Mística e testemunho

Sumário

1 A experiência mística e o ato de testemunhar

1.1 Fundamentação bíblica

1.2 Elaboração sistemática

2 O testemunho no/dos místicos cristãos

2.1 A Patrística e o Medievo: elogio da contemplação

2.2 Do século XVI ao século XIX: a respeito da vida ativa

2.3 Século XX e a época contemporânea: leitura mística dos sinais dos nossos tempos

3 Rumo a uma mística testemunhal intercultural

1 A experiência mística e o ato de testemunhar

O vínculo entre a experiência mística e o ato de testemunhar pode ser considerado tanto na sua dimensão pessoal quanto na sua dimensão social e eclesial (SCANNONE, 2005, p. 81-101). Se consideramos a mística como a experiência radical da presença de Deus em sua dimensão pessoal e comunitária, o testemunho é, então, a evidência de tal presença, não somente na verificação do contato com a proximidade da divindade, mas também nas palavras e fatos que correspondem e dão autenticidade ao elemento teologal da experiência. A mensagem testemunhal do místico verifica, portanto, a existência e realidade de Deus, mas não o faz separadamente da transformação do faz a experiência em um portador ativo e alegre do Verbo divino. Segundo o Papa Francisco, o sujeito coletivo ativo das místicas populares oferece uma nova abertura tanto no diálogo como no relato da dinâmica pessoal do evangelho em uma cultura plural (EG 122-124; ROSETTI, 2014).

1.1 Fundamentação bíblica

O profeta no Antigo Testamento é, em primeiro lugar, um proclamador da palavra divina. Não fala a partir da sua própria autoridade, mas como mensageiro. O vínculo entre a mística e o testemunho se destaca na abertura completa do profeta à atualidade da palavra de Deus. Por exemplo, Ezequiel, um sacerdote exilado na Babilônia, apresenta a simbologia do comer o rolo de Deus (Ez 3). Assim, o profeta incorpora a palavra que transcende toda a nossa compreensão finita na sua missão e em seu ministério. O profeta é, de certo modo, “engravidado” pela gloriosa palavra. Pelo chamado do povo à fidelidade e à visão do vale dos ossos secos, é recordada a capacidade transformadora do profeta no meio do povo e a favor da vontade de Deus: “Farei deles uma nação única na terra, nas montanhas de Israel: um único rei será o rei de todos eles” (Ez 37,22). As pegadas da palavra absoluta passam pelo mundo, revelando-se no campo frutífero da ação humana.

Há vários modos de vislumbrar uma mística testemunhal no Novo Testamento, principalmente em certas cartas de São Paulo e no livro dos sinais do evangelho de São João. Através da fé em Jesus Cristo, São Paulo fala, em Gal 2,20, da sua união com o Cristo crucificado: “Fui crucificado junto com Cristo. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim”. Essa temática foi desenvolvida mais tarde na espiritualidade dos Passionistas, por exemplo, mas, no fundo, manifesta o poder salvífico de Deus que se submeteu à morte por nossa causa. Deus crucificado se solidariza, portanto, com os seguidores fiéis que cumprem a lei de Deus, sem rejeitá-la e com a esperança de uma união total com o ato de amor encarnado na cruz de Jesus Cristo. Além disso, a união mística não pode ser separada da ação do Espírito, enviado para dar testemunho da verdade (Gal 4,1-20).

O livro dos sinais do evangelho de João relata o ministério de Jesus começando com o casamento em Caná. Nesse contexto, a prática da verdade se transforma no foco do evangelho de Jesus Cristo (Jo, 2-12). Segundo Jo 3,21, “quem pratica a verdade vem para a luz, para que se manifeste que suas obras são feitas em Deus”. As palavras simples da mãe de Deus durante o casamento exortam à fidelidade no seguimento e, assim, a partir da cotidianidade da experiência, surge o misticismo do evangelho (Jo 2,5). A prática da verdade não é, então, um mero utilitarismo ou uma instrumentalização da palavra divina. Ao contrário, o seguidor testemunha a verdade em um caminho entre trevas, iluminado pela luz da fé. O crente se encontra acompanhado pelo bom pastor Jesus: Maria de Betânia que ungiu os pés do Senhor e os secou com seus cabelos (Jo 11, 1-11), a mulher evangelizadora da Samaria (Jo 4), Lázaro (Jo 11), e todas as outras pessoas fiéis rejeitadas pela hegemonia intolerante dessa época. Todos os crentes no evangelho de João testemunham em palavra e em obra, com o auxílio do Espírito de Jesus Cristo.

Concluamos com uma breve lembrança dos testemunhos dos mártires cristãos. Santo Estevão, o primeiro mártir, foi arrastado para fora da cidade para ser apedrejado. Assim recebeu o Espírito do Senhor, perdoando, na ocasião, seus perseguidores (At 7,58-60). Tiago, o irmão de João, foi morto à espada por ordem do rei Herodes (At 12,1-2). No livro do Apocalipse, encontramos numerosas referências simbólicas ao martírio (Ap 6,9-11). Por exemplo, a visão das almas dos decapitados “por causa do testemunho de Jesus e pela palavra de Deus” nos recorda também do sofrimento na cruz do Cordeiro de Deus (Ap 5,9-12; 20,4). O martírio cristão no seu momento originário é um ato de testemunhar. O martírio cristão, no fundo, é o paradigma da mística do testemunho, dando continuidade ao despojamento por amor do outro até a hora da morte. O martírio, porém, abraça toda a vida do batizado e não somente nasce no último momento.

1.2 Elaboração sistemática

O testemunho do místico não se limita à interioridade subjetiva da pessoa humana; ou seja, um testemunho que vem como um dom do Absoluto não é inteiramente uma mensagem interior e privada. O ato de testemunhar contribui para a articulação da mensagem. É um ato performativo pelo qual a expressão corporal e exterior na vida ativa configura a comunicação do testemunho, porque configura o próprio testemunho. Pregue sempre e de vez em quando utilize palavras! Foi o que recomendou são Francisco de Assis e isso é verdadeiro.

Há uma reflexão atual que se concentra no uso do testemunho da mística para a política contemporânea. Os pensadores mais importantes dessa linha são Eric Voegelin e Ernesto Laclau, além de Emilce Cuda que considera a relação entre o peronismo político e a linguagem mística a partir da teologia do povo do Papa Francisco (CUDA, 2016, p. 131-151). O místico, segundo Laclau, congrega o povo sob um simbolismo unificador. A política latino-americana pode aprender algo sobre a identidade do povo a partir do poder discursivo da linguagem mística. O conteúdo religioso é importante somente para a realização de um programa político.

A New Age religiosa na América Latina não ignora o vínculo entre misticismo e o testemunho. Como o peronismo inédito, a New Age instrumentaliza o discurso religioso para gerar uma experiência puramente interior e terapêutica e/ou para facilitar um universalismo falso de perspectivas e culturas, que mantém diferenças fundamentais. O legado de Madame Helena Blavatksy na América Latina – que não é superficial nem em seu alcance nem em sua popularidade – é, contudo, um bom exemplo desse fenômeno de divulgação popular.

Qual abordagem teológica nos serviria para repensar o vínculo em sua dimensão intrínseca, sem identificar todo misticismo com o testemunho cristão como tal, e vice-versa? Segundo uma linha que se encontra tanto na América Latina como entre os latinos dos EUA, é preciso reconectar a beleza e a justiça social. A beleza da religiosidade popular que contemplamos não é indiferente ao clamor dos pobres com os quais devemos nos solidarizar.

2 O testemunho nos/dos místicos cristãos

2.1 A Patrística e o Medievo: elogio da contemplação

Na Patrística e na Idade Média, há várias vinculações da experiência mística com o testemunho, incluindo o comentário ascético sobre a virgindade e o martírio, mas um tema transversal é a orientação da alma à vida contemplativa, seja no isolamento do deserto na oração pelo mundo, seja em uma comunidade monástica rezando os salmos. Orígenes, por exemplo, veio de uma família cristã de Alexandria e escreveu tratados muito importantes durante o terceiro século da cristandade sobre a contemplação. No seu tratado sobre a oração, que inclui um comentário testemunhal a partir da recitação do Pai Nosso, diz que Cristo mesmo acompanha a pessoa que reza no nome de Cristo (BINGEMER.; PINHEIRO, 2016, p. 43-45).

O tema dos pobres não foi ignorado pelos padres da Igreja. No quarto século, São João Crisóstomo pregou que o cristão contemplativo honra a Jesus Cristo quando se dispõe ao serviço dos pobres. Um dominicano do século XIII, Johann Eckhart, também retomou a espiritualidade da pobreza, mas enfatizou a disponibilidade completa da alma. Segundo Eckhart, esse desprendimento representa a última forma de liberdade cristã em união com Deus, indo além de um formalismo moral (BINGEMER; PINHEIRO, 2016, p. 181-194).

O testemunho público das religiosas avança na Idade Média tardia, ainda que não todas as mulheres compartilhem da mesma liberdade. Santa Catarina de Sena, no mesmo século que Eckhart, entre 1377-1378, compôs seu Diálogo para mostrar uma forma de misticismo na família dos dominicanos que se abriu à plenitude de Deus, mas com a humanidade de Jesus Cristo como a ponte entre Deus e o homem. Santa Catarina de Gênova escreveu no século XV e combinou um misticismo da purificação da alma no amor ardente por Deus com o impulso, igualmente ardente, por uma obra caritativa no serviço dos enfermos de sua cidade atacada pela praga. Essa trajetória influenciou espiritualmente a leiga canadense Catherine de Hueck Doherty, com a fundação, em 1947, da Casa de la Madonna. Em suma, o testemunho da antiguidade cristã sobre uma certa prioridade da oração não exclui totalmente o testemunho de amor na vida prática. Muitos autores, como os já citados, buscaram um equilíbrio teológico entre a vida contemplativa e a vida ativa.

2.2 Do século XVI ao século XIX: a respeito da vida ativa

A modernidade introduz uma nova forma de vida para o cristão que muitas vezes se aproxima da mentalidade da Reforma protestante. Certamente o ato de testemunhar, principalmente a partir da leitura pessoal da Bíblia, recuperou sua importância no século XVI, também por causa de um espírito reformador dentro da Igreja Católica. Porém, a hipótese de Eric Voegelin a respeito do legado da Reforma radical merece igual atenção. Isso porque, segundo o cientista político austríaco, a rebeldia sociocultural contra Deus e o homem dessa época tem suas raízes em um espiritualismo exagerado da antiguidade pagã e especificamente no seu perfil gnóstico. A hipótese de um gnosticismo moderno se afirma facilmente em uma atitude reacionária e nostálgica, mas há recursos na nova espiritualidade para concretizar o misticismo do testemunho cristão sem qualquer gnosticismo. Aqui podemos mencionar dois exemplos ilustres, o primeiro do começo e a segunda do fim dessa época: Santo Inácio de Loyola (1491-1556) e Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897).

Santo Inácio introduziu a ideia da contemplação na ação nos seus Exercícios Espirituais. Os jesuítas, e também leigos e leigas dedicados ao caminho inaciano, discernem um espírito missionário que vem do alto, segundo o carisma de Santo Inácio. A missão inaciana impulsiona o cristão para as periferias do mundo e da sociedade. Santa Teresinha morreu muito jovem no Carmelo de Lisieux, mas sua autobiografia espiritual deixou um testemunho da pequena via, que promove uma espiritualidade do cotidiano orientada para o Pai misericordioso. Uma seguidora surpreendente de Santa Teresinha era Dorothy Day, a leiga norte-americana do século XX que encontrou na pequena via o fundamento espiritual do seu pacifismo e compromisso social disseminado através do jornal radical O Trabalhador Católico (The Catholic Worker). A vida ativa da época moderna não deve ser, portanto, um abandono dos frutos da contemplação de Deus. Ao contrário, os testemunhos de Santo Inácio e de Santa Teresinha nos mostram de modos diversos uma espiritualidade concreta e antignóstica, que realiza a comunhão da Santíssima Trindade no nível da história do indivíduo e do povo.

2.3 Século XX e a época contemporânea: leitura mística dos sinais dos nossos tempos

A modernidade tardia, que se desenvolveu paulatinamente no século XX, apresentou novos desafios para a comunidade cristã global. Mesmo antes do Concilio Vaticano II e do chamado da constituição pastoral Gaudium et Spes para discernir os sinais dos tempos à luz do evangelho, algumas testemunhas cristãs se comprometiam com o misticismo do povo de Deus. Santo Alberto Hurtado (1901-1952), por exemplo, foi um educador jesuíta que fundou o Lar de Cristo, em Santiago do Chile, para cuidar das crianças e que defendeu, ardentemente e com rigor, os sindicatos chilenos. Sua mística social está centrada na realidade pessoal do corpo de Cristo:

A “mística social” do P. Hurtado aponta para a transformação da sociedade em seu conjunto, como expressão de amor a Cristo-próximo. Por essa razão, a luta por estruturas sociais justas à qual Alberto Hurtado exorta uma e outra vez, em nenhum caso, poderia realizar-se com prejuízo de pessoas concretas, como sucede com os totalitarismos que ele critica, e, de modo algum, adia o dever de caridade imediata para com os mais necessitados, que ele simultaneamente promove (COSTADOAT, 1996, p. 286).

O anúncio do Reino de Deus funcionava, para o Padre Hurtado, como o ideal utópico capaz de oferecer um sinal do futuro ainda não realizado. O amor de Cristo exortou o cristão a se comprometer no e para o campo político, sem qualquer ideologia mundana.

Thomas Merton (1915-1968) foi um trapista norte-americano e grande admirador da espiritualidade das tradições asiáticas não-cristãs. A partir do claustro monástico e do seu compromisso com a meditação cristã sobre o Deus inefável, Merton nos educou a respeito da prioridade do diálogo inter-religioso e do desafio complicado da realização da paz para o mundo de hoje.

Pedro Casaldáliga, o bispo emérito de São Félix do Araguaia no Brasil, nasceu em 1928 e morreu em 2020. Ele construiu, através de escritos pastorais e antologias de poesia, uma espiritualidade mística da libertação. Seu elogio a “São Romero de América” (1980) abriu a porta para a canonização, pelo Papa Francisco, do bispo salvadorenho e mártir, em 2018. No século XX, a palavra poética com sua criatividade aberta e expressão incisiva pode, então, traduzir novamente a herança bíblica da mística testemunhal.

3 Rumo a uma mística testemunhal intercultural

Hoje em dia, a consciência social existe em um mundo virtual, globalizante e secular. O cristão deve orientar-se a partir de um ato de testemunhar, indo além de todo indiferentismo e proselitismo. Nem o relativismo pós-moderno nem a xenofobia nacionalista podem satisfazer o coração aberto em busca da verdade de um Deus que transcende absolutamente nossas perspectivas culturais limitadas. Um desafio muito atual seria, então, a articulação da relação entre a beleza do testemunho expressada na vida ativa e pública do testemunho de Jesus Cristo e a atualização do bem comum (BINGEMER; CASARELLA, 2017, principalmente p. 147-151).

O encarregar-se da realidade da qual falou o jesuíta salvadorenho Ignacio Ellacuría impulsiona a realização de uma visão do bem na forma de uma ação social a favor dos pobres. O elemento teologal dessa visão protege a mística social e impede o reducionismo. Somos seguidores do profeta divino que revelou o anúncio do Reino quando nos encontramos na companhia de um santo como Alberto Hurtado ou como Oscar Romero. Nosso enfoque permanece na encarnação do Reino no presente. A abertura ao diálogo com o outro como outro e o espírito da reconciliação social nos encorajam durante o processo de discernir o bem comum. O testemunho faz avançar, assim, a causa do Reino, sem relativismo nem proselitismo. O ato de testemunhar não é diminuído nesse processo. Ao contrário, o testemunho de uma Boa Nova cresce através da ação complementar do encontro com o outro, porque o cristão se dispõe dialogicamente a discernir uma articulação mais clara da universalidade de sua visão particular.

Podemos ainda confirmar a atualidade da interculturalidade a partir de dois cristãos contemporâneos inseridos no diálogo entre o cristianismo e o islamismo: Louis Massignon e Chrétien de Chergé.

Louis Massignon (1883-1962) foi um especialista em uma figura relativamente ignorada das tradições islâmicas: o místico persa medieval de Bagdá, Mansur al-Hallaj. Seus amplos estudos dos princípios do sufismo são muitas vezes criticados pela perspectiva orientalista. No entanto, Massignon forjou um misticismo comparativo com dois eixos: a sagrada hospitalidade e a substituição mística. Massignon, como sacerdote melquita e seguidor de Charles de Foucauld, queria forjar um espírito de hospitalidade ao forasteiro dentro do cristianismo, a partir do modelo árabe que experimentou em suas viagens pelo Oriente Médio. Além disso, Massignon queria propor, mais problematicamente, a salvação dos muçulmanos por causa da solidariedade na oração realizada por certos cristãos.

Christian de Chergé (1937-1996) foi o prior da comunidade cisterciense de Tibhirine, quase inteiramente assassinada durante um conflito violento que durou anos entre o governo da Argélia e terroristas muçulmanos (BINGEMER, 2018, p. 33-101). Seu testamento final é um testemunho místico de suprema importância, porque inclui o pedido a Deus de perdoar o seu amigo “do último momento”, ou seja, o assassino hipotético do futuro. De Chergé reconfigura a visão beatífica com Deus. Na hora da morte, quer ver a seu amigo/inimigo com a misericórdia de Deus para realizar a purificação do mundo pelo amor absoluto. A hospitalidade não é então limitada pela ação que realizamos nesta vida. Sem desprezar a noção cristã de Deus como juiz, de Chergé destaca a dimensão espiritual do encontro com o outro. O sofrimento e a violência, que existem no mundo por causa da intolerância e ignorância de outras tradições religiosas e culturais, devem, portanto, ser subjugados à purificação unitiva de Deus.

Conclusão

Para concluir, é preciso reconhecer a mutualidade entre a renovação do testemunho cristão e a prática do misticismo. Muitas vezes essa complementariedade se realiza a favor de um individualismo que contradiz o anúncio do Reino e a autocomunicação de Deus a seu povo fiel e pobre. Porém, a recuperação de uma opção preferencial pelo misticismo do povo de Deus não pode, no futuro, evitar nem os desafios do diálogo inter-religioso nem as vozes dos povos indígenas. Existem, de todo modo, novas pistas dentro da teologia política que reconhecem não somente a importância do ato de testemunhar, mas também a pluralidade das culturas cristãs e não cristãs no mundo de hoje (BINGEMER; CASARELLA, 2017). A atualidade desse modelo de misticismo popular recuperará a crítica de toda religião interesseira que evita o clamor dos pobres e também ignora o pluralismo latino-americano de hoje (GUTIÉRREZ, 2006, p. 39-43). A purificação da dimensão política da fé cristã exige uma transformação pessoal que testemunha o anúncio do Reino e proclama a grandeza de Deus não à margem dos pobres inocentes de Deus, mas em solidariedade radical com eles.

Peter Casarella. Duke Divinity School (USA). Texto original em espanhol. Enviado: 11/06/2019. Aprovado: 12/12/2021. Publicado: 30/12/2021.

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