Sumário
Introdução
1 A catequese no Brasil Colonial
2 As intervenções de Marquês de Pombal, expulsão dos Jesuítas e suas consequências
3 Catequese brasileira no século XIX: os bispos reformadores
4 A catequese no Brasil no período pré-conciliar
5 Do Vaticano II (1962-1965) ao final do século XX
6 A catequese a serviço da Iniciação à Vida Cristã: dimensão catecumenal
7 Um panorama fecundo de eventos e atividades catequéticas
Referências
Introdução
A história da catequese no Brasil[1], diferentemente da antiga cristandade europeia, possui pouco mais que cinco séculos. No entanto, não podemos considerá-la desligada de sua matriz. Igualmente, além de relatar a linha do tempo, dos acontecimentos e seus protagonistas, é necessário situá-la no próprio contexto cultural, político e eclesial dentro do qual se desenvolveram práticas, conceitos e tendências teológicas que subjazem aos fatos. No entanto, esse olhar sociohistórico é acompanhado da visão da fé cristã, particularmente católica.
O Diretório Nacional de Catequese (DNC), de 2006, assim se expressa:
A história é lugar da caminhada de Deus com seu povo e do povo com Deus. Nela e por ela Deus se revela e manifesta o que Ele quer ensinar e o que espera da humanidade. Jesus Cristo, o Filho de Deus, encarnou-se na realidade humana e num determinado contexto histórico, que condicionou sua vida, ensinamento e missão. Viveu, ensinou e nos salvou a partir da história e do que ela comporta. A história faz parte do conteúdo da catequese. O fiel, iniciado no mistério da Salvação, é chamado a assumir a missão de ajudar a construir a história hoje, segundo o Reino de Deus (DNC, 2006, nº 60).
Camões, com a visão de cristandade vigente em seu tempo, afirma nos Lusíadas que os portugueses se lançaram aos mares buscando “dilatar a fé e o império” (Canto 1, estrofe 2). Entretanto, antes mesmo que na América chegassem portugueses ou espanhóis, como afirmam os bispos do CELAM, em Puebla, “o Espírito que encheu o mundo assumiu também o que havia de bom nas culturas pré-colombianas. Ele próprio as ajudou a receber o Evangelho” (DP 201). Sem dúvida essas “Sementes do Verbo” presentes nestas culturas (DP 401, 403), foram cultivadas e incrementadas pela evangelização e catequese da Igreja. De fato, como reconhecem os mesmos bispos em Santo Domingo, “as Sementes do Verbo, presentes no profundo sentido religioso das culturas pré-colombianas, esperavam o orvalho fecundante do Espírito” (SD 17). Essas considerações teológicas permitem-nos avançar no tempo e espaço para aí analisar a história da catequese no Brasil.
1 A catequese no Brasil colonial
Uma vez introduzido na história ocidental e aberto para o mundo desenvolvido de então pela presença e ação dos portugueses, a história do Brasil se entrelaça com a história da evangelização e catequese. Em 1503 chegaram os dois primeiros missionários franciscanos, na expedição de Gonçalo Coelho, em Porto Seguro, seguidos mais tarde por outros frades. Em 1532 fundaram-se as primeiras paróquias, e de 1538 a 1541 a primeira missão formal instalou-se em Santa Catarina por obra dos mesmos franciscanos.
Os jesuítas chegaram com o primeiro governador geral Tomé de Souza, em 1549. Sua existência também se confunde com história do Brasil, tornando-se os protagonistas principais que acompanharam de perto o crescimento e desenvolvimento brasileiro. Nascidos pouco antes dentro do espírito da Reforma, e com um enorme impulso missionário, transmitiram a fé cristã aos indígenas, sobretudo os que habitavam fora dos centros urbanos.
Com eles começou-se a implantação de uma catequese mais organizada para os colonizadores portugueses, seguindo o modelo tridentino; e para os indígenas, uma catequese mais missionária, bastante criativa e com esforços para atingir aquilo que hoje chamamos de inculturação. De fato, após as primeiras tentativas de catequizar os indígenas através de intérpretes, os missionários aprenderam a língua local[2], escreveram catecismos nestas línguas e usaram a música, o teatro, a poesia, os autos e a dança ritual para a obra evangelizadora. Tanto nos colégios como na catequese indígena predominava a metodologia da tradição oral: uma memorização da doutrina mais mecânica e menos assimilada. Aliás, para os missionários “a questão da conversão dos índios não era doutrinária, mas uma questão de costumes”, no dizer do Pe. São José de Anchieta (Leite, 1923, p. 12; Anchieta, 1933, p. 419 e 435).
Dentre os missionários distinguiram-se o Pe. Manoel da Nóbrega, provincial, e o Pe. São José de Anchieta, que veio como noviço e se formou no Colégio da Baia, desenvolvendo uma atividade que o coloca entre os gigantes da primeira evangelização latino-americana. Fundou colégios (como o de São Paulo, que originou a atual metrópole), escreveu textos catequéticos, peças de teatro, gramáticas e poemas em quatro línguas: latim, português, castelhano e tupi-guarani. Ao mesmo tempo foi evangelizador, catequista, médico, artífice, pacificador, taumaturgo, mestre-escola, arquiteto: um missionário completo.
Novas levas de missionários jesuítas chegaram ao Brasil nos anos seguintes, tendo no Pe. Antônio Vieira (1608-1697) uma figura ímpar. Realizaram “uma obra sem exemplo na história”, na expressão do historiador Capistrano de Abreu (Abreu, 1945, p. 105). Também outras ordens religiosas, além dos franciscanos e jesuítas (capuchinhos, beneditinos, carmelitas, mercedários) se associaram à obra empreendida por eles na extraordinária tarefa da formação cristã do Brasil. Todos os missionários enfrentavam inúmeras dificuldades por causa da ambição colonizadora da política mercantilista, a ponto de o Papa Urbano VIII ter que escrever a bula Comissum nobis, em 1638, em defesa dos índios, mantendo as disposições de seu predecessor Paulo III: “proibiu e ordenou que as autoridades também proibissem escravizá-los e privá-los de seus bens”, sob pena de excomunhão latae sententiae, reservada ao Pontífice.
Apesar dessas dificuldades, os missionários se preocupavam não somente com novos métodos e técnicas, mas também com a superação da simples catequese doutrinal ou instrução (embora os textos vão muito nesta linha). Estavam muito atentos àquilo que hoje chamamos de promoção humana e social do indígena dentro de um contexto hostil e avesso a um tipo de atividade deste gênero. Com menos intensidade, mas igual zelo apostólico, fizeram esforços na evangelização dos negros que, numa atitude anti-humana, sofriam a escravidão. Entretanto não tiveram voz para se opor a tão execrável instituição escravagista.
Este gigantesco trabalho evangelizador não pode ser atribuído só aos missionários, despojados, abertos à cultura indígena e com uma alta consciência evangélica. Também os leigos, especialmente mulheres, tiveram papel importante, infelizmente esquecido pela história: estiveram sempre ao lado dos missionários, ora assumindo mesmo a direção das aldeias, ora fazendo parte integrante do processo catequizador. Ficou célebre a presença do negro José Lopes Espínola, missionário leigo no Amazonas no fim do século XVII, a quem o próprio Conselho Ultramarino de Portugal sugeriu uma medalha de ouro pelo seu trabalho de catequese (cf. Vilela, 1998, p. 289).
Para a organização da Igreja e principalmente para a história da catequese no Brasil, é de suma importância a promulgação, já nos inícios do século XVIII, das Constituições do Arcebispado da Bahia, capital e sede do arcebispo primaz do Brasil, na época D. Sebastião Monteiro da Vide. Tais Constituições (1707) orientaram a ordenação jurídico-teológico-catequética na Igreja do Brasil durante dois séculos. Elas se compõem de 5 livros: no primeiro deles se trata da obrigação de ensinar a doutrina cristã. O breve catecismo que lhe é incorporado traz os traços dos catecismos doutrinais europeus. A importância catequética deste documento é assim ressaltada:
As Constituições da Bahia trazem à memória dos párocos, dos mestres-escolas e dos pais de família a obrigação de ensinarem crianças e escravos, seguindo à risca as normas do Concílio de Trento; oferecem ainda aos catequistas um catecismo abreviado para a instrução, que denominam de Forma da doutrina cristã, e também um formulário mais resumido ainda e adaptado para os escravos (Lustosa, 1992,59).
2 As intervenções de Marquês de Pombal, expulsão dos Jesuítas e suas consequências
As ideias que transformavam a Europa no século XVIII tinham sua repercussão no Brasil: o iluminismo, os ideais da Revolução francesa, o mercantilismo, o despotismo esclarecido. Este último movimento teve enorme influência no Brasil, através de Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal. Nomeado primeiro-ministro de D. José II, de Portugal, suas medidas políticas afetaram profundamente a ação da Igreja, particularmente por causa da expulsão dos jesuítas (1759, reabilitados por Pio VII, em 1814). Consequentemente perdeu forças a rede de escolas que eles mantinham ao longo do território nacional. Atitude igualmente danosa à Igreja foi a imposição do catecismo jansenista, chamado também de Catecismo de Montpellier (1702, traduzido em português em 1765). Apesar de ter sido condenado e colocado no Index, em 1721, sob acusação de jansenismo e de tendências galicanas, o livro foi imposto pelo governo português, com decreto régio de 30 de setembro de 1770 como texto oficial nas escolas do Reino português e Colônias. Foi considerado o texto da educação da fé no território brasileiro, na segunda metade do século XVIII e início do XIX. Pombal não estava interessado nas questões teológicas desse catecismo, mas em seu aspecto político, pois o jansenismo via com maus olhos o poder central da Igreja (Papa, Cúria Romana); e era isso que lhe interessava: minar o poder e a autoridade de Roma.
Muitos bispos brasileiros protestaram diante de tal imposição, mas inutilmente; outros, ao invés, oficializaram o texto em suas dioceses. Foi divulgado por toda parte, influenciando tremendamente a catequese no Brasil até o início do período imperial. Mais do que o jansenismo dogmático, teve grande influência na formação religiosa brasileira o jansenismo moral, com seu rigorismo ascético fanaticamente exacerbado, a busca da pureza legal sem limites, a luta indiscriminada contra o espírito de tolerância e o laxismo, visão negativa da sexualidade e a divulgação de um cristianismo triste (cf. Lustosa, 1992, p. 67).
Desenvolveram-se, então formas novas que vieram substituir a catequese oficial que, com essas medidas pombalinas foi-se definhando. Assim pode ser considerada a catequese popular que tinha essas características: simplicidade, sem aprofundamento doutrinal, conhecimento daquilo que é mais importante para um cristão, prática de um catolicismo bem popular e sem a linguagem e fórmulas eclesiásticas. Do ponto de vista moral, emergiam costumes e práticas austeras centradas no essencial, e carregadas de devocionismo, herança portuguesa e medieval, quase que colocando a mediação dos santos acima do cristocentrismo evangélico. Tal catequese tornava a transmissão da fé uma tarefa familiar, que facilmente, e sem contestações ou dificuldades, era praticada.
O cristianismo era transmitido ao lado dos valores humanos, impregnados dos valores evangélicos. Inevitavelmente era forte e vigorosa a influência de elementos religiosos indígenas e africanos na vida cristã. Tal mistura sincrética (diferente da tão proposta e desejada inculturação) ainda hoje é visível e palpável em diferentes ambientes brasileiros[3]. Nascia assim o fenômeno da religiosidade popular, sempre se firmando e crescendo. Ela gerou consequentemente uma transmissão da fé sem estruturas e formalidades. Era conduzida pelo povo: pais e mães de família, pessoas simples sem grande instrução, pregadores do povo, puxadores de terços e novenas, benzedeiras, rezadores, beatas e devotos, carolas e ermitões. Nesse ambiente de cristianismo simples, mas válido e sincero, tais figuras se destacavam e muitas vezes assumiam a liderança nas comunidades.
Crescia concomitantemente expressões rituais e celebrativas, bem diferentes dos livros litúrgicos oficiais, orações, mesmo num latim estropiado, adulterado e não poucas vezes com ressaibos de superstição. A popularidade dessas figuras da religiosidade popular era tal que a seu redor se juntavam multidões de seguidores, líderes que ditavam costumes e práticas religiosas populares. Sobreviveram e se multiplicaram até hoje, manifestando, de um modo concreto junto às pessoas mais simples, um modo concreto de sentir e viver a Igreja nas bases e no chão do povo, marcando nossa cultura e folclore religioso.
3 Catequese brasileira no século XIX: os bispos reformadores
O período imperial no Brasil nasceu com a vinda da família real, em 1808, para o Rio de Janeiro. É marcado pela reforma católica, conduzida pelos bispos chamados reformadores[4]. Eles pretendiam alinhar a Igreja do Brasil com o já longínquo Concílio de Trento, ainda pouco vivenciado em Portugal e nas colônias. Com isso, também ganha a pastoral catequética. Como em toda grande reforma na Igreja, ela começa pelo clero, encaminhando-se depois para a instrução cristã do povo, promovendo a renovação do ensino da doutrina. Tal renovação torna-se ferramenta importe para a implantação da reforma. Além de suas Cartas Pastorais, predecessoras dos atuais Documentos da CNBB, que traçavam diretrizes e orientações, as visitas pastorais eram ocasiões de os bispos realizarem suas catequeses mais ortodoxas do que o Catecismo de Montpellier, imposto por Pombal. Igualmente as Paróquias adotavam uma catequese, sempre de cunho doutrinal, porém mais conforme o Concílio de Trento.
Novos catecismos começam a surgir, sinal de vitalidade da renovação catequética a partir de 1840: são marcados pela dimensão doutrinal e as diretrizes tridentinas. Eram traduzidos de edições europeias, sobretudo francesas, ou elaborados e adaptados pelos próprios bispos brasileiros. Foi a época áurea dos Catecismos da doutrina cristã ou Catecismos teológicos. A multiplicação de tais textos prepara o ensaio de busca por um texto único para todo o Brasil, no início do século XX. Além da característica doutrinal, possuíam também o viés apologético: combatem os erros do jansenismo, do galicanismo e do liberalismo; são carregados do tom antiprotestante da reforma tridentina, da qual a nossa reforma era tributária. Desde 1810, devido às cláusulas favoráveis à liberdade religiosa dos anglicanos, contidas no Tratado do Comércio e Navegação com a Inglaterra, inicia-se no Brasil a implantação de igrejas não católicas. Além dos anglicanos, vários pastores protestantes e imigrantes norte-americanos aportam no país, vindos da guerra de secessão daquele país. Alguns fundam importantes escolas, como o colégio e a universidade Mackenzie de São Paulo.
Como no período anterior, além da catequese paroquial, mais formal e baseada em textos de catecismos doutrinais, também ministrada em colégios católicos, há ainda uma significativa atividade mais missionária, de caráter popular, que mantinha e alimentava a fé das famílias; eram os pregadores leigos populares, que marcaram época, como: Antônio Vicente Mendes Maciel (Antônio Conselheiro), líder religioso-político da revolução de Canudos (1897); “São” João Maria, nome mítico que engloba vários personagens envolvidos em pregações messiânicas, medicina popular e política, na guerra do Contestado (Santa Catarina-Paraná); Pedro Batista, na região de Paulo Afonso (Bahia), Ir. José da Cruz (Rio Juruá no Acre) e Jacobina Meurer (Nova Hamburgo, RS). Junto com os textos de catequese eram também amplamente difundidos os devocionários, manuais de oração, novenários, livros de piedade, terços, horas marianas, missão abreviada (textos para a continuidade das santas Missões) etc.
No final do século XIX e início do XX realizaram-se alguns esforços de articulação pastoral. D. Antônio Macedo Costa, bispo de Belém do Pará, nomeado depois Arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil, conseguiu, pela primeira vez na história da Igreja brasileira, reunir o episcopado em março de 1890 (eram poucas as dioceses), discutir e promulgar a Pastoral Coletiva do Episcopado Brasileiro. Combate pretensos erros do momento, marcado pelo positivismo e pela presença maciça de membros da maçonaria na nascente República, contra a qual se posiciona, assim como contra a Constituição, Estado laico e liberdade religiosa.
Acontecimentos importantes desse movimento de romanização foram o Concílio Plenário Latino-americano (1899, em Roma!) e o Concílio Plenário Brasileiro (1939), primeiro código jurídico-eclesiástico-pastoral exclusivo para o Brasil. Entre esses dois acontecimentos realizaram-se outras assembleias como o Concílio das Províncias Eclesiásticas do Sul, em Nova Friburgo (RJ) de 12 a 17 de janeiro de 1915. Sua documentação aponta para o esforço da construção de uma Igreja Católica Romana no Brasil, após a separação do Estado. Publica uma célebre Pastoral Coletiva e o Catecismo da Doutrina Cristã, cujas raízes remontam aos bispos “reformadores” do final do século anterior.
Esse importante Catecismo teve sua primeira edição em 1903, com grande aceitação e edições sucessivas, espalhou-se não só pelo Sul, mas também por todo o território brasileiro. Trata-se de um catecismo doutrinal-teológico, com fórmulas precisas e ao mesmo tempo simples, dentro do padrão doutrinal, e por isso mesmo, memorizável. Chegou-se a afirmar que, dentro de seu estilo e características próprias ele supera até o famoso Catecismo de Pio XI, publicado em seguida. Na verdade, era um catecismo em quatro níveis: Resumo da Doutrina Cristã (extrato da doutrina elementar); Primeiro Catecismo da Doutrina Cristã (catecismo elementar destinado aos principiantes); Segundo Catecismo (catecismo básico); Terceiro Catecismo (de nível avançado).
Impôs-se em todo o território nacional, perdurando suas edições sucessivas até os dias de hoje, com muito sucesso. Milhões de cristãos a partir de 1903 até às vésperas do Vaticano II, bem ou mal, foram formados tendo como texto-base esses Catecismos da Doutrina Cristã. Eram considerados por muitos o catecismo por antonomásia. De um modo especial nos colégios, suas respostas eram memorizadas, enquanto se adotavam outros textos, menos doutrinais e mais didáticos, para a explicação daqueles formulários. As célebres maratonas ou certames promulgados oficialmente tinham, em geral, como base, os textos do Catecismo da Doutrina Cristã.
4 A catequese no Brasil no período pré-conciliar
O séc. XX foi o século da renovação catequética em todos os sentidos, dando início ao movimento catequético sob a influência do desenvolvimento da Psicologia e da Pedagogia, ao mesmo tempo em que teologicamente a Igreja caminhava em direção do Vaticano II. Esta renovação pedagógica, unida às descobertas da psicologia científica, desemboca, em termos de catequese, nos Congressos de Viena (1912) e de Munique (1928). O método psicológico de Munique propunha partir de um episódio bíblico, explicar a verdade aí contida e aplicá-la à vida. Dá-se grande valor à liturgia e à bíblia: é o incipiente método querigmático. Na França Joseph Colomb, François Coudreau, Françoise Derkene e Maria Tecla Montessori assimilaram e aperfeiçoaram tais tendências, divulgando-as pelo mundo, inclusive no Brasil.
O Papa São Pio X publicou a encíclica Acerbo Nimis (1905) e o decreto Quam Singulari (1910), em polêmica com o jansenismo, abrindo às crianças, a partir dos 7 anos, o acesso à Comunhão Eucarística. Ao fazer isso, muito impulsionou a catequese infantil, quase fixando nessa idade os destinatários principais da catequese, embora prescrevesse também a catequese de adultos. Seu Catecismo, diferentemente do movimento catequético europeu, prossegue a tradição de preferência à dimensão doutrinal, mas inova e avança na dimensão organizacional da catequese. De fato, institui as Congregações da Doutrina Cristã, destinadas a zelar, estimular e apoiar a catequese em todas as Paróquias. Tais orientações tiveram boa repercussão, aceitação e influxo na organização da catequese no Brasil, mais do que seu Catecismo (1905, 1912), feito originalmente para a Diocese de Roma, espalhando-se depois pela Itália e por todo o mundo católico, sem traços de um catecismo universal. Aliás, no Brasil, já havia, como dito acima, um excelente Catecismo da doutrina cristã desde 1901.
A partir da encíclica Acerbo Nimis, os leigos que no Brasil sempre tiveram uma presença significativa na catequese, serão valorizados mais ainda. Os párocos, que eram cada vez mais conclamados a desempenharem com responsabilidade suas graves obrigações com relação à catequese, buscam seus leigos auxiliares para o trabalho catequético entre os membros das várias associações paroquiais (Apostolado da Oração, Congregações Marianas, Vicentinos, Filhas de Maria, Corte de São José etc.). Esta abertura em favor da participação das/os leigos/as foi reflexo também do surgimento da Ação Católica na Europa e que se desenvolveu muito no Brasil. A falta de clero obrigou os bispos e padres a recorrerem cada vez mais aos leigos. Com isso, as/os catequistas receberam uma formação mais sólida e profunda. Por tudo isso, São Pio X, papa da catequese, em alguns países é padroeiro dos catequistas. No Brasil, foi proclamado padroeiro dos catequistas São José de Anchieta.
Desde o final do século XIX o chamado dos Bispos para uma maior atenção à catequese vinha da constatação da crescente ignorância religiosa do povo, o que já apontava também para uma opção doutrinal da mesma. Por outro lado, pessoas atentas à eficácia da pedagogia da fé começaram a criticar os catecismos doutrinais, à base de perguntas e respostas, privilegiando a memorização das fórmulas concentradas da doutrina cristã. O progresso das ciências pedagógicas e a evolução do movimento catequético europeu, já nas décadas de 1920 e 1930, mostraram as fraquezas destes textos. A primeira renovação significativa veio pela Ação Católica, sob o pontificado de Pio XI. No Brasil, ela teve um enorme raio de ação, cujos efeitos continuaram posteriormente, na virada antropológica, sobretudo a atenção aos graves problemas sociais. Sem o trabalho eficaz e organizado da Ação Católica, certamente não haveria clima para o surgimento das teologias da libertação na América Latina, sobretudo no Brasil.
Seus cursos de cultura religiosa primavam pelo aprofundamento da fé, fugindo, contudo, daquele nocionismo que caracterizava a catequese tradicional como doutrina. Leigos bem formados pela Ação Católica assumiam a vocação de catequistas, alterando um pouco o monopólio da catequese por parte do clero. Eles descobriam e viviam sua vocação cristã como leigos, marcando uma presença muito grande de um modo especial na catequese. No entanto, o avançadíssimo pensamento social cristão que permeava a Ação Católica e que irá influir significativamente na sua militância concreta, não conseguiu mudar muito o conteúdo da catequese tradicional. Este será um trabalho para o movimento catequético após o Vaticano II, mas aqui já estão suas sementes e bases.
Com a Ação Católica a catequese se beneficiou com um valioso instrumento metodológico: a maneira de proceder através da trilogia: ver, julgar e agir. Timidamente praticado nos inícios, desenvolveu-se sempre mais, sob a influência do pensamento de Josef-Léon Cardjin e Jacques Maritain, tornando-se depois não só metodologia da catequese, mas de toda a pastoral. Hoje o DNC propõe a terminologia: ver-iluminar-agir (DNC 157-162).
Muito contribuiu para a evolução da catequese no Brasil o movimento querigmático, também de origem europeia. A catequese querigmática, pedagogicamente construída a partir de unidades didáticas, tem como espinha dorsal de seu conteúdo a História da Salvação, cujo centro é Jesus Cristo, com um grande uso da Bíblia, particularmente os Evangelhos, como também da Liturgia. É fruto da convergência na catequese dos avanços dos movimentos bíblico, litúrgico, da renovação da teologia querigmática, da escola ativa, e de toda a efervescência pastoral que acontecia na Igreja às vésperas do Vaticano II.
Entre os grandes animadores brasileiros da catequese do período pré-conciliar, destaca-se o Pe. Álvaro Pereira de Albuquerque Negromonte (1901-1964). Sobre ele assim se expressa O. Lustosa:
Reconhecido na vida como “mentor do catecismo no Brasil” e “um mestre brasileiro de pedagogia do catecismo”, o Pe. Álvaro Negromonte foi lentamente esquecido após sua morte (1964). Sua obra catequética merece, não apenas os agradecimentos dos catequistas, mas um estudo sério de sua importância e de sua influência nos 30 anos de atuação (Lustosa, 1992, p. 113; cf. 120).
Criou e difundiu no Brasil o chamado método integral de catequese: tinha como objetivo “formar o cristão íntegro, firme na fé, forte no amor e pleno de esperança” (CR 22). Entretanto os poucos autores que tratam da catequese no Brasil, colocam-no em primeiro plano, como renovador da catequese, após a era dos catecismos teológicos e com o advento da renovação querigmática. Depois de intensa atividade em Belo Horizonte, de onde praticamente dirigia a catequese em nível nacional, e no Rio de Janeiro, juntou-se a Dom Helder Câmara, na fundação do Instituto Superior de Pastoral Catequética nacional (ISPAC) e na publicação da Revista Catequética, editada durante 8 anos (1949-1956). Nessa ocasião foi o primeiro assessor nacional para a catequese da nascente CNBB (1952), cujo departamento catequético se intitulava Secretariado Nacional do Ensino de Religião (SNER)[5]. Deixou inúmeras publicações, entre as quais se sobressai sua Pedagogia do Catecismo (1937), sendo que as outras são obras mais didáticas, no estilo renovado dos textos de catequese, cujo conteúdo e estilo renovou radicalmente.
Em muitas partes do mundo cristão realizavam-se Congressos Catequéticos ou Semanas Internacionais de Catequese (seis ao todo) sempre em vista de uma revitalização e novas perspectivas, levadas adiante pelo jesuíta Pe. Johannes Hofinger (1903-1984), incansável apóstolo da renovação catequética em base à teologia querigmática e o nascente conceito de inculturação da fé, do qual foi um pioneiro. Pe. Pedro Arrupe SJ, usou-o pela primeira vez oficialmente no Sínodo da Catequese (1977) e depois São João Paulo II, também pela primeira vez usa-o na Exortação Apostólica Catechesi Tradendae (CT).
Concluindo esse período pré-conciliar no Brasil, é obrigatório referir-se à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, fundada sob a liderança de D. Helder Câmara, então simples padre e Assistente Eclesiástico da Ação Católica, em cuja organização e espiritualidade se inspirou para estruturar a CNBB. A partir de tal fundação trouxe nova coordenação tanto paroquial como diocesana à catequese, dando-lhe vigor e levando-a a um crescimento.
Em 1961 D. José Costa Campos, Bispo de Valença (RJ), é nomeado presidente do SNER. Seu dinamismo, capacidade de organização e liderança imprimiu um novo vigor ao movimento catequético brasileiro, com inúmeras iniciativas. Reorganizou o SNER e convocou o Pe. Hugo Paiva, (CM, padres da Missão), formado em catequética no Institut Catholique de Paris, como assessor nacional. O novo assessor logo elaborou um plano de reorganização da catequese no Brasil, cujas medidas mais urgentes seriam a organização do ISPAC (Instituto Superior de Pastoral Catequética) e a criação de um Centro de Informação e Documentação. Criou ainda uma equipe nacional de assessoria que atuou em território nacional, principalmente com cursos e acompanhando o andamento das atividades do SNER.
5 Do Vaticano II (1962-1965) ao final do século XX
Os grandes movimentos de renovação da primeira metade do século XX, como o movimento bíblico, patrístico, litúrgico, querigmático e catequético do final do séc. XIX e início do XX, incluindo aí a Ação Católica, renovam a Igreja e provocam o Concílio Vaticano II com grande ganho para a catequese. O Concílio não quis um Catecismo Universal ou Catecismo Fonte, atribuindo aos bispos a responsabilidade pelos catecismos locais (cf. CD 14), mas fez publicar o Diretório Catequético Geral (1971). Precedido também por grandes movimentos, como a Ação Católica, a Igreja se abre ao mundo moderno, às questões sociais e à ação dos leigos. O método ver, julgar e agir, da Ação Católica, domina a pastoral no Brasil. Desde 1962. Durante o Concílio, a CNBB publica um plano orgânico de pastoral de 4 em 4 anos, as Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja (mudado depois para Ação Evangelizadora). Nas Diretrizes, a dimensão catequética sempre teve grande destaque, situando-a sempre mais no grande objetivo da evangelização cujas características marcam sempre mais o conceito de catequese.
O Vaticano II ficou sendo inicialmente conhecido e veiculado no Brasil, através, principalmente, da reflexão catequética, muito fecunda nos anos 60 e 70, destacando-se o ISPAC. Criado nos moldes do Institut Catéchètique de Paris, o ISPAC do Rio de Janeiro durou pouco (1963-1969), mas formou a geração de catequetas que impulsionaram a catequese nos anos 60 até o início do milênio…. Publicou várias obras, em geral traduzidas do francês, que muito refletiam o pensamento catequético alemão, e era o que havia na época de mais avançado em termos de catequese. Além desse ISPAC nacional, foram fundados outros ISPACs em nível regional (Curitiba, Salvador, São Paulo, Porto Alegre…).
Com a crise desses cursos, somente em 1982 irá aparecer, em São Paulo, no Instituto Pio XI, dos salesianos, um Curso Superior de Pastoral Catequética (CSPC). O curso durou 16 anos, até 1997, sendo, em seguida, substituído pelos cursos de Pós-Graduação, com reconhecimento do MEC. Em outras cidades também se abriram cursos de pós-graduações lato sensu: Curitiba, Goiás, São Paulo, Porto Velho, Salvador, Cuiabá, Sinop, Florianópolis, Castanhal (Norte II), IRPAC (Leste II), Dourados, Marília, Lages… Tais cursos elevaram muito o nível dos coordenadores de Catequese e dos próprios catequistas de base.
Na América Latina, a renovação catequética se deu, sobretudo, através da Semana Internacional de Catequese de Medellín (agosto de 1968), na qual os catequetas brasileiros tiveram grande atuação. Foi seguida imediatamente da II Assembleia do CELAM, na mesma cidade, em setembro de 1968. A situação sociopolítica exigia da Igreja e da catequese, naquele momento histórico, uma resposta às inúmeras injustiças institucionalizadas (expressão usada por um dos documentos de Medellín). Nascia assim a opção pelos pobres, os germens da teologia da libertação, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e a consequente catequese libertadora e transformadora. Esta corrente catequética se consolidou nos documentos da CNBB: Catequese Renovada: Orientações e Conteúdo (CR, 1983), e outros textos produzidos pelo Grupo Nacional de Reflexão Catequética (GRECAT) [6], com intensa participação de muitos especialistas e dos catequistas em geral. Esse grupo, fundado no mesmo ano de 1983, por ocasião da confecção e publicação do documento CR, tem como finalidade acompanhar e assessorar a Dimensão Bíblico-Catequética da CNBB, animar e impulsionar a catequese em nível nacional.
Em 1978 foi fundada a Revista de Catequese, pelo Pe. Ralfy Mendes de Oliveira (1917 -2008), com o apoio da Província Salesiana de São Paulo e da Editora Salesiana Dom Bosco. Apesar das grandes dificuldades, ela se mantém até hoje como publicação acadêmica do Centro UNISAL – Pio XI, de São Paulo. As quatro semanas brasileiras de catequese (1986, 2001, 2009, 2018) têm sido momentos culminantes da história recente da catequese no Brasil. É importante citar ainda as Assembleias do CELAM de Puebla (1979), Santo Domingo (1992), Aparecida (2007) e o documento Catequese na América Latina (1985; 1999), publicado pelo CELAM para os países latino-americanos.
Em termos de Igreja mundial, esse período pós-conciliar foi igualmente riquíssimo de orientações, publicações, documentos, subsídios com estimulante aceitação e repercussão na catequese brasileira. Embora algumas obras apresentadas a seguir não sejam temas propriamente de História da Catequese no Brasil, é importante citá-las devido ao grande influxo que suscitaram. Geralmente elas surgiram de uma prática já existente, ou da grande Tradição da Igreja, mas ao mesmo tempo abriram novos horizontes e caminhos, conforme as necessidades do momento. Assim, foi publicado em 1971, como já foi dito, o primeiro Diretório Catequético Geral, que entre outras coisas, insistia na necessidade de volta aos adultos como interlocutores ou destinatários primeiros da pastoral catequética e, como objetivo da catequese, a maturidade da fé. A IV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (27 de setembro a 26 de outubro de 1977) foi dedicada à catequese: uma longa e profunda análise, seguida das oportunas reflexões e tomadas de decisão, nunca realizada na Igreja com tal amplitude e participação. Logo depois, São João Paulo II escreveu a Exortação pós-sinodal Catequese Tradendae (CT, 1979), de tempestiva repercussão em toda a Igreja, abordando propriamente todos os principais temas da pastoral catequética. Ele também fez publicar o Catecismo da Igreja Católica (CaIC), em 1992, modificando o mandato conciliar que não prescrevia um texto universal de catequese. Pode-se dizer que esse volumoso e oportuno texto, que expressa o autêntico conteúdo da catequese doutrinal, conforme o atual magistério da Igreja, é um lídimo fruto do longo pontificado do Papa São João Paulo II, embora de várias partes houvesse sua solicitação, sobretudo dos países “de missão”. De fato, ele se coloca entre as iniciativas do Papa Wojtyła de prover a Igreja com os instrumentos aptos para uma nova evangelização do mundo de hoje.
Muito ligado ao CaIC, foi promulgado também o Diretório Geral para a Catequese (DGC) em sua 2ª. edição (1997). É talvez o mais completo e profundo dos textos já produzidos pela Igreja em favor da catequese. Como instrução, a catequese é, muito corretamente, considerada em sua dimensão evangelizadora. Isso supõe que ela seja sempre precedida pelo urgente primeiro anúncio, como a essência e o resumo de todo Evangelho. Deste modo, um segundo momento catequético poderá ampliar e consolidar a adesão a Jesus Cristo, usando, para isso, a doutrina católica, que tanto caracterizou a catequese no passado e para o qual foi criado o CaIC. Hoje, num mundo em processos de descristianização, devemos, antes da catequese, fazer valer esse primeiro momento querigmático do primeiro anúncio.
O Congresso Internacional de Catequese (08-12 de outubro de 2002), comemorando os 10 anos do CaIC acentuou a importância desse texto e dos catecismos nacionais, reforçando a necessidade de se dar maior importância à dimensão intelectual e sistemática na educação da fé: daí se explica por que a Congregação da Doutrina da Fé foi a autora e promotora principal do Catecismo. Esta tendência doutrinária ganhou maior importância com o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, querido por João Paulo II e publicado por Bento XVI (29-06-05), um resumo em perguntas e respostas, acentuando mais ainda apenas a dimensão doutrinal! No entanto, tal dimensão intelectual, sempre necessária na catequese, deve estar integrada e equilibrada com os outros aspectos da educação da fé, como bem demonstrou todo o movimento catequético do final do séc. XX, cujo ápice foi o DGC.
Como sintetizar o núcleo desta renovação catequética sob o impacto do Vaticano II? Poderíamos relevar esses aspectos: a comunidade de fé como principal lugar de catequese; o valor da Bíblia como texto principal da educação da fé, acompanhado da centralidade da Liturgia; o princípio de interação entre fé e vida, relevando o mútuo influxo entre mensagem evangélica e situações concretas da vida; a necessidade de inculturação das fórmulas (ou enunciados, doutrinas) da fé; a importância da pessoa do catequista, como testemunha viva do que anuncia e considerado como mistagogo (que conduz ao mistério de Cristo e da Igreja) e sua esmerada formação; por fim, a recuperação da dimensão catecumenal da catequese, que recebeu no período seguinte toda a atenção e maior desenvolvimento.
6 A catequese a serviço da Iniciação à Vida Cristã: dimensão catecumenal
O início do século XXI é marcado no Brasil, pela atenção e reflexão sobre os adultos, com a redação e publicação do Estudo da CNBB: Com adultos catequese adulta, fruto da 2a. Semana Brasileira de Catequese (outubro de 2001). Nesse sentido, houve várias iniciativas em todo o país. É típico do Brasil afirmar a “catequese com adultos” e não “de adultos”, para reforçar a ideia de que eles são, mais que destinatários, interlocutores da catequese. Se isso vale para todo tipo de catequese, muito mais para a catequese realizada com pessoas adultas.
Outro tema que ocupou seriamente a Igreja nesse início de milênio foi a catequese considerada como processo de Iniciação à Vida Cristã (IVC). Sobre essa expressão deve-se considerar que a tradição histórica, tanto teológica como litúrgica, sempre usou a expressão “iniciação cristã” para indicar os processos pelos quais a pessoa “torna-se cristã”, usando a expressão de Tertuliano (século II): “as pessoas se tornam, não nascem cristãs!” (fiunt non nascuntur christiani: Apologia, XVIII, 4). No Brasil e em alguns países latino-americanos, usa-se a expressão “iniciação à vida cristã”, para indicar que não se trata de algo somente místico e espiritual, mas deve tocar as raízes da existência, de um modo muito experiencial, sobretudo no que se refere aos graves problemas sociais do Brasil.
Como haviam determinado os documentos conciliares Christus Dominus (13, 14 c), Ad Gentes (14-15,17) e Sacrosanctum Concilium (64), o Diretório Catequético Geral da Sé Apostólica (1971) já estabelecera que “a instituição dos catecúmenos adultos fosse restabelecida” (20b; cf. 19 b, c). Como fruto da Reforma Litúrgica do Concílio, foi publicado, em 1971, o Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA), importantíssimo para a catequese iniciática, mas ficara um texto desconhecido e pouco usado. Somente no início do século XXI é que, em âmbito latino-americano e depois brasileiro, começou-se a descobri-lo e estudá-lo, suscitando inclusive, no Brasil, uma nova edição, com diagramação que melhor facilitasse seu uso nos ritos de iniciação (2001).
Entretanto, foi em sua segunda edição, de 1997, que o DGC reforçou, na catequese, a restauração do catecumenato, uma vez que agora ela é considerada dentro do quadro maior da evangelização. Assim, a catequese retorna a seu lugar original, nascida, de fato, dentro dos processos de IVC (catecumenato), como nos primeiros séculos do cristianismo.
Diferentemente de certa concepção tradicional de catequese, em que era privilegiado quase que somente o conteúdo doutrinal, o catecumenato, segundo AG, “não é mera exposição de dogmas e preceitos, mas uma educação de toda a vida cristã e um tirocínio de certa duração com o fim de unir os discípulos com Cristo, seu Mestre” (14a).
Esse processo de iniciação é assim descrito: “sejam os catecúmenos convenientemente iniciados no mistério da salvação. Através da prática dos costumes evangélicos e pelos ritos sagrados que se celebram em tempos sucessivos, sejam introduzidos [iniciados!] na vida da fé, da liturgia e da caridade do Povo de Deus” (AG 14a). Seguem-se outras disposições (14b-e) que, no seu conjunto foram assumidas e ampliadas no livro litúrgico Rito de Iniciação Cristã de Adultos (RICA, 1972).
Tais reflexões confluíram no documento da CNBB Diretório Nacional de Catequese (DNC). No início do milênio, ao invés de se fazer uma nova edição atualizada de CR optou-se por publicar esse Diretório, em continuidade com CR e sem rupturas. Tal projeto vinha atender também a um pedido da Santa Sé a todas as Conferências Episcopais, através do DGC (cf. nº. 9, 11, 139, 166 e 171). Foi um longo processo de reflexão e redação que durou de maio de 2002 a outubro de 2006, quando foi aprovado e publicado, depois de três Assembleias Gerais do episcopado e de dois Instrumentos de Trabalho. Muitos catequistas, catequetas, biblistas, teólogos, liturgistas e outros estudiosos foram envolvidos no processo de elaboração deste DNC. Ele trouxe novo impulso e animação na pastoral catequética, um verdadeiro marco na história da catequese brasileira. Propondo uma catequese com dimensão catecumenal, intimamente ligada à Liturgia, o DNC apresenta um novo paradigma de catequese. Tal tendência foi uma antecipação do que seria refletido e proposto para toda a América Latina através da V Conferência do CELAM, em Aparecida. Esse DNC, ao permitir a conferição do Ministério do Catequista para leigos, adiantou de 15 anos o Motu Proprio Antiquum Ministerium, do Papa Francisco, que o irá instituir em 10 de maio de 2021.
Em vista da magna assembleia da V CELAM, em Aparecida (SP), a Secção de Catequese do mesmo CELAM reuniu em Bogotá de 01 a 05 de 2006 a III Semana Latino-Americana de Catequese, com cerca de 50 especialistas, entre os quais muitos brasileiros, para dar contribuições a partir da catequese. Foi um importante momento catequético latino-americano, liderado por Dom José Luís Chávez Botello, responsável pela catequese no continente e seus assessores. Como fruto dessa III SLAC foi publicado um documento em quatro capítulos[7], que acentua, sobretudo, os processos de iniciação cristã e a dimensão catecumenal da catequese. Tal contribuição, embora de maneira muito sucinta, faz parte do Documento de Aparecida, que assume o catecumenato (286-300) realizado nos processos de IVC para a formação dos discípulos missionários, grande perspectiva dessa V Assembleia Continental (cf. nº. 284-285).
Os processos de IVC, conforme o RICA, são compostos de quatro tempos e três etapas. Os tempos são: pré-catecumenato (primeiro anúncio), catecumenato propriamente dito (instrução, catequese, conversão), iluminação-purificação (tempo quaresmal-pascal) e mistagogia (catequese após o recebimento dos sacramentos da iniciação, própria do tempo pascal). As etapas são as grandes celebrações: entrada no catecumenato, purificação e iluminação (ritos de entregas, escrutínios e outros) e celebração sacramental do Batismo, Crisma e Eucaristia. Esse ritual deixa grande possibilidade de estruturação, nova organização e, sobretudo, inculturação dos ritos catecumenais. Porém, as experiências e propostas em geral são baseadas nos ritos tradicionais do mesmo RICA. Conforme o DGC, da Sé Apostólica, e o DNC, da CNBB (2006), o RICA dá o ritmo dos ritos e celebrações que devem acompanhar a catequese entendida como educação e instrução na fé. Ad Gentes (AG) releva ainda a grande importância da comunidade no processo catecumenal: “a iniciação cristã não é apenas tarefa dos catequistas e sacerdotes, mas de toda a comunidade dos fiéis, de modo especial, dos padrinhos” (14d; cf. PO 6d).
No Brasil, como na América Latina, essa guinada em busca de uma catequese de índole catecumenal é bem recebida, inicialmente entre os orientadores da catequese e os ambientes acadêmicos, para em seguida ser entusiasticamente acolhida pela maioria dos catequistas de base. Cresce o interesse pela restauração do catecumenato, pois é nele, ou seja, dentro do processo de IVC que a catequese encontra seu húmus e lugar onde melhor exercer sua missão mistagógica e iniciático-pedagógica. Apesar dos inúmeros cursos de atualização ou assembleias para o clero sobre a IVC, proporcionados pela maioria das dioceses, do ponto de vista prático, a instauração desse novo paradigma catequético-catecumenal encontra resistências e questionamentos por parte daqueles que justamente deveriam liderar tal renovação: os párocos! Muitos o julgam complicado, trabalhoso e preferem manter a toada tradicional da catequese, apenas com alguma maquiagem nos subsídios e métodos.
Um acontecimento de grande impacto na catequese no Brasil e demais setores da Igreja, sem dúvida, foi a eleição do Papa Bergoglio. O nome escolhido, Francisco, já indica uma forte tendência de seu pontificado: surpreendeu o mundo com gestos de simplicidade, pobreza, apelo à misericórdia, reforma nas estruturas eclesiais e o retorno ao núcleo central do Evangelho. Invejável é também a lista de seus escritos: além de uma encíclica sobre a Fé, Lumen Fidei, que muito tem a ver com a catequese, escreveu quase que de próprio punho a exortação apostólica Evangelii Gaudium (a alegria do Evangelho), importantíssima para a evangelização e catequese, recolhendo os frutos principais do Sínodo dos Bispos, de 2012. Outros grandes documentos seus: Laudato sì, Amoris Laetitia, Querida Amazonia, Fratelli tutti. Proclamou 2016 como Ano da Misericórdia, convocou o Sínodo de 2018: os jovens e a fé, e sua respectiva exortação Apostólica Christus vivit. Ele mesmo, em suas catequeses, é um exemplo vivo de como fazer catequese hoje.
7 Um panorama fecundo de eventos e atividades catequéticas
Entre 2012-2022, podemos elencar onze acontecimentos e documentos em torno da IVC. Eles marcam a história recente e apontam para esse novo paradigma catequético. Não se trata apenas de nomes e dinâmicas inovadoras, mas constitui-se também como que um novo caminho, que não tem retorno, para o futuro da catequese no Brasil:
1. O Sínodo dos Bispos para a Nova Evangelização realizado, em outubro de 2012, com o tema A Nova Evangelização para a transmissão da fé, no marco dos 50 anos do Vaticano II e 20 do Catecismo da Igreja Católica. Reafirmou a importância da catequese para a nova evangelização, sublinhando seu caráter catecumenal e a prioridade dos adultos. Pediu que fosse revista a sequência da recepção dos Sacramentos da Iniciação, propondo: Batismo, Crisma, Eucaristia, para que esse Santíssimo Sacramento se torne o ápice da iniciação, e não a confirmação.
2. O III Congresso Internacional sobre o Catecumenato, realizado em Santiago do Chile (20-25 de julho de 2014) sobre a IVC e a mudança de época.
3. O Seminário Nacional sobre Iniciação à Vida Cristã, em São Caetano (SP), de 07 a 09 de novembro de 2014: avaliação de experiências realizadas e prospectivas.
4. Publicação pelo Celam do texto: A alegria de iniciar discípulos missionários numa mudança de época. Novas perspectivas para a catequese na América Latina e Caribe[8]. É um texto breve, denso e provocativo; apresenta-se com uma linguagem simples; sem ser acadêmica ou erudita, é profunda, compreensível por um catequista de cultura média.
5. Lançamento, pela Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética, da CNBB, do Itinerário Catequético: iniciação à vida cristã – um processo de inspiração catecumenal (Brasília: Edições CNBB 2016, 3ª. ed.). Nele, de maneira muito esquemática, há itinerários de IVC para 4 idades: adultos não batizados, adultos batizados, crianças, adolescentes e jovens, sempre a partir do RICA e integrando os três grandes livros da IVC: Bíblia, CaIC, RICA.
6. Reunião do Pontifício Conselho para Promoção da Nova Evangelização com os 18 Regionais da CNBB, para conhecimento direto da catequese no Brasil por parte desse organismo romano, realizado de 02 a 04 de setembro de 2015, em Aparecida (SP): foi a primeira vez que um órgão da Cúria Romana se interessou por um maior conhecimento, in loco, da nossa realidade catequética brasileira. Estabeleceu-se um diálogo muito fecundo.
7. Aprovação, pela 55ª. Assembleia Geral da CNBB, em 2017, do Documento 107, Iniciação à Vida Cristã: itinerário para formar discípulos missionários (Brasília: Edições CNBB, 2017). É o documento oficial mais importante da Conferência Episcopal brasileira para a IVC, dentro da qual se situa a catequese. São 4 capítulos densos de doutrina e história: depois de um primeiro capítulo, em que apresenta o ícone da IVC no episódio de Jesus e a Samaritana, o segundo é um duplo olhar: para o passado (a história da IVC) e para o presente (as necessidades atuais); só então, no terceiro capítulo, procede-se a uma grande reflexão teológico-pastoral sobre a IVC, tratando temas como mergulho no mistério de Deus e de Cristo mediante o mistério da Igreja, contemplada como comunidade querigmática e missionária, mistagógica e materna; reflexão sobre o RICA e os sacramentos da IVC, concluindo com a visão da vida cristã como fruto da Iniciação. Por fim, no quarto e maior capítulo, há a proposta de caminhos metodológicos: o projeto diocesano responsável por todo o êxito dessa prática pastoral-catequética, o querigma, o catecumenato com seus tempos e etapas, orientações para a formação iniciática e sobre os principais atores da IVC, concluindo com encaminhamentos para a revisão da ordem dos sacramentos da iniciação: Batismo, Crisma e Eucaristia.
8. Promovido pelo Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, realizou-se no Vaticano, de 20 a 23 de setembro de 2018, o II Congresso Internacional de Catequese, com o tema: O Catequista, testemunha do Mistério. Teve o caráter mais de festa e celebração, mas também momentos de reflexão sobre o catequista testemunha e anunciador do mistério cristão.
9. IV Semana Brasileira de Catequese, de 14 a 18 novembro de 2018, em Itaici (SP), com o tema A Catequese a serviço da IVC. Foi preparada com um subsídio próprio pelas duas comissões episcopais: da Catequese e da Liturgia. O evento teve como lema “Nós ouvimos e sabemos que Ele é Salvador do mundo” (Jo 4,42), contando com mais de quatrocentos participantes de todo Brasil, com a totalidade da liderança catequética brasileira e representantes da maioria das 278 dioceses e outras circunscrições eclesiásticas.
10. Publicação do novo Diretório para a Catequese (DpC), pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização e apresentado em 25 de junho de 2020. Repete as grandes intuições e perspectivas do Diretório Geral para a Catequese anterior, e integra os ensinamentos dos Papas Bento XVI e Francisco. Retorna a falar de catequese escolar para atender a necessidades das Igrejas do Leste Europeu, que muito valorizam a escola para evangelizar (no Brasil se faz a distinção entre Catequese e Ensino Religioso Escolar). Com relação ao Diretório anterior, inova acrescentando a dimensão midiática da catequese, muito bem desenvolvida no item Catequese e cultura digital (nº. 359-372): características gerais, transformação antropológica, cultura digital como fenômeno religioso, cultura digital e questões educativas, anúncio e catequese na era digital. Para a América Latina, que já possui o grande documento de Aparecida, com significativo avanço na IVC, o novo Diretório não trouxe grandes novidades. Entretanto, para a Europa e outros continentes, ele relembrou as conquistas da catequese nesse último século e nem sempre colocadas em prática no antigo continente. Sua receptio (recepção) foi intensa e calorosa, dada a facilidade das redes sociais, em fazer lives, seminários, conferências, cursos. Grandes estudiosos, tanto da América Latina, como da Europa, deram suas contribuições apresentando o texto e relevando sua grande contribuição para a catequese hoje e no futuro.
11. Esse DpC, de 2020, não reconhece oficialmente o Ministério instituído do Catequista; na verdade, nem é nomeado. De fato, há pessoas, também da Hierarquia da Igreja, que não concordam com essa ideia, afirmando que oficialmente o termo Ministério se aplica somente aos membros do clero. Mas, o Papa Francisco, em 10 de maio do ano seguinte (2021), enfrentando oposições, colocou um ponto final nessa discussão e, por própria iniciativa (motu próprio), instituiu formalmente o Ministério Leigo da/o Catequista, através do Motu Proprio Antiquum Ministerium (AM). É um grande reconhecimento da Igreja pelo trabalho árduo, cansativo, penoso dos catequistas. Embora já haja um Rito da CNBB para a instituição do ministério do/a catequista, (Cnbb, Ministério do Catequista. Coleção Estudos da CNBB 95. Paulus: 2007) a Conferência Episcopal, obedecendo ao mandato do Papa em AM, publicou também o Ritual para a instituição o Ministério Leigo da/o catequista [9].
Conclusão
A História da catequese na Igreja mostra que em seus inícios ela nasceu inserida no processo maior de Iniciação Cristã, codificado numa das maiores organizações que a Igreja já instituiu, o Catecumenato. A instrução e o ensino da doutrina cristã estavam inseridos num âmbito maior que implicava celebrações, entregas, provas de conversão cristã, escrutínios, acompanhamento de toda comunidade…
Com o avanço da evangelização e a hegemonia do cristianismo no ambiente cultural ocidental, a catequese ficou quase que reduzida à transmissão da doutrina, ou seja, no seu aspecto mais intelectual e reflexivo, doutrinal, especulativo e não tanto experiencial, como no catecumenato. No Brasil, pela intensa atividade missionária dos Jesuítas, predominou esse tipo doutrinal da catequese, porém com grandes esforços daquilo que hoje chamamos de inculturação e promoção humana. Nenhuma tentativa houve que se aproximasse do antigo catecumenato, como acontecia em outras regiões. O golpe desferido por Pombal com a expulsão dos Jesuítas, não conseguiu erradicar o cristianismo, muito embora ele tenha imposto o Catecismo Jansenista (ou Catecismo de Montpellier).
A fé mantida no meio do povo, por leigos e associações religiosas, manteve acesa a fé. Entretanto, somente com os Bispos Reformadores, o Concílio de Trento começou a ser implantado no Brasil, nascendo assim a “era dos catecismos doutrinais” (1850-1950), muitos deles, como o Catecismo da doutrina Cristã (1901), verdadeiras pérolas de formulação doutrinal, dentro do estilo da época. Esse esforço de alinhar a Igreja do Brasil com o centro da Igreja romana, teve seu ponto alto nos Concílio Plenário Latino-americano (1899, em Roma!) e o Concílio Plenário Brasileiro (1939), que muito prescreveram sobre a catequese doutrinal.
À medida que o movimento de renovação catequética surgia na Europa nos inícios do século XX, ia sendo conhecido também no Brasil, embora com atrasos, por obra sobretudo do Pe. Álvaro Negromonte. Permanecia ainda com o forte caráter doutrinal e mnemônico herdado de tempos imemoriais. A influência da psicologia, sociologia, e de outras ciências humanas, alavancavam o progresso também do ensino catequético. Teologicamente, muito contribuiu o movimento querigmático, no esforço de um cristocentrismo renovador na catequese. Finalmente, o Concílio Vaticano II e seu poder renovador, acelerou a verdadeira renovação da catequese, sobretudo sua nova eclesiologia, cristologia e renovada concepção da Revelação Divina.
A Semana Internacional de Catequese e a II CELAM (Conferência Episcopal Latino-americana) ambas em Medellín (Colômbia), no mês de agosto de 1968, representaram mudanças significativas para a catequese: a preocupação já não era somente com a correta doutrina, mas também com a situação, em geral de grande pobreza, dos catequizandos, trazendo-lhes, em nome do Evangelho, melhores condições de vida e promoção humana. Essa dimensão sociopolítica foi mitigada posteriormente pelos movimentos que acentuavam mais o caráter espiritual, mistagógico, litúrgico e orante da mensagem cristã. Entre idas e vindas, a Igreja, sobretudo no Brasil e na A. Latina, encaminhou-se a largos passos, já no século XXI, para a compreensão original da catequese, ou seja: ela está a serviço dos processos de Iniciação Cristã (DGC 63-68; DNC 35-38), retornando, assim, a seus inícios nos séculos II-IV. Fecha-se, assim, o ciclo histórico com a volta às origens, adaptada à novas situações para a proclamação da Boa Nova de Jesus Cristo e seu Evangelho.
Pe. Dr. Luiz Alves de Lima, sdb. UNISAL – Centro Universitário Salesiano de São Paulo. Texto original português. Enviado em 20/02/2023; aprovado em 20/10/2023; postado 31/12/2023.
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[1] Siglas usadas nessa matéria: AG = Ad Gentes; AM = Antiquum Ministerium; DAp = Documento de Aparecida (CELAM: 2007); CaIC = Catecismo da Igreja Católica; CD = Christus Dominus; CM = Congregação da Missão (vicentinos); CR = Documento Catequese Renovada; CT = Catechesi Tradendae; DGC = Diretório Geral para a Catequese (1997; DNC = Diretório Nacional de Catequese (2006); ISPAC = Instituto Superior de Pastoral Catequética; IVC = Iniciação à Vida Cristã; PO = Presbiterorum Ordinis; DM = Documento de Medellín (CELAM, 1968); DP = Documento de Puebla (CELAM: 1979); RICA = Ritual de Iniciação Cristã de Adultos; SD = Documento de Santo Domingo (CELAM: 1992); SC = Sacrosanctum Concilium; SLAC = III Semana Latino-Americana de Catequese.
[2] As Regras comuns dos jesuítas impunham a grave obrigação de conhecer e usar bem as línguas indígenas, a ponto de poderem escrever livros e explicar a doutrina cristã; era uma das condições para ser ordenado sacerdote. Muitas eram as línguas faladas no Brasil, mas havia uma língua geral, dos tupinambás (nheengatu), mais ou menos falado por todos.
[3] Sobre os valores indígenas e africanos assimilados no catolicismo popular pela catequese nesta época, cf. Cansi, 1993, p. 195-201.
[4] Podem ser citados: D. Antônio Viçoso (Mariana), D. Antônio Joaquim de Melo (São Paulo), D. Antônio Macedo Costa (Pará), D. Joaquim Manoel da Silveira (Maranhão), D. Pedro Maria de Lacerda (Rio de Janeiro), D. Romualdo de Souza Coelho e outros. Alguns autores chamam tal reforma de romanização, pois se pretendia superar o tradicional catolicismo português, de raiz medieval, sob o espírito tridentino romano.
[5] É preciso notar que, no Brasil, não havia muita distinção entre Catequese, como atividade paroquial em vista do crescimento da fé, própria da Comunidade Eclesial (paróquia) e o Ensino Religioso Escolar, próprio da Escola, como educação da religiosidade. Pe. Álvaro Negromonte sempre trabalhou e escreveu sobre ambos. Tal distinção vai se acentuar e ser esclarecida somente mais tarde com o documento Catequese Renovada (1983).
[6] São muitos. Os mais importantes: Textos e Manuais de Catequese: orientações para sua elaboração, análise e avaliação = Estudos da CNBB 53, 1987; Formação de Catequistas: critérios pastorais = Estudos da CNBB 59, 1990; Orientações para a catequese de crisma = Estudos da CNBB 61, 1991; Catequese para um mundo em mudança = Estudos da CNBB 73, 1994; O hoje de Deus em nosso chão = Estudos da CNBB 78, 1998; Com adultos catequese adulta = Estudos da CNBB 80, 2001; Crescer na Leitura da Bíblia = Estudos da CNBB 86, Paulus 2003; Ler a Bíblia com a Igreja: comentário didático popular à Constituição dogmática Dei Verbum = Projeto Nacional de Evangelização “Queremos ver Jesus…” nº 11, 2004, etc.
[7] Celam – Secção de Catequese, A caminho de um novo paradigma para a Catequese. III SLAC. Brasília: Edições CNBB, 2007.
[8] Celam. A alegria de iniciar discípulos missionários numa época de mudanças. Brasília: Edições CNBB, 2016.
[9] Cnbb, Critérios e Itinerários para a Instituição do Ministério de Catequista. Brasília: Edições CNBB, 2022.