de la mística cristiana, especialmente de Juan de la Cruz y Teresa de Ávila, fueron intensas. (ver GOUVÊA, 2004, p. 124 e GOUVÊA, 2008, p. 48-49).

      Por otro lado, la inclinación anticlerical gnóstica, ocultista u orientalista tuvo sus desdoblamientos en varios movimientos de vanguardia en general y en el surrealismo en particular en los años 1920 a 1950. Su tendencia libertaria (bien anarquista, bien socialista, ver LOWY, 2002, p.31-36) se desplegó en los beats(ritmos) americanos en los años 1950 a 1970. Ellos fueron los precursores. del modo de vida contracultural, hippie de las décadas de 1960 y 1970, que lograron la hazaña de llegar a toda la juventud de la época y producir la gran revolución comportamental del siglo XX (WILLER, 2014, p. 165, 189-190). Los experimentos con ácido de Timothy Leary (1920-1996) y Ram Dass (1931-2020) no existirían sin leer el Libro tibetano de los muertos y buscar gurús indios.

      Se puede decir que si el romanticismo fue el comienzo de la modernidad analógica, el simbolismo fue la primera gran ola, las vanguardias y los beats fueron el desarrollo y la contracultura fue el ápice político e histórico, en el que las lecturas de la filosofía perenne de Aldous Huxley (1894-1963), de Timothy Leary, Ram Dass y Alan Watts (1915-1973) condujeron al best seller de Carlos Castaneda (1925-1998), al rock psicodélico y progresivo. La moda New Age de las décadas de 1980 y 1990, si bien fue un gran éxito lucrativo, incluso impulsando la lectura de clásicos esotéricos y hasta místicos, ya puede considerarse un signo de decadencia.

      4 Etapas de la secularización

      Resumiendo el camino recorrido hasta aquí es posible, finalmente, reflexionar sobre las etapas históricas del proceso de secularización de la mística. Primero, la novedad de la escritura vernácula mística se expone al lector común y molesta a las autoridades, quienes la prohíben y corrigen estipulando la rectificación del discernimiento de espíritus. En segundo lugar, Lutero establece la conquista del espacio secular vernáculo y público de lectura, proponiendo un control racional y autorizado de los entusiastas espirituales incluso dentro de él, por lo que la expresión de la espiritualidad encuentra un rechazo dentro de la institucionalización del espacio público. En tercer lugar, la filosofía y la poesía renacentistas se alejan de las disputas doctrinales teológicas, utilizan tropos místicos en la observación de la naturaleza y proponen sistemas cosmopoéticos de lectura del mundo que buscan la transformación de la percepción.

      En cuarto lugar, el prerromanticismo alemán de Novalis emplea la poética analógica renacentista de la firma de las cosas, desplazando la propia magia natural al ámbito del lenguaje, que, desde allí, sirve para expresar un yo infinito reflejado narcisísticamente en el universo. La secularización llega al corazón de la subjetividad moderna. Quinto, el simbolismo adquiere una conciencia privilegiada del uso de la analogía en el lenguaje literario ahora sin el centro dominante del yo. La centralidad del símbolo busca un ambiente vago y sugerente de relaciones sinestésicas y oníricas dentro de un lenguaje poético imantado de musicalidad armónica y melódica. La teoría de las correspondencias de Swedenborg se convierte en la base de una poética literaria que crea una búsqueda espiritual en el centro de la técnica formal poética y de una vida plenamente artística. La secularización llega al corazón del lenguaje poético analógico. En este punto se hace explícito un conflicto entre los ocultistas anticlericales y los conservadores católicos, de modo que sólo en una generación posterior el simbolismo se habrá convertido también en una poética apropiada para la reacción de un movimiento modernista intelectual católico. La secularización de la mística se vuelve parte, tanto de una asociación entre el medio literario y el ocultismo, como de una reacción renovadora católica modernista. Ella se vuelve aún más consciente de su vocación antiburguesa, incluso entre los católicos, pero especialmente entre los anticlericales.

      Sexto, el surrealismo explota el sentido verbal y explora las relaciones analógicas más distantes y disonantes entre las cosas, provocando la revolución del antiarte y del acaso objetivo, que es una forma de secularización metropolitana de la magia del destino. La secularización llega a la violencia de la imagen inconsciente y profundiza su modo de vida bohemio y antiburgués. El simbolismo y el surrealismo son formas diferentes de transformar la percepción a partir de una incorporación de la búsqueda espiritual dentro de experimentos radicales en el lenguaje. Si la mística comenzó experimentando con la lengua vernácula, empleando formas extrañas de hablar, con oxímoron, hipérboles y negaciones, en este momento ella llegó al extremo del experimento antilógico y antirracional, en el que el sueño impregna el núcleo de la forma poética.

      Séptimo, con los beats y la contracultura, finalmente el impulso libertario de la mística literaria moderna promueve una forma de vida antimetropolitana (drop out, abandonar la ciudad y el sistema, ver COHN, 2008, p. 138-181) que invade la cultura de masas con experimentos de vanguardia y alcanza no solo a pequeñas comunidades artísticas, sino a todo un movimiento global de cambio de comportamiento juvenil. Con las drogas y la espiritualidad india, el rock psicodélico y progresivo, la contracultura estiliza la onda de ácido y las experiencias extáticas de iluminación en best sellers y largas suites musicales instrumentales que se fusionan, como nunca antes, con el campo pop y el erudito, el regreso a naturaleza y el futurismo, la ecología y las utopías electrónicas, la protesta y el éxito. En cualquier caso, la irritación que siempre han sentido los académicos hacia los gnósticos y ocultistas se renueva con su penetración en la espiritualidad hippie.

      Se aprecian así dos características centrales de la secularización de la mística a lo largo de la Edad Moderna. Primero, el proceso de inmersión en el mundo solo se profundizó: desde el uso de la lengua vernácula, pasando por la inmersión en la naturaleza, la expresión del yo, la experimentación con el lenguaje poético, la búsqueda a través de lo sugerente y el inconsciente hasta la conquista de la juventud global y la cultura de masas, en la que el arte de alto nivel se convirtió en un fenómeno pop en pro de la abertura de las puertas de la percepción. Por otro lado, la condena de las autoridades al discernimiento de espíritus y la prohibición de Lutero del espacio secular continuó, de forma homóloga, vigente en todas las etapas de la profundización de la secularización: los gramáticos condenaron el uso incorrecto del lenguaje por parte de simbolistas y surrealistas. y tanto el Estado policial como la universidad hicieron de todo para controlar a los hippies en el apogeo de su surgimiento, hasta que las discográficas, radios, estudios, grandes editoriales y diferentes medios combatieron sus conquistas estéticas hasta producir una vuelta al buen comportamiento y bien dirigido a los negocios del joven yuppie de los años 80.

      Del mismo modo, diferentes tipos de espiritualismo, en general ingenuos, pero incluso las manifestaciones que tal vez muestran un nivel intelectual más elaborado, en lugar de ser objeto de estudio histórico, formal y social en la universidad, permanecen predominantemente vetados en los espacios de conocimiento. Por tanto, el proceso de secularización de la mística, por más que no deja de extenderse, expandirse y profanizarse, está siempre marcado por la prohibición en los espacios seculares institucionales. La espiritualidad, salvaje o informada, ingenua o elaborada, entra en los salones, en la literatura de alto nivel o en la cultura de masas, pero no puede ser estudiada y reflexionada en la mayoría de las epistemologías vigentes, por muy abiertas y libres que quieran ser.

      Eduardo Guerreiro Losso

      Ciencias de la Literatura en la UFRJ y becario de productividad del CNPq. Texto original en portugués. Enviado: 15/11/2021; aprobado: 20/12/2021; publicado: 30/12/2021

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      Liturgia de las horas

      Índice

      Introducción

      1 Desarrollo histórico

      2.1 La oración de las horas en el Nuevo Testamento

      2.1.1 Jesús oraba y recomendaba la oración incesante

      2.1.2 Oración de las horas en la Iglesia Apostólica

      2.2 La evolución del Oficio Divino del s. II al s. V

      2.3 El Oficio Divino desde la Edad Media hasta el Vaticano II

      3 Estructura y elementos del rito de la Liturgia de las Horas

      4 Simbolismo y Teología de la Liturgia de las Horas

      5 Pastoral

      Consideraciones conclusivas

      Referencias

      Introducción

      La Liturgia de las Horas es una de las muchas formas de oración de la Iglesia, que tiene como objetivo santificar todo el día a través de la oración ininterrumpida. Compuesto por himnos, salmos, cantos, antífonas, lecturas bíblicas y textos de grandes escritores eclesiásticos y documentos del Magisterio, se reza en momentos específicos. Horas Mayores: Laudes (al amanecer) y Vísperas (al atardecer); Horas Menores: Tercia (a media mañana), Sexta (mediodía), Nona (a media tarde) y Completas (antes del descanso nocturno). Por lo tanto, ya es posible percibir que su simbolismo es cósmico y que, debido a las diferentes zonas horarias de las diferentes regiones de nuestro planeta, la Tierra es bañada por una ola de oración cada hora. Estas horas tienen también un valor simbólico-sacramental, ya que remiten a determinados acontecimientos importantes de la vida de Jesús de Nazaret y de los Apóstoles, por tanto, tienen un carácter salvífico (cf. AUGÉ, 2005, p. 230).

      La Liturgia de las Horas, como su nombre indica, es parte de la dinámica ritual y teológica del espacio y tiempo litúrgicos. Esta dinámica, a su vez, tiene sus raíces en la encarnación del Verbo eterno del Padre, Jesucristo. En efecto, con la Encarnación del Verbo, Dios irrumpe en la historia humana y, de manera indeleble, se une a la humanidad, asumiendo nuestra carne en la persona de Jesús de Nazaret. Lo Eterno entra en el espacio y el tiempo y, con este hecho, transforma el kronos en Kairós, es decir, en tiempo de salvación.

      Sin embargo, esta dinámica de la encarnación del Verbo eterno recibe su luz del misterio pascual de Cristo. En efecto, en el centro de toda la vida de la Iglesia –estructura, culto, acción apostólica, espiritualidad, teología, ética, etc. – es la Pascua de Cristo. Se concluye que la Liturgia de las Horas es un tipo de oración esencialmente pascual, todas las horas se refieren al Misterio Pascual de Cristo. De hecho, es este último el que está en el centro, no sólo de la Liturgia de las Horas, sino de toda la vida litúrgica de la Iglesia.

      1 Desarrollo histórico
      2.1 La oración de las horas en el Nuevo Testamento

      Ciertamente no es nuestra intención aquí encontrar la estructura de la Liturgia de las Horas, tal como la conocemos hoy o lo más aproximado de eso, sino simplemente encontrar las raíces bíblicas de la costumbre de la Iglesia de orar en momentos específicos, algo que siempre ha sido presente en su vida desde sus inicios. La Liturgia de las Horas, aunque tenga sus raíces en la oración de Jesús y de sus santos Apóstoles que, a su vez, seguían las costumbres de su religión, el judaísmo, conoció un largo y profundo desarrollo a lo largo de la historia de la iglesia, lo que veremos a continuación.

      2.1.1 Jesús oraba y recomendaba la oración incesante

      En los evangelios podemos encontrar información sobre la oración de Jesús. Él, siguiendo las costumbres de la religión de sus padres, el judaísmo, observaba sus prescripciones litúrgicas además de dirigirse a Dios en la intimidad con el Padre. Por eso Jesús, desde niño, en compañía de sus padres, asistía anualmente al templo en las grandes fiestas pascuales (cf. Lc 2,41), y también en la edad adulta (cf. Jn 2,13-14). Solía ​​ir a la sinagoga los sábados (cf. Mt 12,9; Mc 3,1; Lc 4,16). Se iba solo a orar en lugares desiertos (cf. Lc 5,16) y a veces de noche (Mc 1,35). La oración era un hábito en la vida de Jesús; el evangelista Lucas cita varias veces la oración de Jesús (cf. 5,16; 6,12; 9,18; 28-29 passim); y en esos momentos se dirigía a Dios en intimidad filial (cf. Lc 10, 21; 22, 42; 23, 43, 46; Jn 11, 41-42; 17, 1).

      La práctica de la oración de Jesús no se restringió a él, ya que enseñó a orar a sus discípulos (cf. Mt 6, 5-13); y recomendaba vivamente a sus discípulos la oración incesante (Lc 18,1-7; 21,36)). Además de la oración personal, les enseñó la oración comunitaria (Mt 18,19-20).

      Además, sabemos que los evangelios no son la biografía de Jesús, sino una cristología de las comunidades de sus redactores. Por tanto, es concebible que las oraciones que los evangelistas atribuyen a Jesús sean también las oraciones practicadas por las comunidades, dentro de las cuales surgieron estos tratados a partir de las experiencias que tuvieron del encuentro con Jesús de Nazaret.

      2.1.2 Oración de las horas en la Iglesia Apostólica

      Sin embargo, los otros escritos del Nuevo Testamento, además de los cuatro evangelios, nos dan información sobre la oración de las primeras comunidades cristianas. Podemos ver a Pedro y Juan subiendo al Templo para la oración de las tres de la tarde (Hch 3,1), es decir, la hora nona. Pero parece que toda la comunidad de la Iglesia primitiva también tenía el hábito de la oración incesante. De hecho, “eran asiduos en la enseñanza de los apóstoles y en la comunión fraterna, en la fracción del pan y en la oración” (Hch 2, 42); también “iban todos los días al templo con asiduidad, partiendo el pan en casa, comiendo con alegría y sencillez de corazón” (Hch 2,46). El apóstol Santiago recomienda a su comunidad: “¿Alguno de vosotros está sufriendo? orad” – aquí se trata de oración personal, pero inmediatamente después se refiere a la oración de la Iglesia (TEB, nota de la versión): “¿Está alguno de vosotros enfermo? Mande llamar a los ancianos de la Iglesia y que estos oren” (St 5,14).

      2.2 La evolución del Oficio Divino del s. II al s. V

      Este hábito de oración personal y comunitaria incesante se transmitirá a las comunidades postapostólicas y acompañará a la Iglesia a lo largo de toda su historia, hasta nuestros días. Al final del siglo I o principios de siglo. II, en la Didachè, capítulo IX, se recomienda rezar el Padrenuestro tres veces al día. En el norte de África, donde se formaron desde muy tempranas comunidades cristianas fervorosas y bien estructuradas, tenemos el testimonio de Clemente Alexandrino (Stromata); también tenemos información del primer escritor eclesiástico de habla latina conocido, Tertuliano (De oratione; De ieiuno), pasando por Cipriano (De oratione dominica) hasta Agustín de Hipona (Sermones ad competeti).

      Atribuida a Hipólito de Roma, también tenemos la Traditio Apostolica (principios del siglo III) que nos da información sobre las horas de oración: al amanecer antes de que comience cualquier actividad (esta hora en la Iglesia); a la hora tercia, a la hora sexta y a la hora nona, donde quiera que estuviere; antes del descanso nocturno; y finalmente a la medianoche. Al final del siglo IV, la peregrina Egeria, que estuvo tres años en Palestina, da información sobre la liturgia de Jerusalén, especialmente sobre las oraciones de las horas en la Iglesia de Anástasis: Vigilia (monjes, vírgenes y laicos) cantan himnos, salmos, a los que se responde con antífonas; después de que lleguen dos o tres presbíteros y diáconos, comienza la oración de la mañana. El obispo llega con sus sacerdotes y reza una oración y da la bendición a los que indican sus nombres, por detrás de los barrotes que cierran la gruta del sepulcro donde fue depositado el cuerpo de Cristo. Luego se vuelven a encontrar en el mismo lugar a la hora sexta y nona; en la hora décima se realiza el lucernario, las Vísperas (SCh, 2002, p. 239-241); no menciona una oración nocturna, pero en las páginas siguientes da cuenta de los oficios solemnes de la Epifanía, los cuarenta días que le siguen y los oficios de las fiestas pascuales: Cuaresma, Semana Santa, Pascua, Octava hasta Pentecostés (SCh, 2002, pág. 251-305).

      A partir de ese momento, es decir, c. IV, comienzan los primeros intentos de organizar la oración de las horas. Los autores suelen distinguir dos caminos: el primero seguiría en una dirección que llamamos Oficio Catedral, y el segundo en otra dirección que llamamos Oficio Monástico. El Oficio Catedral –también el oficio parroquial– ya estaba compuesto por las Horas Mayores –Laudes y Vísperas– con Laudes precedidas de una vigilia los domingos y días festivos. El Oficio Monástico, además de estas dos Horas Mayores, constaba de tres horas diurnas, Tercia, Sexta y Nona, más la Primera y Completas. Además, los monjes institucionalizaron las vigilias de oración como una actividad diaria, ya que su ideal era recitar el Salterio en su totalidad (cf. LEIKAN, 2000, p. 48).

      Cabe destacar la presencia del Salmo 62 en Laudes y del Salmo 140 en Vísperas en todas las Iglesias desde el siglo IV, según el testimonio de Eusebio de Cesarea (Comentario a los Salmos 140 y 142), Juan Crisóstomo (Catequesis bautismales) y las Constituciones Apostolorum. Este último documento (finales del siglo IV o principios del V) ya registra la presencia del Nunc dimittis (Lc 2,29-32) en el oficio vespertino.

      2.3 El Oficio Divino desde la Edad Media hasta el Vaticano II

      Sin embargo, el oficio monástico se desarrolló de tal manera que acabó influyendo en el oficio catedral. Además de la aparición de nuevos idiomas y el uso cada vez más restringido del latín, otras razones -que aquí no son el caso- hicieron que el pueblo ya no tuviera acceso a la liturgia en general, y el oficio pasase a ser de “mano de obra especializada”, o sea, de clérigos y monjes. Desde el siglo IX, en muchas Iglesias locales, el clero estaba obligado a recitar el oficio, entonces fuertemente influenciado por el Oficio monástico que, a su vez, preveía más horas y textos más extensos: en el transcurso de una semana recitaban todo el salterio y, en un año, se leía toda o casi toda la Biblia, más himnos, cánticos, antífonas, responsorios, etc.

      Aquí no se puede dejar de mencionar la Regla de San Benito que, principalmente por obra de Carlomagno, se impuso en casi todos los monasterios de Occidente. La Regula Monasterum Sancti Benedicti Abbatis prescribe siete oraciones horarias cada día, citando el Salmo 118,164: “Te alabo siete veces cada día” (Capítulo XVI). Estos horarios son: Laudes, Prima, Tercia, Sexta, Nona, Vísperas y Completas.

      Para la Hora Nocturna, durante el invierno (principios de noviembre hasta Semana Santa), están previstos 6 salmos precedidos por el verso “Oh Señor, abre mis labios, y mi boca anunciará tu alabanza”, al que sigue el Salmo 3, el Gloria, el Salmo 94 con antífona, seis salmos con antífonas, tres lecturas bíblicas con responsorio, 6 salmos más con aleluya, lectura del Apóstol, y se  concluye con la súplica litánica, es decir Kyrie eleison (Cap. IX). La Hora Nocturna se reza en medio de la noche por el Salmo 118,62: “En medio de la noche me levanto y te doy gracias”. Durante el resto del año, por la brevedad de las noches, se hace una sola lectura del Antiguo Testamento, quedando todo el resto como en el período invernal (Capítulo X). Los domingos, sin embargo, se leen cuatro lecturas con responsorio después de los primeros seis salmos y cuatro más después de los otros seis salmos; tres cánticos del Antiguo Testamento con Aleluya; cuatro lecturas más con responsorio, Te Deum laudamus, Lectura del Evangelio, Te decet laus y bendición final (Capítulo XI).

      Las Laudes, por su parte, estaban compuestas por el Salmo 66 con antífona, seguido del Salmo 50 con Aleluya, los Salmos 117 y 62, el Benedictus, “Laudes”, lectura del Apocalipsis, con un responsorio, un himno ambrosiano, un verso, un canto evangélico y finalizaba con la letanía (capítulo XII). Para las demás horas, las composiciones son las siguientes: Prima: tres salmos con un solo Gloria, himno, luego el versículo Deus, in adiuntorium meu…, tres salmos, una lectura, un versículo, Kyrie eleison y conclusión; la Tercia, la Sexta y la Nona, el Oficio sigue el mismo orden para las tres: verso, el himno propio de la hora, tres salmos, las lecturas, el Kyrie eleison y las oraciones finales (Capítulo XVII). Aquí se recomienda que, si la comunidad es numerosa, los salmos se reciten con antífona.

      Las vísperas se componen de cuatro salmos con antífonas, la lectura, responsorio, himno, versículo, canto evangélico, oración litánica y concluyen con el Padre Nuestro. En Completas, los tres salmos se recitan en sucesión sin antífona, el himno, una sola lectura, el versículo, el Kyrie eleison y concluyen con la bendición (Capítulo XVII).

      De la influencia de las reglas de los monasterios romanos sobre el Oficio Catedralicio, surgirá una especie de Oficio monástico-eclesiástico; una de estas nuevas reglas será adoptada por el Papa y sus curiales a partir de finales de siglo X o principios de siglo. XI, lo que se conoció como el Breviario de la Curia romana (cf. RAFFA, 2004, p. 655). En la primera mitad del siglo XIII, San Francisco de Asís adoptaría este Oficio para su orden, lo que, a su vez, contribuiría a su amplia difusión en casi todo Occidente, convirtiéndose en la forma predominante (cf. RAFFA, 2004).

      En la reforma tridentina del Breviario Romano, Pío V, con la bula Quod a nobis (1568), redujo el número de salmos, pero introdujo el Oficio de Santa María el sábado; redujo aún más los textos hagiográficos. La bula no incluye a los laicos, cuando enumera los grupos de personas que están obligadas a rezar el oficio, y compromete el simbolismo de las horas al prever la recitación privada, incluso lo equipara con la comunitaria,  con la consiguiente recitación en la hora en que se pudiese. En adelante, el Breviario de Pío V será prácticamente la única regla en toda la Iglesia de Occidente. Una nueva reforma solo vendría ya en el siglo. XX, por obra de Pío X, con la bula Divino afflatu: redujo el número de salmos en todas las horas, pero mantuvo la recitación del salterio durante el transcurso de una semana, haciendo una nueva distribución de los salmos. Pío X hizo esta reforma en vista, sobre todo, de las exigencias de la labor pastoral del clero.

      De la reforma impulsada por el Vaticano II surge la Liturgia de las Horas de Pablo VI, promulgada el 1 de noviembre de 1970, la que usamos hoy. Las grandes novedades aquí son: distribución de los salmos en cuatro semanas (cf. SC 91); la supresión de la Hora Prima (SC 89); la posibilidad de recitar la hora llamada Maitines en cualquier momento del día, aunque conserve en el coro la índole de alabanza nocturna, y se reduce el número de salmos, pero propone lecturas más largas; para las llamadas Horas Menores, a saber, Tercia, Sexta y Nona, se puede elegir una de ellas fuera del coro (SC 90) y, finalmente, el uso de la lengua vernácula (SC 101). También se recomienda devolver la fidelidad histórica a los martirios o vidas de los Santos (SC 92) y que “se eliminen o cambien aquellas cosas que saben a mitología o son menos acordes con la piedad cristiana” (SC 93).

      3 Estructura y elementos del rito de la Liturgia de las Horas

      La Instrucción General sobre la Liturgia de las Horas (IGLH), en el Capítulo II, muy acertadamente, presenta el rito con el título “La santificación del día o las diferentes Horas del Oficio Divino”. Hay siete momentos de oración (cf. Sal 118,164): Oficio de Lecturas, Laudes, tres Horas Medias, Vísperas y Completas. La Introducción del Oficio es, en la primera hora rezada (Laudes u Oficio de Lecturas), el Invitatorio “Abre mis labios, Señor. Y mi boca proclamará tu alabanza”, con la que “los fieles son invitados cada día a cantar las alabanzas de Dios y a escuchar su voz…” (ILGH 34); Sigue el Salmo 94(95), que puede ser sustituido por los Salmos 99(100), 66(67) o 23(24) con sus respectivas antífonas. El salmo de apertura se recita de forma responsorial, es decir, la antífona se comporta como un estribillo, pero si se recita individualmente, basta con decir la antífona al principio y al final.

      La hora denominada “Maitines” aparece en la Liturgia de las Horas de Pablo VI bajo el título de “Oficio de Lecturas” que, como prevé la Sacrosanctum Concilium –ya lo hemos mencionado más arriba– puede rezarse en cualquier momento del día, aunque conserva su carácter de oración nocturna (cf. SC 89; ILGH 57). Cuando se abre el Oficio, se dice al principio el Invitatorio, como se indica en el párrafo anterior. A diferencia de la salmodia del ordinario del rito el Salmo Invitatorio se recita de forma responsorial, es decir, la antífona se comporta como un estribillo, y lo mismo puede decirse de las demás opciones de salmo previstas para este tiempo. Cuando el Oficio de Lecturas no abre el oficio cotidiano, se abre como en las demás horas, es decir, el verso inicial y, poco después, el Himno. La salmodia, como en las demás horas, se compone de tres salmos con las antífonas correspondientes; a esto sigue el versículo, que hace la transición de la salmodia para escuchar la Palabra de Dios. De hecho, inmediatamente después se lee una lectura bíblica seguida de su responsorio. La segunda lectura se toma de las obras de los Santos Padres o de otros escritores eclesiásticos. Los domingos, días de solemnidad o celebración, se canta el Te Deum. El Oficio termina con la Oración final y el “Bendigamos al Señor. Gracias a Dios”.

      Las Horas Mayores, es decir, Laudes y Vísperas, se abren con el verso introductorio “Dios mío, ven en mi auxilio.  Señor, date prisa en socorrerme” Las Laudes, en cambio, si son la primera oración del día, se abren con el Invitatorio, seguido del Gloria al Padre, el himno propio de la hora, la salmodia con las respectivas antífonas con Aleluya – excepto en el tiempo de Cuaresma – dicho al principio y al final, en este último caso, son precedidos por el Gloria al Padre… A esto le sigue la recitación del himno, los dos salmos, entre los cuales se recita uno del Antiguo Testamento, cada uno de estos tres elementos con sus respectivas antífonas, al principio y al final. A continuación, se lee la lectura breve con su responsorio; si es necesario, se puede dar una homilía o un breve período de silencio antes del responsorio; esta lectura puede ser reemplazada por una más larga elegida a voluntad. Luego se recita el Cántico evangélico Benedictus – El Mesías y su precursor (Lc 1,68-79) – con su antífona. Siguen las oraciones para consagrar el día y el trabajo a Dios; la oración del Padre Nuestro y, concluyendo el oficio, la oración final y la despedida.

      Las vísperas tienen una estructura muy similar. Nunca se abren con el Invitatorio porque no es la primera oración del día. El Himno es propio de esa hora y otra diferencia está en la salmodia, es decir, en lugar de recitar un himno del Antiguo Testamento, como en las Laudes, se recita un himno del Nuevo Testamento. Otra diferencia está también en el Cántico del Evangelio: aquí se recita el Magníficat. Todo lo demás se hace como en Laudes, obviamente con los contenidos específicos de cada hora. Nótese aquí que no hay Vísperas los sábados porque en esta hora se dicen las primeras Vísperas del domingo, que es siempre una solemnidad; La excepción a lo que acabamos de decir es el Sábado Santo, porque no se dicen las primeras Vísperas del Domingo de Resurrección, ya que no puede haber otra oración antes de la gran Vigilia Pascual.

      Las Horas Medias tienen una estructura mucho más simple: abren como las Horas Mayores –nunca el versículo “Abre mis labios, Señor…”–; el himno propio de cada hora; salmodia – cuando se rezan las tres horas, sólo una usa los salmos distribuidos en el Salterio con sus antífonas, pues las otras dos son tomadas de los Salmos Complementarios, los llamados “Salmos Graduales”; lectura breve con su responsorio, oración final y despedida: “Bendigamos al Señor. Gracias a Dios”. Nótese que en estas tres horas no se hace mención a la memoria de los Santos.

      Antes del descanso nocturno, la Iglesia invita a sus fieles a elevar la mente a Dios, en ritmo de oración. Para ello se recita Completas que, como su nombre indica, concluye el oficio diario. De todas las horas, Completas es la más simple y breve en estructura. Esta hora antes del descanso nocturno comienza como las demás horas, -salvo la primera oración del día, es decir, Oficio de Lecturas o Laudes-, continúa con el Himno, la salmodia compuesta de un solo salmo, excepto cuando son rezadas después de las primeras vísperas de los domingos y solemnidades, cuando se rezan los salmos 4 y 133 (134). Después de la salmodia hay una Lectura Breve con el responsorio “Señor en tus manos encomiendo mi espíritu… Tú, el Dios leal, nos librarás. Gloria al Padre…”; seguidamente se canta el Nunc Dimittis, el Cántico de Simeón (Lc 2,29-32), con su antífona. Esta hora termina con la Oración final seguida de la bendición “Que el Señor Todopoderoso nos conceda una noche tranquila y, al final de la vida, una santa muerte”; y, finalmente, se recita una de las antífonas de Nuestra Señora propuestas en la Liturgia de las Horas.

      Antes de pasar al siguiente punto, es útil recordar que la Liturgia de las Horas sigue el Año Litúrgico y el Calendario Romano. Así, el contenido eucológico varía según el contenido teológico de cada tiempo (Adviento, Navidad, Cuaresma, Pascua y Tiempo Ordinario) – por eso no se dice el Aleluya al final de las antífonas en Cuaresma –; y del mismo modo se celebran las solemnidades, las fiestas y la memoria de los Santos.

      4 Simbolismo y Teología de la Liturgia de las Horas

      En las últimas décadas ha habido una fuerte tendencia a hacer teología de la liturgia en general y de sus celebraciones “desde la Lex Orandi” [1], es decir, comentar la teología de los sacramentos y otras celebraciones litúrgicas, principalmente desde el rito y sus contenidos No podía ser diferente para la Liturgia de las Horas, dada la riqueza simbólica y espiritual de sus diferentes horas.

      Muy útil para su comprensión es comenzar con la nomenclatura. “Liturgia de las Horas” es un título que apareció en 1959 y es muy apropiado, porque expresa la finalidad de esta oración de la Iglesia, a saber, la santificación del transcurso del día, en el que los fieles se santifican – en el rito bizantino se le llama “reloj” por la misma razón. “Oficio Divino”, utilizado aún hoy junto a la Liturgia de las Horas, este término se utilizó antiguamente para designar todo acto de culto y, más tarde, para designar la celebración litúrgica de la Iglesia, pero parece que también pretende señalar el carácter obligatorio, canónico, (Officium, deber) de su recitación (cf. RAFFA, 2004, p. 652). “Breviario” nos parece un poco pobre para designar tan rica expresión litúrgica de la Iglesia, ya que se usaba para designar compilación, abreviatura, etc. de los diferentes libros litúrgicos utilizados para la oración de las horas en la Edad Media. A lo largo de la historia de la liturgia se han utilizado los siguientes nombres: cursus, preces horariae, opus Dei, horae canonicae (cf. RAFFA, 2004, p. 652).

      Originalmente, el Oficio de Lecturas –en Sacrassanctum Concilium todavía se usa la expresión “Maitines”– tiene un carácter nocturno. Se rezaba en mitad de la noche, especialmente en los monasterios, una referencia al Salmo 118(119),62. El simbolismo de esta hora es el de las “tinieblas” de las que Cristo nos ha arrebatado. Podemos encontrar un ejemplo en el himno “Oculta la noche oscura”. Ya en la primera estrofa se dice: “La negra noche oculta los colores de todas las cosas de la tierra …” sugiriendo que las tinieblas nos impiden la visión física, metáfora de la visión beatífica. Y sigue “Juez de los corazones, para ti nuestra alabanza” sugiriendo que nuestra alabanza a Cristo es incesante.

      Lo que acabamos de decir parece reforzarse con la parábola de las “diez vírgenes” (Mt 25,1-10), que se enmarca en un marco literario de marcado contenido escatológico: la venida del Hijo del Hombre (Mt 24,26-35); ignorancia del día del juicio (Mt 24,36-51); los talentos (Mt 25,14-30); el juicio final (Mt 25, 31-46). El simbolismo de lámparas, con suficiente aceite para estar encendidas cuando llegue el novio, sugier, no sólo una actitud de vigilancia (cf. Mt 24,42), sino sobre todo de estar preparados para la “hora”.

      Las Laudes tienen un simbolismo natural, el sol, porque se rezan con las primeras luces del alba. El sol, “la estrella naciente”, en efecto, es una referencia bíblica al Mesías (para indicar el descendiente de David: Jer 23,5; Zac 3,8; 6,12; el verbo correspondiente para indicar el del astro mesiánico: Nm 24,17; cf Mal 3,20; Mt 2,2; Lc 1,78). El sol, por tanto, luz, es un simbolismo ya presente tanto en el Antiguo como en el Nuevo Testamento, aquí especialmente en la literatura juánica:

      “En ella estaba la vida y la vida era la luz de los hombres, y la luz brilla en las tinieblas, y las tinieblas no la vencieron. Hubo un hombre, enviado por Dios: se llamaba Juan. Este vino para un testimonio, para dar testimonio de la luz, para que todos creyeran por él. No era él la luz, sino quien debía dar testimonio de la luz. La Palabra era la luz verdadera que ilumina a todo hombre que viene a este mundo” (Jn 1,4-9).

      Juan vuelve a insistir en este simbolismo: “Otra vez Jesús les habló: ‘Yo soy la luz del mundo. El que me sigue no andará en tinieblas; tendrá la luz que lleva a la vida’” (Jn 8,12); y más adelante escribe: “Mientras estoy en el mundo, soy la luz del mundo” (Jn 9,5); y además:

      Jesús les dijo: «Todavía, por un poco de tiempo, está la luz entre vosotros. Caminad mientras tenéis la luz, para que no os sorprendan las tinieblas; el que camina en tinieblas, no sabe a dónde va. 36.Mientras tenéis la luz, creed en la luz, para que seáis hijos de luz»” (Jn 12,35-36)

      Y más: “Yo, la luz, he venido al mundo para que todo el que cree en mí no perezca en las tinieblas” (Jn 12,46). Nótese que, en todos estos versículos, Jesús se identifica con la luz, símbolo de salvación, mientras que las tinieblas se identifican con el pecado, el no estar y andar en la presencia de Dios.

      Sin embargo, Juan no es el único en utilizar el simbolismo de la luz aplicado a Cristo y a la salvación que Él realizó para nosotros en su misterio pascual. También podemos encontrar este simbolismo en los escritos paulinos: “Dad gracias al Padre que os ha hecho partícipes de la herencia de los santos de la luz. Él nos arrebató de la potestad de las tinieblas y nos trasladó al reino del Hijo de su amor» (Col 1, 12-13; cf. 1 Ts 5, 5; Hb 6, 4; 10, 32).

      Robert Taft observa que el simbolismo de la luz, cuando se aplica a los que viven en Cristo (Ef 5 y 1 Jn 1,5-7; 2,8-11), tiene una dimensión moral y comunitaria, así como observa que el libro del Apocalipsis concluye con un hermoso himno que hace referencia a la luz del Cordero en la Ciudad Santa de la Jerusalén celestial (Ap 21,22-26) (TAFT, 2000, p. 157).

      Pero veamos ahora cómo este tema de la luz, en su simbolismo natural, el sol, aparece en el rito de las Laudes, con una clara referencia a la resurrección de Jesús. De entrada, notamos que este tema es constante en esta época a causa del himno Benedictus, también conocido como “Cántico de Zacarías”. En el himno de Adviento, propuesto para esta hora, podemos leer: “Una clara voz resuena, que las tinieblas repudian, el sueño pesado ahuyentase, Cristo en el cielo fulgura. Despierte el alma adormida y sus torpezas sacuda, que, para borrar los males, un astro nuevo relumbra.”. En el himno propuesto para el tiempo de Navidad, el sol aparece como marcador de la duración de la alabanza, pero no se aplica a Cristo ni a su acción salvífica. Para la Cuaresma, curiosamente, el simbolismo luz/sol no aparece en el himno propuesto para el domingo, día del sol, sino en el himno propuesto para los días de la semana: “Oh Cristo, Sol de Justicia, resplandece en las tinieblas de la mente. Con fuerza y ​​luz, repara de nuevo la creación.” En el himno de Laudes de Semana Santa, el tema está más ligado a los misterios de la pasión de Cristo y no hace referencia al simbolismo luz/sol. Para los domingos de Pascua, en cambio, el simbolismo aparece bajo la imagen de la “aurora que resplandece” y, para los días de la semana, el simbolismo luz/sol aparece más explícito: “Jerusalén fiel canta un himno triunfante, celebrando con alegría a Jesucristo, la Luz Pascual”.

      En las solemnidades que tienen lugar fuera del Tiempo Pascual, el tema aparecerá en el himno de Laudes de la Santísima Trinidad y se atribuye también a la Trinidad: “Oh Trinidad, en un supremo solio que resplandece, en un intenso esplendor”; y al Hijo: “Tú eres esplendor y espejo de luz, oh Hijo, qué hermanos nos llamas”; y el Espíritu Santo: “Piedad y amor, fuego ardiente, dulce luz, poderoso resplandor, renueva nuestras mentes, oh Espíritu, y calienta el corazón fiel”. En la solemnidad del Sagrado Corazón de Jesús, este simbolismo aparece en la quinta estrofa del himno de Laudes: “Quédate con nosotros, Señor, nueva mañana que brilla y vence las tinieblas de la noche, trayendo dulzura al mundo”. Esta estrofa deja claro que las Laudes celebran la presencia de Cristo Luz entre los fieles y la victoria de Cristo sobre las tinieblas del pecado y la muerte.

      Hay muchos ejemplos que podríamos citar aquí, pero estos son suficientes para que nos demos cuenta de que el tema luz/sol, en oposición a las tinieblas, es central en el oficio de Laudes. Esta centralidad del simbolismo del sol, además de referirnos a la resurrección de Jesús, nos recuerda una de las grandes maravillas de la creación, fuente de luz y calor, de vida y alimento, que nos lleva a la alabanza y al agradecimiento (cf. TAFT, 2000, p. 158) por tantos dones recibidos de la bondad del Señor.

      Sin embargo, hay otros elementos en la estructura de Laudes, que nos proporcionan su contenido teológico. El primero de estos elementos es la santificación del período de la mañana, pero, antes de comenzar cualquier actividad del día, se invita al creyente a dirigir su mente al Señor (cf. IGLH 38). Así, el cristiano estará siguiendo el consejo de Pablo cuando dice: “Así que, ya sea que coman o beban, o hagan cualquier otra cosa, háganlo todo para la gloria de Dios” (1 Cor 10,31), es decir, a lo largo de toda vuestra jornada, así como todas vuestras actividades temporales sean hechas delante, y para la gloria, de Dios.

      Vísperas y Laudes se llaman las Horas Mayores. Las vísperas, sin embargo, se celebran al despuntar el atardecer. Como en Laudes, el simbolismo central es el tema de la luz en oposición a la oscuridad. Al ponerse el sol, se encienden las lámparas; esto significa la luz de Cristo que ninguna oscuridad puede vencer. Además de evocar las tinieblas de la pasión de Cristo, las Vísperas nos hacen reflexionar sobre la fugacidad de nuestra vida y de toda la Creación. Lo que acabamos de decir nos abre a la dimensión escatológica de la oración vespertina, ya que esta fugacidad de la vida debe abrirnos a la esperanza de la vida eterna. Otros grandes temas que aparecen en este oficio son la acción de gracias por los beneficios recibidos, el trabajo realizado y el bien que pudimos hacer a lo largo del día. Sin embargo, el tema de las tinieblas nos recuerda nuestra condición pecaminosa y, por tanto, nos lleva al arrepentimiento y a pedir perdón por los pecados que hayamos podido cometer. También, el tema de la oscuridad nos invita a pedir la protección divina contra los peligros que ofrece.

      Hemos visto que, en Laudes, el simbolismo sol/luz, en oposición a la oscuridad, nos recuerda la salvación en oposición al mal y al pecado en varios pasajes bíblicos. Algo similar sucede en las Vísperas, por ejemplo, en el himno propuesto para estas horas hasta el 16 de diciembre en el Tiempo de Adviento, aparece explícitamente la simbología luz (redención) versus tinieblas (pecado): “Eterna luz de los hombres, de las estrellas, Creador, escucha nuestras oraciones, de todos Redentor” (1ª estrofa); “Si la sombra del pecado lo oscurecía todo, Esposo, tú saliste del vientre de María” (3ª estrofa). Desde el día 16 hasta las vísperas de navidad, el himno propuesto vincula el tema de la luz, en su forma verbal “iluminar”, a la concepción virginal de María por obra del Espíritu Santo. Desde la Navidad hasta la Epifanía, Jesús es “Del Padre luz y esplendor” (2ª estrofa).

      En el tiempo de Cuaresma, el himno de las Vísperas tampoco trae el tema de la luz, pero entre semana sí: “Tú consagraste la abstinencia de Cuaresma, oh, Jesús, con el ayuno y la oración nos llevas de las tinieblas a la luz”. Aquí notamos, sin embargo, que el simbolismo tinieblas y luz se aplica al pecado (tinieblas) y a la salvación (luz), es decir, la luz es simbolismo de la acción salvadora de Cristo y las tinieblas de la acción pecadora de la humanidad. Para el Tiempo Ordinario, tomemos como ejemplo el himno de las primeras Vísperas del domingo de la primera semana: “Oh Dios, autor de todo, que guías la tierra y el cielo, que vistes de luz el día, das el sueño a la noche” (1ª estrofa); “Señor, te damos gracias al final de este día. Cae la noche, pero tu amor nos guía” (3ª estrofa); “Y así, cuando llega la noche, con grandes tinieblas, la fe, en medio de las tinieblas, esparce su luz” (5ª estrofa). Aquí también se aplica el simbolismo de la luz a Cristo, pero los términos luz, día, noche, ocaso, tinieblas, tinieblas y resplandor indican el origen de la luz en Dios y su difusión en medio de las tinieblas como obra de la fe. Además de indicar con gran precisión la hora del oficio de Vísperas, celebra la confianza de la fe en la luz divina para atravesar las tinieblas de la noche, metáfora del pecado y de la muerte.

      En las Segundas Vísperas del primer domingo se celebra al Dios creador y autor de los tiempos: “Generoso creador de la luz, tú creaste la luz para el día, con los primeros rayos de luz, su origen el mundo inicia” (1ª estrofa); “Llamaste día al transcurso de la mañana luminosa hacia el poniente. He aquí, las tinieblas ya descienden sobre la tierra: escucha nuestra oración, misericordioso.” Luego vienen los temas del arrepentimiento y el perdón de los pecados cometidos a lo largo del día: “Para que bajo el peso de los crímenes no sea oprimida nuestra mente, y, olvidando las cosas eternas, no quede excluida del premio de la vida” (3ª estrofa); “Llamando siempre a la puerta celestial, obtengamos el premio de la vida, evitemos el contagio del mal y curemos la herida de la culpa” (4ª estrofa).

      Las Horas Menores u Horas Medias, a saber, Tercia (a las nueve), Sexta (al mediodía) y Nona (a las quince horas), tienen un carácter simbólico-sacramental, pues se refieren a los momentos clave del misterio de Cristo y la acción apostólica de los Doce (cf. IGLH 75). Su propósito es que los cristianos detengan sus actividades y oren por la santificación del día y de sus propias actividades. Pero veamos cómo aparecen en el rito los temas ligados al misterio de la pasión de Cristo, concretamente en los himnos de estas tres horas.

      En la Oración de las Nueve Horas, el himno propuesto para el Tiempo de Cuaresma es ejemplar, porque confirma lo que acabamos de decir en el párrafo anterior. La primera estrofa es una alabanza de las tres virtudes teologales, dones que nos ofrecen los méritos de la pasión de Cristo: “En la fe en Dios, por quien vivimos, en la esperanza de lo que creemos, en el don de la santa caridad, de la Cristo, cantemos las glorias”. La confirmación de lo que acabamos de hacer, así como la referencia a la pasión de Cristo, aparecen en la siguiente estrofa: “Al sacrificio de la Pasión en la hora tercia, Jesús llevando la cruz a cuestas, arranca a las tinieblas el perdido”. Esta referencia a la redención se destaca más claramente en la tercera estrofa: “Nos has librado del decreto de condenación total; del mundo malo libra a los pueblos, fruto de tu redención.”

      En la Oración de las Doce Horas, la referencia a la pasión de Cristo ya aparece explícitamente en la primera estrofa: “En la misma hora en que Jesús, el Cristo, padeció sed, clavado en la cruz, concede la sed de justicia y de gracia a los que celebra tu santa alabanza.” La siguiente estrofa es importante porque vincula la Liturgia de las Horas con el sacramento de la Eucaristía: “A la vez, sea él nuestra hambre y el Pan divino que se da a sí mismo; sea ​​el pecado una molestia para nosotros, sólo en el bien puede estar nuestra alegría”. Aquí la Eucaristía se concibe como el sacramento del sacrificio de Jesús.

      La Oración de las Quince Horas, por su parte, utiliza el simbolismo numérico para evocar el misterio de la muerte redentora de Cristo: “El número sagrado, el tres por tres de las horas, abriendo un nuevo espacio, nos llama a la oración, ahora. En el nombre de Jesús, tu pueblo perdón implora” (1ª estrofa). La tercera estrofa celebra la victoria de la cruz sobre la muerte y el retorno de la luz tras las densas tinieblas, clara referencia a la resurrección de Cristo: “Ahora la muerte muere vencida por la cruz; tras las densas tinieblas, serenas, vuelve la luz; el horror del mal se rompe, en las mentes Dios brilla”.

      5 Pastoral de la Liturgia de las Horas

      La liturgia en general, ya mucho antes de finalizar el primer milenio y por diversos factores, dejó de ser accesible al pueblo cristiano, como ya hemos dicho, convirtiéndose en un “oficio” de “mano de obra especializada”, es decir, monjes. y clero. A la Eucaristía asistía el pueblo, pero no participaba; iba a misa solo para ver el “milagro eucarístico”. El famoso Decreto de Graciano (1140-1150) deja muy clara la distinción entre los “espirituales” (monjes y clérigos), clase destinada al oficio divino, y los “carnales”, aquellos que se casan y pueden depositar sus ofrendas en el altar, pagar diezmos… (THION, 2005, p. 342). Situación que perduró en la Iglesia Católica hasta el Concilio Vaticano II. Esto ya apunta al desafío de un cambio de mentalidad, consolidada por siglos de historia. Para exacerbar esta desviación, la Iglesia tiene que lidiar con el tema del estilo de vida moderno, que deja a las personas cada vez más sin tiempo para ocuparse de su vida personal y, aquí, la dimensión espiritual es la más afectada.

      Se han tomado algunas iniciativas: el reconocimiento oficial de la Iglesia de que la liturgia es un culto público, incluida la Liturgia de las Horas:

      El ejemplo y el mandato de Cristo y de los Apóstoles de orar siempre e insistentemente, no han de tomarse como simple norma legal, ya que pertenecen a la esencia íntima de la Iglesia, la cual, al ser una comunidad, debe manifestar su propia naturaleza comunitaria incluso cuando ora. Si bien la oración comunitaria encierra una especial dignidad conforme a lo que el mismo Cristo manifestó: “Donde están dos o tres congregados en mi nombre, allí estoy yo en medio de ellos” (Mt 18, 20). (IGLH 9)

      Y más adelante se reconoce que “La Liturgia de las Horas, como las demás acciones litúrgicas, no es una acción particular, sino algo que pertenece a todo el Cuerpo de la Iglesia y lo manifiesta y alcanza” (IGLH 20), siguiendo un principio vital establecido por el Vaticano II (SC 26). Además, reconoce que la Liturgia de las Horas es la cumbre y la fuente de la actividad pastoral (IGLH 18), algo sobre lo que los laicos están asumiendo cada vez más su responsabilidad. Sin embargo, la participación de los laicos en la oración de las horas es todavía muy tímida.

      En cuanto al lenguaje, en Brasil, hace tres décadas surgió el Oficio Divino de las Comunidades, pero la participación del pueblo sigue siendo tímida[2]. En toda América Latina se difundió también la práctica de la Lectura Orante, ligada no tanto a la Liturgia de las Horas, sino a la práctica, también monástica, de la Lectio Divina. Es urgente, sin embargo, que tales iniciativas sean profundizadas por expertos en liturgia y líderes comunitarios, sin los cuales se dificulta cualquier reflexión teológico-pastoral, y por pastores verdaderamente comprometidos con las comunidades cristianas.

      Sin embargo, se advierte que sería totalmente ilusorio esperar de los cristianos contemporáneos un grado de compromiso similar al de los cristianos de los primeros siglos de vida de la Iglesia. Sin embargo, es en este mundo, a través de los gigantescos avances tecnológicos que ofrecen a las personas todo tipo de entretenimiento, a donde la Iglesia sigue siendo enviada a anunciar, testimoniar y celebrar el Evangelio de Cristo.[3]

      Consideraciones conclusivas

      A lo largo del texto, tratamos de conceptualizar, mostrar la evolución histórica, presentar la teología simbólica y los desafíos pastorales de la Liturgia de las Horas. Con ello esperamos haber podido mostrar el verdadero espíritu de esta forma de oración de la Iglesia, que le es esencial. Hemos llegado a la conclusión de que se trata de algo verdaderamente evangélico y vital para el camino de los cristianos, a pesar de todas sus vicisitudes. Dado que es el ejercicio sacerdotal de Cristo el que une a sí mismo a su amada Esposa, la Iglesia, bajo la acción del Espíritu Santo, la Liturgia de las Horas conserva su poder para santificar al ser humano y consagrar a Dios el tiempo y todas las actividades humanas. de vida, bañando el mundo, cada hora, con una ola de Oración.

      Marco Antonio Morais Lima, SJ. Universidad Católica de Pernambuco. Texto original en portugués. Enviado: 15/11/2021. Aprobado: 15/12/2021. Publicado: 30/12/2021.

       Referencias

      AUGÉ, M. Liturgia. História, celebração, teologia, espiritualidade. São Paulo: Paulinas, 2005.

      CONCÍLIO VATICANO II. Sacrosanctum Concilium. Constituição sobre a sagrada liturgia. Petrópolis: Vozes, 1968.

      CONGREGAÇÃO DO CULTO DIVINO E DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Liturgia das Horas. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Paulinas/Paulus, 1995.

      LEIKAM, R. M. La Liturgia delle Ore nei primi quattro secoli. In: CHUPUNGCO, A. J. Scientia Liturgica. Manuale di liturgia V. Casale Monferrato: Piemme, 2000. p. 90-130.

      RAFFA, V. Liturgia das Horas. In; SARTORE, D.; TRIACCA, A. M. Dicionário de Liturgia. São Paulo: Paulus, 2004. p. 651-670.

      TAFT, R. F. Teologia della Liturgia delle Ore. In: CHUPUNGCO, A. J. Scientia Liturgica. Manuale di liturgia V. Casale Monferrato: Piemme, 2000. p. 150-165.

      [1] Véase, al respecto, la breve pero profunda exposición de TABORDA,  F. O Memorial da Páscoa do Senhor. Ensaios litúrgico-teológicos sobre a eucaristia. São Paulo: Loyola, 2009, p. 21-37.

      [2] Sobre el Oficio Divino de las Comunidades, véase la entrada en esta misma Enciclopedia.

      [3] Mucho se ha invertido en los últimos años en la creación de aplicaciones, que ponen a disposición, en formato digital, el conjunto de la Liturgia de las Horas. Otros formatos, vinculados a la Lectura orante, también están disponibles, como Lecionaltas, Passo a Rezar, Prayer walking etc.